Yo, dawgs...
Hak in here. Seu adorável host.
Fuck... desculpem se eu soar mais disperso do que de costume aqui na "the book is on the table". Principalmente depois de duas (ou três?) semanas sem texto. Mas entre lá e cá, tivemos um feriadão e certas mudanças no meu status profissional que me forçaram a ir estudar e aprender coisas em uma velocidade insana e num tempo curto, então... Não teve texto nos dias passados.
Mas, para alegria da nação groselhana que vem aqui todo dia atrás de minhas mal traçadas palavras, eis-me aqui. Leituras feitas, discos ouvidos, filmes e séries vistos, games jogados. Bora comentar um pouco sobre as coisas mais legais que passaram pelo meu radar em tempos recentes.
Primeiramente, acabou The Immortal Hulk. Primeiramente, eu vou já adiantar: não vou adentrar a polêmica envolvendo o desenhista da série, o brasileiro Joe Bennet.
Primeiro, pq sites melhores já fizeram isso. E segundo, pq eu não vou deixar as escolhas ideológicas infelizes do sujeito mancharem a minha percepção de uma série que, não fosse por isso, seria quase perfeita. Ele que vá pro inferno, podemos só coletivamente dizer que Hatsune Miko ou Nick fucking Gage desenharam a hq e já é. Okay? Okay.
Isso posto. Okay, eu vou tentar conter as emoções aqui, mas vocês sabem que falar de títulos do gigante verde é sempre uma experiência meio visceral pra mim. Três vezes, eu "comecei" com quadrinhos de super heróis. A primeira vez, com 6 anos de idade. A segunda, em 1990, já com 10 anos. E a terceira e definitiva, da qual não teve volta, alguns meses depois desta. Em todas elas, foram gibis do incrível Hulk.
Em sendo eu um filho dos anos 80 (nasci em dezembro de 79), eu cresci com as séries da Marvel que passavam na tv aberta. O Homem Aranha que só aparecia andando em prédios de longe. O Capitão América que usava um capacete de motociclista com asinhas e tinha escudo transparente. E, claro, o Hulk de Lou Ferrigno. Das anteriores, tenho só algumas lembranças esparsas. Desta, no entanto, lembro claramente, graças a minha relação de amor e pânico com ela (a transformação do Banner para o gigante verde me dava calafrios). Imagino que algo de permanente da série ficou na minha cabeça já que, repetidas vezes, foi minha porta de entrada pras hqs de super heróis.
Peguei toda a fase do Peter David desde o começo. Hulk cinza, Sr. Tira Teima, Hulk inteligente e verde, Panteão, etc, etc, etc. Dali, pro resto do universo Marvel e pros gibis de super heróis como um todo, foi um pulo. Fui e volto pro título, de tempos em tempos, mas novamente - e principalmente, considerando que eu cresci um homem que tem uma profunda relação de amor com a própria raiva - é onde eu acabo me sentindo mais confortável e provavelmente o personagem que melhor ressoa comigo.
So... Immortal Hulk de Al Ewing e Joe Bennet.
Provavelmente a melhor fase do título desde a era David. Clássica, simples assim.
Sob a premissa de um Hulk que se descobriu, de fato, incapaz de morrer, Al Ewing muda os rumos do quadrinho. Menos uma fantasia super heróica e mais uma história de horror. Body horror, horror cósmico, horror existencial. Escolha o seu tipo de horror favorito. Ao mesmo tempo, a trama é uma gigantesca discussão sobre a natureza do mal e como você coloca a criatura mais poderosa do panteão de personagens da Marvel contra um desafio que nem mesmo ele pode esmagar.
Já no seu número de estréia, a série nos pega pela mão e pergunta: "o que é o mal?". E se esta é uma história de bem vs. mal, como você derrota o mal definitivo?
A partir disto, vemos diferentes versões do mal. O mal fruto de ações individuais, o mal institucionalizado, vindo sob a mão do estado e com a pecha de lei e justiça. O mal das elites, fruto de uma mistura perigosa de privilégio e apatia. O mal engenhado, fruto de mentes desprovidas de qualquer ética.
E um mal indescritível, vindo apenas da inexistência do bem. O vazio infinito, o fim de todas as coisas. Aquela sombra que nos acompanha por toda vida, nos lembrando de que nada permanece e tudo passa. Tudo que é sólido se desmancha no ar.
A trama escala lindamente e conforme o nível dos perigos vai aumentando, vamos percebendo que apenas socar o adversário não vai funcionar, mesmo para o homem mais forte do universo. E o terror do gibi vem exatamente disso.
Na edição final, Hulk e seus aliados estão LITERALMENTE no coração do inferno, tentando conseguir algumas respostas do demônio em pessoa e tudo termina no meio do caminho perfeito entre o épico e o intimista. Talvez, ligeiramente insatisfatório pela ausência de respostas definitivas, mas apenas porque a HQ se permite aprofundar em temas essenciais da existência humana e como tal, estas respostas não existem. Só nos resta nos indagarmos, de novo e de novo, como filósofos fizeram, fazem e continuarão fazendo por toda a existência humana.
Ewing faz miséria criando novos conceitos emprestados dos clássicos do horror, ao mesmo tempo que mergulha fundo no lore da série. Eu, que estou aqui desde a década de 90, ficava com os olhos brilhando ao rever momentos clássicos e frases emblemáticas dos últimos 30 anos de gibi trazidos de volta. Os criadores não tem nenhum pudor em beber das fontes clássicas do horror: Lovecraft, John Carpenter, Edgar Alan Poe, Robert Louis Stevenson. Tudo em um mix igualmente fascinante e macabro.
Já escrevi aqui no blog sobre o número 25, até então, minha edição favorita da série. Hoje, esta posição é dividida com outras duas edições: a brilhante edição final e o nº 34, "The apotheosis of Samuel Sterns".
The Immortal Hulk. Cinquenta edições. Uma lenta descida ao inferno, esta gigantesca sala de espelhos infinita onde tudo que temos é nosso demônio favorito nos olhando de volta.
Já disse recentemente que Jason Aaron fez recentemente, no título do Thor, uma fase que confere ao autor o direito de sentar na mesma mesa de Walter Simonson como a melhor e definitiva do personagem. Da mesma forma, Ewing e Bennet compõem juntos, uma fase singular e antológica do quadrinho do gigante gama.
Seguindo adiante, mas me mantendo, mais ou menos, no tema: Strange Adventures.
Da mesma equipe criativa que nos deu o gibi do Sr. Milagre: Tom King e Mitch Gerards.
Doze edições redondinhas. Se o gibi do Immortal Hulk nos questiona sobre a natureza do mal, King e Gerards dão um giro de 180 graus e nos questionam sobre o que é um herói.
Na série, Adam Strange, o campeão de Rann, é investigado por um suposto assassinato cometido na Terra. O foco da série transita entre flashbacks de uma sangrenta guerra ocorrendo em Rann e a investigação do crime acima mencionado, liderada pelo Mr. Terrific. As duas perspectivas vão inevitavelmente colidir e é a partir desse choque que os criadores extraem o coração da narrativa.
Tal qual em um momento específico na segunda metade de Immortal Hulk, Strange Adventures fala essencialmente sobre a história enquanto narrativa, o que é um tema fundamental em nossos dias de fake news e alt-rights. As duas capas da edição que abre o título já entregam.
Na primeira, que é nosso primeiro contato com a série, Adam Strange, o clássico herói. Loiro, forte, com seu uniforme que remete ao sci-fi dos anos 60 cheios de invasores espaciais e atomic horror. Flash Gordon e Doc. Savage. Já na segunda capa, vemos uma visão mais sombria e distorcida da primeira. Sinistra. Corrompida.
Estas 12 edições caem como uma luva nestes nossos tempos em que começamos a olhar a História sob um viés crítico e onde iniciamos uma discussão sobre a integridade de ditos "heróis". A figura retratada em estátuas e que era descrito como um explorador mas que na real, nada mais era que um genocida. A corporação que visa nos proteger mas que nada mais é do que a mão armada do estado. E claro, o "mito" que veio como um messias salvar a pátria mas que nada mais é do mais fantasia criada por meia duzia como forma de avançar suas agendas de morte e enriquecimento das elites.
Narrativas, histórias. Contos que mudam o mundo e alteram a realidade. Não é um acidente a escolha de Michael Holt, o Sr. Incrível, como o real protagonista e motor da trama aqui nesta história.Um homem negro como o real agente motivador da trama, avançando a história e revelando o horror por trás da figura do "salvador do mundo".
Um gibi ao mesmo tempo importante e excelente.
Temos recentemente ouvido a exaustão a frase "a história vai julga-los" a respeito dos criminosos que comandam nossa nação atualmente. A tese defendida em Strange Adventures é que a História não julga ninguém. PESSOAS julgam PESSOAS e às vezes, só é preciso UM homem com a devida motivação, para tirar o véu de beleza de uma narrativa e coloca-la nua e crua diante da sociedade.
Quadrinhos de super heróis sempre giraram em torno da dicotomia entre heróis e vilões. Strange Adventures vem nos lembrar que, às vezes, as linhas separando ambos são mais turvas e difusas do que pensamos.
Por último, mas não menos importante: joguem Spiritfarer.
Falo mais quando terminar. Mas sério: se vocês querem um jogo lindo visualmente, sem um pingo de violência mas com um peso emocional do tamanho de um planeta, joguem Spiritfarer. Eu sei que é um clichê batido dizer que o jogo tem a sensibilidade das animações do estúdio Ghibli, mas não acho que isso seja demeritório de qualquer forma. Spiritfarer é uma obra profundamente emocional, sem precisar apelar pro melodrama ou pra breguice e que fala sobre morte de uma forma honesta e com uma delicadeza que raras vezes você vai encontrar, mesmo em produções maiores e com maior orçamento.
Já estou com cerca de 35% do jogo completado e amando cada segundo, mesmo aqueles em que o jogo esmigalha meu coração sem dó ou piedade.
É isso, crianças.
Talvez tenha mais uma coluna essa semana. Talvez não.
Talvez tenha uma edição da Monster Mash. Talvez não. Talvez até duas.
Aguardem e confiem.
Hak out.
Respect!!!!
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