Existem pelo menos 3 possíveis leituras (ou macro-temas, se preferirem) permeando as páginas de "This Damned band", hq publicada pela Dark Horse ano passado e que conta com Paul Cornell no roteiro e Tony Parker na arte.
A primeira é como "sátira sócio-histórica" que, tal qual o mockumentary "This is Spinal Tap", mostra um grupo de documentaristas acompanhando uma mega banda dos anos 70 em toda sua jornada orgiástica de excessos. Eu chamo de "sócio-histórica" pq as piadas não são apenas com os tropes e clichês associados a uma banda de rock (de forma mais ou menos apropriada, dependendo da banda de que estamos falando) mas também com os elementos ridículos da época em que a história se passa, desde a hippie eternamente prisioneira do "sonho" e dos conceitos de mundo melhor concebidos nos anos 60 até aquela sensação de niilismo para as massas que surge com o final da década e aproximação dos anos 80, época famosa por sepultar o sonho da geração flower power sob toneladas de cocaína, laquê e blusas com enchimento nos ombros.
A segunda leitura possível é como uma alegoria sob o poder das histórias, tema querido deste blog. Mas com um twist: dessa vez, a crítica é sobre o perigo inerente contido nas narrativas, contos e mitos que construímos coletivamente e da mesma forma propagamos pela eternidade.
A terceira, é uma crítica a um conjunto de valores masculinos que passaram a ser discutidos e problematizados nas últimas décadas, feita através de um dos maiores símbolos de "macheza" já concebidos pela cultura pop: a vida de um rockstar (de objetos de palco e decoração do local onde estão gravando, passando pelas onipresentes guitarras e não esquecendo das espadas penetrando o demônio no logo da banda, tudo passa por símbolos fálicos).
Sobre a trama: sabem todas as lendas ligando bandas como Led Zeppelin, Kiss, Ac/Dc, entre outras, com o demônio, o lafranhudo, o pé cascudo, o tinhoso, o capiroto, etc, etc, etc...?
E se tais histórias fossem verdadeiras?
"Let the music be your master"
Começamos a primeira edição sendo introduzidos a nossos protagonistas: Justin, Alex, Colin, Bob e Kev, membros da "the hottest thing of rock" que vcs puderem pensar: MotherFather. Estamos falando de Led Zepellin big, ok? Rolling Stones big. Pink Floyd no seu momento de proporções mais "Kaijuescas". Cheap Trick no Budokan big (não coincidentemente é na lendária arena/estádio japonesa que a banda está se apresentando quando a hq começa).
Além deles, tb conhecemos Browley, o manager do grupo e as groupies, elemento indispensável quando pensamos em grupos de rock, lideradas por Summerflower.
A história abre com o já citado show no Japão e o grupo de filmmakers apresentando os membros da banda: descobrimos o ego gigantesco ainda que ligeiramente inseguro de Justin, único membro não original da banda. Colin, o fundador e a epítome do "gênio amargurado" (ainda que escondendo isso sob uma montanha de postura). Bob é o mais pé no chão da banda, mas quando vc tá inserido num monumento das proporções do grupo, isso não quer dizer nada. Alex é um womanizer asqueroso e Kev... well... Não sei dizer se todos os membros do MotherFather são inspirados em figuras célebres do gênero. Enquanto Justin e Colin são visivelmente Plant e Page e Alex é idêntico à Bun E. Carlos, Kev e Bob me parecem mais personificações de clichês associados ao estrelato que reinterpretações de alguém, mas posso estar errado.
Bun Carlos
As coisas começam a dar errado quando após o consumo de doses obscenas de cogumelos alucinógenos, o grupo se vê diante de um fã inusitado: o capeta em pessoa. Os eventos desse dia são interpretados pelos rapazes como fruto da lisérgica trip em que se enfiaram. No entanto, a banda acha curiosa a obsessão de Colin em colocar o tinhoso na imagem de capa do próximo disco deles. A partir daí, a banda se isola numa mansão sinistríssima para começar as gravações de seu novo álbum e é claro que é aí que tudo vai pro caralho.
"I am a traveller of both time and space"
Retomando esse elemento de registro histórico, é bem legal notar que a banda pinça aqui e ali momentos icônicos da historia da musica pra compor a trama: a já comentada apresentação no mesmo estádio japonês onde o Cheap Trick gravou seu famoso álbum ao vivo, a escolha de uma mansão macabra pras gravações do próximo trabalho (evocando, só pra ficar num exemplo que eu conheço, quando Trent Reznor ou Marilyn Manson se enfiaram dentro da mansão que fica em 10050 Cielo Drive, local onde a família Manson matou entre outras pessoas, Sharon Tate, sendo esse evento um dos geralmente listados como marco do fim de uma época e uma das pás de cal jogadas em cima do sonho da flower generation).
Conforme a história anda, todos os clichês que nos são apresentados vão sendo, devagarzinho, desconstruídos um a um. Alex aparece sempre do lado de pilhas e pilhas de cocaína mas, hey, drogas não surgem por geração espontânea e a cabeça do rapaz está em jogo.
Dormir com várias groupies pode ser bem legal mas Kev percebe que se casar com uma delas num momento de impulso pode não ter sido a mais brilhante das idéias.
Por outro lado, a vida de uma groupie pode não ser tão legal quanto pode parecer (algo que Cameron Crowe já tinha mostrado em seu clássico "Almost Famous") e aquelas moças aparentemente fortes e confiantes tem sua cota de sombras com as quais devem lidar.
Cornell e Parker nos lembram o tempo todo que eventos sobrenaturais estão agindo ali mas alguns dos demônios com os quais os membros da MotherFather (e sua entourage) tem que lidar possuem caráter menos literal.
"Someone told me there's a girl out there with love in her eyes and flowers in her hair"
Com o desenrolar da trama, vemos um tema se manifestando com força que é o ganho de poder que as mulheres da história ganham.
Várias groupies começam a desaparecer e devagar as gurias percebem que algo sinistro está ocorrendo. Com os homens do grupo ocupados demais perdidos dentro do próprio ego, cabe a Summerflower, Alice e as demais investigarem não apenas os desaparecimentos mas os demais eventos estranhos que passam a fazer parte do dia a dia deles.
Inicialmente, preciso confessar, não estava muito interessado no sub plot estrelado pelas groupies, antes de saber que a HQ era sobre bem mais que apenas "a jornada de autodestruição" de uma rock band. E é legal como Cornell sabe que, pelo simples fato delas serem mulheres, elas vão ter que brigar pra conseguir serem ouvidas. Percebam como as personagens femininas estão sempre tendo que forçar o grupo de documentaristas (que, obviamente, estão lá pra representar a visão do leitor) a prestar atenção nelas e no que elas tem a dizer.
A gente está tão imerso nessa imagem de pseudo-glamour da vida de um artista de sucesso que qualquer coisa orbitando ao redor destes periga se perder, tal qual um satélite que se solta do corpo celestial que originalmente circundava (não coincidentemente elas são as primeiras a descobrir o que havia de errado).
"Does anybody remember laughter?"
O tom do gibi vai cada vez mais dark. Não é sem querer que o cenário da gig onde ocorrem os eventos que concluem a trama emula a trágica apresentação dos Stones em Altamont, outro evento considerado marco da transição entre o mundo dos anos 60/70 e dos anos 80.
E também não me passou despercebido o detalhe dos nomes das mulheres que sumiram, como se elas simbolizassem o desaparecimento daqueles valores que tentam personificar.
O papel da arte aqui, tanto desenho quanto colorização, é fundamental pra dar o tom da coisa. Percebam como o tom mais leve do começo, mesmo numa cena tensa como o do confronto com os traficantes exigindo o pagamento de Alex vai dando lugar a traços mais carregados e realistas. Ou como as cores mudam de tons alegres para tons mais escuros, variando entre predominantemente o preto e o vermelho, como se a euforia e a paleta caleidoscópica do começo desse lugar á bad trip da conclusão. A primeira aparição da mansão na França onde os eventos vão se concentrar é extremamente sinistra, com destaque para a estátua que parece chocada com os eventos atrás dela que, microcosmicamente, representam o mundo.
O que antes era "give peace a chance" agora é "my only friend, the end". The dream is dead. Woodstock? Altamont. Free Love? Nope, Aids. Um só mundo? Diga isso pros guris morrendo no Vietnã. Os filhos do sonho dos 60's vendo seu cadáver apodrecido e dançando melancólicos nas trevas (os góticos), bufando raivosos (os punks) ou simplesmente capitulando diante dos poderes que valem (os yuppies). "Não existem anjos ali"e mesmo Deus quer se distanciar do que vai começar a se desenrolar naquele ambiente.
"You can't always get what you want"
Apesar do final feliz, achei curioso que Cornell deixou um elemento de tragédia que reforça o papel de "registro histórico" da trama: Entre a violência e os símbolos de poder masculino e a ascendente valorização de conceitos associados ao feminino, o que resolve a trama é a boa e velha negociação, como se todos esses conceitos e ideologias só pudessem existir se subordinados ao capitalismo e a interpretação de pessoas, vidas e idéias como comodities.
Sejam os valores do flower power, a ira confrontacional punk ou mesmo valores ligados à ideologias mais ou menos politicas, estas mesmas também são narrativas contando histórias.
E arte, seja um filme, um hq ou uma música, pode nos libertar e nos levar ao confronto contra a ordem estabelecida mas também pode servir propagandisticamente para manutenção e continuidade desse status quo. Grupos minoritários só são vistos com relativa - e BEM relativa - tolerância quando são reconhecidos como nichos de consumo que podem ser capitalizados. Ou seja, mesmo os gritos de protesto só podem ganhar espaço quando submetidos à vontade e vistos como fonte de potencial vantagem - material ou não - daqueles que detêm o poder.
Final feliz? Mais pra uns do que pra outros, kemosabe.
Não foi Skyrim. Nem Demon Souls. Nem, no distante ano de 94, os jogos de nintendinho que eu tentava zerar, a maioria terrível e com o level design desenvolvido por um orangotango com paralisia cerebral.
Nope.
Foi Guacamelee que chegou perigosamente perto de me fazer jogar um controle de videogame longe pela primeira vez na vida.
Mas vejam bem:
Eu me nego a rage quitar essa droga pq é um jogo protagonizado por um luchador e tals, mas.... damn man......(e vou dizer: ver esses caras passando essa fase em menos de 10 minutos, considerando que eu fiquei quase duas horas brigando com ela ontem, sem sucesso, não faz absolutamente nenhum bem pro meu "gamer pride").
SEXTA!!! MONSTER MASH!!!! PALAVRAS CHAVES!!! MONTANHAS E MONTANHAS DE TRABALHO ROUBANDO MEU TEMPO E MINHA VONTADE DE VIVER. Mas tudo bem (respira e desliga o caps) que eu tenho um plano. Daqui a 25 anos, pelas minhas contas, quando sair a edição 1000 da Monster Mash, eu crio uma conta no patreon e meus 12 leitores podem me dar dinheiro em troca de insights sábios e transformadores.
Corta pro futuro e lá estou eu, um velho carcomido pela pobreza e pela decepção existencial me prostituindo intelectualmente (pq meu semblante ursídeo torna qualquer outro tipo de tentativa de prostituição inviável), segurando uma placa "blogo/faço mixtape por comida"
Damn it..... anyways, edição gordinha pra compensar a falta semana passada.
Os senhores me perdoam?
sim? não? Como não posso ouvi-los, vou só assumir a postura "copo meio cheio" e esperar pelo melhor, okay?
E só hoje eu me toquei de que eu esqueci completamente dos DOIS aniversários deste blog.
O original, ocorrido no ultimo 31 de Julho, onde o Groselha completou oito aninhos de idade (Jesus, amado. Já??) e o anterior, dia 23 de Junho, data em que faz um aninho desde que eu retomei as atividades e trouxe o bloguinho de volta da hibernação.
bom....não posso dizer de forma nenhuma que não tem sido uma experiência divertida e hey, finalmente eu tenho mais leitores do que o necessário pra encher um fusca, então.....happy b-day, Groselha on the rocks. Ainda que atrasado..
hey.....pelo menos eu não dei meias de presente de ultima hora.... >____<
Fazem pouco mais de 24 horas desde que li o derradeiro volume de 20th century boys (ou, pra ser mais preciso, o de 21st century boys) e eu ainda não sei muito bem o que pensar.
Inicialmente eu não tinha gostado e já estava preparando um texto bem menos simpático que este, com uma ou duas referências a LOST só pra dar o clima e tals.... mas confesso que a conclusão do mangá (22 edições da série principal com dois volumes que fecham a trama) ficou cravada na minha mente e tô cada vez mais gostando dela, conforme vou digerindo.
Publicada entre Setembro de 2009 e Abril de 2006, o mangá segue, já que citei o seriado da Ilha misteriosa de Cuse e Lindelof, a mesma estrutura de um mistério gigantesco girando ao redor das vidas de um grupo de pessoas. E tb, tal como Lost, a história é totalmente não linear, funcionando em pelo menos 3 épocas distintas: a infância de um dos núcleos de protagonistas, nos anos 70, os eventos principais, com esses mesmos personagens já adultos, na virada dos anos 2000 e uma década e meia depois.
Na trama, um grupo de crianças se reúne em um clube secreto para brincar e se esconderem do mundo.
Kenji, Yoshitsune, Otcho, Maruo, Keroyon e mais alguns amigos se reúnem na "base" do seu grupinho e, entre várias brincadeiras, criam um guia para uma história perfeita. Mais que isso, um livro de profecias a se realizarem dentro de alguns anos, onde um homem surgiria pra salvar o mundo de uma crise. Crise essa causada, secretamente, por esse mesmo "messias". Cortamos pra algum tempo depois e diversos incidentes bizarros que parecem seguir os eventos descritos nesse livro de profecias começam a ocorrer de fato, levando a morte de milhares de pessoas. Cabe a Kenji e a seu grupo de amigos descobrir quem teve acesso ao livro de profecias que apenas aquelas pessoas sabiam que existia e pq alguém estaria usando uma brincadeira infantil pra desencadear o fim do mundo.
Superficial? sim, sou obrigado. Eu não diria de forma alguma que a série se sustenta APENAS nos mistérios, mas eles são um elemento importantíssimo da história e adiantar tais desenvolvimentos da trama seria estragar a graça delas pra quem não leu.
Mas também não vou conseguir falar da história e do que gostei e não gostei sem alguns spoilers pesados então, pra quem não leu o gibi, é isso, fiquem por aqui, tchau e voltem quando tiverem lido.
.....sério, eu sei como a cabeça de vcs funciona, sempre tem um que, tipo, "Ah, eu sou um golfinho bonitinho, sou um floquinho de neve que não se importa com spoilers, spoilers me motivam a ler e bla bla bla", mas sério, se vcs souberem antecipadamente os eventos, grande parte do impacto da história vai se diluir.
pros que ficaram, já sabem que o que temos adiante é a mais pura chuva de....
......ainda aqui, crianças? Ok.
So........... Minha impressão final de 20th century boys é bem positiva, mas com ressalvas. Pra um mangá que recebe a quantidade de elogios que recebe, confesso que alguns probleminhas me incomodaram um pouco, como o excesso de conveniências de roteiro que surgem aqui e ali na vida dos personagens. Personagens que se encontram nos momentos e locais mais improváveis do planeta. Coisas do tipo. Por exemplo: na cena em que Kanna, exausta, decide aceitar carona de um grupo de estranhos que, coincidentemente, são praticantes de racha e tem um radio pegando a frequência da polícia no exato instante em que os vilões estão indo interceptar um aliado da moça. Manjam? e isso acontece BEM mais de uma vez no decorrer da história. Em Lost, dá pra aceitar isso de boa pq descobrimos que existe uma força ativamente interconectando a vida destas pessoas. Mas aqui? A não ser que aceitemos que é Deus tentando salvar a humanidade, por isso, inter relacionando a vida de todo mundo aqui, só nos resta admitir que é apenas uma falha por parte de Urasawa.
O que é uma pena pq o gibi tem varias qualidades absurdas. A arte do mangaká é linda, uma das mais bonitas e expressivas de que me lembro. E o autor sabe criar tensão. Devorei os últimos 8 volumes da série em menos de um dia, tamanha a ansiedade pra ver a conclusão da história. E além disso, há o equilíbrio entre a hq ser plot driven e character driven. Sim, os personagens as vezes são entortados tal qual as colheres de Manjoume e Uri Geller (quem leu sabe do que tô falando) pra narrativa fluir mas se, como eu afirmei acima, não se trata APENAS de um gigantesco "whodunnit" de proporções planetárias, é pq nos importamos com aquelas pessoas envolvidas. Sobretudo no caso da verdadeira protagonista da história, Kanna, uma adolescente de 16 anos elevada á condição de líder rebelde e inimiga pública nº01. Além disso, as histórias focando o dia a dia dos sobreviventes da praga liberada pelo "Amigo" são de cortar o coração. São raros os momentos em que o núcleo principal se permite um momento de fragilidade diante dos horrores testemunhados mas quando o baque vem, ele vem com força e o desespero também é compartilhado com os leitores.
Com relação ao final propriamente dito, ele tem acertos e erros. Se citei LOST anteriormente, agora vou referenciar o ultimo filme da trilogia do Homem Morcego de Nolan, The Dark Knight rises": cuidado com quem vc coloca na posição de herói. Ou messias.
Nestes complicados dias que vivemos, com sua cota de Bolsominions e Malafaias e Youtubers falando qualquer merda e ganhando a atenção de milhares de pessoas, podemos enxergar "20th century boys" como um grande cautionary tale a respeito do risco de dar voz as pessoas erradas e transformar farsantes em ídolos. O plano do "Amigo" só funciona pq, mesmo com os sinais claros de seu charlatanismo, as pessoas estão tão iludidas a seguir os ditames de qualquer um com certo dom de retórica que, como se estivessem isoladas no escuro, estão oferecendo a mão a qualquer figura de autoridade que pareça, ainda que ilusoriamente, saber o que está fazendo. Neste aspecto, loas para Urasawa pq ele tem as manhas de, em determinado momento, traçar paralelos entre a fé cega no "amigo" e a que os protagonistas, e nós por tabela, temos na messiânica figura de Kenji. As alegorias aproximando o guitarrista frustrado com uma imagem divinal estão lá pra quem quiser ver: o elemento de morte e retorno num momento de necessidade, o isolamento em determinado momento, em busca de iluminação (os 3 dias que Kenji passou nas montanhas chorando lembram os 40 dias de Cristo no deserto, ou as tentações que Buda sofreu enquanto meditava na floresta ou Odin preso ao freixo do mundo. O messias se isola e é martirizado pra voltar com o conhecimento a ser compartilhado com o mundo) e a subserviência deste ícone à uma força imaterial maior que ele próprio (Jesus servia à Deus e Kenji serve à arte, por meio da sua música). Mas este elemento vem junto de um certo pé atrás: considerando que toda a bagunça começou por causa da necessidade coletiva por um salvador, seria leviano acreditar que o misterioso guitarrista que surge do nada e vem balançando as estruturas de poder estabelecidas pelo falso messias é o verdadeiro libertador e abraça-lo instantaneamente. E Urasawa sabe disso, o que pode ser percebido pela forma como ele segura ao máximo a confirmação de aquele é realmente Kenji, ressurgido dos escombros dos eventos ocorridos na virada do século*.
Se o começo e o meio da história são muito bons, o final......é....................hã............altos e baixos.
eu disse que a revelação final não é APENAS o que sustenta a história mas isso não torna menos irritante a quantidade de vezes em que o autor segura a informação da identidade do vilão, onde alguém vai finalmente dizer quem ele é......apenas para cortar a cena para um evento ocorrendo simultaneamente em outro lugar. Também me incomodou um tiquinho como, depois de tudo que vemos no decorrer da série, Kenji acaba surgindo como um deus ex machina que enfraquece um pouco a importância dos esforços de Otcho, Yoshitsune e da própria Kanna. E, aliás: não fosse pelo ultimo volume de 21st century boys, os poderes psíquicos da moça teriam importância zero pra trama, não?
E o final....
bom, se vcs estão lendo isso aqui, é pq já sabem: O "friend", o "amigo", o "tomodachi" é, na verdade Fukubei que é morto em determinado momento da história e substituído por um segundo misterioso homem. E esse homem é......um personagem cuja principal característica é ser "invisível" socialmente, sendo ignorado por tudo e todos, inclusive Kenji e os demais. Isso ocorre por um evento de infância ocasionado pelo líder do grupo de crianças e vai desencadear o desejo por destruir a Terra neste.
Ok....... Como já disse, inicialmente achei o final frustrante, até pq em momento nenhum vemos o rosto de Katsumata. Mas confesso que a conclusão da história foi crescendo e melhorando na minha cabeça. Enquanto as motivações dos dois homens atrás da máscara do "amigo" ainda me soam confusas, admito que a revelação do segundo "tomodachi" já é algo que gosto, inclusive com a não revelação do seu rosto me soando algo bastante esperto por parte do mangaká. No único momento em que somos apresentados a seu rosto, descobrimos que este fez operações plasticas pra ficar parecido com o Friend original, Fukubei. Katsumata nunca "teve um rosto" durante a infância e faz todo sentido que ele tenha continuado assim pelo decorrer da vida, inclusive negando a nós, a possibilidade de conhecer suas feições originais. O rosto do menino é a mascara de national kid que usa enquanto crianças e a do tomodachi, quando adulto. O máximo que nos é concedido (e a ele próprio) é um nome que, pra todos os efeitos, não significa nada pra ninguém lendo, mas que é, ao menos, um reconhecimento de algo próximo a uma identidade sendo concedida para o garoto.
Corajoso, pra dizer o mínimo. E até mais estruturado, em termos de desenvolvimento de personagem, que no caso de Fukubei, cujas motivações pro extermínio global planejado nunca me pareceram sólidas o suficiente.
No final 20th century boys tem sua cota de problemas mas termina como uma experiência bastante satisfatória. Vai deixar saudades.
Ainda sobre:
* confesso que eu fiquei um pouco frustrado, inclusive, quando é confirmado que o misterioso andarilho é mesmo Kenji, já que pensei que seria revelado ser o "Amigo" ressuscitado. Portanto, sendo um elemento de anti-clímax e crítica ao próprio leitor vendo isso e, provavelmente, naquele momento, pronto pra abraçar a figura como o "herói da história que voltou para salvar o mundo". Mas, sendo justo: o efeito disso seria devastador pra gente e mais ainda praqueles personagens então, vou simplesmente aceitar que eles passaram por sua cota de sofrimentos pessoais e admitir que mereciam o final feliz.
- Boy, eu sou uma bitch pra metalinguagem, então, adorei os personagens mangakás que aparecem no decorrer da história, lembrando o quanto, PRINCIPALMENTE em momentos de crise, são as histórias que vão nos oferecer alívio, escapismo e esperança. Não é pra menos que o Superman surgiu á luz da crise da bolsa de 29 e pouco mais de duas décadas depois do final da primeira guerra mundial. E não é pra menos o boom de filmes de super heróis atualmente, à luz do 11 de Setembro e das sinistras consequências sociais e políticas da derrubada das Torres Gêmeas.
- coincidência divertida ter lido esse gibi tendo, dois dias antes, maratonado Stranger Things. As duas séries tem elementos parecidos que remetem tanto à Spielberg (pensem em "Goonies" e "E.T".) quanto à Stephen King ("Stand by me", "It" e, obviamente, "The Stand").
- O trabalho de ambientação desse gibi é algo de impressionante, principalmente pra alguém como eu, que gosta da cultura japonesa mas não tinha ciência do impacto de coisas como o glam rock e os movimentos culturais dos anos 60 e 70 no país.
- Pra quem quiser ler um pouco sobre a importância das profecias de Nostradamus e dos mitos apocalípticos cristãos na cultura japonesa (dois elementos fundamentalmente importantes em 20th century boys), deixo esse texto bacana aqui.
- Pra quem quiser ouvir, Urasawa gravou uma versão de "Bob Lennon", a música que "salvou o mundo".
Inspirado em uma memória de infancia sobre uma série de brinquedos que o Mcdonalds lançou sobre personagens que viraram robos, o artista mexicano Carlos Dattoli repensou o mais famoso morador do bosque dos 100 acres e sua entourage como Giant fighting mechas!!!
Temos o ladrão de mel favorito de todo mundo, Puff
Abel, o coelho
Leitão (no more mr. small guy!!!)
E o tigre hiperativo mais famoso do planeta, Tigrão.
Minha opinião: How awesome is that? As artes digitais são lindas e eu adoraria ter essas belezinhas na minha estante e....