Ainda não tive a chance de ver o Nosferatu do Robert Eggers e obviamente sigo mega ansioso para fazê-lo. Isso posto, é preciso que se diga que ele vai ter que comer muito arroz com feijão sangue para superar minha versão favorita da história do conde Orlok.
Todo respeito ao maravilhoso filme original (de 1922), mas poucas coisas me impactaram mais que a versão de Nosferatu feita em 1979 (ano em que eu nasci) por Werner Herzog e com seus parceiros de crime habituais, Klaus Kinski (em uma interpretação maior que a vida e a morte) e Isabelle Adjani (como a real força motora do longa).
Vocês sabem que eu sou uma vadia pra filmes atmosféricos e o clima de morte onipresente nesse longa é algo absurdo, em uma perfeita coordenação de cinematografia (que filme lindo visualmente falando), trilha sonora e demais partes que se coordenam para uma experiência ao mesmo tempo macabra e fascinante, como um pesadelo em que tu sabes o final, mas você já desceu fundo demais e sabe que não tem mais volta.
Enquanto Adjani é a única pessoa ali com um cérebro funcional e tenta deter os planos do vampiro, Kinski constrói a figura do conde como alguém ao mesmo tempo trágico e asqueroso (e com uns leves toques de humor. As risadas nervosas que eu dei ao ver o conde correndo pela cidade carregando o próprio caixão só acentuam o terror da situação).
Mas claro que esse filme vai ser lembrado pela cena do banquete ao final, onde, em meio a milhares de ratos, a aristocracia local, cientes que que também sucumbirão diante da peste negra, só decidem tocar o foda-se e vão jantar nas ruas.
"Carpe diem", eu imagino.
Pra alguém que viu, na rua de casa, um albergue que também funcionava como casa de show, abrindo bem no olho do furacão da pandemia, quando ainda nem se pensava em vacina e as pessoas morriam feito moscas, essa cena bate de um jeito muito esquisito, tipo "não aprendemos nada, nem lá, nem aqui".