quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Doctor Who 9x13: "The Husbands of River Song" - And they both lived happily ever after....



À luz da chegada da 11ª temporada, com novo showrunner, nova doctor, novos companions e novo ...well...TUDO... acho que é uma boa hora retomar meus textinhos sobre Doctor Who e passar por toda a 10ª temporada, última de Steven Moffat como escritor-chefe e de Peter Capaldi no papel título. 
Deixo pra comentar da temporada como um todo no ultimo texto, mas acho seguro dizer que, se não teve um arrasa quarteirão desses de entrar em qualquer antologia de melhores momentos da série como foi nas 2 temporadas anteriores (respectivamente "Listen" e "Heaven Sent"), por outro lado foi uma temporada mais consistente, sem nenhum episódio particularmente fraco. Claro que uns foram melhores que os outros, mas não teve nada como o do monstro de remela da temporada anterior. 
Então, comecemos com a ultima ponta solta da temporada 9, antes de entrarmos com os dois pés na season 10:

Não creio que, sob nenhuma perspectiva, esse seja o melhor episódio de Doctor Who. Não é o melhor da season 9, não é o melhor especial de Natal, não é nem o melhor especial de Natal dentre os roteirizados por Moffat. O que ele é, no entanto, é uma boa aventura, sem grandes pretensões, exceto, claro, concluir de maneira definitiva a história de River Song, fechando o seu ciclo de aventuras e deixando-a pronta pros eventos de "Silence in the library". Se vcs se lembram, terminei meus textos da temporada passada dizendo que eu estava apreensivo com o futuro da série, e mais precisamente com esta temporada, já que um dos motes recorrentes da season nine foi o quanto o Moffat estava sem mais histórias pra contar. "Heaven Sent", melhor ep. desse ano do show mas, assim, DE LONGE, é exatamente sobre isso, sobre esse esgotamento natural de histórias que o criador tinha pra narrar sobre o timelord de Gallifrey. Foi curioso, então, perceber que este meta tema se faz presente nesse especial e o roteirista se coloca na trama na forma de River, ela própria, tal qual ele, alguém que sabe que amar o Doutor é saber, tb, a hora de se afastar e que o madman with a box jamais vãai ser propriedade dele ou de qualquer outro autor que esteja no comando do seriado. No máximo, ele é um brinquedo que estas pessoas pegam emprestado por um período mas com a certeza de uma devolução, o que deve ser particularmente traumático para ele, que não só é o "dono da porra toda" desde 2010 e não apenas esteve trabalhando diretamente com o personagem desde a década de 90, mas que é um whovian desde a infância. 



"When you love the Doctor, it's like loving the stars themselves. You don't expect a sunset to admire you back!"

Somemos a isso o fato deste ser, durante um tempo, aquele que provavelmente seria o ultimo texto do escritor para o programa (bom....pelo menos por agora. Sabemos que ninguém nunca "corta relações de vez" com o timelord) e dá pra sentir a responsabilidade. Mas, ao invés de pesar a mão com uma história mega densa, Steven decidiu seguir o caminho oposto e fazer deste um especial de Natal com cara de especial de natal. Leve, divertido e despretensioso........pelo menos pela maior parte dele. 
Começamos com um Doutor ainda digerindo os eventos de Hell Bent, sem memórias de Clara Oswald mas com a ciência de que.....algo está errado. A trama, onde o 12th tem que auxiliar uma Prof. Song ainda não familiar com a sua atual face, enquanto ela tenta resgatar um diamante localizado dentro do crânio de um despota é só uma desculpa pra uma história que se sustenta pesadamente na interação entre Capaldi e Alex Kingston. Conforme avançamos na história, no entanto, "the husbands...." passa a ser sobre o fim do ciclo de vida da arqueóloga e a ciência de que a hora de se despedir de vez do Doutor se aproxima. 
Recentemente, num documentário, enquanto falava sobre o apelo de DW pras gerações mais novas, Capaldi lembrou que, no geral, o grande tema da série é pura e simplesmente a morte

"People always ask me what it is about the show that appeals so broadly. The answer I would like to give — and which I’m discouraged from giving because it is not useful in the promotion of a brand — is that it’s about death. And it has a very, very powerful death motif in it, which is that the central character dies. I think that is one of its most potent mysteries, because somewhere in that people see that that’s what happens in life. You have loved ones and then they go, but you must carry on.”

A morte é um dos temas principais da série desde que o 1st caiu na Tardis e diante dos incrédulos olhares de Polly e Ben, regenerou pela primeira vez na vida. Sabemos que o tempo do programa não é definido apenas pelos episódios de tv e isso não é de hoje: todas as versões do Doctor tem um volume de material de universo expandido desde sempre, desde os livros passando por audiobooks, animações, quadrinhos e etc. Mas, independentemente do volume de material protagonizado pelo aventureiro e sua Tardis, a verdade é que desde que Patrick Troughton assumiu o papel, sabemos que toda encarnação do personagem tem um tempo de vida bastante limitado. Em alguns casos, um ano (o 9th). Em outros, quase uma década (Tom Baker, o quarto doutor, ficou na série por 7 anos, de 71 a 84). Mas a morte sempre espreita. 



A novidade aqui é vermos essa morte sob o olhar do Doutor e com alguém tão semelhante e único quanto ele próprio, com a cabeça numa guilhotina que lentamente se aproxima. Por isso, a ultima metade do especial tem uma mudança de tom tão grande e ganha uma "gravitas" absurda, com o conflito passando a ser se o Timelord conseguiria impedir o inevitável e salvar River.
E a resposta é...não. Mas isso não quer dizer que não dê pra dobrar as regras dentro do possível e conseguir mais uma looooooooooooooooooonga noite com a personagem. 



Dessa dicotomia do Doutor tentando parar o tempo, esse punhado de areia que escorre pelas mãos independente do quão forte tentemos segurá-lo, e da River, sabendo que, em algum momento, a festa tem que acabar e que a hora de pegar o casaco do armário, pagar a comanda e voltar pra casa está perigosamente próxima, que vem a força de "The Husbands of River Song". 

The Doctor: What's the book?
River Song: Oh, it's my diary. One should always have something sensational to read on a spaceship.
The Doctor: Is it sad?
River Song: Why would a diary be sad?
The Doctor: I don't know. It's just that you look sad.
River Song: It's nearly full.
The Doctor: So?
River Song: The man who gave me this was the sort of man who'd know exactly how long a diary you were going to need

Se fosse de fato, a palavra final de Moffat nos textos do show, teria sido um final adorável, com tudo que fez seu período na chefia de DW algo tão único: alegre em alguns momentos. Melancólico em outros. Com certo ar de tragédia à espreita mas a mesma quantidade de esperança flutuando ao redor de seus personagens. "Everybody lives"? Nem sempre. Mas as vezes, pra quem está diante do abismo, conseguir mais uma ultima noite com seus entes queridos já é um final feliz bom o suficiente, independente dela durar apenas algumas horas ou 24 anos. :-)

Mais alguns centavos: 
- Nardole faz sua estréia no universo whovian. Sei que ele é um personagem bastante divisivo. Se eu for me basear só no que vi aqui, sem pensar que já vi a décima temporada inteira, diria que ele é bem irritante e nem sempre as piadas que envolvem ele funcionam, mas isso seria mais por problemas do roteiro do que do ator ou do personagem (e, independente da faixa etária de boa parte do fandom, ainda é um produto pra crianças e esse é o tipo de humor que tentam fazer com ele, pelo menos aqui). 
- A cena do Doctor entrando na Tardis "pela primeira vez" me fez rir alto.
- O fato de ser um episódio mais leve não quer dizer que não tenha um dos tão famosos twists de roteiro do Moffat que vão deixar saudade com a mudança de showrunner. Esse especial muda toda a dinâmica da relação entre River Song e o 11th Doctor. Muitos fãs diziam que a encarnação do personagem vivida por Matt Smith parecia um pouco frio sua suposta esposa, e que nem parecia que ele era "o doctor dela". E a revelação era: Ele não era. 
- De acordo com o especial, River esteve cuidando do Doutor em todas as suas encarnações prévias e sobre isso, só tenho a dizer: procurem os audiobooks de DW protagonizados pela arqueóloga. Em vários deles, temos tramas em que a cientista se vê interagindo com versões prévias do protagonista e, das poucas que já ouvi, todas são histórias incríveis. Sim, fanservice pra caralho, mas incríveis. No youtube vcs acham trechinhos. Procurem - inclusive já postei aqui - o episódio em que a timelady e o 7th conversam durante um copo de chá. E já está anunciado audiobook novo com filha de Rory e Amy se encontrando com ninguém menos que o 4th doctor, o que deve render um novo clássico whovian. 
- Menos de um mês pra estréia da season 11, vou tentar correr com os textos pra que tenham acabado antes da season premiere da nova temporada. Gerônimo!!!!
- "Felizes para sempre não quer dizer para sempre. Só quer dizer...por um tempo. Ainda que pouco". 



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