terça-feira, 19 de março de 2019

Highway to Hell - Parte II: The chained coffin e The right hand of doom



Yo, mothafuckers....

Sigamos adiante, junto com Hellboy e o resto do BPRD em direção ao inferno, em mais um capítulo, lançado pontualmente às 3 da manhã, horário do tinhoso, de "Highway to hell".
Mais um dia, mais dois tpbs lidos. O primeiro, um pequeno respiro (tenso pra caralho, mas ainda assim) depois dos eventos dos dois encadernados anteriores que fraturaram o bureau e seu trio principal de membros. O segundo, mais um momento paradigmático pro diabão vermelho em sua busca pela renúncia do seu suposto papel dentro da profecia do apocalipse e pela concretização de sua nova identidade obtida depois de sua chegada no nosso mundo em 45. Os dois livrões tem histórias bem mais curtas com uma ou outra um pouco mais extensa que serve pra avançar a trama principal.
Pelo caráter de coletânea, obviamente tiveram umas histórias que gostei mais e outras que nem tanto, então, vou comentar só sobre as que mais me apeteceram, okay?

THE CHAINED COFFIN
Roteiro e arte de Mike Mignola



The Corpse

Os dois gibis, esse e o seguinte, resenhado abaixo, trazem antes das histórias, pequenos textos introdutórios de autoria de Mignola em pessoa onde ele explica um pouco das inspirações mitológicas pra cada conto. Esse aqui, especificamente, ele introduz como provavelmente a melhor história do personagem que ele já fez, e uma fan favorite. Não posso dizer que é minha favorita pq meu coração se divide entre "Pancakes" e "Hellboy in Mexico". Mas, com certeza, esse conto é um top 5, fácil. Na trama, o detetive do inferno precisa resgatar um bebê sequestrado por uma raça de fadas que, em troca o infante, querem que o demônio gente boa dê cabo de um monstro e, de quebra, enterrem um sujeito em solo cristão. A história em si é divertida e seu final aprofunda um pouco mais daquilo que eu comentei no texto anterior dessa série, em que o protagonista se vê dividido entre dois mundos e começa a se questionar sobre o paradoxo que é matar seus iguais em prol de uma raça como a humana. Na conversa que encerra a aventura, percebemos que uma cisão definitiva está prestes a ocorrer entre o mundo dos humanos e o das criaturas mágicas e Mignola coloca nessa interação entre o herói e um dos sequestradores do bebê, certa melancolia, como se essa diáspora da partida dos entes sobrenaturais para outros mundos fosse algo a se lamentar, mesmo considerando que os momentos de intersecção entre mortais e imortais seja algo frequentemente mostrado como violento. Detalhezinhos que vão compondo um universo maior e com menos tons de cinza do que poderíamos inicialmente imaginar numa trama envolvendo crias do inferno.




The Baba Yaga

Lembram que quando a bruxa russa aparece na hq anterior, "Wake the devil", ela fala que já tem certa história com o HB? Pois é, aqui vemos o primeiro encontro entre ambos, que resulta no tirombaço que a feiticeira toma que lhe resulta na perda de um dos olhos. 

The Chained Coffin

Apesar do tom de "respiro" que eu mencionei nesse encadernado, a trama principal tb anda aqui e este é um momento particularmente importante pra série como um todo, já que se foca nos pais do Hellboy. De volta ao lugar em que veio ao nosso mundo, o personagem tem visões envolvendo uma bruxa arrependida em seu leito de morte, dois religiosos tentando salvar sua alma e o demônio a quem ela serviu, exigindo seu quinhão. O investigador sobrenatural não tem um papel particularmente ativo aqui, mas ao final da trama, ele - e a gente, no processo - vai se encontrar com algumas respostas sobre o próprio passado, mas, também, um punhado de novas perguntas sobre as suas origens. To be continued, óbvio.



The Wolves of Saint August

Depois de lidar com sua cota de vampiros, o agente do BPRD vai ter que, novamente, enfrentar uma raça de monstros clássicos: os malditos lobisomens. Em busca de um padre desaparecido que era seu amigo pessoal, o herói e a prof. Corrigan chegam à uma cidade fantasma com uma história mórbida, em que todos os seus moradores foram mortos na mesma noite. Uma das histórias mais tensas dentre as que eu li até agora, com o senso de urgência lá em cima.



Almost Colossus

Essa aqui é o payoff da subtrama envolvendo Liz e o homúnculo que ela encontrou no tpb anterior. Mais um monstro clássico repaginado, o homunculo e seu "irmão mais velho" funcionam aqui como reinterpretações do mito do prometeu pós moderno, como imaginado por Mary Shelley em seu clássico "Frankenstein". Ao final, Liz termina recuperada e o Bureau periga ter ganho um novo membro.


THE RIGHT HAND OF DOOM. 
Roteiro e arte de Mike Mignola



Esse aqui é um álbum pelo qual eu tenho certo carinho especial, já que foi um dos primeiros que eu comprei, adquirido em meus primeiros anos morando aqui em SP. A Mythos, se não me falha a memória, publicou isso aqui lá por meados de 2005, 2006 e foi onde eu me apaixonei de vez pela série (e já tinha a minissérie, tb publicada pela Mythos uns anos antes, com seus 2 números, como foi lançada aqui, comprada numa banca lá em Avaré City). Foi onde eu peguei o ritmo da série: sobrenatural misturado com ciência pop, tramas curtas com final súbito e outras mais longas e com um ritmo mais sincopado. 

Pancakes

Provavelmente, minha história favorita do Hellboy, simples assim




The nature of the beast

Pra um aventureiro, matar seu primeiro mecha nazi e sua primeira aranha gigante são batismos importantes, mas não devemos desmerecer o quão significativo é enfrentar seu primeiro dragão. :-)

King Void

Mais lobisomens e mais uma surra homérica levada pelo HB, numa história sobre homens ambiciosos e os riscos de se negociar com o diabo.

Heads

Primeira história da série com ambientação na mitologia japonesa.

Goodbye Mr. Tod

Eu sempre achei estúpido esse pessoal que tenta se comunicar ou mesmo negociar com o sobrenatural. Essa aqui é a história de alguém que faz dessa comunicação seu ganha pão e o que rola quando ele vai pra umas quebradas metafísicas sinistras e se vê diante do old one errado.



The Varcolac

Sendo um apreciador de mitologia, adoro como os mesmos mitos surgem espontaneamente, mas com elementos distintos em comunidades completamente diferentes, espalhadas em pontos isolados do planeta. Tipo o próprio mito do lobisomem, que tem uma cara sob a perspectiva européia e outra parecida, mas diferente, aqui no Brasil. Ou mesmo vampiros, que protagonizam esse conto curtinho, que se apresentam de um jeito em sua terra natal e em outro completamente diferente, por exemplo, no Japão (foi lendo esse tpb, inclusive, que descobri que o melhor jeito de derrotar um vampiro nipônico é deixando um prato cheio de arroz na cozinha, já que, segundo as lendas locais, o bicho é obrigado a contar grão por grão quando se vê diante de um prato ou recipiente cheio do cereal, antes de poder se deslocar pelo resto da casa). Temos os elementos clássicos do mito que se repetem aqui (o lance da estaca e das noivas) mas tb certos "desvios da norma" na figura do Varcolac e seu habito de "comer a lua". Bichão sinistro.

The right hand of doom

Uma das duas principais histórias do gibi. Essa aqui recapitula os eventos da trama principal ocorridos até agora, além de acrescentar alguns novos detalhes, antes de seguir adiante.



Box full of evil

Retomamos aqui o tema principal da série: homens tentando ser deuses e Hellboy, um deus tentando ser o mais mundano e comum possível. Só lá, caçando bicho papão, tomando breja e comendo suas panquecas. Temos a primeira aparição de Igor Bromhead, antagonista que voltará no futuro, se minha memória não me trai, para atormentar nossos heróis. 
E, claro, temos minha cena favorita dessa série inteira, e, de tiracolo, a melhor frase da série segundo minha relativamente humilde opinião: 



A história além do tema citado acima, retoma tropes já familiares aos fãs da série do Mignola, como pactos mefistofélicos e mansões sinistraças, saída dos piores pesadelos de Alan Poe. E um dos mais importantes temas trazidos de volta nesse conto é a dicotomia entre destino e livre arbítrio, com o personagem principal se reafirmando como senhor do próprio destino e renegando qualquer papel profetizado que lhe é imposto quando confrontado com seus inimigos. 
Ao final, os vilões são vencidos, e alguns pobres infelizes conseguem exatamente o que queriam ao negociar com o cramulhão, ainda que não exatamente da forma que queriam. E Hellboy encerra o quarto volume decidindo entender melhor seu passado, visando poder, como consequência, renega-lo com mais propriedade. A história segue caminhando, sem pressa. E que bom que é assim, nos dando a chance de apreciar a jornada com calma, antes de atingirmos o ponto de chegada.



A seguir: Conqueror Worm, Strange places e Into the silent sea. 

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