Desculpem, eu preciso de alguns minutos para me recompor.
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Okay.
Acabei de reler "Funny Creek" para a confecção deste post, pegar detalhes que possam ter passado batido na primeira leitura, etc. Acertou feito um tijolo, talvez com ainda mais força do que da primeira vez, porque agora havia o espectro do conhecimento do futuro orbitando ao redor.
Enfim... arte. Em "The Unwritten", quadrinho de Mike Carey e Peter Gross lançado pela Vertigo, um dos vilões odeia ficção, reduzindo todo tipo de obra do tipo como "mentiras".
E ele está certo, não está?
Toda arte é uma mentira. Ou melhor: uma ilusão. Como um truque de mágica.
Sabemos que estamos sendo enganados mas, no final, só queremos que as falhas na armadura estejam disfarçadas bem o suficiente para escapar do nosso olhar.
"Funny Creek" nesse aspecto, é uma excelente ilusão porque, de fato, te faz olhar para a mão direita enquanto executa seu truque com a esquerda.
A HQ, fruto de uma parceria do Comixology com o Stout club entertainment, disponibilizada mês passado pela Amazon (não ganha negrito porque: pro inferno com Jeff Bezos) conta a história de Lilly, uma garotinha "transportada" para o mundo mágico de seu show favorito, Funny Creek. O local, um vilarejo saído de um filme de faroeste, é protegido pelo palhaço Clumsy e seu deputy, Cody. Os 3 vão ter que juntar forças para vencerem a iminente invasão de Cold Joe e seu bando de criminosos.
Os sinais estavam lá. Alguns, tão claros e óbvios que você não consegue não se sentir estúpido - mas de uma forma positiva, vejam bem - por não tê-los pego de cara. Da primeira vez que li, até o número 3, estava achando que tudo se encaminhava para um final feliz, que seria uma aventurazinha divertida e leve sobre o preço de conhecer nossos heróis e de como mudamos pessoas para melhor ao tentarmos conhece-las de fato.
Nope. Essa é a ilusão. O "setup" e a "performance". O "prestige", a fase final do truque, vem mais ao final e nos lembra que essa é uma história sobre consequências.
Sobre a consequência de nossos atos, de nossas escolhas, sobre as consequências imprevisíveis de nossas decisões. E também, sobre o "preço de conhecer nossos heróis" como dito acima.
Não dá pra falar muito da trama sem correr o risco de spoiler e nesse caso, eu realmente acho que vocês deveriam ir ler o gibi sem muitos detalhes. O que eu disse aqui, mesmo sendo a premissa básica e algo que os autores comentam por cima nas entrevistas de divulgação que vi deste quadrinho, já é um pouco demais.
Sobre a arte: das cores, passando pelo character design, tudo te pega desprevenido, funcionando pro truque te pegar de guarda baixa. O visual de Clumsy, que lembra as animações em preto e branco da primeira metade do século XX, o clima da cidade, que retoma aqueles inofensivos seriados dos anos 80, período em que a trama de Funny Creek se situa. As cores vivas, destoando do mundo real. Os detalhes como os posteres de "Goonies" e outros filmes para toda a família dessa década que podemos ver no quarto da protagonista. Tudo pra nos fazer crer que é uma trama bebendo da nostalgia para contar uma história daquelas para nos deixar sentindo bem ao final. Mas os temas aqui são sérios, os eventos escalam de forma séria e no final, nos pegamos pensando em nossa relação com a arte, com o escapismo e o que essa relação diz a nosso respeito e isso é feito de tal forma que a conexão imediata que meu cérebro fez foi com "Westworld".
É isso. Estou morrendo aqui querendo falar de detalhes da história, mas isso seria um desserviço.
Apenas vão e leiam. Como dito, tá disponível para compra na Amazon.
E olhem isso: assinantes da Amazon Prime podem ler o gibi DE GRAÇA. NA FAIXA. GRÁTIS.
ZERO REAIS. Por uma história com um roteiro muito bom, uma arte linda e temas que vão bater fundo.
"Funny Creek" de Rafael Albuquerque, Rafael Scavano, Eduardo Medeiros e Priscilla Tramontano.
Em resumo? Mágica, pura e simplesmente.
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