[Buffy can hear everyone's thoughts]
Oz: [Thinking] I am my thoughts. If they exist in her, Buffy contains everything that is me, and she becomes me. I cease to exist.
É possível que este seja meu episódio favorito até agora. Okay, "Zen or the skill to catch a killer" é brilhante e tem algumas das cenas mais emblemáticas da cultura pop recente, mas o tema desse episódio dialoga muito forte comigo, leitor de quadrinhos de longa data e que sempre teve calafrios quando via aqueles momentos, em gibis dos X-Men, por exemplo, em que o grupo de super heróis fazia um link telepático e permitiam varias pessoas passeando coletivamente pelas esquinas sombrias que chamamos de mente.
Problemas de confiança? Bom, 100% dos meus amigos nunca foram OU IRÃO conhecer minha casa. Alguns deles nem sabem meu nome completo.
Problemas de confiança? Bom, 100% dos meus amigos nunca foram OU IRÃO conhecer minha casa. Alguns deles nem sabem meu nome completo.
Esse preambulo todo se relaciona com o programa de tv blockbuster concebido por David Lynch e Mark Frost no momento em que percebemos que este é o tema desse episódio: Segredos. As muralhas que tão pacientemente construímos dentro de nossas vidas e que só são derrubadas a muito custo. E isso quando não são simplesmente deixadas de pé por toda uma existência.
Agora vejam bem: como eu disse, eu valorizo minha privacidade e não acredito de forma alguma nisso de total confiança e numa vida sem a devida cota de verdades protegidas do escrutínio publico pelos mais diferentes motivos: orgulho, vergonha, por simplesmente não ser da porra da conta de mais ninguém, etc.
MAS...... eu entendo quando os autores do seriado apontam o efeito alienante dos segredos. Os que guardamos do mundo, os que escondemos de nós mesmos. Os pequenos, quase ignorados, e os grandes, que paralisam a gente e que tentamos ignorar sem sucesso. Esse foi um episódio em que o abismo dicotômico entre o núcleo jovem e o adulto ficou ainda maior, com os primeiros identificando a montanha de segredos alimentada em ritmo cotidiano pelo segundo grupo como uma das fontes da doença devorando Twin Peaks por dentro.
JAMES
I'm telling you this because I don't want to have any secrets from you, I don't want there to be any lies between us. It's the secrets people keep that destroy any chance they have for happiness and I don't want us to be like that...
Twin Peaks é uma cidade imersa, enterrada, encarcerada embaixo de toneladas e toneladas de segredos, indo de meros relacionamentos extra conjugais até o tipo que ameaça vidas. Quando James e Donna juram um pacto de honestidade plena entre eles, os dois jovens não estão apenas protegendo seu recem-nascido relacionamento, mas também tentando se preservar do ciclo de mentiras e verdades não contadas que parecem ser um dos combustíveis que movem aquela comunidade adiante. E não deixa de ser cruel, já mostrando como a vida costuma mandar nossos melhores planos abaixo, que, para quebrar esse ciclo, o casalzinho tenha que utilizar de mais confidências: Maddy, agora parte do grupo, ouve confidencialmente dos dois a respeito da natureza sinistra de Laura e dos eventos que vão inevitavelmente levar a garota à morte.
Dois passos para trás visando 3 avançados, na melhor das hipóteses.
DONNA
Madeleine, what we wanted to talk to you about ... if I said you can't, really say a word of this to anybody else, not a soul, not even your aunt or uncle, would that be okay with you?
MADELEINE
(lightly) Sounds like some big secret.
Mais segredos:
- Ed e Norma e seu relacionamento ameaçado pela fragilidade da esposa do primeiro e do marido da segunda, liberado em condicional depois de anos enjaulado.
- Audrey, conseguindo á força, uma vaga para trabalhar na suspeita área de perfumaria da loja de departamentos de seu pai, sem saber que lá são cooptadas garotas para o One eyed jack. Mas, mesmo a esperta garota vai ser surpreendida com a revelação de quem dirige o local, ninguém menos que seu próprio pai.
- A revelação da suspeita de que Laura tivesse um diário escondido em sua casa que, se resgatado, pode trazer importantes revelações a respeito dos eventos envolvendo sua morte.
Se estes fatos ocultos se mantiveram incólumes, também tivemos uma outra cota destes que foram postos abaixo. E como de praxe, pouco ou nenhum conforto foi trazido com tais revelações:
Seguindo as pistas de seu sonho e mais algumas outras obtidas no apartamento de Jaques Renault, Cooper, Truman, Hawk e demais policiais podem não só ter descoberto o local onde Laura e Ronette encontraram o homem (ou os homens) que viriam a brutaliza-las, mas novas pistas conectando Renault e as meninas ao prostíbulo mantido por Ben Horne.
- OBVIAMENTE, também temos finalmente o encontro entre Dale e a Log Lady, que finalmente serve de mediadora entre seu tronco e os policiais e permite que o pedaço de madeira revele o que testemunhou (e sim, eu adoro essa frase):
COOPER
(to the log; solemnly, respectfully)
What did you see that night? The night Laura Palmer, was killed?
LOG LADY
(pause to the log) Shhhh. Let me do the talking. (she doses her eyes; this is hard for her) Dark. Laughing. The owls were flying. Many things were blocked. Laughing. Two men. Two girls. Flashlights, in the woods, pass by, over the ridge. The owls were near. The dark was pressing in on her ... (calmer) Quiet then. A gentle wind. Footsteps, later, one man pass by. All quiet. Screams, far away. Terrible. Terrible. One voice ...
COOPER
(quietly)
Man or girl?
LOG LADY
Girl.... Further up. Over the ridge The owl were silent.
- E chegamos ao momento mais potente, emocionalmente, do episódio, onde, numa sessão de terapia, Jacoby manda abaixo as muralhas criadas pelo filho do Major Briggs e este finalmente se permite abandonar a pose de bad boy, revelando alguém profundamente inseguro e traumatizado pelos eventos recentes.
E no processo, verdades inconvenientes sobre Laura também vem à tona:
DR. JACOBY
We were very sad when Laura died.
BOBBY
Laura wanted to die.
DR. JACOBY
How do you know that?
BOBBY lays down on DR. JACOBY'S lay back chair.
BOBBY
Cause she told me.
DR. JACOBY takes a seat next to BOBBY.
DR. JACOBY
What else did she tell you? Did she tell you there ... there was no goodness in the world?
BOBBY
She said ... people try to be good but their really sick and rotten. Her most of all ... and every time she tried to make the world a better place ... something terrible came up inside her and pulled her back down into hell. Took her deeper and deeper into the blackest nightmare. Every time it got harder to go back up to the light.
DR. JACOBY
Did you sometimes have the feeling that Laura was harboring some ... awful secret?
BOBBY
Yeah.
DR. JACOBY
Bad enough that she wanted to die because of it?
BOBBY
Yes.
DR. JACOBY
Bad enough that it drove her to consciously try to find people's weakness and prey on them, tempt them, break them down, make them do terrible, degrading things?
BOBBY
Yes.
DR. JACOBY
Laura wanted to corrupt people because that how she felt about herself.
BOBBY
Yes.
DR. JACOBY
Is that what happened to you Bobby?
BOBBY starts to cry but he tries to suppress it.
DR. JACOBY
Is that what Laura did to you?
BOBBY
(emotional) She wanted so much. She made me sell drugs so she could have'em.
A princesinha, a namorada que todos queriam ter, a filha perfeita, prom queen, Laura Palmer: um espírito corrompido por Twin Peaks e ela própria, um espírito corruptor, mantendo o ciclo vivo. Não que seja culpa dela, afinal, a garota é, mais do que qualquer um ali, um fruto do seu meio. E lembremos do sonho de Dale no ep. 02 e da estatua na red room: Laura é uma ponte entre dois mundos. Inicialmente, o mundo "mágico" e o real, mas também, um elemento conectando o mundo jovem, adolescente, inocente (em tese), não corrompido com o adulto, sujo, sombrio, sinistro e fraturado. Já disse isso antes mas Laura Palmer É Twin Peaks personificada.
- Sério, eu fui atrás do currículo da diretora desse episódio, Lesli Linka Glatter e, se por um momento, fiquei um tanto surpreso de não ver nenhum longa metragem lá, por outro, não fiquei nem remotamente surpreendido ao constatar que entre seus trabalhos constam séries fodonas como The West Wing, NYPD Blue, House e Mad Men (ok, também tem porcarias como True Blood, Grey's Anatomy e Heroes, mas ninguém é perfeito, anyways)..... Sério, o que ela fez nesse ep (escrito por Frost) é absurdo. Negócio flui redondinho num crescendo até a cena de Bobby com o Dr. Jacoby.
- E logo a seguir, temos Shelly mandando qualquer sombra de fachada pra casa do caralho e sentando bala no marido.
- E por fim, num toque tão sofisticado que confesso que fico arrepiado só de lembrar, Dale vai pro seu quarto e chegando lá, vê a porta aberta. Entra de arma em punho pronto pra tocar o terror quando de repente, não mais que de repente, é surpreendido com a visão que o espera lá dentro:
Okay, sim, é Audrey nua enrolada num lençol esperando ele na cama, mas vou pedir pros senhores desconsiderarem isso por um segundo e se atentarem pro simbolismo aqui: desde o season premiere do programa, a unica figura em Twin Peaks que vem, momento após momento, sendo absolutamente honesta com ela mesma e todas as pessoas mais próximas é Audrey Horne. Bobby tem seus momentos como mais cedo neste mesmo ep. e, antes disso, na cena do funeral, mas ele já foi tocado pelas sombras o suficiente pra algo ter se perdido. Mas Audrey vem repetidamente sendo brutal, DESCONFORTAVELMENTE honesta com os mais próximos: seu pai, Donna, Dale, o gerente da loja de departamentos de Benjamin a quem ela ameaça para conseguir a vaga no balcão de perfumes, etc. Botando, sempre que possível, um holofote gigante em cima da própria família e de sua felicidade falsa digna de uma propaganda de margarina. Se enfiando atrás das paredes (de forma literal, inclusive) pra ver o que diabos os adultos estão escondendo.
Ela também é alguém danificada, mas ainda incólume, não corrompida. Narrativamente, é lindo que a forma que ela encontrou para conquistar a confiança incondicional de Dale e se mostrar digna tb da confiança do agente seja se desnudando, literal e figurativamente diante dele. A verdade, nada mais que a verdade, ali diante dos olhos de Cooper.
Foda, né?
Como já disse, provavelmente meu episódio favorito, cheio de revelações (nada mais apropriado), com o elenco afiadíssimo em seus papéis, roteiro absurdo de bom e direção impecável. "Cooper's Dreams" é a série se esmerando naquilo que ela tem de melhor.
E Leland CONTINUA dançando.....
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