Relicário: Ultimate Wolverine vs Hulk #1 a #6

Este é um gibi com roteiros de Damon Lidelof (e arte de Leinil Francis Yu) que inicialmente me desagradou pq a trama e o final não eram exatamente o que me pareceram num primeiro momento.

Pausa para que os senhores possam apreciar a ironia da descrição acima. 

Anway, é um gibi chamado WOLVERINE VS HULK. O que vc espera de um gibi intitulado WOLVERINE VS HULK?

Exatamente, gore, violência, porradaria, sangue pra caralho. Principalmente em se tratando de uma mini-série localizada no universo Ultimate, portanto, sem as restrições do universo Marvel "normal" e mais comercial, e, portanto, podendo pesar a mão na trasheiragem e mutilação.

E apesar disso, muito pouco dessa mini em 6 partes gira em torno de socos e chutes.

Ok, ultima referência ao trabalho mais icônico de Lindelof. Prontos? é uma história sobre pessoas.

Yeah, I went there. Podem me julgar. É um gibi menos sobre gente superpoderosa se moendo de pancada e mais a respeito de pessoas e da interação dessas.

Na verdade, sob um bando de pessoas com raiva. Que é o grande elemento que conecta Logan e Bruce Banner. E pra um gibi tão raivoso, é incrível como, paradoxalmente, ele é, ao mesmo tempo, bastante sereno. 

A partir de um fiapo de roteiro (basicamente, a versão de Fury do universo 1610 - e sim, eu tive que olhar no wikipedia - descobre que, ao contrário do que se pensava, o Hulk dessa Terra, que supostamente deveria ter sido executado depois de matar algumas centenas de pessoas num acesso de fúria, sobreviveu e tem deixado bem claro - através da cada vez maior contagem de corpos deixada - que voltou a perder o controle interior. Só resta ao líder da SHIELD solicitar os serviços do melhor assassino do mundo - Logan, pra quem não adivinhou - para terminar o serviço da forma mais eficiente possível), Temos um estudo de personagem focado em Banner, Logan e Elizabeth Ross e sobre o que faz o sangue desses 3 ferver. Depois de alguma investigação, o mutante canadense encontra seu oponente escondido (well.....não muito) 

.....num mosteiro tibetano. e aí.....nope, não há porrada ainda. Voltamos, na segunda edição, a ver os eventos que levaram o cientista desde sua quase morte até o momento do encontro com Logan. Na terceira edição, temos algumas poucas paginas envolvendo um combate como o esperado (e devo dizer, ele é bem legal, gerando aquela clássica imagem do Wolverine partido ao meio que todos os senhores já devem ter visto no tumblr), mais algumas cenas de luta quando a Mulher Hulk entra na equação (eu disse que esse era um review spoiler full? Nope?? oh boy!!!!) na edição seguinte e.....that's it. 

e considerando o quanto as capas do gibi vendem a coisa como um choque de monstro digno de uma classificação NC-17, foi um tiquinho frustrante, num primeiro momento, como há bem pouco combate na trama......

......mas aí me peguei pensando...há mesmo? Não digo violência gráfica, essa apesar de pouca, é BEM explícita (pobres vacas) mas o gibi é tenso até a medula o tempo todo. Beth tem raiva pela falta que sente do ex-marido e da sensação de insignificância que vem do fato de se uma humana comum num mundo de super humanos. Banner......bom, ele é o Hulk. Não preciso explicar mais de onde vem a raiva dele.

E a grande questão da história é: de onde vem a raiva de Logan? Ele é contactado por Fury e aceita o trabalho sem exigir qualquer forma de remuneração. Pq? Qual a motivação dele? Essa é a fascinante pergunta que permeia a série inteira, inclusive feita diretamente pra ele por mais de um personagem durante a série. Sim, algumas hipóteses são levantadas mas nada conclusivo é afirmado e...

....e vcs estão pensando em LOST de novo, não? Como foram deixadas perguntas em aberto pro fandom tergiversar sobre e "oh, this is SOOOOOO Lindelof".

Bom, Kemosabe, .......as respostas estão lá se vc procurar (eu vou só admitir que não vamos conseguir superar o fantasma - fucking shit - da série sobre a ilha perdida que vai permear esse texto e, provavelmente, o resto da vida pessoal e profissional de Lindelof e Cuse). Eu diria que tudo gira a respeito da raiva advinda da busca por poder e controle. Dos que tem demais, dos que tem de menos e dos que acham que não existe controle algum.

A arte desse gibi é algo que......well, Leinil Francis Yu é um dos melhores do mundo na sua área e acho que ninguém vai questionar isso. É incrível como o artista escolhe focar os momentos que antecedem violência e, portanto, os de maior impacto visual, sempre com um close ou um detalhe girando a respeito dos olhos dos personagens. A cena que antecede a explosão de Banner durante a sessão de terapia, todos os momentos que vão descambar em confronto físico. Curiosamente, na cena do avião, quando não sabemos se Logan está blefando ou não, o personagem usa um tapa olho. Não é só uma referencia á clássica fase do personagem em Madripoor, mas uma forma de negar ao leitor acostumado com o recurso do close como prenuncio de nossa sweet sweet violence a ciencia sobre as próximas ações do personagem,  gerando incerteza á respeito das reais intenções do x-man e, como resultado final, tensão.

E a conclusão da história, depois desse incomodo da inversão de expectativa, acabou me agradando bastante, incluindo o esperto quadro final. Pq é afinal, um gibi sobre pessoas com problemas sérios de gestão de raiva (eufemístico? eu?), onde desde momentos de diálogo até cenas de sexo são apresentadas com certa brutalidade ou um mero preludio cavalheiresco para a agressão. É uma hq sobre os aspectos mais primais e instintivos de nossa personalidade, e, mais além, sobre a negação e posterior aceitação destes. Não há sequer UMA interação honesta entre a maioria dos protagonistas salvo o momento que antecede a explosão de uma bomba e as que ocorrem entre os monges no templo.

Exceto, claro se vc considerar o quão sinceros e honestos dois guerreiros são, enquanto tentam se matar. Violência como comunicação não verbal. Isso posto, então, apropriado que abra com uma cena pós massacre...

SIM, CACETE, EU PERCEBI. É UM OLHO FECHADO. LINDELOF FEZ LOST, OK, SÓ SUPEREM!!!!

...e encerre com o mais próximo que homens assim se permitam de um momento de intimidade relativamente descontraída: 

'

Caso haja alguma dúvida, that's a "FUCK"

Sofisticado pra um gibi que se vendia como pura ignorância descompromissada, não? 

- Ah sim: Os nomes que Banner usa enquanto escondido. "David", "Bixby"...... Vamos só admitir que a série do Hulk dos anos 80 merece bem mais crédito do que as pessoas conferem à ela, ok?  Aquilo era awesome!!!! :-)