terça-feira, 22 de setembro de 2015

Doctor who: 9x01: "The Magician's Apprentice" - "Faith in the future"

"My name is Davros"




De todas as acusações feitas contra os roteiros de Steven Moffat, a mais absurda delas, pra mim, é a respeito de certo esgotamento por parte dos textos do showrunner, então, tiremos isso do caminho de uma vez: sim, eu sou um grande fã da fase do seriado regida por Russel T. Davies. Mais de alguns elementos dela do que de outros, mas, como um todo, gosto bastante das 4 primeiras temporadas. Isso posto, eu sinceramente acho que Moffat figura fácil no rol de maiores roteiristas/produtores chefes da série. Pensem em gente nível John Nathan Turner, Philip Hinchcliffe, David Whitaker e, meu favorito, Andrew Cartmel. Eu colocaria Moffat nesse rol de nomes mais importantes da história do seriado sem grande hesitação e digo isso pq estamos falando de um artista in the top of his game e ciente disso. Preferencias pessoais a parte, a 8ª temporada figura facil entre as melhores já produzidas em 50 anos de série (não é perfeita, claro).
Esse preambulo todo tem como objetivo apenas deixar claro que eu vim pra season premiere da 9ª temporada com as expectativas lá em cima depois da sequencia absurdamente boa de episódios que tivemos ano passado (Sendo "Listen", "Kill the moon" e "Flatline" meus 3 favoritos). Ao mesmo tempo tinha um pézinho atrás com a Missy, que todo o material de divulgação já anunciava como presença certa nesse episódio. Não, eu não tenho absolutamente NENHUM problema com uma versão feminina do Master. Meu problema com ela, John Simm e quase todos os demais atores que interpretaram o papel do nemesis do Doctor vem do fato de que nenhum deles é Roger Delgado.
E aí temos uma meta impossível de ser batida. Delgado encarnou o Master originalmente durante a fase do 3rd Doctor, interpretado por Jon Pertwee. E os momentos em que os dois atores dividiam a tela eram absolutamente mágicos. Pensem, fãs de Game of Thrones, em magia nível Littlefinger e Varys ou Varys e Tyrion dividindo tela. Algo assim. (percebido inclusive pelos produtores que trouxeram o Master de volta em quase todos os arcos seguintes do terceiro doutor e milkaram isso quase à exaustão. Exaustão essa que só não ocorreu pq a quimica entre ambos os atores era, me repetindo aqui, mágica). Eu, por exemplo, tenho certa dificuldade em rever a versão hiperativa do Mestre anterior, interpretada por Simm, na terceira temporada, exatamente por ele fugir muito da minha interpretação favorita do vilão: um mastermind que não precisa ser histérico pra se fazer ameaçador. Corta pra 2014 e surge a Missy. Sigo curioso pra ver como a personagem vai ser retratada e, resumindo em uma palavra..... "bananas". Gosto da atriz. Muito. Mas tenho problemas com um Master na linha Heath Ledger no "Cavaleiro das Trevas": a força da natureza caótica, mercurial, imprevisível (até pq esse papel cabe ao Doctor, normalmente)

Um ultimo preambulo (juro, o ultimo): parte da minha curiosidade imensa pelo episódio vem do fato de que, muito sutilmente, Moffat vem escondendo temas maiores (ou pelo menos, hints de possíveis recompensas pros olhos mais atentos) durante a segunda metade da 7ª temporada e por toda a 8ª. Voltemos pro ep. que abre a segunda metade da season 7, "The bells of Saint John", que introduz de vez Clara Oswald como a nova companion. A partir desse episódio e em todos os seguinte, a gente vai ter alguma referencia, explicita ou de forma mais sutil, às identidades prévias do Doctor. Exemplo das referencias mais claras (no pun intended): a gravata borboleta do 2nd Doctor, um comentário do 11th sobre um guardador de guarda-chuvas na porta da Tardis e a aparição de todos os demais Doutores no episódio dos Cyberman, escrito por Neil Gaiman. Já em episódios como Cold War e Crimson Mist, a referencia está mais na forma de conduzir o roteiro e contar a história que em citações diretas. Cold War invoca não apenas os antagonistas do 2nd Doctor, os Ice Warriors,  mas até o estilo de "base sob ataque" que era característico da fase do timelord vivido por Patrick Throughton, enquanto, em Crimson Mist, Mark Gatiss brinca, de forma bastante competente, de Robert Holmes e evoca o tom de terror gótico característico de alguns dos melhores episódios escritos pelo autor (como o clássico "The Tailons of Weng-Chiang"). Temos essas "pistas" todas girando em torno de identidades prévias do Doctor e a recompensa, juntando todos estes elementos, vem em "the Name of the Doctor" e "The Day of the Doctor", dois episódios que giram em torno da identidade do Doutor (literal e simbolicamente). Já a 8ª temporada abre e a primeira coisa que vemos é um dinossauro. Isso depois de já sabermos como vai ser o visual do 12th Doctor. Ambos os elementos, remetendo ao Doctor de John Pertwee. De novo, pequenos hints (dois dos arcos mais famosos do 3rd Doctor envolve dinossauros, "Carnival of monsters" e "Invasion of dinossaurs") e uma recompensa (a vilã do final da temporada é o principal legado pra mitologia Whovian da época de Pertwee).

ufa. Todos esses elementos juntos, podemos dizer que o hype em torno de "The magician´s apprentice" estava em níveis insanos. E o que foi entregue, correspondeu? 

Well....... sim. Com força. Não dá pra comparar com "Deep Breath" pq são duas dinâmicas diferentes. Aquele era o episódio de origem do 12th Doctor, e esses costumam ser episódios mais complicados, onde, na maior parte dele, o personagem está tendo sua personalidade lentamente reconstruída e esse processo acaba tomando um tempo considerável da trama. Alguns episódios pós regeneração conseguem superar essa dificuldade com certa graciosidade (o do 3rd Doctor, do 10th, do 11th e, principalmente, do 5th), alguns passam com um pouco mais de dificuldade ("Robot", que introduz o 4th Doctor, é um episódio simpático, no máximo.) e outros naufragam (nenhum mais do que "Time and the Rani", que apresenta o meu Doctor favorito, o 7th, e que é, provavelmente, a pior coisa já escrita nas mais de 5 décadas de existência do seriado). A comparação fica, portanto, com os episódios de abertura da sexta temporada (The impossible astronaut) e da sétima (Asylum of the daleks) e, devo dizer, "The magician's apprentice" não fica nada a dever quando comparado com ambos os eps. citados. E não foi preciso mais do que 5 minutos e um garotinho anunciando para o timelord e para nós, o público, o seu nome.


DOCTOR: Skaro! You've brought me to Skaro.
DAVROS: Where does an old man go to die, but with his children

O episódio todo se baseia num pressuposto dialético apresentado em "Genesis of the Daleks" (e diretamente citado no episódio, na cena retomando o clássico arco estrelado por Tom Baker): o Doctor tem a chance de voltar no tempo e matar um monstro responsável por milhões de vidas perdidas. O Doctor deveria?



Por partes: O roteiro é incrível e sem precisar apresentar mais do que o básico. A cena do tanque, 12th com a guitarra, a cena dos aviões que reintroduz Missy. Tudo com a óbvia função de ser divertida e nos entreter antes da "parte séria" tomar o roteiro de assalto. E, vale ressaltar, de forma extremamente econômica: não importa COMO Missy ou Davros voltaram da morte. Eles são vilões, eles obviamente deram um jeito. Ponto. (uma qualidade do Moffat como escritor, de subverter nossas expectativas. O que esperaríamos que fossem temas que iriam levar episódios e mais episódios e longas tramas complexas, costumam ser resolvidos em uma cena ou com uma frase - vide a forma como o Doctor quebrou a regra das 12 regenerações)
Se minha explanação sobre os temas sutis do Moffat for real, usar o episódio de abertura pra reintroduzir Davros - e num ep. que TAMBÉM conta com the Master - é uma senhora carta de intenções. Pq é impossível pensar na fase estrelada por Tom Baker sem imediatamente pensar em "Genesis of the Daleks", provavelmente o melhor arco de toda a nada pequena história da série. Davros, o criador dos Daleks. Daleks, os monstros que, já no segundo arco do programa, lá em 63, definiram toda a identidade do Doctor e os futuros rumos do seriado. Os monstros que transformaram o Doctor no homem que enfrenta monstros. E, vale lembrar, o vilão que roubou o cargo de arqui-inimigo do Timelord, anteriormente ocupado pelo Mestre (o momento em que Missy se dá conta disso, inclusive, me fez rir por uns 5 minutos enquanto via o episódio). Tomemos a presença do "Dark lord of Skaro" como um manifesto do que nos espera na season 9 e a perspectiva é promissora: o 4th Doctor teve episódios com muito horror gótico, alguns dos episódios cômicos mais legais do programa (City of Death), introdução de alguns elementos importantíssimos da mitologia do show (toda a identidade visual de Gallifrey, a primeira menção ao numero de regenerações, K-9 e algumas das melhores companions da série, entre elas Leela e Romana, além de ser a época em que Sarah Jane Smith deixou de ser apenas o estepe de Jo Grant pra se tornar a melhor companion ever). Um equilíbrio bem balanceado de humor e profunda melancolia (os arcos finais todos giram em torno de entropia e do inevitável final das coisas). Como eu disse, promissor.



CLARA: Why would anybody hide a whole planet?
MISSY: That would rather depend on the planet, dear.

O elenco merece um capítulo à parte. Eu disse lá em cima que Steven Moffat era alguém in the top of his game, certo? A realização do sonho nerd de fazer parte do fandom que mais admira. Pois bem, o mesmo se aplica a Peter Capaldi. Se tem um elemento que é meio que obrigatório para um ator no papel principal desse seriado é a habilidade de transitar muito rapidamente entre espectros emocionais diferentes e acho que ninguém vai questionar a habilidade de Capaldi nesse aspecto. Vemos o Doctor festivo e hiperativo e um doutor resignado e melancólico diante do fim em questão de segundos. 
Jenna Coleman segue sendo adorável e extremamente forte na mesma dose. Alguns fãs acham Clara Oswald bossy, o que me parece completamente ridículo. Ela é, sim, alguém de personalidade extremamente forte, algo inevitável pra humana que precisa, ocasionalmente, servir de balança moral pro protagonista do show. Além disso, ela, talvez pela primeira vez desde o retorno da série, personifica aquela máxima que os showrunners tentam nos vender de que nosso elemento de conexão com a série não deveria ser o Doctor, mas sim os companions. Well...... pela primeira vez, ser a Companion me parece tão legal quanto ser o próprio Timelord rebelde que intitula a série (chupa Rose Tyler).



Missy. Ok, eu disse lá em cima que eu sou fanboy xiita purista do Master original, certo? Isso posto, eu absolutamente adoro a personagem e a interpretação de Michelle Gomez. Não sei se a ponto de torcer pra ela virar companion (ou pelo menos, uma coadjuvante fixa da série) mas definitivamente, a atriz me conquistou aqui. Sim, tinha muito do fluxo caótico da sua ultima aparição mas, aqui e ali, dava pra ver elementos dos Mestres anteriores nela. E a dinâmica dela com o 12th é tão incrível quanto a de Delgado e Pertwee.


Por fim, Davros. Não tem meio termo aqui: Davros é o demônio da mitologia do Doctor. Se o Master é o anti-doctor, Davros é o nega-doctor. Não a oposição aos valores do personagem, mas o completo oblívio destas, a nulidade. Se o Doctor é a tese, o Master é a anti-tese, enquanto Davros é a total interrupção do argumento. Se o Mestre é o caos, Davros é a apatia, o vazio. Julian Bleach sabe disso e compõe o personagem como alguém que não precisa elevar o tom de voz pra se fazer notar ou pra soar ameaçador (mas quando o faz, é absolutamente perturbador). Pior, os Daleks são apenas uma ferramenta. Não, a arma real que Davros vai utilizar para ferir seu inimigo mortalmente é apenas uma idéia, a de que compaixão, em tempos de guerra, é um erro. 
O personagem teve pouco tempo de aparição nesse episódio, mas já apareceu o suficiente pra nos lembrar pq a mera menção de seu nome provoca profundo incomodo em todos os personagens daquele universo. Na segunda parte do episódio, "The witch's familiar", Davros deve dominar a tela, então, guardo os elogios mais hiperbólicos pro texto que escreverei para a conclusão da história.

DOCTOR: How scared must you be to seal every one of your own kind inside a tank?

Onde fomos deixados pelo episódio: Skaro está de volta (e emulando não a versão tardia das demais vezes em que vimos o lugar, mas sim como o planeta apareceu pela primeira vez, no arco "The Daleks" de 63 - inclusive em tons neutros que beiram o branco e preto).



Missy e Clara podem ou não estar mortas e o Doctor escolheu a forma mais extrema de garantir que os eventos que lhe trouxeram até esse momento sinistro não ocorram. O promo do próximo episódio já nos prepara pro que vem: cenas em preto e branco (duvido que não vá haver pelo menos uma referencia ao 1rst Doctor), muita ação e Davros, mais uma vez, em pleno controle da situação. Sigo ansioso!!!! \o/

Ah sim: 
- Espero um livro spin off intitulado "Tales of the Maldovarium". Fuck Mos Eisley!!!! Até o mais pacifista dos Oods devoraria o Greedo no café. 
- Bors pra companion. Já imagino um crossover reunindo ele e Jamie McCrimmon
- Os canhões Daleks não são desintegradores então, provavelmente, Missy e Clara sobreviveram utilizando-se do mesmo artifício que salvou a Master do disparo do Cyber-Brigadier em "Death in Heaven".
- Colony Sarff me deixou pensando se Davros ou o Doctor falam parseltongue
- Tão bonitinha a cena envolvendo "Pretty Woman". E notem como tanto a Missy quanto Clara abrem um sorriso enorme nessa hora, ambas crentes que a homenagem era pra ela.
- Falando de música: só eu achei muito foda aquela versão de "The Weeping song" (do Nick Cave) que toca no Maldovarium? Posso estar falando besteira, mas acho que não era a versão original não e sim um remix. 

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