Depois de um relativamente longo e moderadamente tenebroso hiato (nem falo de inverno pq tá fazendo 35 graus no momento em que escrevo isso. Fucking aquecimento global) nossa jornada pelas diabólicas aventuras de Hellboy e seus colegas do BPRD está de volta.
Dessa vez, vamos cobrir 3 tpbs da série solo do Bureau. Spoiler alert: começa meio meh, mas vai melhorando bastante. Bora?
BPRD - The Soul of Venice
Basicamente, uma antologia de aventuras curtas do grupo, depois do volume anterior mais ou menos estabelecer o rol de personagens e reintroduzi-los para quem quer que tenha começado a série por aqui. A coisa é bem Supernatural mesmo, meio "monstro do dia" e funciona com graus diferentes de sucesso. Pra mim, o erro aqui foi ter colocado a aventura que intitula o encadernado logo no começo, já que ela é, definitivamente, o ponto alto do gibi, so, todo o resto acaba sendo meio inferior.
The Soul of Venice (Roteiro de Miles Gunther, Mike Mignola e Michael Avon Oeming, arte de Michael Avon Oeming)
Um conto sensível e uma celebração a tudo que faz de Veneza um lugar encantador. O grupo vai investigar uma série de eventos bizarros na cidade das gôndolas e ao que tudo indica, alguém raptou o espírito do local. Literalmente. Como eu disse acima, o ponto alto do tpb e uma trama que serve pra tridimensionalizar o membro mais novo do grupo, Roger, o homúnculo. A arte de Michael Avon Oeming emula muito bem a de Mignola, o que, dependendo de pra quem vc perguntar, é algo bom ou ruim. Pra mim, pessoalmente, eu preferiria que cortassem de vez o cordão umbilical e permitissem que a série voasse sozinha sem precisar desse tipo de salvaguarda. Mas, já tendo lido mais coisa da fase solo do Bureau, eu sei que isso não vai ser um problema.
Dark Waters (historia de Brian Augustyn, arte de Guy Davis)
Um conto menor do Hellverse mas que chama a atenção por ser um dos meus temas favoritos, principalmente nos dias atuais: evangélico fazendo merda e se ferrando no processo. Depois de encontrarem 3 cadáveres acorrentados numa rua em obras, datando de pelo menos uns 150 anos e em perfeito estado de conservação, Abe e os demais se pegam lidando com consequências dos julgamentos de bruxas que fazem parte da História sombria dos EUA. Augustyn não segura nenhum soco e, pro caso da crítica passar batido, temos pelo menos um momento nada sutil do fanático religioso responsável pela merda toda rolando no local chamando a Dra. Corrigan de Feminazi.
Night Train (roteiro de Geoff Johns e Scott Kolins, Arte de Scott Kolins e Dave Stewart)
Um dos times clássicos do passado recente do Flash se junta aqui para narrar um conto do passado do Lobster Johnson que teve um final trágico. Uma narrativa sobre reparação histórica, sobre consequências.....e sobre trens fantasmas.
There is something under my bad (roteiro de Joe Harris, arte de Adam Polina e Guillermo Zubiaga)
A segunda melhor história desse volume. Basicamente, BPRD vs o Bicho Papão. A arte é linda, trazendo o tipo de estilização de livro infantil que esse capítulo evoca, indo do horror ao "Tex Avery" as vezes no mesmo quadro. A trama envole uma gangue de bichinhos de pelúcia going rogue, monstros debaixo da cama e todas essas coisas que atormentam crianças desde que o mundo é mundo.
Hey, kemosabe, atormentavam A MIM quando eu era pequeno. 10, 12 anos de idade e eu ainda achava que tinha um demônio embaixo da minha cama. Tenho 39 atualmente e desde que vim pra SP, fiz questão de nunca ter camas com espaço embaixo, pra nenhum monstro poder estabelecer residência lá.
Tem ainda mais uma hq, mas ela é tão esquecível que nem vale comentar. Anyway, é isso.
Não é de forma nenhuma um clássico nem merece nenhum adjetivo mais hiperbólico, mas é um começo decente, servindo pra aprofundar um pouco a dinâmica entre esses personagens e, de quebra, nos dar alguns momentos bem divertidos.
BPRD - Plague of Frogs
(roteiro de Mike Mignola, arte de Guy Davis)
Finalmente entramos de vez na série regular do grupo. Acabam (pelo menos por enquanto) os one-shot e temos uma trama mais longa e, como consequência, um lore se formando ao redor de Liz, Abe, Roger e Johann. E um lore só deles, distinto do lore do diabão vermelho que é o carro chefe do Hellverse. Bom, distinto mas ainda conectado, já que o antagonista aqui vem da minissérie que foi o ponto de partida da épica jornada do diabão vermelho. Yep, estamos novamente lidando com os monstros-sapo que conhecemos na incursão de Hellboy e seus teammates na mansão dos Cavendish (e, spoiler alert, não é a ultima vez que veremos esse sobrenome sendo mencionado e com forte importância pro passado de um dos personagens da série). Um homem desequilibrado invade um centro científico onde um fungo desconhecido está sendo armazenado. É isso, tudo que precisa pra termos, mais uma vez, o destino do mundo na balança. Also, Abe Sapiens tem pesadelos.
Mignola volta não apenas pra definir as regras da série solo do BPRD, dar um norte pro negócio e tals, mas também pq, paralelo à missão de investigação, temos um dos momentos mais importante da história desse universo: a revelação da origem de Abe. Essas duas narratias vão se conectar posteriormente, relembrando, como eu já disse, elementos do passado da hq e usando-os pra estabelecer a macro-trama que vai dar o tom pra todo o Hellverse, não apenas nesse gibi e no do Hellboy, mas também nos títulos que virão, séries solos de personagens e outras publicações vindas pra expandir esse lore: monstros lovecraftianos e cultistas fanáticos, ambos girando em torno da missão de despertar a besta do juízo final, o dragão Ogdru Jahad. A arte de Davis é bem apropriada pra série, com aquele tom de não-realismo típico de gibi indie - que eu particularmente adoro - mas que sabe quando usar o expressionismo para evocar o clima de horror necessário. Os cenários são todos belíssimos e é um traço rico em detalhes, que sabe também quando trazer resgatar aquela vibe de arte vintage.
E o roteiro é impecável. Arte e texto aliados num dos momentos mais importantes desse universo em expansão. Pros fãs do Mignolaverse, gibi obrigatório.
BPRD - The Dead
(roteiro de Mike Mignola e John Acudi, arte de Guy Davis)
(roteiro de Mike Mignola e John Acudi, arte de Guy Davis)
O primeiro encadernado do Bureau tinha certo foco em Liz Sherman. O segundo, centrava o olhar em Roger. O terceiro em Abe e esse aqui gira ao redor do cientista alemão ectoplásmico do grupo: Johann Krauss, enquanto, em paralelo, continua revelando elementos dos passado do homem-anfíbio do time. Vai ser complicado falar desses tpbs de forma isolada pq, de fato, agora estamos vendo uma saga contínua separada em arcos menores. A arte de Davis continua linda e o texto de Mignola, agora acompanhado de John Acudi, continua aquele mix de horror lovecraftiano e aventura noir típico da série (e agora temos um volume de histórias e hqs publicadas grande o suficiente pra podermos falar confortavelmente sobre os elementos recorrentes dessa trama). Novo cenário, novos personagens (Ben Daimio, o novo líder dos caçadores de monstros, depois da "folga sabática" requisitada por Abe. As interações dele com Roger são divertidíssimas).
O ponto algo, no entanto, é mesmo a jornada solo de Abe e achei belíssimo como ela engana o leitor: parece que estamos vendo um conto de terror sinistrão com shades de "the Shinning" e tals e no final, na verdade, é uma trama sensível, melancólica e muito bonita sobre abrir mão do passado e seguir adiante. Poético, pra dizer o mínimo. Outro daqueles pontos fundamentais da série onde, aparentemente, Abe finalmente está em paz com seu passado e pronto pra, ele também, "move on".
E legal ver um retorno full dos vilões favoritos da série: os malditos nazistas (also: isso é o que rola quando vc acha que dá pra "negociar com nazis").
Se o inimigo é um traficante, criminoso de rua ou um monstro, tu sempre pode relativizar e pensar "porra, não é assim, vítimas do sistema/preconceito". Mas nada é mais catártico que o prazer sem culpa alguma de ver um nazista se ferrando.
Num geral, HQs bem legais. Legal ver um lore se formando e o Bureau caminhando com pernas próprias em histórias tão boas quanto as do título principal. Ansioso com as próximas edições.
A seguir: mais BPRD solo
Num geral, HQs bem legais. Legal ver um lore se formando e o Bureau caminhando com pernas próprias em histórias tão boas quanto as do título principal. Ansioso com as próximas edições.
A seguir: mais BPRD solo
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