quarta-feira, 31 de março de 2010

Prime...

Ok

Este é Optimus Prime






















Este, por sua vez, é Optimus Prime





















Os dois basicamente são o mesmo personagem (não são, na verdade, mas isso renderia um texto gigante, então, confiem em mim, ok?) mas existe uma diferença fundamental entre ambos.
O primeiro é Optimus Prime. O segundo é MEU Optimus Prime, e este pequeno pronome possessivo faz toda a diferença do universo.
O primeiro é o arquétipo, o herói, o personagem megaboga foda que originou o segundo, que por sua vez, é uma reprodução em menor escala (pelo bem de minha estante, já que o primeiro tem quase 10 metros de altura e pesa algumas toneladas) do primeiro, remetendo a todos os aspectos deste. Tipo aquilo da idéia do Platão ou dos signos na semiótica (e se eu falar demais sobre isso nas próximas semanas, relevem, to lendo pacas sobre pro meu TCC). E claro, tem o detalhe do segundo ser MEU. MEU BONEQUINHO (ou Action Figure, como preferirem) de Optimus Prime e meu presente favorito ever.
Ganhei de presente de um ano de namoro de minha namorada, que achou que seria um presente equivocado (e dado o primeiro paragrafo e aliás, todo esse texto, equivocada estava ela ao pensar tal sandice) pra me dar. Cara, meus olhos brilhavam quando eu ganhei meu bonequinho do Optimus. Naquele exato instante, a idéia deste post nasceu. Afinal, eu tinha que explicar pq um robo que se torna um caminhão ocupa um lugar na minha formação moral que talvez nem Deus ou meu pai ocupem. E que talvez, explique pq eu sou este escroto bem intencionado que sou hoje.
Pra entender bem, vamos ao passado.

Planeta Terra. Cidade: São Paulo.
1986
Este humilde anão na época tinha em torno de 6 anos de idade e sua vida girava em torno de gibis disney, monica e hanna-barbera (Marvel e Dc viriam alguns anos depois), escolinha e claro, a onipresente TV. Eu, como toda criança normal, adorava desenhos. E dentre estes, alguns se destacavam: a adaptação de Rambo (e olha que eu nunca tinha visto o filme que originou o desenho, mas whatever. Ele tinha uma faixa vermelha, coturno e uma faca de caçador, já sabia o suficiente sobre ele), He-Man, caça-Fantasmas (adorava essa porra), séries japonesas (Ultraman, Robô Gigante, Spectreman) e acima de todos.... Transformers.
Pra quem não sabe, a década de 80 foi marcada por desenhos que surgiam de brinquedos. Simples assim. Havia uma nova série de brinquedos e pra fixar aquela porra na cabeça da gurizada, encomendavam um desenho sobre os personagens. He-man surgiu assim (na verdade, He-man surgiu a partir de uma série de brinquedos recusada baseada em Conan, sabiam?), Comandos em ação idem. Então, tinham executivos que sugeriram "ok, temos robos que viram veículos. Façam desenhos e vamos vender". E venderam que nem água. Pq apesar dos pesares, nem todo guri gosta de carrinhos, mas TODO GURI ADORA ROBOS GIGANTES. Ponto. Não apenas os japoneses com seus Voltrons, Gundans e Robotechs. TODOS. Simples assim. E se fossem robos que virassem carrinhos, melhor ainda. E com toda uma história por trás então.

E eles tinham uma puta história.

Cybertron, planeta dos Transformers. Que aliás, são uma raça de mega robos. Que enfrentam uma mega guerra civil. De um lado, os Autobots, liderados por Optimus Prime. De outro, os vilões Decepticons, liderados por Megatron. Numa batalha que culminou numa caçada espacial, os robozões caíram aqui na Terra há milhares de anos e ficaram em animação suspensa até os dias atuais (ou no caso, até a década de 1980). Acordaram e pra passarem despercebidos (ou o mais despercebidos que robôs guerreiros podiam passar) tomaram a forma de veículos e continuaram sua guerra, enquanto tentavam arranjar um jeito de voltar pra casa. Essa é a trama de Generation 1, a série que deu origem a todas as outras. Algumas ótimas (Beast Wars, The Animated Series) e outras sofríveis (Beast Machines e a maioria das séries japonesas). Além de dois filmes (que eu não vi por falta de culhão, mas já ouvi que são....bem..... assim-assim).
Sério, todo meu dia girava em torno de ver Transformers. Mesmo os demais desenhos aqui citados não me chamavam tanto a atenção quanto a saga dos Autobots em vencer os Decepticons, defender a humanidade e, de quebra, voltar pra Cybertron. E na linha de frente, Optimus Prime.

Aliás, Líder Optimus, como era chamado no desenho (e que por isso, até hoje, eu chamo de Líder Optimus Prime).
Optimus era o herói campbelliano por excelencia. Não o herói Wolverine, que faz o bem deixando corpos atrás de si, mas o herói no sentido greco-romano ou seja, o repositório das principais qualidades humanas, espelho de tudo que faz a humanidade (ocasionalmente) magnanima.

"Mas Optimus não é um humano, anão tosco"

Eu sei, little John, e isso era fascinante. Temos aqui um robo foda, com um arsenal capaz de partir um tanque de guerra que nem manteiga e ele é gentil, corajoso e vive (pq os Transformers são vivos, tendo consciencia e inteligencia própria, não como o robô em sua definição clássica) a partir de valores que ele espera, norteiem todo o resto da humanidade (organica ou não).
Cacete, que foda. Como eu queria um transformer pra mim, na época. E como eu queria um Optimus Prime....que nunca veio (viria quase 3 décadas depois, mas já já chegamos lá).

Avançamos 3 anos.
Dia 12 de Outubro de 1989. Dia da criança. A Globo anunciou com quase 3 semanas de antecedencia, que naquele dia, a Sessão da Tarde exibiria "Transformers - O filme" (obviamente não me refiro à adaptação recente de Michal Bay e sim a um longa da série animada). Eu esperava por aquele momento como uma criança antes da noite de natal.
E começa a história.

Basicamente, um planeta Transformer senciente, o Unicron, vem vindo em direção à Terra pra tocar o terror. Yadda-yadda-yadda, cena de luta entre Autobots e Decepticons. Meu coração na boca, mas tudo bem, vai dar tudo certo, sempre dá.


E aí...


































......
.....
"wow....megatron meteu 3 tirombaços no peito do Líder Optimus. Que bom que os outros vão salva-lo e...ei, como assim ele está passando a liderança praquele otário do Ultra-magnus? Ah, deve ser até ele se recuperar e..."

......

"Oh meu Deus.... Prime está...... morto?"


Pq vamos combinar, o Superman e os demais membros da Liga enfrentavam inimigos e seguiram adiante, sem se despentear. Os cara maus em comandos em ação sempre ejetavam dos aviões antes que estes explodissem. Ninguém sequer se machucava feio (diabos, mesmo nas séries policiais, o cara bonzinho tomava sempre o cuidado de mirar na mão do bandido).

E seguramente, ninguém morria. Já tinha visto um herói morrendo antes, em Robo Gigante, mas como ele era um automato guiado pelo menino cujo nome jamais vou lembrar, fiquei triste, mas não traumatizado.

Mas sério, toda, sem brincadeira, TODA percepção de heroísmo que eu carrego comigo hoje vem desse momento. Prime não se levantaria pq ele estava morto. O herói da história MORREU. Pensem no impacto disse pra um guri de 8 anos de idade. Heróis MORREM! PERDEM! Tomam 3 tirombaços no peito e jazem como mais um corpo estendido no chão.
Eu me lembro de chorar copiosamente por uns 2 dias, lembrando da cena (tanto que nem lembro bem do final do filme). Na época fiquei mega triste, mas hoje eu vejo a beleza daquilo (coisa que aprendi a ver pouco tempo depois, pra minha sorte): O herói tem tanta chance de morrer quanto o zé-porva que vê o monstro vindo pra cima dele e fica parado gritando "Nãaaaaaooo". Talvez ele seja melhor treinado ou esteja com melhores armas (ou simplesmente tenha mais HP que o transeunte otário) mas no frigir dos ovos, a bala inimiga não faz nenhuma distinção. E ISSO é o que faz do herói o que ele é. A habilidade de botar sua vida em risco de forma desapegada pelo bem de estranhos. Mesmo sem a certeza de que vá receber uma medalha, coroa de louros ou pelo menos um tapinha nas costas quando tudo terminar. Aliás, na maioria das vezes, o que o espera é uma morte horrorosa e uma cova sem nome (quando ele tem a honra de ser enterrado).

E mesmo diante dessa possibilidade, ele segue adiante. Pq afinal das contas, é o que deve e precisa ser feito.

Naquele momento, naquele exato instante, surgia o nerdzinho que viraria esse humilde nerd urso-anão que eu sou hoje. Quando diante de uma situação sebosa, sempre me pego pensando "O que Optimus Prime faria?" E sempre que decido algo assim, nem sempre termino bem, aliás, provavelmente na maioria das vezes acabo me estrepando, mas sei que em algum lugar, um robô vermelho acenaria sua cabeça em aprovação a minha tentativa malfadada de heroísmo.
O que, quer seja na vitória ou na derrota, sempre me faz sorrir.

Portanto, avançando de novo no tempo e chegando no dia 18 de Outubro de 2009, isso explica meus olhos brilhando e a posição de destaque que Optimus (e Megatron, que veio junto na caixa) ocupa na minha estante. Pq não estamos falando de algo que é apenas fonte de nostalgia e lembranças de uma época melhor que nem era tão melhor assim e sim de uma crença que eu carrego comigo a cada instante, o tempo todo, e acaba fazendo de mim a pessoa que eu sou. Ou seja, estamos falando de coragem e sacrifício, que é o material do qual os heróis são feitos.
Sejam eles de carne, osso ou metal.

......Excellent


Ps: Ah sim, devo informar-lhes que posteriormente Optimus acaba ressuscitando, seguindo aquela tradição do herói solar de Campbell, que sempre retorna no momento de maior necessidade da humanidade (tipo Siegfried, Jesus Cristo, Arthur Pendragon, etc.). O que não tira o valor de seu ato de sacrifício de forma nenhuma mas talvez, ter ciência disso fizesse meus dias posteriores àquele fatídico 12 de Outubro um pouco menos lacrimosos.
Ps II: Quase todas as imagens aqui utilizadas foram tiradas do Blog do Amer, um dos meus blogs preferidos e onde vcs vão encontrar diversas matérias sobre Transformers. Linko aqui duas, uma sobre o filme que mudou minha vida e outra sobre Transformers Animated.
Ps III: pra esse post não ficar muito sério, seguem aqui demotivacionais sobre o (aham) MAIOR HERÓI QUE JÁ EXISTIU. Pelo menos pra mim :-)

































































segunda-feira, 29 de março de 2010

próximo post eu finalmente pago uma dívida antiga com minha namorada e mais antiga ainda, pra com aquele que me ensinou do que diabos um herói é feito.
Ultimamente eu tenho lido muito Sandman

(sim, eu sei, eu passei os ultimos meses sem atualizar isso aqui, seria de bom tom eu vir com novidades, como andei e o que tem acontecido em minha vida, mas podemos deixar isso pra mais tarde)

Então, meu TCC é sobre Sandman. Logo, agora tenho tido uma boa desculpa pra ler quadrinhos.
E não deixa de ser curioso isso pq agora, num "turning point" foda na minha vida, leio uma série que tem como principal mote "o sr. dos sonhos decidindo entre mudar ou morrer"
Vim lendo "Entes queridos" no caminho pra cá (e essa é uma das unicas vantagens de se morar longe, a chance de atualizar sua leitura no busão) que é, sem soltar muitos spoilers, o principal arco de toda a série, onde eventos iniciados láaaaa atrás finalmente são amarrados.
A morte nessa série não parece algo pesaroso. E no final, todos os caminhos levam à morte.

Interessante pensar nela como uma fonte de alívio e não o Grande Inimigo. Pq a sociedade ocidental é criada de forma a incentivar a perpétua juventude, como se, presos numa eterna adolescencia, pudéssemos fugir do inevitável. E aí tome plástica, geração saúde e comidinha alternativa pra alimentar essa máquina com hora pra terminar suas funções (na verdade, se formos mais fundo, vamos ver que nossa sociedade é criada não só para parecer perpetuamente jovem, mas pra parecer perpetuamente como coadjuvantes de malhação, naquilo que eu e minha namorada chamamos de "Geração UHUUUUUUUUU". Alegria e vitalidade 24 horas por dia. Tristeza e pesar JAMAIS!!! E aí nos prendemos como pessoas efusivas num eterno pico, como se todos estivessemos saindo de uma micareta (bleargh) no carnaval. Isso rende outro post gigante, então, deixo pra depois).

Em Deadwood, Wild Bill Hickock pedia aos que tentavam fazê-lo abandonar a bebida que o deixassem escolher como preferia ir para o Inferno.
Acho que no final tudo gira em torno disso: se viver com o pé no freio (ou usando uma metáfora de um filme de aviação tosco da sessão da tarde, se viver com um dedo sempre em cima do botão de ejeção) é o que te faz feliz, ótimo, bom pra ti, troféu joinha.

Eu, já prefiro altos ébrios, baixos cheios de cortes no pulso e tudo entre ambos.
Highway to hell, baby!!!