E aí crianças? Siiiiiiiiiiiiiiiiiimm, continuando a maratona de filmes de mechas e monstros gigantes, agora.....bom, agora a coisa fica séria. Se eu queria fazer isso DIREITO, não dava pra ignorar a maior cinessérie de Kaijus que já existiu (chupa, Gamera). Sim, senhores, vamos embarcar no maravilhoso mundo de lagartos gigantes, anquilossauros super desenvolvidos, borboletas tamanho família, atores usando roupas gigantes (e potencialmente letais) esmagando maquetes e tudo que vem à memória quando falamos de (pausa dramática aqui...) .....GODZILLAAAAAA!!!!!!
O tema de Godzilla, composto por Akira Ifukube
Faz tempo que eu queria ver os filmes da série (só tinha visto um ou outro que passava, errante, pelas tardes do "cinema em casa", no SBT, além daquela abominação norte-americana de 1998), tava com uns 12 ou 13 deles aqui no computador, de um torrent que baixei há algum tempo, então, oras bolas, pq não?
Faz tempo que eu queria ver os filmes da série (só tinha visto um ou outro que passava, errante, pelas tardes do "cinema em casa", no SBT, além daquela abominação norte-americana de 1998), tava com uns 12 ou 13 deles aqui no computador, de um torrent que baixei há algum tempo, então, oras bolas, pq não?
Vou escrever sobre os que vi, em ordem cronológica, começando com o filme original, de 1954 e culminando no megalovax foda "Godzilla Final Wars", de 2004.
Mas primeiro, um pequeno contexto
.....senta que lá vem história...
Ishiro Honda, o diretor, que também é um dos roteiristas do filme e "quem manda nessa porra" |
"Mankind had created the Bomb, and now nature was going to take revenge on mankind."
Tomoyuki Tanaka
Tanto em termos narrativos como de produção, reais, a história do Godzilla começa 9 anos antes da sua produção, em 1945. Sim, com as duas bombas, Hiroshima e Nagasaki sendo reduzidas à cinzas. Menos de uma década depois, o produtor Tomoyuki Tanaka queria realizar alguma obra que tratasse do tema (reza a lenda que a idéia do filme surgiu numa viagem de avião de volta pro Japão, depois de
ver o projeto de um filme que viria a produzir na Indonésia ser
cancelado), afinal, as feridas ainda estavam bem abertas. A principio a idéia seria a de um filme dramático sem elementos fantásticos, mas a coisa foi evoluindo na cabeça do rapaz e ele chegou a conclusão de que seria interessante fazer alguma coisa no gênero do Kaiju Eiga (filme de monstro).
Lembremos que algum tempo antes, dois filmes americanos haviam feito sucesso absurdo no mundo inteiro, Japão incluso: o King Kong, de 1933 (que teve relançamento mundial nos cinemas, 19 anos depois) e 'The beast from 20.000 fathoms" de 1953, marcos iniciais dos filmes de monstros. Com esse embrião de idéia, Tanaka procurou o estúdio Toho e lá, junto com o diretor Ishirô Honda, o diretor de efeitos especiais Eiji Tsuburaya (e se esse nome lhe soa familiar, fã de tokusatsu, não é a toa. O cara é o "pai" da Família Ultra) e os roteiristas Takeo Murata e Shigeru Kayama (na verdade, um escritor de ficção científica famoso que foi contratado pra conferir legitimidade ao roteiro e que fez a primeira versão da história, que depois vai ser um pouco modificada por Murata e Honda), eles desenvolveram a idéia de um filme onde o monstro gigante seria uma metáfora dos horrores sofridos ao final da II Guerra Mundial.
A coisa foi sofrendo mudanças aqui e ali. O monstro, que em estágios iniciais foi concebido como um polvo gigante ou um gorila aos moldes de Kong, foi virando uma espécie de dinossauro mutante. Pro visual do bicho, o diretor de arte Akira Watanabe combinou a aparência de um T-Rex, um Iguanodonte, um Estegossauro (sim, a formação óssea maneira nas costas do monstrão) e um crocodilo. A textura da pele do lagartão teria aquele tipo de crosta quelóide, que remetia ao tipo de deformidade ocorrida nos sobreviventes das bombas nucleares.
Tomoyuki Tanaka, produtor do primeiro filme e pai da idéia. Mano, sério, eu adooooorooo essa foto. |
Lembremos que algum tempo antes, dois filmes americanos haviam feito sucesso absurdo no mundo inteiro, Japão incluso: o King Kong, de 1933 (que teve relançamento mundial nos cinemas, 19 anos depois) e 'The beast from 20.000 fathoms" de 1953, marcos iniciais dos filmes de monstros. Com esse embrião de idéia, Tanaka procurou o estúdio Toho e lá, junto com o diretor Ishirô Honda, o diretor de efeitos especiais Eiji Tsuburaya (e se esse nome lhe soa familiar, fã de tokusatsu, não é a toa. O cara é o "pai" da Família Ultra) e os roteiristas Takeo Murata e Shigeru Kayama (na verdade, um escritor de ficção científica famoso que foi contratado pra conferir legitimidade ao roteiro e que fez a primeira versão da história, que depois vai ser um pouco modificada por Murata e Honda), eles desenvolveram a idéia de um filme onde o monstro gigante seria uma metáfora dos horrores sofridos ao final da II Guerra Mundial.
Eiji Tsuburaya, the (Ultra) Man!!!! |
A coisa foi sofrendo mudanças aqui e ali. O monstro, que em estágios iniciais foi concebido como um polvo gigante ou um gorila aos moldes de Kong, foi virando uma espécie de dinossauro mutante. Pro visual do bicho, o diretor de arte Akira Watanabe combinou a aparência de um T-Rex, um Iguanodonte, um Estegossauro (sim, a formação óssea maneira nas costas do monstrão) e um crocodilo. A textura da pele do lagartão teria aquele tipo de crosta quelóide, que remetia ao tipo de deformidade ocorrida nos sobreviventes das bombas nucleares.
Num estágio inicial, inclusive, como dá pra ver no concept art embaixo, o formato do crânio do monstro evocava a imagem do cogumelo nuclear.
Primeiro concept do crânio do Big G, feito por Kazuyoshi Abe, lembrando um cogumelo nuclear. |
Ainda na fase de estudos do visual final do bicho, um dos modelos mais próximos do resultado final. |
Enfim, a idéia deu frutos e em 03 de Novembro de 1954, estreou "Godzilla" (ou Gojira no original. Sim, tem aquela história de que é a junção das palavras que em japonês significam gorila e baleia, mas encontrei também uma versão que diz que o nome veio de um camarada que trabalhava na produção e que era muito alto, por isso, apelidado de "Gojira", portanto, batizaram o monstro com o apelido desse sujeito. Eu sinceramente prefiro essa versão da história. Fico feliz em imaginar que em algum determinado momento, o rapaz em questão se pegou pensando que um dos principais produtos culturais de exportação do Japão foi batizado em seu nome ^^).
Haruo Nakajima, o primeiro ator a usar o body suit (como traduz isso? roupa de látex?) do monstrão diz que a fila, na noite de estréia, era imensa, de dobrar esquina. Imediatamente ele disse para o diretor Honda, que estava ao seu lado "olhe só pra toda essa gente. Vamos ter que fazer uma sequência".
....profético, não?
Enfim, o sucesso foi absurdo. 29 filmes (contando aquela aberração norte-americana de 1998) divididos em 3 "fases" distintas.
1ª - A fase Showa, que vai do filme original, "Godzilla", de 1954, até "O Terror de MechaGodzilla", de 1975
2ª - A fase Heisei, que vai de "Godzilla 1984", que foi lançado em.....bom, vc pode adivinhar... até "Godzilla vs. Destroyer" de 1994.
3ª - A fase milenium (ou "new reality"), que vai de "Godzilla 2000", que foi lançado em......1999 (RÁ, já tava se sentindo o fodão, né?) até o ultimo filme da franquia (até agora) "Godzilla Final Wars" de 2004.
As vezes focavam só nas patas do monstro então o coitado do ator era poupado de usar o uniforme todo |
A altura e peso do Godzilla vão meio que oscilando dependendo do filme, variando entre 50 e 100 metros de altura e entre 20 e 60 mil toneladas de peso. A cor da criatura também é passível de discussão. Nos filmes mais recentes decidiram de vez que o bicho era verde, mas até então a cor dele, entre uma e outra variação mais bizarra, ficava entre o cinza meio carvão.
Onze atores interpretaram a criatura, nesses 50 anos de existência. E elenco aqui um por um, pq sempre acho que esses atores de bodysuit em filmes de monstros merecem bem mais reconhecimento do que acabam tendo:
- Seiji Onaka
- Yú Sekida
- Ryosaku Takasugi
- Yú Sekida
- Ryosaku Takasugi
- Shinji Takagi
- Isao Zushi
- Toru Kawai
- Mizuho Yoshida
- e por ultimo, mas não menos importante, Tsutomu Kitagawa
Ah sim, pro caso de estarem se perguntando, não tem fotos dos demais atores da série aqui pela mesma razão que não tem fotos dos dois roteiristas: porque o mundo é uma droga. E eu juro que procurei com afinco... Enfim.....
Ah sim, pro caso de estarem se perguntando, não tem fotos dos demais atores da série aqui pela mesma razão que não tem fotos dos dois roteiristas: porque o mundo é uma droga. E eu juro que procurei com afinco... Enfim.....
E cito os nomes deles pq vcs não tem idéia do quão difícil é ter que se mexer dentro daquela fantasia de látex mega pesada (a saber, 17 versões da fantasia já existiram, ao longo da franquia, sendo que a original pesava quase 100 quilos!!!), incômoda (o contato do latex com a pele suada dos atores geralmente causava de alergias à feridas, fora que o material não era muito flexível, logo, fazer qualquer movimento mais complexo do que, simplesmente, andar pra frente, era impossível), quente (a temperatura interna dessa porra passava dos 50 graus), sem poder ver direito, já que os buracos no pescoço do monstro não podiam ser grandes a ponto de serem vistos na versão de cinema (e de qualquer maneira, o suor torrencial dos atores dentro da fantasia tapava os buracos, tornando tudo ainda mais complicados) e tendo que se mover velozmente, já que o filme era gravado 3 vezes mais rápido que um filme normal, em 72 frames (chupa, Peter Jackson) de forma a que, quando tivesse a velocidade reduzida, passasse uma idéia de movimentos grandiosos e pesados.
Fora que frequentemente haviam cenas aquáticas, e pra dar alguma merda, do tipo nego caindo e perigando morrer afogado, até alguma fiação interna da roupa, que estava lá pros efeitos de luz na pele e olhos do Big G, soltar e quase matar o ator lá dentro eletrocutado, era um pulo. E se, com o tempo e a tecnologia de efeitos especiais cada vez mais sofisticada, tecnicamente tudo deveria ficar mais fácil pros atores, devemos lembrar que agora a roupa tem motores pesados responsáveis pelos movimentos faciais do Lagarto gigante, então, ainda é um suplicio se mover dentro daquela coisa (não precisam acreditar apenas na minha palavra e em meus belos olhos castanhos. Vejam o próprio Kitagawa falando de como já quase morreu em uma determinada cena, nas filmagens).
Tokyo is going dowwwnnnnn!!!! |
Fora que frequentemente haviam cenas aquáticas, e pra dar alguma merda, do tipo nego caindo e perigando morrer afogado, até alguma fiação interna da roupa, que estava lá pros efeitos de luz na pele e olhos do Big G, soltar e quase matar o ator lá dentro eletrocutado, era um pulo. E se, com o tempo e a tecnologia de efeitos especiais cada vez mais sofisticada, tecnicamente tudo deveria ficar mais fácil pros atores, devemos lembrar que agora a roupa tem motores pesados responsáveis pelos movimentos faciais do Lagarto gigante, então, ainda é um suplicio se mover dentro daquela coisa (não precisam acreditar apenas na minha palavra e em meus belos olhos castanhos. Vejam o próprio Kitagawa falando de como já quase morreu em uma determinada cena, nas filmagens).
O monstro é um dos patrimônios culturais do Japão. Dono de uma estrela com seu nome na calçada da fama, nos Estados Unidos. E foco da maratona que registro a seguir. Groove ^^
GODZILLA (1954)
Diretor: Ishirô Honda
Ok......então, apesar de já ter feito um pequeno exercício de contextualização acima, vamos continuar nos entornos do filme. O longa-metragem abre com um navio militar em alto mar, os marinheiros descansando no convés e do nada, DO NADA, um brilho aparece e no momento seguinte, o barco está em chamas.
Sim, todos sabemos que o monstro simboliza o perigo nuclear e todo mundo lembra das bombas no final da segunda guerra, mas esta não foi a ultima vez que armas nucleares tornaram a vida dos japoneses consideravelmente mais difícil. Pelo contrário, a ameaça era iminente. Guerra fria correndo solta e o Japão no meio de duas potências realizando testes nucleares. De um lado os soviéticos, e do outro os norte-americanos na base localizada nas Ilhas Marshall. De quebra, a Guerra da Coréia rolando, e a ameaça de que as consequências de um possível ataque nuclear originado ou da China, ou da própria Coréia, resultasse em fallout (eu não sei como se traduz isso, acho que em português fica algo como "Cinzas negras" ou algo assim. Vcs sabem: as bombas explodem e a radiação residual - além de destroços contaminados - são levados pelo vento, contaminando tudo no caminho) em território japonês. Pois foi de um teste nuclear norte-americano que veio a tragédia: no dia primeiro de Março de 54, os ianques executaram uma ação conhecida como "Operação Bravo", que consistia na explosão de uma bomba de hidrogenio de 15 megatons (só pra constar, 750 vezes mais potentes que as duas bombas que mandaram Hiroshima e Nagasaki pro espaço) no Atol de Bikini. O resultado superou todas as previsões feitas e o material contaminado pela radiação acabou indo muito mais distante do que imaginavam os militares norte-americanos. A mais ou menos 160 quilometros a leste do atol, encontrava-se o Daigo Fukuryū Maru (第五福竜丸 , Dragão da sorte nº5), navio pesqueiro japonês. O resultado aqui é óbvio: material radiativo atingiu o navio. Os membros da tripulação voltaram pro Japão, doentes, apresentando sinais de exposição às cinzas nucleares e meses depois, alguns deles vieram a morrer de câncer e demais doenças ligadas à radiação. Nos meses seguintes, o ocorrido ganhou publicidade nos jornais japoneses e aí, além de toda a merda ocorrida, as pessoas ainda tiveram que passar por um período de boicote ao consumo de peixe, com medo (justificado, não?) de que a carne dos animais estivesse contaminada (conseguem entender o impacto disso, considerando que peixe, junto com arroz e macarrão, é um dos principais alimentos consumidos pelos nipônicos? Imaginem uma merda dessas contaminando todo o arroz e feijão brasileiro e vcs vão ter uma idéia). E é aí que entra a cultura pop. Do mesmo jeito que a crise da bolsa de 29 vai provocar o surgimento dos super-heróis, ou o ataque às torres gêmeas em 2001 vai meio que servir pra catapultar de volta pro idéario popular a figura dos heróis encapuzados, os contadores de história japoneses resolveram usar a arte pra mexer nessa ferida aberta. Como eu disse, o filme abre e vemos uma reprodução do incidente do Daigo Fukuryu, só que agora com um navio militar japonês. Um segundo navio é enviado para descobrir o que ocorreu e o final é exatamente o mesmo. Nos arredores, os moradores, um grupo de pescadores, tem seu vilarejo atacado por algo descrito como um monstro gigantesco.
O acúmulo dos relatos vai preocupando as autoridades japonesas, que decidem enviar um grupo liderado pelo Dr. Yaname, famoso paleontólogo, para investigar.
E aí, o que eles encontram é.......
O filme segue, basicamente, duas linhas narrativas. A primeira, óbvia, é a do Japão lidando com uma besta enraivecida de 50 metros de altura vindo pra cima deles. A segunda, gira em torno da família do Dr. Yaname. Sua filha, Emiko, está apaixonada pelo militar Ogata. O problema é que ela está prometida para se casar com o Dr. Serisawa, cientista japonês envolvido num projeto pessoal secreto.
Sejamos francos: nem sempre, mas em alguns dos filmes seguintes, já menos dramáticos, o drama humano soa meio enfadonho, já que o que a maioria (eu incluso) quer ver é monstro se moendo de porrada. Nada errado, até aí (mas tem algumas das sequencias que sabem equilibrar bem os dois lados da história. A maioria dos filmes da década de 90, por exemplo). Mas como o tom aqui é COMPLETAMENTE outro, bem mais dramático, a trama envolvendo o triângulo amoroso entre os 3 personagens acima citados acaba encontrando seu lugar no filme. Até porque a vida de Emiko, Ogata e Serisawa vai ser diretamente afetada pelo surgimento do Kaijuu. Por diversas vezes Emiko vai tentar contar a verdade para Serisawa e desfazer o relacionamento entre eles, mas em todas estas vezes a chance é perdida por algo relacionado ao monstro ou aos esforços para detê-lo.
Eu citei, no texto sobre "The Host", que os governantes se mostravam extremamente ineficientes. Pois bem, isso vem daqui, já que os políticos, ao invés de se juntarem para achar a melhor solução possível, preferem discutir a respeito de pormenores (a expressão de desesperança no rosto de Yaname, ao assistir a desavença entre os políticos locais, entrega que qualquer salvação que possa resolver o problema do Godzilla NÃO virá dos esforços conjuntos dos governantes).
Entre discussões e a construção de uma cerca eletrificada anti-godzilla que sabemos que não vai durar nem cinco minutos, o inevitável acontece: o monstro chega a Tóquio.
E sério, eu sei que existe a possibilidade de que vcs estejam pensando "ah, riariaria!!onze11, Godzilla, mó galhofa, mega divertida" e SÉRIÃO: o tom não poderia ser mais diferente. O lagartão surge aqui como uma metáfora da morte e da tragédia e as consequências são apresentadas de forma bem pouco sutil, a ponto do filme se tornar REALMENTE perturbador.
Vemos familias morrendo, pessoas perdendo seus entes queridos, indivíduos sendo esmagados pelos escombros de prédios derrubados. Vemos sobreviventes feridos, se juntando aos montes em hospitais, apenas esperando para morrer. Vemos crianças sendo diagnosticadas com envenenamento nuclear, dor, medo e desesperança vindo de todo lugar. Tudo muito cru, sem sutileza nenhuma, atingindo todo mundo ali como uma bomba (o trocadilho foi obviamente intencional). E no meio disso tudo, Serisawa, completamente perdido. Com o tempo, descobrimos que sua pesquisa secreta envolvia o estudo do oxigenio e uma das descobertas do cientista foi um elemento que desintegra o oxigênio local. Serisawa utiliza a arma (O Oxygen Destroyer) num aquário, pra mostrar os efeitos para Emiko, e os resultados são assustadores: as criaturas morrem imediatamente e seus corpos são desintegrados. E aí surge a dúvida: usar tal arma contra o Godzilla e correr o risco de ver tal criação, talvez com potencial ainda mais letal que as armas nucleares que criaram o monstro, acabar sendo usado para fins bélicos ou ficar de braços cruzados e assistir o Japão ser apagado do mapa pela criatura?
Devo dizer que, mesmo aparecendo muito pouco, Serisawa domina o filme e é, facil, o humano mais memorável de toda a franquia.
Nos rápidos momentos em que aparece, vemos o peso da decisão a ser tomada corroendo o personagem e é impossível não simpatizarmos com ele. Também é digno de nota que o diretor, Honda, foge do clichê de criar tensão entre os personagens envolvidos no triangulo amoroso. Ogata e Emiko são tão carismáticos quanto Serisawa e tem profundo respeito pelo personagem, daí a necessidade de contar tudo para o cientista antes de efetivamente se envolverem de alguma forma mais aprofundada. Um diretor menos talentoso provavelmente tentaria vilanizar os dois e, ao fugir do clichê, acabamos nos envolvendo mais no conflito dos 3.
Sem um Anguirus, uma Mothra ou um King Ghidorah pra salvar o dia, cabe a Serisawa finalmente usar seu invento para salvar o que sobrou do país.
Mano.....tudo funciona nesse filme. O que vou dizer pode parecer absurdo, mas mesmo tendo um ou outro momento em que a contenção de gastos do filme se faz notável (vejam bem, sim, Godzilla foi o filme mais caro da história do Japão, até então, mas isso se deu pq os custos de produção eram caríssimos, sendo que um terço do orçamento total - 62 milhões de Yen, o equivalente a 900 mil dólares - foram gastos exclusivamente nos efeitos especiais, desde a construção de maquetes até a criação da body suit do monstro, além de alguns puppets e mais efeitos do tipo stop motion, particularmente caros pra época) eu prefiro esses tipo de efeito, conhecido como pratical effects, ao uso onipresente de CGI e tela verde de hoje em dia. #prontofalei!!! ^^
Tanto que minha primeira ressalva ao Godzilla do ano que vem é exatamente a substituição dos atores com body suits por uma versão digital do Big G. Entendo que a franquia precisa desse tipo de coisa pra se reinventar pra um novo público que, de outra maneira, continuaria vendo a série de uma forma mais rasteira, mas sei lá. Tal qual o uso indiscriminado do 3D (convertido, quase sempre), o excesso acaba cansando. Claro que a culpa não é da ferramenta, mas de quem a usa e de como ela é usada, mas fica aqui minha crítica.
Anyway, a força do filme está mesmo nos ataques do monstro e nas consequências destes ataques. As duas cenas emblemáticas disso são a do hospital, em que vemos uma garotinha no instante em que perde a mãe, ferida nos ataques e quando assistimos um grupo de repórteres que não desiste de sua função mesmo diante da morte iminente, que vem sem misericórdia (e o que fortalece tal cena é saber que se existe um povo capaz de permanecer, em nome do dever, desempenhando suas funções, mesmo com uma máquina de matar furiosa vindo pra cima deles, é o povo japonês - os kamikazes da segunda guerra são exemplos históricos que comprovam essa crença no dever, mesmo que a custo da própria vida, do povo nipônico)
GODZILLA (1954)
Diretor: Ishirô Honda
Ok......então, apesar de já ter feito um pequeno exercício de contextualização acima, vamos continuar nos entornos do filme. O longa-metragem abre com um navio militar em alto mar, os marinheiros descansando no convés e do nada, DO NADA, um brilho aparece e no momento seguinte, o barco está em chamas.
Sim, todos sabemos que o monstro simboliza o perigo nuclear e todo mundo lembra das bombas no final da segunda guerra, mas esta não foi a ultima vez que armas nucleares tornaram a vida dos japoneses consideravelmente mais difícil. Pelo contrário, a ameaça era iminente. Guerra fria correndo solta e o Japão no meio de duas potências realizando testes nucleares. De um lado os soviéticos, e do outro os norte-americanos na base localizada nas Ilhas Marshall. De quebra, a Guerra da Coréia rolando, e a ameaça de que as consequências de um possível ataque nuclear originado ou da China, ou da própria Coréia, resultasse em fallout (eu não sei como se traduz isso, acho que em português fica algo como "Cinzas negras" ou algo assim. Vcs sabem: as bombas explodem e a radiação residual - além de destroços contaminados - são levados pelo vento, contaminando tudo no caminho) em território japonês. Pois foi de um teste nuclear norte-americano que veio a tragédia: no dia primeiro de Março de 54, os ianques executaram uma ação conhecida como "Operação Bravo", que consistia na explosão de uma bomba de hidrogenio de 15 megatons (só pra constar, 750 vezes mais potentes que as duas bombas que mandaram Hiroshima e Nagasaki pro espaço) no Atol de Bikini. O resultado superou todas as previsões feitas e o material contaminado pela radiação acabou indo muito mais distante do que imaginavam os militares norte-americanos. A mais ou menos 160 quilometros a leste do atol, encontrava-se o Daigo Fukuryū Maru (第五福竜丸 , Dragão da sorte nº5), navio pesqueiro japonês. O resultado aqui é óbvio: material radiativo atingiu o navio. Os membros da tripulação voltaram pro Japão, doentes, apresentando sinais de exposição às cinzas nucleares e meses depois, alguns deles vieram a morrer de câncer e demais doenças ligadas à radiação. Nos meses seguintes, o ocorrido ganhou publicidade nos jornais japoneses e aí, além de toda a merda ocorrida, as pessoas ainda tiveram que passar por um período de boicote ao consumo de peixe, com medo (justificado, não?) de que a carne dos animais estivesse contaminada (conseguem entender o impacto disso, considerando que peixe, junto com arroz e macarrão, é um dos principais alimentos consumidos pelos nipônicos? Imaginem uma merda dessas contaminando todo o arroz e feijão brasileiro e vcs vão ter uma idéia). E é aí que entra a cultura pop. Do mesmo jeito que a crise da bolsa de 29 vai provocar o surgimento dos super-heróis, ou o ataque às torres gêmeas em 2001 vai meio que servir pra catapultar de volta pro idéario popular a figura dos heróis encapuzados, os contadores de história japoneses resolveram usar a arte pra mexer nessa ferida aberta. Como eu disse, o filme abre e vemos uma reprodução do incidente do Daigo Fukuryu, só que agora com um navio militar japonês. Um segundo navio é enviado para descobrir o que ocorreu e o final é exatamente o mesmo. Nos arredores, os moradores, um grupo de pescadores, tem seu vilarejo atacado por algo descrito como um monstro gigantesco.
O acúmulo dos relatos vai preocupando as autoridades japonesas, que decidem enviar um grupo liderado pelo Dr. Yaname, famoso paleontólogo, para investigar.
E aí, o que eles encontram é.......
O primeiro contato com a fera |
Sejamos francos: nem sempre, mas em alguns dos filmes seguintes, já menos dramáticos, o drama humano soa meio enfadonho, já que o que a maioria (eu incluso) quer ver é monstro se moendo de porrada. Nada errado, até aí (mas tem algumas das sequencias que sabem equilibrar bem os dois lados da história. A maioria dos filmes da década de 90, por exemplo). Mas como o tom aqui é COMPLETAMENTE outro, bem mais dramático, a trama envolvendo o triângulo amoroso entre os 3 personagens acima citados acaba encontrando seu lugar no filme. Até porque a vida de Emiko, Ogata e Serisawa vai ser diretamente afetada pelo surgimento do Kaijuu. Por diversas vezes Emiko vai tentar contar a verdade para Serisawa e desfazer o relacionamento entre eles, mas em todas estas vezes a chance é perdida por algo relacionado ao monstro ou aos esforços para detê-lo.
Ogata e Emiko |
Eu citei, no texto sobre "The Host", que os governantes se mostravam extremamente ineficientes. Pois bem, isso vem daqui, já que os políticos, ao invés de se juntarem para achar a melhor solução possível, preferem discutir a respeito de pormenores (a expressão de desesperança no rosto de Yaname, ao assistir a desavença entre os políticos locais, entrega que qualquer salvação que possa resolver o problema do Godzilla NÃO virá dos esforços conjuntos dos governantes).
Dr. Yamane |
Entre discussões e a construção de uma cerca eletrificada anti-godzilla que sabemos que não vai durar nem cinco minutos, o inevitável acontece: o monstro chega a Tóquio.
E sério, eu sei que existe a possibilidade de que vcs estejam pensando "ah, riariaria!!onze11, Godzilla, mó galhofa, mega divertida" e SÉRIÃO: o tom não poderia ser mais diferente. O lagartão surge aqui como uma metáfora da morte e da tragédia e as consequências são apresentadas de forma bem pouco sutil, a ponto do filme se tornar REALMENTE perturbador.
Família reunida, segundos antes de serem mortos em um dos ataques do monstro |
Devo dizer que, mesmo aparecendo muito pouco, Serisawa domina o filme e é, facil, o humano mais memorável de toda a franquia.
Nos rápidos momentos em que aparece, vemos o peso da decisão a ser tomada corroendo o personagem e é impossível não simpatizarmos com ele. Também é digno de nota que o diretor, Honda, foge do clichê de criar tensão entre os personagens envolvidos no triangulo amoroso. Ogata e Emiko são tão carismáticos quanto Serisawa e tem profundo respeito pelo personagem, daí a necessidade de contar tudo para o cientista antes de efetivamente se envolverem de alguma forma mais aprofundada. Um diretor menos talentoso provavelmente tentaria vilanizar os dois e, ao fugir do clichê, acabamos nos envolvendo mais no conflito dos 3.
Sem um Anguirus, uma Mothra ou um King Ghidorah pra salvar o dia, cabe a Serisawa finalmente usar seu invento para salvar o que sobrou do país.
Dr. Serisawa |
Mano.....tudo funciona nesse filme. O que vou dizer pode parecer absurdo, mas mesmo tendo um ou outro momento em que a contenção de gastos do filme se faz notável (vejam bem, sim, Godzilla foi o filme mais caro da história do Japão, até então, mas isso se deu pq os custos de produção eram caríssimos, sendo que um terço do orçamento total - 62 milhões de Yen, o equivalente a 900 mil dólares - foram gastos exclusivamente nos efeitos especiais, desde a construção de maquetes até a criação da body suit do monstro, além de alguns puppets e mais efeitos do tipo stop motion, particularmente caros pra época) eu prefiro esses tipo de efeito, conhecido como pratical effects, ao uso onipresente de CGI e tela verde de hoje em dia. #prontofalei!!! ^^
Tanto que minha primeira ressalva ao Godzilla do ano que vem é exatamente a substituição dos atores com body suits por uma versão digital do Big G. Entendo que a franquia precisa desse tipo de coisa pra se reinventar pra um novo público que, de outra maneira, continuaria vendo a série de uma forma mais rasteira, mas sei lá. Tal qual o uso indiscriminado do 3D (convertido, quase sempre), o excesso acaba cansando. Claro que a culpa não é da ferramenta, mas de quem a usa e de como ela é usada, mas fica aqui minha crítica.
Anyway, a força do filme está mesmo nos ataques do monstro e nas consequências destes ataques. As duas cenas emblemáticas disso são a do hospital, em que vemos uma garotinha no instante em que perde a mãe, ferida nos ataques e quando assistimos um grupo de repórteres que não desiste de sua função mesmo diante da morte iminente, que vem sem misericórdia (e o que fortalece tal cena é saber que se existe um povo capaz de permanecer, em nome do dever, desempenhando suas funções, mesmo com uma máquina de matar furiosa vindo pra cima deles, é o povo japonês - os kamikazes da segunda guerra são exemplos históricos que comprovam essa crença no dever, mesmo que a custo da própria vida, do povo nipônico)
Um dos momentos mais tensos do filme.... |
Como não podemos ignorar que AINDA é um Kaiju eiga (filme de monstro) falemos do próprio: como eu já disse, Eiji Tsuburaya utiliza varios recursos pra mostrar a criatura na tela, desde uma ou outra cena de stop motion até alguns bonecos pequenos. Mas o mais impressionante elemento aqui utilizado é mesmo o body suit, recurso que mesmo à época, alguns especialistas em efeitos especiais achavam meio caído.
Welll......chupa mundo!!!! A fantasia REALMENTE impressiona. É claro que os recursos de câmera, a decisão de Honda mostrar o bicho, na maioria do tempo, em cenas noturnas e ao longe e o fato do filme ser em preto e branco ajudam, mas mesmo nas cenas em que aparece em close, o resultado é assustador.
O visual do bicho é impressionante e eu só consigo imaginar a cara de awesomeness das pessoas quando a criatura apareceu de corpo inteiro pela primeira vez, na tela do cinema, na estréia, em 54. Os elogios devem ir para todos os envolvidos: o visual inicial, criado por Akira Watanabe, tornado tridimensional pelo escultor Teizo Toshimitsu e que veio a ganhar forma final no body suit que todos conhecemos e amamos através das mãos dos irmãos Kanji e Koei Yagi e de Eizo Kaimai)
E é como os meninos do JCast disseram em um dos episódios do podcast, onde destrinchavam o filme: foi realmente surpreendente ver o bicho soltando seu atomic breath em cima das pessoas, já no filme de estréia, principalmente por eu, na minha ignorância sobre a franquia, achar que esse era um elemento que veio posteriormente, nos filmes menos dramáticos, mais voltados pro UFC entre monstros.
Mas não. Quando puto, o bicho dá o famoso charge que faz as formações ósseas em suas costas brilharem e aí.....
Unleash Hell!!!!! |
E o bizarro é que, mesmo com toda essa tragédia, o filme não se priva de mostrar o monstro como vítima também, afinal, foram os humanos, com suas armas atômicas que o criaram. Com, aliás, as mesmas armas que, anos depois, o libertaram de seu esconderijo, ao fundo do oceano (sim, "Pacific Rim" style. Ponto pro Del Toro por evidenciar a referência já no título).
Karma is a bitch, enfim.....
"When I first saw Godzilla at the studio screening, I couldn't help crying when I watched Godzilla become a skeleton, (...) I thought,'Why did mankind have to punish Godzilla like that?'... Mankind seemed like a bigger villain than Godzilla, and I felt sorry for him. I think sympathy for him still exists today. If Godzilla were truly evil, people wouldn't have loved him so much. We were responsible for triggering Godzilla's violence."
Akira Takarada, ator que interpreta Hideo Ogata
O sacrifício final de Serisawa |
Os restos mortais do gigante caído.... |
O final do filme é trágico, e não poderia ser diferente, convenhamos. O monstro é morto e Serisawa morre junto, não apenas para garantir que os segredos envolvendo a criação do Oxygen Destroyer não caiam em mãos erradas, mas também, para permitir que Emiko e Ogata possam, enfim, ser felizes juntos.
O "Oxygen Destroyer", a arma definitiva anti-Godzilla. |
E claro, o final acena profeticamente para o fato de que, caso a humanidade não tome jeito e aprenda a usar a energia nuclear (e a ciência, como um todo) de forma responsável, o resultado vai ser o surgimento de um novo Godzilla, ainda pior.
Eu não apostaria minha vida nisso, cara-pálida!!!! |
Epílogo.
Ok, o filme estreou e pegou todo mundo de guarda abaixada, mas e aí? Bom, teve 27 sequências e mais o filme norte americano de 1998, então, os senhores podem deduzir que mal das pernas, o filme não foi.
Mas, só pra podermos nos apoiar na fria certeza proporcionada pelos números, sigamos: Como já dito, o filme teve orçamento de mais de 60 milhões de yenes (ou, deixando de preguiça e indo atrás do valor exato, 62.893.455 yenes) e rendeu, ao final de sua temporada nos cinemas, 152 milhões de yenes (ou 2,25 milhões de dólares). Ou seja, EPIC WIN!!!!!!
Com relação às críticas da época, elas se dividiram entre gente que amou o filme e os efeitos especiais e uma parcela que criticava o diretor Honda por "capitalizar em cima da tragédia"
Obviamente o tempo mostrou que essa parcela estava errada, rendendo todas as homenagens ao filme original e ao papel do monstro na cultura pop. Segundo o livro "Japan´s favorite Mon-Star: the unauthorized biography of the Big G" (que foi uma das fontes pra esse texto) escrito pelo jornalista Steve Ryfle, "em 1984, o prestigiado jornal de cinema ´Kinema Junpo´ listou Godzila como um dos 20 melhores filmes japoneses de todos os tempos. Em 1989, foi publicada uma pesquisa feita com 370 críticos de cinema japoneses, conhecida como Nihon Eiga Besuto 150 (Os 150 melhores filmes japoneses) que colocou o filme na 27ª posição"
E o resto, é história... ^^ e parte dela vem a seguir......
(continua na parte II)
Um comentário:
guardei pra elr depois, verdade, mas TENHO que postar isto:
http://www.savagechickens.com/2013/08/busy.html
love you
Postar um comentário