Eu passo uma quantidade razoavelmente grande de tempo falando mal do universo DC. E de tal forma que, parece birra. Mas ponham-se no meu lugar: então, vc cresceu vendo aqueles personagens que construíram sua personalidade e seu senso de certo e errado de uma forma que seus pais e instituições como igreja ou escola jamais chegaram perto. E aí decidem cancelar aquele universo.
"Ok, normal, regras do jogo, vamos ver como eles decidem manter o que faz esse grupo de personagens funcionar"
Só que, plot twist, eles decidem não faze-lo. Personagens desaparecem, o amago de alguns outro que permanecem é tão alterado que "atualização" não faz justiça. Adulterados, desfigurados, violentados conceitualmente...
E, paralelo a isso, a principal rival da DC trazia Jonathan Hickman, a.k.a. "meu atual escritor de HQs favoritos" em suas fileiras. E diabos, eles tem Kamala Khan e Squirrel Girl. Não é preciso, se vc é como eu, um caçador de sense of wonder e awesomeness, pensar muito em qual direção seguir.
Mas, veio Dc You e minha fé na casa do Superman e Batman voltou a ser restabelecido. E ai foi anunciado o Rebirth que, se não é o retorno ao universo pré new 52 que eu queria, pelo menos é uma olhadela por cima de ombro pros conceitos daquela época que foram rechaçados por Dan Didio e Geoff Johns após o reboot.
"Talvez a Dc esteja voltando a entrar nos eixos"
No entanto, ainda tem aquele incomodozinho de leve, aquela vozinha se repetindo estridentemente me lembrando do quanto é feio falar mal de algo que eu não li. Então, contrariando meus próprios instintos, decidi pegar alguns títulos dos primórdios do New 52 e dar uma chance justa pra eles. Meu nível de satisfação? Descrevo a seguir:
JLA por Geoff Johns e Jim Lee
TPB #1: Origins
TPB #1: Origins
Ok, já tirando do caminho: os dias de ouro de Johns, em que ele era um dos melhores roteiristas da industria, ficaram pra trás, ok? Talvez ele tenha gastado até a ultima gota de skill no texto da SJA e no começo da fase dele no Flash. E eu nunca fui dos maiores fãs de Jim Lee, mesmo na época de seus X-Men, lá nos terríveis anos 90. Então, expectativas bem baixas, pra dizer o mínimo.
O primeiro arco, "Origins", mostra o surgimento da JLA. Passando-se 5 anos antes da cronologia atual da editora, vemos um grupo de heróis inexperiente, ainda que sejam os 7 ícones da editora (ok, 6 mais o Ciborgue). O que faz esses personagens funcionar já está lá.... ainda que em doses bem pequenas e aparecendo e sumindo conforme for conveniente pro roteiro ir de A a B. Mas está lá.
Hal Jordan é um cretino, Batman não confia em ninguém, Diana é uma guerreira, Flash é o que quer que seja pq who cares, he is not Wally West, Aquaman é um monarca antes de um herói. Ciborgue não é o Ajax, então, novamente, who cares? A ausência principal, aquela que deixa um vácuo que é difícil de ignorar ali, alem do caçador de marte, é o Superman. Pq, meninos e meninas, aquele DEFINITIVAMENTE não é o Superman.
Vejam bem, atualizações são legais e necessárias. Mas quando eu vejo o Superman, o raio de luz e esperança da DC, o maior super herói que já existiu, ESQUARTEJANDO uma porra de um parademonio, well.... É aí que a gente define onde ficam os limites. Ah, eu estou exagerando?
Piora. Logo depois disso, ele cogita derrubar um grupo de helicópteros que disparam contra a Liga (ok, eles estão tentando ajudar e acertar os parademonios, mas...). Sim, um grupo de helicópteros. Tripulados. Por humanos. Americanos.
Existe uma semente daquele Superman meio "Springsteen" desenvolvido por Grant Morrison na Action Comics. Em um diálogo, Kal-El deixa claro que não simpatiza com autoridades, o que é interessante. Mas, fica nisso.
De resto, aquele bully mal humorado segue se relacionando com os personagens. Clark parece tão descaracterizado que eu sinceramente pensei que em algum momento, seria revelado que o personagem estava sob controle telepático de algum vilão de Apokolips.
De resto, aquele bully mal humorado segue se relacionando com os personagens. Clark parece tão descaracterizado que eu sinceramente pensei que em algum momento, seria revelado que o personagem estava sob controle telepático de algum vilão de Apokolips.
Ah sim, esqueci de comentar: Darkseid aparece. Da forma mais porca e gratuita possível, mas aparece. Sem muito propósito, exceto aparentemente colonizar a Terra e achar sua filha desaparecida, num plot que promete desdobramentos futuros, mas....
Ok, pode parecer que eu odiei tudo, mas o gibi tem seus momentos. Quando alguém pergunta, por exemplo, o que um personagem como o Aquaman pode acrescentar num grupo que tem, em suas fileiras, Superman e Flash, e a resposta vem da seguinte forma:
Boy, a melhor forma de conquistar o amor desses seres super humanos é por meio da gastronomia humana não? Já funcionou antes com o Hellboy, se vcs se lembram.
Enfim....
O gibi brilha, ainda que de forma esparsa, na relação entre os personagens. Darkseid e a invasão de Apokolips é só um plot device pro roteiro andar. Ao final do TPB, a Liga está estabelecida e há a promessa de novas aventuras e bla bla bla......
Ok, eu não gostei do gibi anterior. Big deal. Histórias de origem costumam, na sua imensa maioria, ser medíocres então, nada de novo no front. É aqui que a gente vai ver se realmente Johns perdeu a mão ou não.
E o resultado é........mediano. Não é uma história que vá mudar a vida de absolutamente ninguém, mas já dá um salto de qualidade razoável em comparação a anterior. Na trama, vemos a sociedade reagindo ao surgimento da JLA (Mark Waid já fez antes e melhor), as dificuldades surgidas a partir da convivencia entre personagens tão complexos (Mark Waid já fez antes e melhor) e um vilão disposto a destruir a recém conquistada e ainda frágil confiança que o público tem no grupo (Mark Waid já fez antes e melhor).
Mesmo se as obrigatórias "JLA: year one" e "Torre de Babel" não existissem, esse já seria um arco bastante mediano. Havendo ambas as histórias, "the villain's journey" é só desnecessário. Mas, de novo, tem seus momentos.
oh boy..... nunca vou me cansar de ver gente espancando Hal Jordan.
Vamos ver de novo?
huahauahauahua. Again? who's with me??
oh boy...
A motivação do vilão é bem mais ou menos, mas até aí, é uma história despretensiosa (ao contrário do que os hiperbólicos elogios na contra capa do encadernado dão a impressão. Aquilo é comprado, certo? pq...
c'mon, guys....)
Johns parece ter um propósito aqui, tentando levar a história pra algum lugar (que me parece ir em direção a Apokolips) mas só saberei quando ler os demais encadernados.
Até aqui, o que consegui foi uma história divertidinha mas esquecível.
JLA: Origins - 6,0
JLA: The Villain's Journey - 7,0
AQUI, a coisa se inverte. Um detalhe que eu não sei se os senhores tem ciência: eu adoro o Aquaman. De forma não irônica. O que não quer dizer que eu adore TODAS as fases do personagem, mas o conceito envolvendo o monarca de Atlântida é algo que sempre me pareceu fascinante.
E ninguém pode me culpar por curtir o personagem já que tivemos a melhor fase dele na época em
Peter David é foda, não?
Enfim. E o interessante aqui é: Johns SABE que Arthur Curry não tem a melhor reputação do universo entre os heróis da DC. Tal qual Paul Cornell faz brilhantemente ao tentar estabelecer uma personalidade pra Lex Luthor em "The black ring", o roteirista usa aquilo que sabemos sobre o Aquaman e subverte, mostrando, através desse contraste, o quanto ele se diferencia de seus colegas da JLA. As comparações são sempre feitas, obviamente, contrastando o rei submarino da DC á Namor, sua contraparte mais sizuda da Marvel, mas a comparação mais apropriada, na minha relativamente humilde opinião. seria com T'challa, o Pantera Negra. Ambos os personagens são vistos como heróis menores mas, na verdade, são monarcas e players poderosíssimos dentro de seus respectivos universos (e coincidentemente, ambos estão passando por um processo de revalorização e reposicionamento. Aquaman com essa série e, atualmente, Pantera Negra com seu novo título roteirizado por Ta-nehisi Coates)
A história, que segue num ritmo rápido demais nos arcos acima comentados da Liga, aqui segue mais lenta (e isso é extremamente benéfico pra trama). Vemos o início de uma tentativa de invasão por uma raça de predadores humanoides oceánicos de alta profundidade e Arthur e Mera tentando detê-los. A arte do Ivan é qualquer coisa de incrível, não? Já começando em uma das melhores cenas de introdução de personagem de que consigo me lembrar. Tudo que vc precisa saber sobre o Aquaman pode ser percebido na cena em que ele intercepta um grupo de assaltantes no começo da primeira edição. Onde foi que eu vi uma cena de introdução de personagem tão awesome com apenas algumas imagens antes?
ah sim.... :-) Aquaman é, aparentemente, um personagem afortunado e dado a uma primeira boa impressão marcante.
Se Johns não disse a que veio e não empolgou com a revista da Liga, aqui o efeito é o oposto: provavelmente vou devorar as 47 edições restantes, narrando as aventuras do soberano submarino, em questão de dias.
Aquaman #1 a #3: 9,0
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