sexta-feira, 4 de agosto de 2017

E aí eu ouvi o "Everything now".....

Exatamente como comentei aqui ontem, tirei a manhã pra ouvir o álbum mais recente do Arcade Fire com a devida atenção. 
Confesso que, com a banda com shows marcados pro Brasil em dezembro e eu com grana curta, tava quase torcendo pra não curtir o disco só pra não ficar amoado por não poder ir ver outro show dos canadenses (eu estava lá no Lolla de 2014!!!!! \o/)

meu veredicto pessoal? 


it's. SO. FUCKING. GOOD!!

Sim, tem umas auto-referencias meio masturbatórias e sim, como muito bem lembrou a autora do excelente review do Quietus sobre o Everything now, não é o álbum mais liricamente rico do grupo...

MAS É TÃO BOOOOOOOOOOOOOOOOOMMMMMMMMMM

Eu entendo que a distância do clima soturno dos primeiros trabalhos do grupo e a guinada mais dançante possa alienar quem procurava algo familiar (se bem que a transição começou mesmo em Reflektor e seu "carnaval triste"). Mas sei lá...não vou conseguir separar as pessoas no grupo da arte que produzem: "Funeral" foi concebido no fallout da morte de entes queridos de 3 membros da banda, incluindo o casal "líder", Win e Régine. Claro que o tom geral da arte produzida por eles e os demais teria tons sombrios, até como forma de exorcizar a dor dessas perdas. Mas olha só, crianças: 

A. PORRA. DA. VIDA. SEGUE.

Espero não soar insensível, mas...é isso... pessoas vão e a gente fica e só nos resta aprender a viver um dia após o outro com a ausência e o vácuo e aquela "presença ausente" massacrante, o tempo todo próxima mas fora do alcance, como se estivesse eternamente à centímetros de distância dos dedos, you know? E com o tempo, vc aprende a sorrir e a se divertir de novo e esse é o momento em que eu vejo esse cd. O grupo exorcizou seus demônios e voltou pra festa. Sim, a auto consciência está lá, a festa tem tons de melancolia e a alegria não é aquela estúpida de, sei lá, uma "baladinha top pra pegar mulé", mas sim a que vem de forma quase contestadora: a vida te bate de novo e de novo e a unica forma de rebeldia verdadeiramente punk é se permitir se divertir e celebrar. Negar a Deus a satisfação de te ver prostrado em posição fetal e ir dançar, numa festa de rua, numa balada ou mesmo sozinho em seu quarto, distante dos olhos alheios. 
"Hasa Diga Eebowai" como diriam em "The Book of Mormon"

Me lembrou um pouco  o q vi no maravilhoso ep. de estréia de Treme, série de David Simon, sobre a Nova Orleans (cidade com a qual o Arcade Fire tem uma relação toda especial) pós Katrina. As pessoas ainda lambendo as feridas e "Big Chief" Albert (Clark Peters) volta preocupado em organizar o pessoal pro vindouro Mardi Grass. Os mais próximos ficam chocados com como ele pode pensar em festa num momento extremamente tenso como aquele mas a resposta vem ao lembrar que EXATAMENTE em momentos assim as pessoas precisam desses pequenos intervalos de alívio e catarse. 


O álbum inteiro me pegou, e sim, as músicas que todo mundo elogiou, a saber a faixa título e a romântica "Put your money on me" são lindas..... e contrariando a maioria dos críticos, eu curti muito os momentos mais dub...


Mas o que me catapultou praquele lugar especial de iluminação budista onde vc consegue enxergar o seu lugar no multiverso inteiro mas, ao invés de se pegar mentalmente quebrado (como no vórtice da perspectiva total do "Guia do Mochileiro das Galáxias*") vc se vê feliz e dançando (como Zaphod Beeblebrox no....bom...."Guia do Mochileiro das Galáxias*") e me fez transcender a um estado de quase transe foi a faixa 09 do cd, "Eletric Blue". Da primeira vez que ouvi, não curti. Por 10 segundos. Aí, tudo, a voz em falsete da Régine, a melodia "esquisita", a letra lindinha, tudo isso entrou em harmonia e, pqp, quase saí dançando no metrô pro trabalho (e, aliás, quase perdi o ponto em que precisava descer. Acredito que "catarse musical" não seria uma desculpa válida pra fugir de uma advertência trabalhista por atraso não justificado).
E o clipe....pqp...... Régine tá linda, adoro esse clima de fim de festa, de dançar em meio aos escombros da própria vida, literal e figurativamente....



Diversão como forma de resistência!!! Alegria como contestação!!!
Entendo quem achou ruim, mas sério, pra mim, a banda segue flawless :-)

and fuck you,  God!!!!

*Se formos ser puristas, os eventos envolvendo o vórtice da perspectiva total ocorrem de fato no SEGUNDO livro, "O restaurante no fim do universo". Mas não somos, então, foda-se!!! :-)

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