quarta-feira, 21 de novembro de 2012

There's a starman waiting in the sky: Astronauta - Magnetar.




Magnetar:  é uma estrela de nêutrons com alto valor de campo magnético. Considera-se o magnetar um tipo especial de estrela de nêutrons (EN). As ENs são esferas compactas de cerca de 15 quilômetros de diâmetro, correspondendo ao núcleo do que resta do colapso de uma estrela com cerca de dez vezes a massa do Sol. Os magnetares, por razões que ainda não completamente esclarecidas, têm campos magnéticos mil vezes mais fortes do que as ENs normais.

"We don't want other worlds. We want mirrors."

Adoraria dizer que as informações acima vieram do meu cérebro altamente desenvolvido fruto do mesmo processo evolutivo que me deu um par de polegares opositores e tals.... mas foi via wikipédia.
Sorry pelo anticlimax, senhores. 
A definição acima foi inserida pq acho que é o máximo que eu vou precisar falar de Astronomia ao resenhar "Astronauta - Magnetar" primeira Graphic Novel do selo MSP, escrita e desenhada por Danilo Beyruth. O texto a seguir fala do personagem, óbvio, de cinema, de perspectiva e, sobretudo, de solidão. 

“Then the loud sound did seem to fade a ade
Came back like a slow voice on a wave of phase ha hase
That werent no d.j. that was hazy cosmic jive”
Starman 


Primeiramente: não, se existe alguém lendo esse texto achando que a história tem alguma relação, em termos de clima ou temática, com coisas como a Turma da Mônica Jovem, tipo um "Astronauta Teen", pode largar de frescura e ler a Graphic. As referências aqui são tipo, "A piada mortal" e "Monstro do pantano" do Alan Moore. Ou o "Homem Animal" do Grant Morrison. Ou seja: temos um criador pegando um personagem famoso do público infantil/adolescente e conferindo a ele uma roupagem mais adulta, mas, ainda assim, mantendo suas caracteristicas básicas, tornando-o reconhecível pros fãs antigos. 

Segundo: a HQ é foda. Sério, o roteiro é primoroso, o desenho é lindo, tudo funciona perfeitinho. A história, sem dar muito spoiler, mostra o personagem numa missão particularmente arriscada, onde ele vai estudar o fenômeno astronômico descrito no primeiro parágrafo desse texto e que intitula o livro. E aí, obviamente algo dá errado. A partir daí, temos o personagem, isolado no espaço, com algum alimento e água e tendo que se preocupar em conseguir restaurar sua nave de forma a conseguir voltar pra casa. E no processo, se manter são.

A hq mostra menos uma história de ficção cientifica hard e mais um conto de naufrágio e do tédio (e das consequências) resultantes do isolamento do Astronauta, sem nem um "Wilson" pra chamar de seu. Em termos de descrição da trama, acho melhor parar aqui. 

A partir daqui, minhas referências migram pra outra mídia: o cinema.

Entre as várias formas de se contar uma história narrando viagens espaciais e a consequência delas pra humanidade, vc tem as mais realistas ("Apolo 11" e "os Eleitos", por ex.), as mais otimistas ("ET", "Contatos Imediatos de terceiro grau"), as mais pessimistas (qualquer filme de invasão hostil, desde "Independence Day" até "Robot Monster" \o/) e as mais ....bem..... esquisitas ("Marte Ataca" e.....eu tenho que citar de novo "Robot Monster". Já viram? Mano, é um gorila de escafandro que mata geral. Sério, isso é de uma epicidade que....).
Eu particularmente tenho uma queda pelas que analisam o tema de um viés mais existencialista. A partir de um distanciamento literal, do astronauta com seu planeta, ele ganha a habilidade de rever a Terra com outros olhos (seja individualmente, seja com ajuda de alguma força alienígena).

E enquanto eu falo isso, imediatamente vc pensa em "2001" do Kubrick, e eu não posso culpa-lo pq, bem, referência máxima, mas peço que se atente pra outros 3 filmes: "Sunshine", do Danny Boyle, "Solaris" de Andrei Tarkovsky e "Moon", de Duncan Jones, o filho de Deus.

Cada um deles analisa a relação do homem com seus semelhantes e como nos definimos pela relação com os outros ("Solaris", principalmente, analisa isso com maior enfoque, já que, aqui, temos uma forma de existência alienígena que usa as memórias dos astronautas com quem interage para criar formas que possam efetivamente se relacionar com eles). E a Hq de Danilo Beyruth brinca com alguns dos conceitos estabelecidos nesses filmes, mas se apropria deles e os usa para contar uma história original, humana até a medula exatamente por seu cenário alien (aliás, característica básica das melhores histórias de ficção científica. O mundo futurista é uma metáfora do nosso mundo atual e, a crítica ali, é exatamente ao atual estado em que o mundo se insere. A projeção, quando utópica, é um sinal do que podemos nos tornar caso façamos as escolhas certas. Quando distópica, serve como aviso do rumo que podemos tomar em caso contrário). 

"We never talk anymore
Forever I will adore only you"
5:15 the angels have gone


"Sunshine", por exemplo, diz que se as regras mais básicas da existencia humana são afetadas e/ou anuladas num ambiente em que as condições são completamente diferentes da de nosso planeta de origem, pq o mesmo não pode acontecer com nossa esprititualidade/metafísica? Da mesma forma, o Astrounauta da Hq é confrontado com um momento lisérgico/psicodélico/existencial tal qual ocorre em quase todos os filmes acima, e como na maioria deles, ficamos na dúvida se foi uma alucinação, uma forma alienígena se manifestando usando formas físicas familiares para o protagonista, um evento metafísico tornado possível exatamente pelo cenário absolutamente único da história ou uma mistura de tudo isso. 
O legal da história é que, mesmo sendo da Maurício de Souza Produções, com um personagem extremamente conhecido e tals, o autor não tem medo de testar o protagonista até os seus limites (esse, aliás, é o primeiro baque que vc toma ao entrar em contato com a obra: a morte se faz presente aqui em vários momentos, nada é seguro e, sendo honesto, em vários momentos eu realmente achei que o personagem não fosse sobreviver. Sim, é sério nesse nível).
Ele encara o medo, um tédio absurdo e um cenário extremamente claustrofóbico, sente dúvidas diante dos riscos da sua missão, se arrepende várias vezes, sangra (literal e metaforicamente) e chega BEM perto de enlouquecer. E não estamos falando de ficar "maluquinho", "doidão", "biruta" ou algo assim, não. A loucura aqui não é uma coisa bonita, é perturbadora pra cacete.



"Everyone says hi 
Everyone says hi 
And the girl next door 
And the guy upstairs 
Everyone says hi 
And your mum and dad" 
Everyone says hi


Outros pontos positivos da história: uma das melhores formas de se representar graficamente a passagem do tempo e o tédio decorrente disso EVER. Sério, dêem uma olhada e me digam se estou errado. 

As cores de Cris Peter também são lindas e casam perfeitamente com os desenhos de Beyruth. Tem uma cena de página dupla, já no final da revista, com o Astrounauta solto no espaço sideral que é belíssima, de querer enquadrar e pendurar como poster no quarto.



"Don't you wonder sometimes 
About sound and vision"
Sound and Vision


Citando "Solaris", de novo, "Man was created by nature in order to explore it. As he approaches truth, he is fated by knowledge". Em cada um dos filmes que eu citei que discutem sobre a relação do homem com o (e no) espaço sideral, os criadores pretendiam olhar pra fora, para, na verdade, olhar pra dentro, para aquilo que nos faz humanos, para aquela "verdade" abstrata que nos define como seres pensantes e capazes de filosofar sobre a própria existência. "As above, so below", se me permitem a citação. E é fascinante ver como "Astronauta - Magnetar" acha um jeito muito legal de mostrar que essa "verdade" não precisa ser um grande conceito de física que vai redefinir nossa relação, coletivamente, como espécie, com a vida, o universo e tudo mais, mas, às vezes, pode vir na forma de um conselho de avô (ou na pagina de uma HQ, ou na letra de uma música), importante o suficiente pra causar uma mudança na consciência de um indivíduo, o que pode parecer menor, em uma escala universal, mas não duvidem que pode igualmente, ter o efeito de um big bang no "universo" ambulante e perpetuamente instável que somos todos nós. 





"The moon flows on to the edges of the world because of you
Again and again
And I'm awake in an age of light living it because of you
Better take care
I'm looking at the future solid as a rock because of you
Again and again
And I'm running down the street of life
And I'm never gonna let you die
And I'm never ever gonna get old"
Never get old



Nenhum comentário: