Motivado pela "bat-febre" a qual fui recentemente acometido após a aquisição de "Arkham Knight", jogo mais recente da trilogia do homem morcego feito pela Rocksteady (Arkham Origins não é da produtora então, pro inferno com ele), decidi ler alguma fase que não conhecia do personagem. Minha escolha óbvia seria a Batman & Robin de Peter Tomasi e Patrick Gleason pq, convenhamos, Tomasi é um dos melhores do mundo. Mas, achei que seria justo antes disso ir reler uma fase que todo mundo elogia mas que, no pouco que conhecia, nunca me impressionou. Me refiro ao run do gibi do cavaleiro das trevas com roteiros de Scott Snyder e arte de Greg Capullo. Fui atrás dos 10 encadernados lançados pela DC coletando toda a fase e li de cabo a rabo.. Minhas impressões??
Bom....NO GERAL.... gostei bastante, mas apenas após ter feito um pequeno exercício de perspectiva: meu problema fundamental com esse arco, num geral, é que, sim, muito bom isso do lance de uma ordem de milionários secretamente controlando o destino de Gotham. Wow, uma reimaginação sinistra do Coringa. E após tudo isso, uma tentativa de releitura do Batman como uma instituição corporativa de alcance mundial, ocorrida num período em que Bruce Wayne abandonou o manto sombrio? Maravilha............
.......mas Grant Morrison fez TUDO isso antes, nessa exata ordem, inclusive.
Então, já vinha aquela má vontade. E após isso, ainda por cima, tem o problema dos finais dos arcos de Snyder, pelo menos dos dois que eu já tinha lido até então, o da corte das Corujas e o seguinte, Death in the family. Histórias com um puta desenvolvimento mas com conclusões que são, respectivamente, boba e covarde.
Mas vou dizer que, agora, lendo com calma e prestando atenção bonitinho, sem má vontade e tals, negócio desceu melhor. Fora que eu tive que alterar meu mindsetting e entender que, hey, sim, as tramas são parecidas, mas Morrison tb bebeu de outras histórias, e esses inspiradores provavelmente beberam de outras antes deles. Botando a necessidade de uma idéia 100% nova de lado, o que eu procurei aqui foi uma abordagem que soasse refrescante e sim, o gibi como um todo lida com conceitos já desenvolvidos antes mas de uma forma distinta das demais. A comparação, que aliás vai retornar no decorrer desse texto, que acho mais apropriada aqui, é a feita com "O silencio dos inocentes". Cada interpretação do clássico de Thomas Harris tem sua própria identidade, apesar de contar a mesma trama: "Manhunter" e sua visão pé no chão, o filme clássico de Jonathan Demme e a mais recente, no seriado Hannibal, com seu apuro estético/visual larger than life (and death).
Acho que tudo vai ficar mais claro quando focarmos em cada arco isoladamente, então, sigamos:
Primeiro ato: Gotham é ....uma mão te apunhalando pelas costas...
The court of owls/The city of owls
O arco de estréia da fase Snyder/Capullo abre com uma splash page com quase todos os vilões do panteão do Homem Morcego, um bom jeito de, sutilmente, nos apresentar o real vilão dessa fase: a cidade de Gotham City. Arco após arco, a trama vai nos mostrar o quão realmente quebrada e perdida é a cidade-sede do cavaleiro das trevas e o quão disposta ela está em provar que Bruce Wayne está constantemente errado em se sentir confortável e íntimo dela.
De cara, somos apresentados a um elemento da trama que vai ser retomada no ultimo número da equipe criativa neste título e vai nos nortear a respeito do tema de toda esta fase: o novo gibi e seu novo time de roteiro e desenho introduzem este novo universo, igualmente familiar e desconhecido, nos perguntando "o que é Gotham?". Um dos jornais da fictícia cidade tem uma coluna diária em que esta pergunta é lançada e os leitores locais mandam respostas que são publicadas e a partir destas primeiras respostas, temos um prisma sobre o quanto aquela cidade consegue ser excitante ao mesmo tempo em que é assustadora.
Preciso dizer que, relendo, deu pra ver que, apesar do climão da história remeter COM FORÇA à figura da Black Hand, do arco inicial da época de Morrison nos bat-roteiros, Snyder acha um enfoque próprio pra trama. Grande parte disso também vem da identidade visual própria que Capullo insere no gibi e, vou dizer, mesmo nunca tendo sido dos maiores fãs do artista, me parece que esse quadrinho não teria metade da força que tem se não fosse o preciosismo do artista na composição das páginas. Citei Hannibal lá em cima por causa desse lance das diferentes visões da mesma história e vou cita-lo de novo mas com um enfoque diferente: que gibi bonito, né? Não apenas a arte é maneira, ela me parece ter sido pensada com um nível de cuidado em cada elemento de tal forma que não consegui não lembrar de "Hannibal", a série de Bryan Fuller onde ele dava sua visão do genial serial killer interpretado por Mads Mikkelsen. Provavelmente uma das séries mais bonitas que já vi na vida (e quem é fã de longa data de Fuller vai lembrar do cuidado dele com a imagem, figurino, distribuição de cores, etc, de seus programas. Vide American Gods e Pushing Daisies). E o gibi é extremamente bonito. Seu momento climático vem no próximo arco, com algumas dos painéis mais belos que já vi na vida, mas esse primor criativo já dá sua cara aqui, e em nenhum outro momento com mais força do que na lisérgica via crucis que o cavaleiro das trevas vai se ver enquanto nas labirínticas catacumbas da corte das corujas.
Em termos de roteiro,. Snyder introduz pela primeira vez, seu recorrente tema de Gotham como o pior vilão da galeria do Batman. Também ela seu maior aliado, mas.....digamos que as linhas ficam turvas por mais de uma vez. Uma história bacana com um final que....... well.... começa MUITO ruim, mas melhora um pouco conforme novos elementos vão nos sendo revelados, além de alguns novos elementos bem interessantes para a mitologia do morcego (como a idéia dos Tailons).
Curioso em saber se algum roteirista vai ter as manhas de tentar linkar a corte com a mão negra, organização criminosa formada pela elite local, também com um papel ativo na história (e na História) da cidade, liderada pelo demônio em pessoa, dr. Hurt.
Um excelente começo. Ah, e no meio do caminho, duas histórias soltas, uma, ao final do segundo tpb, sobre a relação do pai do Alfred com a sinistra ordem que protagoniza a trama e a segunda com um retcon bem tenso num dos elementos mais icônicos da origem do Mr. Freeze.
Segundo ato: Gotham é um amante obsessivo
Death in the family
Vcs sabem que eu não tenho nenhum amor por séries de hq, filmes de hq, transmídia em quase sua totalidade (bom, desenhos de super heróis são legais e adoro os jogos do Batman), certo?
Isso posto, eu MATARIA pra ver a cena do cavalo em chamas em live action. Aquele é um dos painéis mais impactantes de que me lembro e, sem brincadeira, eu sou incapaz de ver essa página sem ouvir ao fundo os tambores de taiko que tocavam em Hannibal sempre que aparecia uma cena parecida, mostrando a obra do protagonista do show de tv ou de outros dos assassinos dela, sempre um misto do belo e do macabro.
Se a proximidade com a fase do Morrison prejudica um pouco a leitura do arco de origem da fase Snyder/Capullo, este, por outro lado, se beneficia estruturalmente dela: já tendo lido o novo clássico "the clown at midnight", história em prosa que o roteirista escocês concebeu durante seus anos no título, já sabemos que
a) o Coringa é um personagem mercurial, se adaptando aos tempos em que se insere.
b) Vivemos tempos sinistros. Um Coringa que se enxergue como um filho destes tempos vai, obviamente, ser um personagem particularmente sombrio. E boy, oh, boy.....se o "thin white duke of death" já era uma encarnação perturbadora do vilão, esta não fica nada atrás.
Sendo assim, a equipe criativa não precisa de longos interlúdios antes de apresentar o personagem. Sabemos quem é o Coringa, sabemos que a atual versão dele é, talvez, a mais perigosa do arlequim e o resto é história. E em caso de alguma dúvida, a cena de introdução dele, onde o psicopata mata calmamente membros da GCPD enquanto conversa com Gordon, já dá o tom.
Da mesma forma que no arco anterior: é muito raro um escritor mostrar o Batman como uma figura tão fragilizada. Se em "The Court of Owls/The City of Owls", era o ataque surpresa vindo de onde menos se espera que desestabiliza o herói, aqui é o inverso: a looooonga história entre os dois (ok, não tão longa já que, segundo a hq, o Batman está em atividade há meia década, por mais que isso não faça sentido nenhum se vc considerar que, em tese, a cronologia pré new 52 do personagem ainda continua relativamente válida, mas, enfim...) faz com que o Homem Morcego tenha ciência dos riscos que todos os seus próximos correm, principalmente considerando que todo o plot desse arco gira em torno do nêmesis do protagonista tentando provar o quanto a Bat-Família enfraquece o justiceiro encapuzado. Achei inteligente o tema de que, uma vez que Gotham é o inimigo, não existe lugar seguro para Bruce Wayne. No arco anterior, os inimigos estavam escondidos em cantos da cidade que ele pensava conhecer como a palma da própria mão. Neste, a santidade da Mansão Wayne é violada (e não pela ultima vez).
E a cena da "sala do trono".....well..... mesmo considerando que o lore do morcego conta com um sem número de cenas perturbadoras, essa ainda assim se destacaria como uma das mais sinistras entre elas (e aliás, todo o período de Snyder e Capullo no gibi vai gerar várias imagens antológicas). E não, não me escapou o quanto tal imagem (e a presença de Duas Caras, Pinguim e Charada como figuras que remetem aos pilares do sistema monárquico/democrático) remete a "os 120 dias de Sodoma".
Tendo dito tudo isso, preciso dizer que quando li da primeira vez, achei extremamente covarde que não tenham ido "all the way" e no final, o Coringa não tenha realmente mutilado ou matado nenhum dos aliados do Batman..... MAS.... numa segunda leitura, preciso dizer, as feridas foram deixadas lá, apenas disfarçadas de forma sutil. Mas cicatrizes permanentes foram efetivamente cavadas na confiança que aquele grupo de pessoas tinha em seu bat-mentor. O vilão realmente acabou mutilando um por um, mas onde realmente conta......
Terceiro ato: Gotham é uma suicida precoce
Zero Year: Secret City/Zero Year: Dark City
Gosto desse arco? No geral, não. Mas ele tem seus momentos. A maioria, mais fruto da arte do que do roteiro (o diálogo entre Wayne e Nigma diagramado no formato de uma interrogação/board game é lindo. E o momento realmente "Ano um" do gibi, com Bruce no sofá ferido e tals, é belíssimo).
A trama maior, de uma Gotham completamente quebrada e dominada pelo Charada, só não funcionou comigo. E a obsessão de Snyder com o Capuz Vermelho soa cansativa. Okay, eu entendi, o autor tem planos que, inclusive, continuam a se desenvolver hoje em dia, com o futuro arco que o autor, agora com John Romita Jr. na arte, pretende fazer explicando eventos da origem do arqui-inimigo do dark knight. Mas mesmo assim....meh...
Aliás, uma descrição justa pros dois tpbs que cobrem esse arco: lindos visualmente, mas com um roteiro meio meh
Ah, passarei direto pelo próximo tpb, "The Graveyard shift" já que são apenas tie-ins desconectados com o arco principal. Únicas coisas dele dignas de menção: a tocante história mostrando Bruce reagindo à morte de Damien, a trama do serial killer que intitula o tpb, creepy as hell, e a que se passa dentro do Arkham Asylum e que introduz o personagem Eric Border, que vai se revelar essencial no arco seguinte....
Quarto ato: Gotham é um amante rejeitado
Endgame
Eu sabia que ia ser bom pq já abre com o morcego dentro de um mecha-suit, e não tem como algo que envolve robôs gigantes ser ruim.
Mas, GODAMN. Okay, o fanservice no começo, com Batman vs a JLA inteira é só isso, fanservice. Mas, desculpem, o fanboy em mim adora essas porradarias do herói com o resto da Liga. O macro tema ganha sua camada definitiva: primeiro, a elite de Gotham e, de certa forma, os prédios e edifícios locais, esconderijos do grupo, atacaram o cruzado encapuçado.
Depois, foi a vez do quartel general do personagem e seus principais portos seguros serem violados pelo palhaço psicótico que atormenta sua vida há anos. No ano um, vimos a cidade virar uma prisão.
E agora, graças ao vírus do Coringa, cada Gothamita, cada aliado, vai se voltar contra o vigilante.
Novos elementos são adicionados ao lore do super herói: Com o surgimento do "Dionesium", não só vemos um elemento conectando quase todos os principais imortais do universo DC mas temos tb a possibilidade de que o palhaço que matou um Robin, aleijou uma Batgirl e já quase aniquilou Gotham da existência com um aparato nuclear seja, ele tb, um meta humano imortal, atormentando a cidade desde suas origens (outro aspecto da gótica metrópole que pode ter passado sob o radar do super herói. Cada nova faceta da cidade, mais distorcida que a outra, formando um grande mosaico de segredos, decadência e morte).
Tal qual o Superman fez alguns anos atrás em Grounded, é hora do Morcego reconhecer a própria ignorância sobre a cidade que julgava conhecer como um parente mais próximo e simplesmente se reconectar com a alma de Gotham. E o preço pra isso é, como geralmente ocorre na maioria dos contos heroicos mitológicos, é sua própria vida.
Quinto ato: Gotham é....seu destino, para sempre e sempre...
In Bloom/Superheavy
Cores. Vilões meta humanos. A armadura do Bat-Coelho.
DC entra na fase do DC You e isso acaba afetando os títulos principais. No primeiro passo do reboot que viria a culminar no maravilhoso e super bem vindo Rebirth, temos uma mudança sutil de tom nas aventuras do Cavaleiro das Trevas.
O Homem morcego está morto e a polícia de Gotham decide criar uma espécie de "iniciativa Batman" de forma a garantir que exista um cavaleiro das trevas protegendo os Gothamitas. O comissário Gordon é alçado a posição de super herói e temos um novo usuário do manto.
E não, não faz nenhum sentido Gordon se tornando o Batman. I mean, quantos anos ele tem, mesmo considerando que todo mundo foi rejuvenescido após o reboot?
Mas enfim, o resultado final é bem satisfatório, com o comissário tentando, mais do que imitar o falecido herói, absorver aquilo que o fazia único e desenvolver em si um certo "Batman factor".
Primeiramente, eu ADORO o visual do vilão, Mr. Bloom e, mais ainda, o paradoxo de que ele tem um visual adorável de uma flor, geralmente um símbolo positivo, e a fonte de seus poderes vem exatamente do desespero coletivo que reina na cidade pós "Endgame".
A grande surpresa desse arco, pelo menos pra mim....foi o retorno de Bruce Wayne.
Ironico, né? Mas Snyder sabe que Batman vai voltar e sabe que nós sabemos que a morte nas hqs é quase uma porta giratória, com idas e vindas constantes. Portanto, já no primeiro número do arco, vemos um Bruce Wayne desmemoriado mas vivo. Não coincidentemente, a escalada de mr. Bloom coincide com a lenta jornada de retorno do filho de Thomas e Martha Wayne a sua super identidade quiróptera.
É quando, retomando ao elemento do deus ex machina de "Endgame", descobrimos o plano final de Wayne: uma maquina capaz de tornar Batman eterno, clonando seu corpo e salvando suas memórias para serem depositadas nos futuros vassels.
Da mesma forma que em "Batman Inc." e a polícia de Gotham no começo deste arco, tudo faz parte do plano do herói em garantir que sempre exista um homem morcego protegendo sua tão amada cidade. E curiosamente, é este passo em direção ao futuro que vai refazer o primeiro laço perdido do herói, necessário para seu pleno retorno: seu passado. No processo de construção da idéia de Gotham como o antagonista supremo do justiceiro noturno, vimos não apenas novos detalhes do passado da metrópole, mas tb novas perspectivas de detalhes de seu passado que já conhecíamos, desde novos elementos de lore até retcons. Relembrar o passado reconstruído é parte do processo necessário para um novo Batman, tão pronto pras sombras do novo mundo em que se insere quanto o necessário. Flexível, mercurial, adaptável, tal qual seu oponente supremo. Se o Coringa é fruto das sombras de nosso mundo, o cavaleiro das trevas vai ter que se reinventar para personificar o melhor desse mundo, o anti-vírus supremo para curar uma cidade doente. E o preço para abraçar o futuro é morrer de novo. Matar o Bruce Wayne mentalmente saudável, inteiro e abraçar a versão fraturada de si mesmo novamente. Decepar o homem que seria finito e se tornar eterno.
Nesse momento da trama, visualizamos versões alternativas do personagem, remetendo aquilo que Neil Gaiman já tinha dito em seu neo-clássico "o que aconteceu com o cruzado encapuzado?", de que a recompensa final do Batman é simplesmente ser o Batman. Voltar, de novo e de novo, ainda que sob uma nova identidade e com um novo manto. Ou, nas palavras do comissário Gordon...
...é isso. Pq no final, Batman sabe que o sacrifício final é abrir mão de Bruce Wayne e se tornar um símbolo. Toda a macro trama de Gotham como inimigo encontra seu ponto de virada quando Gordon e a população local conseguem se voltar contra Mr. Bloom. Como o morcego afirma, foi Gordon e as pessoas que, uma por uma, compõem a colcha de retalhos que é aquele lugar, que venceram o monstro, e apenas pq, juntos, eles transformaram sua cidade, quase um projeto de recuperação social por meio da catarse (e da quase total aniquilação). E esse é o legado final do personagem: estar aqui não para nos proteger na queda, mas para nos ensinar a levantar. Para nos lembrar que cada homem, mulher e criança daquele local podem ser Batman e eles próprios, manterem o legado eterno. Contrariando a hipótese levantada pelo Coringa, a bat família é o que torna o guardião sombrio mais forte e cada membro daquele centro urbano é, a seu próprio modo, um membro dela (não é a toa a presença de Duke Thomas, um dos protagonistas de "We are Robin", gibi em que espíritos rebeldes da cidade decidiam adotar o símbolo do menino prodígio e combater as injustiças que os oprimiam).
Como eu já disse VÁRIAS vezes em outros textos nesse blog, a melhor arma contra uma idéia nociva é uma outra idéia, melhor.
Toda a fase de Snyder e Capullo no título é um longo processo de reconexão entre a metrópole e seu seu filho pródigo e principal campeão. Um lento processo de exorcismo, de um homem reaprendendo a enxergar o seu local de origem, suas sombras mas também sua majestade, tudo aquilo que faz Gotham, e aliás, qualquer centro urbano, sinistro e maravilhoso em proporções relativamente iguais.
Epílogo: Gotham é.....
Epilogue
O ultimo número de Batman com Scott Snyder e Greg Capullo, depois dessa longa jornada de 52 edições (ou 10 tpbs) finalmente se acha numa posição confortável para responder a pergunta que abre o número de estréia do gibi pós Flashpoint, já nos New 52: Gotham é uma cidade quebrada mas num eterno ciclo de queda no abismo e ascensão, purificada mas mais forte, para posterior queda e posterior retorno, num ciclo infinito onde ela sai melhor a cada jornada, tal qual Odin no freixo do mundo, Jesus e Buda em suas respectivas jornadas ao deserto. Sacrifício, dor mas, ao final, renascimento. Onde o homem morcego cruza os céus pra lembrar que nenhum daqueles indivíduos está sozinho e que juntos, ele podem todos ser Batmen, uma grande mente com vários corpos separados, individualmente trabalhando em conjunto. E, além deles, a nós, leitores, lendo aquilo e nos reconhecendo naquelas pessoas, também tentando nos tornar pessoas melhores após cada leitura, mais fortes e "mais Batmen". Por isso a resposta final a pergunta "What is Gotham?" funciona tanto dentro da trama, com o jornalista se referindo ao homem morcego, mas também se dirigindo a cada habitante daquele louco labirinto urbano, as vezes desesperador e as vezes maravilhoso mas sempre fantástico e, de forma extrínseca ao gibi, a cada um de nós lendo aquilo e que somos também, Robins, de certa forma, ao lado do cavaleiro das trevas em cada uma de suas jornadas de ida e volta rumo ao inferno:
"o que é Gotham?"
"Gotham....é você".
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