quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Doctor Who Season 09


Se formos falar da temporada como um todo, diria que foi um ano particularmente ousado para a série. Depois de 8 anos com episódios auto-contidos, essa foi a primeira temporada a ter em sua maioria episódios duplos, retomando uma tradição da série clássica (todos os episódios da série clássica, salvo especiais, eram partes de arcos maiores, variando entre duas até dez partes). A experiência foi interessante, apesar de não inteiramente bem sucedida, o que resultou numa nona temporada um tiquinho irregular. Tivemos o melhor episódio ever (vcs sabe a qual me refiro) e o pior episódio em um bom tempo (vou falar dele abaixo, mas vcs podem deduzir facilmente de qual estou falando). Menos consistente que a temporada anterior, mas com um season finale MUITO mais poderoso (e vejam bem, gosto bastante de "dark water/death in heaven").
E principalmente, uma temporada de payoff, onde varios plots deixados desde o retorno da série, em 2005, foram quase que totalmente concluídos. a season 10, portanto, vem como uma total incógnita. Do que sabemos até agora, apenas que um dos episódios vai ter direção de Peter Jackson (o quanto essa é uma boa notícia, eu deixo pra que vcs julguem).
Quais os acertos e quais os erros? Respondo essa pergunta abaixo, com meu ranking pessoal de arcos/episódios da temporada de 2015 de Doctor Who.

Sleep no more

Surpresa nenhuma, imagino. Mano, o monstro de remela passa longe de ser o pior desse episódio (hey, vão assistir a série clássica pra ver o que é um monstro tosco), mas um timing todo esquisito, um desenvolvimento de trama apressado, um elenco de coadjuvantes que QUASE é gostável mas para por aí. Vejam bem, eu sou um grande fã de "Love and Monsters" então, se eu digo que um episódio de DW é intragável, acho que é bem provável que eu esteja certo... Fora que essa irregularidade do Gatiss me faz ficar com todos os pés atrás quando alguém vem e aponta o nome dele pra sucessor do Moffat. Quando ele acerta (e ele vinha, como disse no texto em que resenhei o ep., de uma sequencia bem boa de episódios), temos coisas como o divertidíssimo "The robots of sherwood". Quando ele erra...... E apesar de ser o menor dos males, mano.... monstro de remela. ugh....

Under the lake/before the flood

Nem é um arco ruim, mas a segunda parte perde o gás de forma muito, MUITO clara. E vem logo depois do arco duplo que abre a temporada e que também tem uma segunda parte inferior à primeira, então, o arco desceu mal por parecer que a ousadia no formato de episódios duplos não iria vingar. Por sorte, veio o arco seguinte e já resolveu esse problema com uma parte 2 ainda melhor que a já excelente parte 1, mas, me adianto....

The magician's apprentice/the witch's familiar

Eu já respeitaria esse arco apenas pela belíssima rima narrativa de abrir a temporada em Skaro e encerra-la em Gallifrey. Mas também é o primeiro episódio a introduzir o meta-tema da temporada: dessa vez, até a cronologia prévia da série vai ser usada como arma contra o Doctor. E temos a atuação magistral de Julian Bleach como Davros. Poderia estar no topo da lista, não fosse o fato da segunda parte do arco ser um pouco inferior que a primeira, apesar da cena magistral do diálogo entre o líder-criador dos Daleks e o 12th.


Face the raven

Eu poderia facilmente ter colocado esse episódio junto com os dois que encerram a season 09 e analisado os 3 como um grande season finale mas "Heaven sent/Hell bent" são criaturas tão distintas, não apenas dos demais episódios da temporada mas de quase tudo desde a retomada da série, em 2005, que não deu pra não coloca-los num lugar separado dos demais. Comparando com outros episódios onde companions deixam a série, "Face the raven" fica ligeiramente atrás, por exemplo, de "Doomsday" ou "The angels take Manhattan", apenas pq o impacto da "morte" de Clara Oswald se perdeu, considerando que era quase certo que a personagem voltaria pro season finale. Apesar disso, a cena da morte em si é linda e o conceito da rua escondida para imigrantes alienígenas é fascinante, pra não dizer absolutamente relevante.


The girl who died/The woman who lived

O arco que ressuscitou minha empolgação com a temporada. Tão fascinante e conceitualmente rico quanto "Face the raven" (eu mataria pra ver aquele acampamento viking novamente) mas com um payoff mais satisfatório, na forma de um segundo episódio que subverte toda a ingenuidade do anterior e a transforma em algo profundamente sombrio. Uma temporada que abre com Davros, personagem que foi responsável por um dos momentos de julgamento do Doctor e dos seus efeitos para o universo mais emblemáticos de toda a mitologia do programa, encontra aqui, na forma de Ashildr, uma nova voz pra levantar os efeitos colaterais da existência do protagonista. Uma personagem fascinante que transcende conceitos de bem e mal, sendo uma das mais fortes criações de Steven Moffat. No começo da temporada eu me perguntava qual a principal contribuição da season 09 pra mitologia do show, me encontro aqui crente de que, apesar de varias boas idéias que podem e devem ser exploradas futuramente, nenhuma vai deixar mais saudade que a trágica personagem interpretada por Maisie Williams (que se mostra uma atriz interessantíssima. Tirando a intérprete e certa inocência inicial, não existe nada que lembre a Arya na personagem da Lady Me)

The Zygon Invasion/the Zygon inversion

Falemos de relevância e de arte e cultura pop como comentaristas de um determinado momento histórico.
Apesar de não ser um arco perfeito (tem certos probleminhas com relação à passagem de tempo dentro da história), a trama do episódio duplo estrelado pelos shapeshifters do universo Whovian é provavelmente o material mais politicamente aberto em toda a história de new-who (até premonitório em alguns aspectos). 
Imigração, a estupidez das guerras, independente da ideologia associada à esta e a tendência do revolucionário idealista de hoje virar o tirano a ser deposto de amanhã. Osgood. Evil-Clara. E com aquele discurso final do 12th, simplesmente antológico.


Heaven Sent/Hell Bent

Ok....oh boy, oh boy, oh boy....falemos de episódios antológicos. Eu sinceramente achei que "the zygon inversion" iria ser o ponto alto da season 09 mas, felizmente, estava errado. Um gigantesco cala boca pra todo mundo que julgava Moffat como alguém sem idéias, "Heaven sent" é um dos materiais mais ambiciosos já escritos pelo autor. Que "Hell bent" seria um episodio memorável, todos já sabíamos, considerando o passado do showrunner e sua tendencia de season finales anticlimáticos mas épicos. Mas, mesmo considerando a sinopse inusitada anunciada meses antes, nada poderia preparar o publico pra tragédia de tons shakespearianos que foi o penúltimo episódio da nona temporada. Capaldi praticamente sozinho, experimentando sua "divina comédia" pessoal. Quebrado física e emocionalmente, o personagem é levado ao seu extremo máximo, mostrando que pouca gente soube lidar tão bem com o conceito de viagem no tempo quanto Moffat. O autor disse que, até certo momento, este episódio e o especial de natal, "the husbands of River Song" seriam seus últimos textos no papel de produtor chefe do programa. Fico feliz em vê-lo na season 10, mas, tivesse realmente este episódio duplo sido seu adeus à Doctor Who, teria sido um dos momentos mais emblemáticos de toda a série, não apenas pela antecipação absurdamente boa que foi "heaven sent", mas também pelo payoff extremamente satisfatório que foi "hell bent", onde quase todas as tramas que deixou aberta durante sua passagem foram concluídas e novos elementos foram adicionados à já riquíssima mitologia do Doutor. Ponto máximo da série nesse ano e uma das coisas mais legais já feitas nesses mais de 50 anos de existência do programa. 

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