quarta-feira, 16 de setembro de 2020
sexta-feira, 11 de setembro de 2020
Em rumo a Krakoa #2: Uncanny X-men #14 a #16
Nossa "TARDIS hipotética" vai avançar alguns meses no tempo e a primeira obra resenhada nesta seção hoje vai ser o arco em 3 partes que introduziu um dos mais memoráveis oponentes de toda a história dos mutantes: os Sentinelas.
Se vocês leram o capítulo que introduz esta seção do blog (e eu recomendo que o façam, embora isso pareça suspeito vindo de mim), vão lembrar que eu mencionei que vários dos elementos que são a base do que o fandom veio a amar em toda a mitologia construída em torno dos discípulos de Xavier já estava no primeiro número do título. Vários, mas não todos, afinal, uma das bases da série é a máxima de que os X-Men servem para proteger uma humanidade "que os teme e odeia".
Naquele primeiro momento, em 1965, no entanto, isso não era um fato: os heróis são adorados pelo público, quase personalidades do cinema ou música. As crianças os admiram, as pessoas correm para vê-los quando em público. O preconceito, esse elemento político, ainda não se fazia presente e esse é um dos motivos pelos quais essas 3 edições são tão importantes. Novamente: nada é gritante, já que Lee e Kirby não tinham intenção de alienar o público, retratando-o como parte do problema. Sabemos que, hoje em dia, em tempos supostamente mais "iluminados", isso costuma causar celeuma entre os fãs, então, não dá para culpar os autores por se conterem a esse respeito. Mesmo assim, o ódio aos homo superior como metáfora para o racismo e preconceito começa a ser um tema presente nos quadrinhos e, a partir daí, para se tornar um aspecto inerente ao lore mutante, era apenas uma questão de tempo.
Voltando para a publicação: Já mais calejados depois de encontros com oponentes como a irmandade de mutantes, Blob, Unus, Namor, Ka-zar e os Vingadores e o primeiro encontro com o Juggernaut numa luta em que tiveram que suar a camisa para fazer frente ao seu poder, os protagonistas se vêem diante de um novo tipo de ameaça: jornais e TV cedem espaço para o discurso de Bolivar Trask, cientista com conexões no exército cujo discurso se baseia no ódio aos mutantes.
Segundo ele, é uma questão de tempo até o Homo Superior tomar o lugar dos humanos, restando à humanidade apenas a servidão ou a extinção.
Primeiramente: os tempos não mudam e ninguém aprende nada nessa vida, não?
O discurso extremista de Trask é escrito de forma caricata, cheio de hipérboles e expressões cheias de energia, "som e fúria". A típica postura dos mesmos alarmistas que falavam, na época, da ameaça "vermelha", do perigo comunista e de outros bichos-papões que estavam escondidos nas trevas, esperando para destruir as bases do "estilo de vida norte-americano". Em determinado momento, Xavier vai em rede nacional para debater com o sujeito e a história retrata o prof. como o extremo oposto do seu oponente, calmo e com argumentos baseados na lógica.
E mesmo assim:
Fanatismo baseado em preconceito, divulgado de forma grandiloquente por uma mídia que enxerga com bons olhos esse tipo de bufão sensacionalista que, por sua vez, vai ter seu discurso recebido por um público ignorante e que vai usar qualquer migalha do tipo como combustível para seus próprios preconceitos.
Familiar?
Por mais caricato e ridículo que DEVERIA ser a persona de Trask, ele nada mais é que um Malafaia de sua época, alguém que usa tons de voz alto e medo como ferramenta de controle social. O resultado, como podemos ver no mundo de 2020, é exatamente como o visto na HQ: a criação de um exército, de um monstro que não vai ter pudores em voltar para morder a mão de seu criador quando lhe for conveniente.
Aliás, falemos sobre os reais oponentes desse arco: curioso notar como essa figura da forma de inteligência artificial dominadora é uma presença constante na ficção. Dos andróides de Matrix, passando pelos Borgs de Star Trek e chegando aos meus favoritos, os Cybermen de Doctor Who, constantemente a arte usa a figura de robôs e construtos do tipo como vilões em suas histórias. Compreensível: a idéia remete a temas como fascismo (pensamento único e lógica de colméia, com cada indivíduo servindo à coletividade de forma fria) e aos riscos da racionalidade extrema (por mais monstruosas que seja suas ações, estas são apenas ordens que lhe foram imputadas por seus superiores. Um robô que extermina uma cidade inteira seguindo os parâmetros que lhe foram dados está apenas sendo eficiente, moralidade à parte). Os borgs buscam a total assimilação do diferente. Os cybermen idem, "deletando" tudo que ameaçar a uniformidade de sua raça. Não me lembro da origem dos oponentes da tripulação da Enterprise, mas no caso dos autômatos de Matrix e DW, em ambos os casos, os motivos de sua criação tem a ver com controle. Controle da humanidade sobre seu ambiente. Controle dos pensamentos conflitantes. Controle sobre os instáveis rumos da evolução. e, fundamentalmente, controle sobre a morte.
Não é surpreendente que os sentinelas sejam os oponentes perfeitos, retornando sempre para oferecer novos desafios aos heróis: enquanto os mutantes giram em torno de evolução, adaptabilidade, fluidez, os Sentinelas são máquinas, estáticas, estéreis. Sim, eles mudaram muito desde sua origem, da mesma forma que os cybermen de Doctor Who de 2020 são muito diferentes dos originais de "the tenth planet", mas, dentro de suas respectivas mitologias, tais evoluções vem como respostas aos desafios ambientais. Paradoxalmente, sua evolução é uma resposta à evolução, portanto, sendo uma anti-evolução. Gatilho e resposta. Mudança vs uniformidade.
Novamente, conceitos que vão ser BEM mais aprofundados no futuro da série, mas que são introduzidos de forma brilhante por Stan Lee e Jack Kirby nessa história.
Eu comecei esta série de textos porque estava curioso em entender a "política por trás de X-Men" e como a saga dos gene-X evoluiu desde sua criação até os dias atuais. Não demorou nem 20 edições para o mundo real sangrar pra dentro do gibi e vice-versa. Existiram vários outros fanáticos como Trask, dentro e fora do gibi, antes e depois dele. Tal qual Victor Frankenstein, o cientista é confrontado com os horrores que criou e lhe resta, ao custo da própria vida, deter sua criação em prol de um bem maior.
Coletivamente, no entanto, esse fantasma nos assombra porque sabemos que continuamos criando "Sentinelas", guardiões que seguem ordens cegas sem nenhum pensamento crítico e continuamos fazendo-o como forma de lidar com nossos medos da alteridade e como fruto da nossa necessidade de impor nossa vontade sobre o mundo.
A ficção avisou, de novo e de novo. Mary Shelley já estava mandando a real na primeira metade do século dezenove.
Pena que a gente não aprendeu muita coisa de lá pra cá.
Outros pensamentos:
- Eu disse que a revista tenta puxar alguns limites enquanto evita ser diretamente confrontacional e consegue em níveis e níveis. Funciona na maior parte da trama, mas a completa cooperação da polícia para com o time de mutantes é algo que soa completamente estranha vista com os olhos de hoje em dia.
- Ainda é um gibi de aventura e preciso dizer que a edição tira o devido tempo para continuar a apresentar o seu time de protagonistas. O foco, em uma das 3 edições é em Hank McCoy e esse pequeno interlúdio foi muito bem inserido, não parecendo forçado ou nada do tipo.
- Uma treta absolutamente insignificante mas que vale a pena citar: eu sempre fiquei incomodado como o fandom usa o termo "mutie" - ou "mutuna" em português - de forma "carinhosa" para se referir aos gene-x. A discussão se divide em 3 grupos distintos: quem acha que tudo bem, porque é dito de forma carinhosa, quem acha que NÃO está tudo bem por motivos que explico mais adiante. E obviamente, quem acha a discussão imbecil porque, afinal, mutantes não existem. Apesar de entender o posicionamento destes últimos, acho a discussão em si interessante o suficiente pra merecer dois segundos de atenção.
Pessoalmente, nunca tive muita dúvida, mas se ainda haviam pontos de questionamento, eles foram abaixo depois da leitura deste arco: não sei se é a primeira vez que o termo aparece num x-gibi, mas aqui ele é dito por uma turba perseguindo Ciclope depois deste ter usado seus poderes em público para evitar a morte de inocentes. "Mutie" aqui soa com o mesmo peso de "n**ger" (vocês sabem, a "n-word"). Neste aspecto, o google não ajuda muito: aparentemente, o termo mutie é utilizado pela primeira vez num conto de Robert Heinlen, mas não existem muitos registros do primeiro momento em que ele foi utilizado como o equivalente da n-word no universo Marvel.
Mas é isso. E nem era muito sutil. "Mutie-lovers"?
Monster Mash #54 - Snootchie Boochies!!!!!!!
terça-feira, 8 de setembro de 2020
Em rumo à Krakoa: "Abram caminho para o Homo Superior"
Talvez não seja uma surpresa, já que venho falando sobre isso no twitter faz dias, mas decidi tirar os próximos meses para mergulhar fundo na cronologia dos X-Men. Não tive muitos gatilhos desencadeadores para a idéia, exceto que o pensamento me ocorreu enquanto eu assistia a clássica cine-biografia de Malcolm X do Spike Lee.
Eu fiquei um bom tempo sem ler os gibis mutantes, já que em determinado momento tava claro que a própria Marvel não dava a mínima pra equipe, agora sob a diretriz de apenas dar espaço para personagens cujos direitos estivessem sob o controle da Disney, visando futuras adaptações transmidiáticas e demais idéias de licenciamento. No entanto, com isso resolvido - porque, afinal, benditos sejam os loopholes legais que permitem a existência de monopólios funcionais - chegou a hora dos discípulos de Xavier voltarem aos holofotes. "Dawn of X" veio como "O" projeto que devolveria os personagens à seu lugar de glória e, isso posto, me pareceu um bom momento para checar como chegamos até aqui.
Pelos próximos meses vou, de forma meio aleatória, saltar pelas décadas de cronologia dos membros do Instituto Xavier, lendo pela primeira vez algumas histórias e revisitando outros momentos clássicos.
E já que vamos começar de algum lugar, porque não do começo?
UNCANNY X-MEN #1 a #3
Preciso dizer que foi uma leitura surpreendente. Longe de mim desmerecer Lee e Kirby mas eu sinceramente achei que eu iria achar o texto datado ou rir dos elementos que não envelheceram tão bem e, não me entendam errado, eles estão lá. Mas a leitura foi bem mais fácil e fluída do que eu esperava.
A primeira edição abre com um quadro com o prof. X sozinho.
A pedra fundamental. Antes de franquias de cinema, games, referências na cultura pop em geral. Antes de zilhões de títulos e sub-títulos.
Tudo começa com o prof. Xavier. Alguns quadros depois e somos apresentados a 4 dos 5 membros originais do time, com o quinto membro, Jean Grey, aparecendo alguns momentos depois, servindo como a nossa porta de entrada para aquele universo de sci fi e seus altos conceitos.
Na edição que abre a série, o oponente é, como de se esperar, Magneto. O surpreendente aqui é ver personagens que hoje são minions ou, pelo menos, de segundo ou terceiro nível, aparecendo como oponentes ameaçadores: Vanisher, Blob, Mímico. Blob, inclusive, representa uma ameaça bem maior que o mestre do magnetismo.
Os dois primeiros números estão mais interessados em introduzir conceitos então, soa meio abrupto como, a partir da terceira edição, o foco passa em desenvolver as personalidades dos heróis: Xavier é o tutor. Scott, o líder do time, deprimido. Hank, que até então era só um macacão metido a comediante, aparece usando polissílabos, lendo clássicos e fazendo citações em meio aos combates.
Warren é o playboy com a cabeça, literal e metaforicamente, nas nuvens. Bobby, o mais novo, é o alívio cômico. E Jean oscila entre a powerhouse do time e a obrigatória "dama em perigo" dos anos 60.
E sim, chega a ser desconfortável como os meninos do time objetificam a moça sem nenhum pudor. Eu sei, era a época e tals, mas...
Eu sempre pensei que Grant Morrison estivesse exagerando em seu manifesto de intenções que abriu sua fase em New X-Men, mas me vejo concordando com o escocês: de fato, tudo que viríamos a amar na série já estava ali desde o começo, ainda que num estágio mega larval.
Mesmo os elementos políticos não demoram a aparecer, ainda que isso só ganhe um pouco mais de força - e ainda num nível de mero subtexto - na segunda edição. Mas está lá, então, pra quem acha que inserir elementos do mundo real nos quadrinhos é coisa de "lacrador" moderno: se preparem para decepções.
Uma leitura fácil, agradável, não sem sua cota de problemas de representação típicos da época, mas ainda assim, cativante. E um manancial de conceitos para mexer com a cabeça de qualquer fã hardcore de ficção científica. Que viriam a ser utilizados com níveis diferenciados de sucesso pelas décadas seguintes, mas até aí, normal em qualquer obra serializada de longa duração e com toneladas de cronologia. O ponto aqui é observar o quão especial era essa jóia ainda em estado bruto e ver que, por mais que vários artistas viriam a introduzir novos conceitos e se debruçar com mais cuidado sobre alguns que já estavam lá, o básico, o núcleo duro do que fez os quadrinhos dos X-Men algo eterno já se fazia presente na página de abertura do título.
O resto é história.
Alguns outros detalhes:
- Adolescentes agindo como adolescentes é sempre algo refrescante de ver, considerando como a mídia adora mostrar o público pré-teen e teen como "pequenos adultos".
- Okay, certos elementos envelheceram bem, certos envelheceram não tão bem. E, no final dessa lista, temos Xavier descrevendo Jean como "uma adolescente muito atraente" e um balão de pensamento em que ele se refere a ela como "the one I love".
Isto, obviamente, não foi nem remotamente mencionado nos números seguintes e eu não vou ficar de forma nenhuma surpreso se for um daqueles tópicos que a Marvel só convenientemente jogou debaixo do tapete da História.
- Aliás, literalmente TODO MUNDO parece sentir "coisas" pela ruiva, com a exceção inicial - porque isso é desfeito já no número 2 - de Scott, o que, em retrospecto, é bem engraçado.
- Curioso como Xavier conecta sua mutação ao fato de seus pais terem sido cientistas envolvidos na criação da Bomba atômica. De fato, filhos do átomo.
- Válido notar como "apagar a memória alheia" é um recurso cujo uso não causa muita hesitação por parte do professor Xavier.
- "Erros são coisa de homo sapiens" é uma frase digna de tatuagem.
segunda-feira, 7 de setembro de 2020
Ritmo, poesia, flores e bombas...
Eu mesmo, não conhecia até uns 40 minutos atrás.
Foi vendo a idéia que o GOG mandou no documentário abaixo que eu descobri quem ela era.
Se liga (e aliás, recomendo que vejam o "Rap pelo rap", uma polaroid belíssima do que o rap nacional já foi, é e pode vir a ser nos próximos anos).
domingo, 6 de setembro de 2020
sexta-feira, 4 de setembro de 2020
But who the fuck is Danhausen????
Okay, amigos.
Hak D. Bear reconhece, em sua infinita sabedoria, que ele pode ser "ligeiramente" obsessivo com os alvos de suas paixões por cultura pop. Por exemplo, meu curso intensivão sobre pro-wrestling depois que decidi pular de cabeça no esporte. Ou o ano em que eu tirei para ver as 5 décadas de episódios clássicos de Doctor Who. Ou, okay, admito, o fato de Hak pensar em cultura pop o tempo todo. Quase literalmente.
Por exemplo: agora há pouco, vi que Danhausen tem postado em seu canal no youtube, vídeos de reviews de comida, brinquedos e coisinhas legais e visitas e tals e sinceramente, é da opinião deste escriba que o mundo é um lugar melhor por isso.
Mas me ocorreu que nem todos os leitores do Groselha já foram agraciados com a benção que é a ciência de quem diabos é Danhausen. Então, para resolvermos isso e vocês poderem ter crises de fangirl como as minhas:
#LoveThatDanhausen
American Utopia
Spike Lee + HBO + David fucking Byrne.
Impossível não estar ansioso com o resultado dessa equação, que vai estar disponível pro mundo a partir do dia 17 de Outubro.
O filme é uma adaptação do musical da Broadway, que além das canções do disco de mesmo nome lançado por Byrne em 2018, conta também com momentos de "spoken word" de Byrne além da apresentação de alguns dos clássicos do artista de seus tempos como líder dos Talking Heads.
A idéia do álbum - e do projeto de arte multimidiático do qual ele fez parte, o "Reasons to be cheerful" - é basicamente, espalhar positividade. E sim, eu sei, meu estômago também vira ao ler sobre positividade, minha cabeça vai para cantos pouco amigáveis e imagina cenários hippies e delusionais, mas é David Byrne e ele merece algum crédito. A idéia não é abraçar o escapismo, mas reconhecer que temos muito ainda para consertar coletivamente e, no processo, botar o holofote no que temos de mais sublime e naquilo que, como espécie, estamos fazendo direito. O que já é, em si, algo profundamente subversivo.
E mais do que nunca, no cenário cínico e profundamente pessimista de 2020, necessário.
Young Justice V.01 - Gemworld
Não pretendo discorrer demais sobre essa HQ, apenas queria deixar aqui registrado que este é o primeiro gibi com roteiros de Brian Michael Bendis do qual eu gosto em quase 10 anos.
Uma década.
Não que isso queira dizer muita coisa: o encadernado reúne os 6 primeiros números da nova série da YJ, portanto, ainda estamos naquele momento de introdução dos personagens, em que só precisamos saber o suficiente destes para diferenciar um do outro, jogados em meio à uma trama de "som e fúria" que serve pra, em tese, dar o tom do que nos espera pelo futuro da série.
Botar um desenhista particularmente talentoso ao lado de Bendis ajuda a disfarçar alguns de seus erros e vícios. Em "Naomi", por exemplo, um roteiro medíocre é salvo pela belíssima arte de Jamal Campbell.
Se não leram, vão atrás. A trama é qualquer nota, mas é um dos gibis mais bonitos que já vi na vida.
Da mesma forma, em certos momentos, a arte de Patrick Gleason torna tudo mais palatável, mas a impressão que fiquei é que este é um Bendis menos lento, com um texto menos descomprimido do que o de praxe. Seus protagonistas são adolescentes então tudo tem que ser mais enérgico e non-stop.
Passadas essas 6 edições de premissa, aí de fato poderemos ver se isso se mantém - o que seria positivo para a série - ou se ele volta com seu hábito de longas edições em que nada acontece - o que, sejamos justos, é um recurso válido dependendo do tom do título em questão. Em "Demolidor", por exemplo, isso soa apropriado porque este é o ritmo tradicional de obras noir.
Outra "bandeira vermelha" típica de Brian Bendis é seu hábito de levantar perguntar interessantíssimas mas respondê-las de forma pouco satisfatória. Citando novamente sua passagem pelo título do "Daredevil": um dos motivos pelos quais essa fase é tão bem vista pode ter a ver com o fato de que ele encerra sua passagem pela revista com um cliffhanger. Ou seja, as perguntas são deixadas no ar e o próximo autor que se preocupe com elas - por acaso, Ed Brubaker fez uma excelente limonada com os limões que recebeu.
Sua passagem pela revista dos "X-Men", no entanto, termina extremamente decepcionante, onde além de preguiçoso, seu final é um plágio dele mesmo.
"Gemworld" começa com uma premissa metalinguística fascinante: o que aconteceria se personagens estivessem conscientes dos reboots sofridos dentro daquele universo? A idéia já rendeu histórias interessantes como "Supreme Blue Rose". E eu confesso, eu tenho uma queda por tramas que usam os tropes do gênero como pontos do roteiro. No entanto, isso é resolvido de forma preguiçosa, ainda que um outro elemento da história - o passado de Conner Kent, o Superboy dos anos 90 - permita retomá-lo futuramente, o que espero que aconteça.
Concluindo: sim, existe um elemento de nostalgia. E sim, eu fiquei incomodado com como o gibi parece saído da década de 90, ignorando toda a evolução de personagens como Tim Drake e Bart Allen nestas últimas décadas. Mas, não posso confessar que fiquei empolgado em ver o que o futuro reserva para a publicação. E esse é o objetivo de um começo de série, não?
Ah sim, e antes que eu me esqueça: "Teen Lantern" é o pior nome de personagem da história. E estamos falando de um universo que conta com o "Catman", "Bouncing Boy" e "Colour Kid".
Se incluirmos a concorrente, a Marvel tem o "Homem-Absorvente". E ainda assim... "Teen Lantern".
Não consigo nem pensar nisso sendo dito num contexto sério sem rir.
De qualquer forma, até aqui, Young Justice tem minha atenção e por enquanto, vai continuar com ela.
Funny Creek #1 a #5
Desculpem, eu preciso de alguns minutos para me recompor.
....
Okay.
Acabei de reler "Funny Creek" para a confecção deste post, pegar detalhes que possam ter passado batido na primeira leitura, etc. Acertou feito um tijolo, talvez com ainda mais força do que da primeira vez, porque agora havia o espectro do conhecimento do futuro orbitando ao redor.
Enfim... arte. Em "The Unwritten", quadrinho de Mike Carey e Peter Gross lançado pela Vertigo, um dos vilões odeia ficção, reduzindo todo tipo de obra do tipo como "mentiras".
E ele está certo, não está?
Toda arte é uma mentira. Ou melhor: uma ilusão. Como um truque de mágica.
Sabemos que estamos sendo enganados mas, no final, só queremos que as falhas na armadura estejam disfarçadas bem o suficiente para escapar do nosso olhar.
"Funny Creek" nesse aspecto, é uma excelente ilusão porque, de fato, te faz olhar para a mão direita enquanto executa seu truque com a esquerda.
A HQ, fruto de uma parceria do Comixology com o Stout club entertainment, disponibilizada mês passado pela Amazon (não ganha negrito porque: pro inferno com Jeff Bezos) conta a história de Lilly, uma garotinha "transportada" para o mundo mágico de seu show favorito, Funny Creek. O local, um vilarejo saído de um filme de faroeste, é protegido pelo palhaço Clumsy e seu deputy, Cody. Os 3 vão ter que juntar forças para vencerem a iminente invasão de Cold Joe e seu bando de criminosos.
Os sinais estavam lá. Alguns, tão claros e óbvios que você não consegue não se sentir estúpido - mas de uma forma positiva, vejam bem - por não tê-los pego de cara. Da primeira vez que li, até o número 3, estava achando que tudo se encaminhava para um final feliz, que seria uma aventurazinha divertida e leve sobre o preço de conhecer nossos heróis e de como mudamos pessoas para melhor ao tentarmos conhece-las de fato.
Nope. Essa é a ilusão. O "setup" e a "performance". O "prestige", a fase final do truque, vem mais ao final e nos lembra que essa é uma história sobre consequências.
Sobre a consequência de nossos atos, de nossas escolhas, sobre as consequências imprevisíveis de nossas decisões. E também, sobre o "preço de conhecer nossos heróis" como dito acima.
Não dá pra falar muito da trama sem correr o risco de spoiler e nesse caso, eu realmente acho que vocês deveriam ir ler o gibi sem muitos detalhes. O que eu disse aqui, mesmo sendo a premissa básica e algo que os autores comentam por cima nas entrevistas de divulgação que vi deste quadrinho, já é um pouco demais.
Sobre a arte: das cores, passando pelo character design, tudo te pega desprevenido, funcionando pro truque te pegar de guarda baixa. O visual de Clumsy, que lembra as animações em preto e branco da primeira metade do século XX, o clima da cidade, que retoma aqueles inofensivos seriados dos anos 80, período em que a trama de Funny Creek se situa. As cores vivas, destoando do mundo real. Os detalhes como os posteres de "Goonies" e outros filmes para toda a família dessa década que podemos ver no quarto da protagonista. Tudo pra nos fazer crer que é uma trama bebendo da nostalgia para contar uma história daquelas para nos deixar sentindo bem ao final. Mas os temas aqui são sérios, os eventos escalam de forma séria e no final, nos pegamos pensando em nossa relação com a arte, com o escapismo e o que essa relação diz a nosso respeito e isso é feito de tal forma que a conexão imediata que meu cérebro fez foi com "Westworld".
É isso. Estou morrendo aqui querendo falar de detalhes da história, mas isso seria um desserviço.
Apenas vão e leiam. Como dito, tá disponível para compra na Amazon.
E olhem isso: assinantes da Amazon Prime podem ler o gibi DE GRAÇA. NA FAIXA. GRÁTIS.
ZERO REAIS. Por uma história com um roteiro muito bom, uma arte linda e temas que vão bater fundo.
"Funny Creek" de Rafael Albuquerque, Rafael Scavano, Eduardo Medeiros e Priscilla Tramontano.
Em resumo? Mágica, pura e simplesmente.
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