terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

The best of the best - As grandes HQs de 2015

Sim, continuando a tradição de ser um blog retardatário em suas listinhas de melhores do ano, só agora, já no limiar de Março, que o Groselha vai postar seu ranking de melhores HQs do ano passado. E voi dizer: que ano bom pra lançamentos de quadrinhos, não? Marvel e DC particularmente inspiradas, como raramente via (ainda que, na maioria dos casos, em títulos que não envolviam os grandes medalhões das editoras, portanto, ambiente mais propício pra exercícios de ousadia narrativa e estilística), Image se estabelecendo como uma das grandes (disputando território ombro a ombro com a casa do Superman e Batman), editoras menores pipocando o tempo todo e apresentando material de primeira qualidade. Foi o ano em que, ainda que timidamente, o mainstream reconheceu o poder das minorias e vimos mais protagonistas não brancos, não héteros e não masculinos do que em toda história da industria. Foi o ano de iniciativas ousadas e que renderam um payoff muito positivo, como foi o caso do reboot da Archie, uma verdadeira instituição cultural norte-americana. Foi o ano em que nomes como Jonathan Hickman, Kelly Sue Deconnick, Al Ewing, Tim Seeley, Tom King, G. Willow Wilson e Steve Orlando, entre vários outros, passaram a figurar no nosso radar (ou continuaram nesse pódio, merecidamente).
Enfim, um ano em que tanto mainstream quanto o underground tiveram um saldo extremamente positivo. E segue abaixo, minha lista de melhores do ano, com os devidos créditos a todos aqueles que fizeram de 2015 um ano memorável nessa mídia que é minha favorita, de longe, entre todas:

Fante Bukowski e The Sculptor.





Eu não vou conseguir resenhar essas duas isoladamente por uma razão bem simples: pq elas dialogam de forma tão harmoniosa, uma com a outra, que eu não consigo enxerga-las sem ser sob essa ótica, dialética.
O tema aqui é arte como forma de imortalidade. Em ambos os casos, protagonistas que se encontram batalhando dentro do cenário artístico que escolheram, visando notoriedade. Com a clara diferença óbvia: enquanto David Smith, protagonista de "The sculptor" (roteiro e arte de Scott McCloud) possui talento, o personagem principal de "Fante Bukowski" (roteiro e arte de Noah Van Sciver) não. O que não vai impedi-lo de tentar, ainda que de forma iludida.
Até mesmo a catarse de ambas as obras produz efeitos parecidos, com finais contemplativos extremamente poderosos em seu silencio. Arte é talento e trabalho duro. E sacrifício.

Grayson




Todo mundo inteirado no mercado de quadrinhos de super heróis já sabe disso, mas, aqui vai: Dan Didio não é dos maiores fãs de Richard Grayson. Mais de uma vez, o editor já planejou eventos que, entre seus desdobramentos, envolveriam dar cabo do primeiro Robin, salvo apenas pela popularidade entre os fãs e pela insistência de escritores mais inteligentes do que o editor, o que não é tão difícil assim . Então, quando um dos novos projetos surgidos da iniciativa "DC You" foi um titulo de espionagem onde Richard abandonaria o manto de Nightwing pra virar um espião full time, eu admito que fiquei meio assim assim. 
Well..... eu estava errado. Psicodélico, referencial na medida certa, extremamente ousado narrativamente, roteiro e arte redondinhos. Chupa essa, Didio. O gibi já tem data de encerramento e, com certeza, veremos o time produtivo dele migrando pra revista de algum dos grandes personagens da editora, o que é uma pena. Em meio a tantos personagens descaracterizados depois do hediondo reboot, foi um respiro e tanto ver tudo aquilo que faz o ex-Asa Noturna uma das pedras fundamentais do universo DC reforçado de forma tão bem sucedida nessa série.

O louco - Fuga



Seguramente, o título da série Graphic Novels MSP que eu esperava de forma mais ansiosa. Nem tanto por ser um personagem dos meus preferidos, mas mais pelo potencial do quanto o album podia despirocar na forma de contar a história de um personagem famoso pela mentalidade quebrada. E, rapaz, como Rogério Coelho mandou bem aqui. A arte é toda não linear, quebrada, aqui e ali lembrando arte de cordel. E a narrativa segue o fluxo caótico de pensamento de um personagem mais ordenado do que seu nome, inclusive, dá impressão. Num ano cheio de obras celebrando o poder transformador das histórias e das narrativas, "O Louco" se destaca por pegar seu personagem principal e transforma-lo em criador, criatura, narrador e, talvez, Deus, dentro de sua própria trama. Absolutamente primoroso.

East of west




É quase um ato reflexo: baixo a edição do mês de "East of west" e tenho que botar a trilha sonora de "Southland Tales", um dos meus filmes favoritos, pra tocar. E não é a toa: o clima do filme e da HQ são basicamente o mesmo: o apocalipse se aproxima de forma inevitável. A salvação não virá e, mais que isso: não merecemos ser poupados. Nessa série, uma terra alternativa, já sobrevivente de uma tragédia de proporções globais, se vê cada vez mais próxima do final, dessa vez definitivo. Religião e política se chocam num climão meio Game of Thrones de alianças entre grandes nações diante de uma guerra irrefreável. E no meio disso tudo, o cavaleiro da Morte tentando resgatar seu filho, que pode ou não ser o anticristo. Nick Dragotta e Jonathan Hickman mostrando de forma indiscutível pq são dois dos meus artistas favoritos entre os novos nomes da industria de quadrinhos americana (na verdade, me atrevo a dizer que Hickman é o melhor roteirista da industria americana atualmente, mas falo mais dele no futuro... )

Doctor who: the 10th doctor #6 a #9




Tecnicamente, esse gibi é de 2014, mas como o ultimo numero desse arco só foi publicado ano passado (com certo atraso), fica a menção. Não escondo que meu título favorito, dentre as 3 mensais publicadas pela Titan focadas no universo do Timelord de Gallifrey é o protagonizado pelo 11th Doctor. Também não escondo que a revista protagonizada pelo 10th Doctor perdeu um pouco o gás no arco seguinte. Mas aqui, ela brilhou mais do que nunca. A harmonia entre roteiro (Robbie Morrison) e arte (Daniel Indro) foi algo absolutamente incrível, pra narrar uma das histórias mais sinistras protagonizadas pelo Doutor, envolvendo a primeira guerra mundial e os wheeping angels. Tensão cada vez maior e um ritmo de urgência que fez o hiato entre as primeiras edições e a final algo de torturante. "O resgate do soldado Ryan" com monstros. E um final que é, se muito, agridoce.

Ms Marvel



Kamala fucking Khan. Talvez ainda não oficialmente, mas definitivamente, "a cara" da Marvel, da mesma forma que o Homem Aranha foi antes dela. E isso é TÃO legal. O título não só manteve o nível de qualidade do seu primeiro ano como jogou o nível lá pra cima quando finalmente deus aos fãs o que eles tanto queriam, que era o encontro da Kamala com sua "ídola", Carol Danvers, a Capitã Marvel. E o tom da história era quase uma metáfora da importância de ambas as personagens nesse cenário de maior inclusão e diversidade nos títulos da Marvel: num contexto em que a derrota era inevitável, Carol e Kamala se inspiravam num ciclo de esperança que lembrava, a todo o instante, pq quadrinhos de super heróis não deveriam se restringir a ser apenas sub-watchmen, dark e "realistas".
E, plus, a série rendeu uma das melhores páginas do ano:


O twist aqui, no entanto vem com a saída do desenhista Adrian Alphona (com Takeshi Miyazawa assumindo seu lugar como desenhista fixo)Vejam bem: não me entendam errado, eu gosto do desenhista atual e seu estilo mangá, mas acho que ninguém vai discordar que o desenho de Alphona era um dos grandes charmes do título, num traço absolutamente lindo. Sem querer fazer trocadilhos imbecis, mas o baque foi meio "visível". Devo dizer, no entanto, que o roteiro de G. Willow Wilson ainda segura o nível de forma eficaz. E nada a ver com nada, mas, tipo, vcs deveriam MUITO procurar a série anterior da roteirista, publicada pela Image e chamada "Air". Bem legal. :-)

Squirrel Girl


A coisa mais divertida saída da Marvel atualmente. Simples assim. Eu quero filmes da Squirrel Girl, eu quero jogos, eu quero uma série em animação, bonequinhos, camiseta, um plushie da Tippy Toe, um guia de como falar esquilês ao molde daquele que a editora publicou uns tempos atrás pra ajudar os leitores a entenderem a linguagem do Doop. Cosplays, de homens, mulheres e crianças. E eu quero desgraçadamente que a casa das idéias lance oficialmente aqueles "Deadpool cards" com bios de vilões que a Noreeen coleciona. E um especial estrelado pelo Cat thor. Sério, alguém dê um abraço em Ryan North (roteiros) e Erica Henderson (arte) em meu nome, ok? (ou a CCXP podia traze-los pra cá pra que eu possa dar o tal abraço eu mesmo \o/). E sim, eu odeio abraços. Sim, o gibi é bom nesse nível!!!

Multiversity



Eu digo (com certo exagero, admito) que deveriam só cancelar o universo dc dos quadrinhos e tornar o DC animated como novo universo oficial, retomando do ponto que o desenho da Liga parou. Mas uma outra idéia igualmente legal foi essa: peguem o universo DC e entreguem pra Grant Morrison. O resultado? Essa mini que já pode facilmente ser vista como um novo clássico. Dez edições que contam uma macro história mas que também podem ser lidas individualmente sem grandes danos. Mas quem o fizer, vai perder uma das críticas mais ácidas a Marvel e DC já feitas. 

Ah, e Morrison mandando um #chupa gigantesco pro fandom e todo mundo que acha o mago escocês um genérico do Alan Moore e mostra como é a sua versão de Watchmen que, gostem ou não, não fica atrás da obra inspiradora.

Terra formers



Um dos raríssimos casos de quadrinho físico que li nesse ano, depois de migrar completamente pro digital após ganhar o meu tablet de presente (créditos pra minha sempre brilhante namorada ^^). O mangá, inclusive, vem como presente dela, quando lhe pedi pra me comprar algo novo em alguma passagem sua por uma banca de jornais. Então, que surpresa inesperada. A trama de ficção cientifica envolve, como o titulo da revista indica, uma tentativa de terraformar um planeta que dá terrivelmente errado. Pessoas com catsaridafobia (medo de baratas): fiquem longe dessa hq, ok?

Hunter Thompson: Fear and Loathing in Las Vegas



Escrevo isso usando uma camiseta com imagem inspirada no filme adaptando o livro que inspirou também esta hq, então vcs podem deduzir que eu sou um gigantesco fã de Hunter Thompson. Atualmente, inclusive, to lendo o "Fear and loathing in Rolling Stone", reunindo os clássicos textos do Dr. Gonzo publicados na revista de música e cultura pop americana. Isso posto, confesso que fui com certo preconceito: salvo raríssimas exceções, tenho certo pé atrás com adaptações quadrinhísticas de livros. O resultado, até uns tempos atrás, pelo menos, sempre me parecia algo ..."porco', salvo raríssimas exceções (por exemplo, a belíssima adaptação de Bill Sienkiewicz para Moby Dick). No entanto, recentemente, exemplos como "Dois irmãos" do brasileiros Fabio Moon e Gabriel Bá e este me fizeram rever meus conceitos. A hq também se beneficia do mesmo elemento que facilitou o traalho do já citado filme dirigido por Terry Gilliam e com Johnny Depp no papel principal: é um livro extremamente "imagético", cheio de cenas bizarras e alucinações caóticas. Aliás, Troy Little sempre mantem a lisergia sob controle. Como o texto segue inalterado, o papel de conferir o tom da história cai 100% em cima da arte. Sabendo disso, Little adota uma postura moderada, com a HQ ficando no meio termo entre a psicodelia non-stop do filme de Gilliam e o tom mais pé no chão da adaptação cinematográfica anterior dessa história,  o "Where the buffalo roam", dirigido por Art Linson e com Bill Murray no papel principal. E a ultima página da hq figura facil na minha listinha de melhores imagens do ano passado. 


7 per cent solution



Um dos títulos mais sofisticados que li ano passado e uma leitura agradabilíssima. A mini série em 05 partes decide botar uma lupa gigante num dos elementos da mitologia de Sherlock Holmes menos abordados pelos livros ou demais obras subsequentes: o vício do detetive em cocaína. A história, adaptada por David e Scott Tipton e com arte de Ron Joseph, baseada em um livro de Nicholas Meyer (e que já ganhou versão cinematográfica nos anos 70 com Nicol Williamson, Robert Duvall, Laurence Olivier e Alan Alda nos papeis principais), entra naquela vibe tipo "Liga extraordinária" reunindo figuras históricas ficcionais/reais e aqui, vemos um crossover mostrando como seria um encontro entre Holmes, Watson e Sigmund Freud. Subversivo, já nas primeiras páginas fazendo uma revisão de uma das tramas mais importantes e famosas de Holmes e com uma conclusão mostrando o detetive lidando com uma crise internacional, o tom da história alterna entre o grandioso e o intimista com muita facilidade. E sempre sendo sombria, com raros respiros de leveza.


Phonogram: Immaterial girl / the wicked + the divine




Ambas as séries vão ganhar textos só pra elas em breve, então, só digo isso: fãs de música pop (atual e clássicos, PRINCIPALMENTE, no caso de "Immaterial Girl", da música pop dos anos 80), CORRAM atrás desse material. 2015 foi o ano de Kieron Gillen e Jamie McKelvie.

We are Robin



Eu acho uma pena que a DC não tenha investido mais nesse título. Tal qual Omega Men, podemos estar vendo um novo clássico em formação. E uma mensal extremamente relevante em seu tema: um grupo de jovens justiceiros que decidem tomar as rédeas da luta contra o crime e adotam a imagem do parceiro do Batman para si.  E diabos, "Robin War" foi bem legal. 

Martian Manhunter



J'onn J'onnz sempre foi um personagem complicado. Nunca teve muita sorte em títulos próprios, salvo uma mini-série aqui e ali, mas acho que ninguém afirmaria que ele não é uma das peças fundamentais do gigantesco leque de personagens da DC Comics. Tal qual a Mulher Maravilha, Ajax (eu sou velho, vão pro inferno) é alguém que só parece funcionar quando imerso dentro da LJA, exatamente no contraste aos demais personagens principais da editora. Bom.... não mais. O caçador de marte agora caminha sozinho, numa história de paranóia com tons de horror psicológico, envolvendo seus principais algozes, os marcianos brancos. Vou dizer que o único ponto fraco da série é quando o personagem precisa se envolver com algum dos demais membros da Liga e é aí que vemos o quão desconjuntado foi o reboot da DC e o quanto os principais personagens da editora foram descaracterizados. Apesar disso, um titulo obrigatório dos lançados ano passado.


Teenage mutant ninja Turtles




Junto com Hellboy, uma das séries mais consistentes publicadas atualmente. Quase 50 edições e um roteiro que só melhora (que conta com o criador dos personagens, Kevin Eastman, entre os roteiristas), com uma arte tão boa quanto (algumas das edições mais recentes tiveram arte do brasileiro Matheus Santolouco). A mitologia segue em expansão e certos riscos são tomados aqui e ali (admito que um deles quase me fez desistir da série. Sorry pelo spoiler mas: quando ameaçaram matar minha tartaruga favorita, o Donatello, eu quase banquei o fanboy e saltei do barco. Biiiiiiiiiiig mistake.) O gibi das tartarugas é tipo um álbum do Bruce Springsteen: vc pode nunca ter ouvido antes, mas vc sabe que a jornada vai ser legal. E isso não é uma postura acrítica, mas fruto da credibilidade e constância obtida com quase 50 edições ininterruptas (fora as mini-séries).

Godzilla in hell




Num ano cheio de revistas com temáticas incomuns, essa com certeza se destaca: E se decidissem narrar as aventuras do Godzilla no inferno? O primeiro numero já abre com uma cena icônica e a partir daí é (desculpem, mas nao vou resistir) unleash hell. A mini série, com equipe rotativa tanto nos roteiros quanto na arte é uma gigantesca declaração coletiva de amor aos 60 anos de mitologia do Big G. Os demais protagonistas da história do lagartão estão todos aqui: Mothra, King Ghidorah, Anquilus, todos repensados pra refletir o ambiente ....."incomum" no qual o rei dos monstros se encontra. A sequencia final, onde Godzilla enfrenta o, talvez, primeiro Kaiju da história da humanidade, é de chorar (não é só expressão não, eu literalmente lacrimejei quando percebi a referencia feita). E saindo um ano antes ao do mais recente reboot da franquia (reboot que conta, claro. O filme americano mais recente é apócrifo), a mini encerra com uma cena que, espero, sirva de metáfora pra franquia como um todo. :-)

Archie



Sendo justo, não é de hoje que a Archie comics decide tomar certas decisões ousadas com seus personagens: Antes desse reboot já viamos várias novas reimaginações da galera de Riverdale High. Crianças, super heróis, ora em histórias mais divertidas, ora em tramas de ação.
Mas aí decidiram ir fundo e o foco andou alguns anos pro futuro: as crianças cresceram e viraram adultos.
Querem saber pq eu falo tão mal da turma da Mônica jovem? Leiam "Archie: the married years" e vejam como um reboot desses é feito. Aí decidiram ir MAIS além. Archie morreu. Mais além ainda. Tanto a série principal como um dos outros grandes títulos do mesmo universo "Sabrina, the teenage witch", ganharam reboots de terror. E não é nada family friendly nope. Enquanto o gibi do Archie ganha uma trama que deixaria George Romero orgulhoso, a revista da Sabrina adota um tom tão mórbido que, mais de uma vez, me vi comparando a revista com obras como "O bebê de Rosemary". E aí, o salto final: um reboot MESMO, ainda com histórias tipo "teenage slice of life". E com roteiros de Mark Waid e arte de Fiona Staples. Os olhos se voltaram ansiosos em direção à HQ e toda expectativa foi recompensada com um gibi bacana ao extremo. E o segundo título desse reboot,  estrelado por Jughead, com Chip Zdarsky nos roteiros e Erica Henderson na arte, mantem o nível de qualidade. Espero que, corrigindo uma injustiça histórica, esse material chegue por aqui, já que é provavelmente a versão mais acessível desse material em anos, principalmente pra faixa etária que é o publico alvo da série. Não coincidentemente os primeiros números figuraram direto na lista dos mais vendidos. Justíssimo.  

Sandman: overture


O mais próximo que Neil Gaiman vai chegar de escrever uma aventura multi Doctor. A mini série tem um feeling completamente Whovian e só por isso já é fascinante. Mas, obviamente, não-whovians e fãs de longa data das aventuras de Morpheus vão adorar essa história que expande a mitologia dos perpétuos, respondendo perguntas antigas levantas pela série original. Dentre elas, e a mais importante de todas: que evento teria enfraquecido o Sonho de tal forma a ponto dele ter sido capturado por Roderick Burgess, no primeiro número de Sandman? Já tendo tecido loas ao roteiro, falemos da arte: J. H. Williams III é provavelmente o melhor artista em atividade nos quadrinhos americanos e provavelmente um dos melhores de toda sua história. Palavras não farão a devida justiça, então: 



.....



Nameless/Annihilation



Já tinha ficado mais ou menos claro no tom final de Multiversity, um certo cinismo aqui e ali. Mas aqui, Grant Morrison mete os dois pés na porta e deixa claro pra todo mundo: a festa acabou, hora de lidar com a bad trip.
A obra Morrisoniana como um todo alterna entre momentos de profunda esperança (a primeira fase dos invisiveis, o começo de Homem Animal, a edição da família Marvel em Multiversity) e um cinismo caustico que beira o terror (o final da primeira fase dos Invisiveis com a captura do King Mob, o final de Homem Animal, The Filth como um todo). E aqui, a gente tá indo highway to hell. O tom é extremamente dark e se a obra do escocês como um todo fala da importância das histórias, aqui ele lembra que narrativas podem ser usadas TAMBÉM como meio de controle e opressão. Em Nameless (arte de Chris Burnham, com quem o escocês trabalhou durante sua passagem no título do Batman), uma expedição de astronautas é enviada para interceptar um meteoro gigante com uma runa entalhada em sua superfície. Obviamente, ao aterrizarem lá, eles vão descobrir que o buraco era bem mais embaixo. Já em Annihilation (arte de Frazer Irving, outro colaborador do Morrison durante sua passagem pela hq do homem-morcego), vemos os últimos dias de Ray Spass, escritor de ficção cientifica e criador do anti herói Max Nomax. Spass, com um tumor cerebral terminal, se prepara pra morrer até ser procurado por Nomax em pessoa. E no meio disso tudo, obviamente, a potencial destruição do universo como conhecemos. 2015 viu Grant Morrison on fire e espero que o autor, agora no comando da clássica revista Heavy Metal, continue nesse ritmo (e a propósito, quando demônios sai "Sinatoro"?)

Punks: the comic




Punks é um gibi muito, muito estranho. E isso é um elogio. A série se foca no dia a dia de 5 amigos punks. Ok? Ok. 

agora, vejam a arte.





Fanzinão? pode apostar sua vida nisso, little John. E o roteiro é uma parada tão cretina que não tem como não rir. De autoria de Joshua Hale Fialkov e Kody Chamberlain o negócio é quase um fanzine lançado oficialmente por uma editora grande. Duvidam? Então vejam essa entrevista da dupla onde Chamberlain explica como a arte da revista é feita só com foto colagem e imagens xerocadas (photoshop só vai entrar na equação já na parte final da colorização).
Sério, vão ler punks. Diabos, tem páginas de passatempos de conteúdo subversivo e politicamente anarquista ao final do gibi. O que mais vcs querem?


Injection



Lembram-se, crianças, do trailer do primeiro Matrix, onde, ao contrário da política atual de trailers extremamente expositivos, o negócio apenas apresentava o conceito básico do filme através da pergunta "what is the matrix?"?
Então, o princípio se aplica aqui tb: não dá pra explicar o que é "the injection". O que dá pra falar, sem soar spoilerento demais é: um grupo de cientistas, vendo que a humanidade havia chegado em seu pico evolutivo, decidiu intervir. E no processo, eles criaram....algo.... 
Ok, preparem-se pra uma afirmação bem óbvia: Warren Ellis é um gênio. Ponto. O homem é uma maquina de desenvolver conceitos brilhantes e utiliza-los em suas obras. Aqui, reunido com Declan Shalvey, com quem desenvolveu os 6 primeiros números da atual série do Moon Knight, ele brinca de fazer um procedural, mas um com conteúdo. Eu adoraria pegar esse gibi e enfia-lo nariz adentro do sr. Robert Kirkman. Quando o criador de Walking Dead tenta fazer um procedural, temos aquela porcariazinha picareta e sem sal de "Outcast".  Quando titio Ellis tenta fazer um procedural, temos essa maravilha. A estrutura deve seguir a mesma das 7 primeiras edições publicadas até agora: algo estranho acontece, os cientistas percebem o envolvimento da Injection e vão investigar o ocorrido. Mas a partir dessa estrutura, jorram idéias e mais idéias fora do comum. Ellis no seu melhor!!!


Sonic e Megaman: Words Collide


Essa foi uma das escolhas mais fáceis pra lista. Pouca gente sabe, mas Sonic tem uma das séries de hqs mais longevas do mundo, publicada pela Archie comics, com uma mitologia toda própria e oriunda desse quadrinho. Mega Man ganhou sua versão quadrinhistica mais recentemente mas já tem um lore (sim, aprendi esse termo com Dark Souls) em expansão. Publicadas pela mesma editora, era inevitável um crossover e, boy, que gibi legal. Fan service? Pra caralho, mas bem feito e bem desenhado. E o final é catártico. Num ano cheio de pequenas crises multiversais (quebra da quinta parede?), essa resultou numa das mais divertidas.


Rat Queens




Já falei que 2015 foi o ano das personagens femininas e "Rat Queens" manteve o nível das HQs protagonizadas por mulheres o mais alto possível. A série narra as aventuras de uma party de aventureiras num mundo de fantasia, completamente inspirado em RPGs clássicos, só que toda formada por mulheres. Questões de feminismo e sexualidade são levantadas e discutidas com muita delicadeza (a trama envolvendo a barba de uma anã guerreira, por exemplo, é uma das minhas favoritas). O desenhista original do titulo mudou (depois de acusações de violência conjugal) e muito se pensou se a nova desenhista, Tess Fowler iria manter a qualidade na arte do titulo e a resposta é um sonoro "sim". Continua uma mensal imperdível e espero que se mantenha assim por um bom tempo.


I hate fairylands



Era uma vez uma linda garotinha chamada Gert. Gert, então, foi magicamente teletransportada para um mundo de fantasia e magia, um mundo de contos de fada, totalmente Disney-style.





Então, Gert decidiu botar pra foder. 



Quase 3 décadas depois (e sem envelhecer fisicamente um dia sequer), Gert e seu machado de batalha não tem qualquer pudor em mostrar pra todos os residentes daquela dimensão o quão insatisfeita ela está com sua situação.


 "I hate fairylands" é "caverna do dragão" feito direito, é a resposta pra todo mundo que se perguntava "pq demônios os meninos não arregaçam o Vingador enquanto fazem tortura chinesa no Mestre dos magos pra voltarem pra casa?". Falar bem da arte de Scott Young (tb responsável pelos roteiros do gibi) é chover no molhado, mas, caralho, a facilidade com que ele alterna entre o fofinho e o grotesco pra fins de humor é algo a ser estudado. E o gibi é isso, awesome pura, Gert puta com o mundo e espalhando sangue, suor e vísceras por onde passa. Espero que a Panini publique esse "muffin huggin" quadrinho por aqui pq this is SO fluffing good.


Essa é a minha listinha, crianças. Passa longe de ser perfeita. Li MUITO pouco material europeu ou mesmo mangás e hqs brasileiras, mas estou tentando correr atrás do prejuízo esse ano.
E antes que alguem pergunte...ow....too late:

"hey, tio Hak, não pude deixar de notar que vc não citou UM só título sequer das Secret Wars da Marvel"

Aguarde e confie, little John. Aguarde e confie. :-)

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