Que episódio tenso, não? Não tenso "oh meu Deus, o mundo está acabando" como foram os dois imediatamente anteriores, mas tenso num nível intimista, pessoal. Aquela tensão que vem quando vemos potencial sendo desperdiçado, grandeza podada, trazida para seu nível mais insignificante. E também quando vemos a marcha inexorável do tempo agindo e nos lembramos que aquele tb é - ou pode ser, dependendo da sorte e da jornada individual de cada um de nós - o nosso futuro.
Mais um episódio que pega o que era subtexto, esse lance da percepção, o grande tema da série até agora, e traz isso pro primeiro plano. Além disso, uma crítica feroz à nostalgia. E vc começa a ver uma colcha se formando, mais complexa do que se espera de um "seriadinho de super heróis".
Começamos com Rita, destroçada emocionalmente depois da morte de Eliott, trocando uma idéia com Larry. Corta pra um flashback sinistro dela indo conversar com Sidney Bloom, produtor de cinema dos anos 50, em busca de um trabalho. Depois de algum papo, o velho vai com a mão pra coxa da atriz e, bom, vcs podem imaginar. He goes full Harvey Weinstein over her.
Enojada, a moça perde o controle de seus poderes e se transforma num blob orgânico gigante em cima do abusador, que morre asfixiado. Corta pra algumas interações entre os demais moradores daquela mansão: Jane continua puta com Cliff e Vic agora se junta ao time, depois do homem robô ter apertado o botão de reboot em seu pescoço, o que imediatamente mandou um SOS pro pai do Ciborgue. Nisso, Jane reúne os colegas e expõe a eles que Mr. Nobody plantou uma ordem na cabeça dela depois de todo o rolo envolvendo o Decreator, uma ordem que vai assombrar o time num futuro próximo e que vai ter consequências duradouras pra relação destes com o Chief: "Encontrem a Patrulha do Destino".
Pesquisando nos jornais locais, encontram um timeco de super heróis dos anos 50 que tiveram algum destaque mas tão subitamente quanto surgiram, desapareceram. Rita comenta que já ouviu falar do grupo, inclusive tendo conhecido - em sentido bíblico - o líder do time: Steve Dayton, o Mento.
Impaciente, Jane pega Larry e mrs. Farr, pede pela intervenção de Flint, sua personalidade com poderes de teleporte e
Ao chegar no local, e após certo conflito inicial, o grupo descobre que o local funciona como uma espécie de "Escola Xavier para jovens superdotados", liderada pelo trio de super heróis, Steve, Rhea e Arani e administrada por Josh Clay. Okay, fim do resuminho. Down we go:
Acho interessante primeiramente notar que dá pra encontrar um elemento comum, além do lance da percepção (mas diretamente se conectando narrativamente a esse) permeando toda a série. Vamos excluir os dois primeiros episódios pq eles tão lá pra estabelecer premissa: o grupo enfrentou neo nazis, um grupo de cultistas da morte e agora, heróis traumatizados, perdidos numa fantasia de passado constante.
Nostalgia, crianças, como eu falei lá em cima. Em todo post em que critico nostalgia, eu faço questão de citar aquele livro do Stuart Hall, o "Identidade cultural na pós modernidade" pq lá, ele estabelece criticamente o papel desse elogio a um passado que nunca existiu como uma das formas de manter o sistema de coisas como ele existe hoje em dia e perpetuar uma cadeia simplesmente obscena de poder e privilégios. É preciso que se acredite que o passado foi melhor, pq os principais beneficiados pela sua continuidade são os mesmos indivíduos que se beneficiaram naquela época e que querem manter seus privilégios pra sempre. Isso coletivamente, enquanto grupo. Individualmente é mais simples: o passado era um período sempre com menos preocupações, com problemas mais simples. Onde certas escolhas não haviam sido feitas. Onde o manancial de possibilidades parecia não ter fim, onde vc poderia cometer e erros e recomeçar de novo e de novo pq "eu tenho todo o tempo do mundo".
E no fim, o passado é um período onde, pelo menos, a distância entre a gente e a morte era maior, pq éramos mais jovens. Simples assim.
Num primeiro momento, aquele flashback da rita pode parecer ligeiramente deslocado tipo, "pq mostraram isso?". Poderia ser pra tridimensionalizar a personagem e já estaria tudo bem. Mas num contexto geral, é perfeitamente compreensível. Todo mundo ali lamenta por decisões tomadas, por oportunidades perdidas e chances desperdiçadas. Cliff, Larry e Rita são quebrados emocionalmente em parte pela incapacidade de abandonar os traumas passados, como se antes de seus acidentes que os tornaram meta humanos, fosse tudo perfeito. E mais e mais, a série mostra que não, que eles já eram quebrados antes disso. Cliff com a vida de excessos, Larry com sua vida dupla e Rita com sua legítima cota de traumas. Vic tb se junta ao grupo nesse aspecto. O único elemento disruptivo ali é a Jane, já que seu trauma veio numa idade tão jovem que ela não possui esse apego ao "passado glorioso" considerando que, se ele existiu, foi num período pré-trauma, portanto, ela era jovem demais pra usufruir desse passado. Por isso ela se destaca tanto em meio ao resto dos misfits reunidos por Caulder.
Nesse aspecto, os vilões enfrentados funcionam como um espelho para os seus oponentes: nazistas, religiosos e agora, velhos perdidos numa fantasia de passado e disposto a matar por ela. Na verdade, essa ultima frase poderia ser usada para descrever os nazis e os religiosos com perfeição pq é disso que estamos falando: os vilões são grupos de pessoas, unidos por uma crença ou ideologia e supervalorização do passado e que acreditam piamente que a Terra seria um lugar melhor se trouxéssemos esse passado de volta. Nazistas são conservadores por essência. Não é pra menos que Hitler valorizava tanto a arte dos gregos. Os cultistas do livro não escrito nada mais são que uma metáfora pras ordens religiosas atuais, todos também desesperados em negar as mudanças sociais mais progressistas e resgatar os valores de antigamente. É o T em FTP, né? Família, TRADIÇÃO E Prosperidade. O que são tradições se não apenas construtos culturais que herdamos de gerações anteriores e que mantemos vivos pq....??? Pq eles sempre existiram, pq é assim que é e é assim que vai ser pra sempre. Religiosos, por sua vez, nada mais são do que os filhos traumatizados do pós modernismo, procurando respostas metafísicas para lidarem com a modernidade liquida, novamente citando Bauman, e sua rapidez e senso de impermanência, do jeito que der
E Isso, como eu disse deixa de ser SUBtexto e vira SOBREtexto nesse episódio, quando Jane, Larry e Rita descobrem que o colégio é apenas uma projeção mental de Mento. Ele e as duas colegas, na verdade, tiveram um mega traumático encontro com o Mr. Nobody, onde foram derrotados e, mais triste, tiveram suas mentes destroçadas pelo mercurial adversário. E pior: a Doom Patrol original ainda tem acesso a seus poderes e vão defender a fantasia em que estão nem que precisem matar os 3 "invasores". Mento usa seus poderes mentais pra projetar os piores traumas experienciados por eles: Larry vê militares sinistros tentando arregimenta-lo de volta para as forças armadas. Jane.... mano, nem sei por onde começar a descrever o pesadelo visto pela Jane. Aquilo é só horrível. E Rita revê o suicídio de Marybeth. Não temos mais detalhes sobre o evento mas é seguro afirmar que ela tem alguma responsabilidade pela morte da moça e que o evento foi tão traumático que a ciência dele causou o fim da relação entre a shapeshifter e Dayton. É Larry, aliás, seu visitante interior, que salva o dia, removendo o capacete mental do líder da Patrulha original, encerrando sua ameaça.
E Isso, como eu disse deixa de ser SUBtexto e vira SOBREtexto nesse episódio, quando Jane, Larry e Rita descobrem que o colégio é apenas uma projeção mental de Mento. Ele e as duas colegas, na verdade, tiveram um mega traumático encontro com o Mr. Nobody, onde foram derrotados e, mais triste, tiveram suas mentes destroçadas pelo mercurial adversário. E pior: a Doom Patrol original ainda tem acesso a seus poderes e vão defender a fantasia em que estão nem que precisem matar os 3 "invasores". Mento usa seus poderes mentais pra projetar os piores traumas experienciados por eles: Larry vê militares sinistros tentando arregimenta-lo de volta para as forças armadas. Jane.... mano, nem sei por onde começar a descrever o pesadelo visto pela Jane. Aquilo é só horrível. E Rita revê o suicídio de Marybeth. Não temos mais detalhes sobre o evento mas é seguro afirmar que ela tem alguma responsabilidade pela morte da moça e que o evento foi tão traumático que a ciência dele causou o fim da relação entre a shapeshifter e Dayton. É Larry, aliás, seu visitante interior, que salva o dia, removendo o capacete mental do líder da Patrulha original, encerrando sua ameaça.
Ao final, Rita tem uma conversa tocante com Dayton (ou um monólogo, se preferirem), onde ela percebe que o encontro com "os filhos originais" de Niles foi um cautionary tale do que ela e sua nova família pode se tornar se não conseguirem superar seus traumas. Virar o rosto e se negar a enxergá-los não lhes trouxe paz. Só resta encará-los, aprender a conviver com eles, e seguir adiante.
Não que isso seja fácil.
Vale mencionar também que o episódio aprofunda a série um pouco mais naquilo que Kip levanta nos episódios anteriores sobre "o lado negro de Niles Caulder". Quem lê o gibi sabe que, sem spoilar demais, o Chief não presta. Só posso dizer isso. E a série começa a mostrar que ele não é o senhorzinho bonachão que vimos na maioria do tempo de tela que ele teve. Caulder usou as habilidades da Doom Patrol dos anos 50 e, quando as consequências foram graves demais, ele os abandonou como fazemos com um aparelho eletrônico quebrado. Suas ações começam a gerar consequências no time: Vic, o bastião moral do grupo, rouba um pen drive do pai e reprograma seu mecha cérebro, removendo as barreiras programadas por seu pai. Jane se pergunta se mr. Nobody os enviou nessa busca sombria pra tentar mostrar a eles o que acontece com quem se interpõe em seu caminho, mas fiquei com a impressão de que o trickster tinha outra intenção: mostrar à Jane, Cliff, Rita, Larry e Vic que eles são apenas o mais novo experimento do Chief, que por sua vez será abandonado por outro e outro e outro caso não apresentem os resultados necessários. Que talvez, Niles não seja o herói da história. E que, talvez, ele não mereça ser resgatado. Jane começa a apresentar dúvidas em sua fé no cientista ao ver os cadeados em sua porta (detalhe: do lado de fora da porta, não para impedir alguém de entrar, mas para impedi-la de sair).
Mais cedo, o dr. Stone diz para seu filho que andar com aquelas pessoas "teria suas consequências". E ao final do ep., todos ali, a Patrulha original e "a atual", lidam o fato de que as palavras do pai do Ciborgue foram proféticas e isso ao mesmo tempo em que ouvimos Lou Reed em seu clássico "Perfect Day", sentenciar aqueles indivíduos, quase como uma maldição: "You're gonna reap just what you sow". Ou em bom português, "Vcs vão colher o que plantaram". O pior ainda está por vir.
Outras paradas maneiras:
- Eu não canso de tecer loas à produção desse show. Depois de décadas de seriados porcos e produzidos com um orçamento total de, tipo, dois pacotes de miojo e um guaravita, acho que podemos dizer que finalmente chegamos no princípio de uma golden age das séries de hq. Os cenários, belíssimos, o cuidado com a fotografia (notem como as cenas escola tem um tom caloroso amarelo, substituído por um melancólico azul quando a ilusão de Mento desaba ou pelo marrom, igualmente soturno, na casa de Caulder ao final), a música (não só as canções utilizadas, mas a trilha instrumental original, que nesse ep., orbitou em sua melancolia o tempo todo, quase como um fantasma "dos natais passados" por aqueles sujeitos quebrados) as atuações (caralho, o ator que interpretou a versão idosa do Dayton me fez chorar atuando apenas - E APENAS - com o olhar).
- Eu não canso de tecer loas à produção desse show. Depois de décadas de seriados porcos e produzidos com um orçamento total de, tipo, dois pacotes de miojo e um guaravita, acho que podemos dizer que finalmente chegamos no princípio de uma golden age das séries de hq. Os cenários, belíssimos, o cuidado com a fotografia (notem como as cenas escola tem um tom caloroso amarelo, substituído por um melancólico azul quando a ilusão de Mento desaba ou pelo marrom, igualmente soturno, na casa de Caulder ao final), a música (não só as canções utilizadas, mas a trilha instrumental original, que nesse ep., orbitou em sua melancolia o tempo todo, quase como um fantasma "dos natais passados" por aqueles sujeitos quebrados) as atuações (caralho, o ator que interpretou a versão idosa do Dayton me fez chorar atuando apenas - E APENAS - com o olhar).
- "We just happen to be in the shinning". Preciso dizer qual a referência?
- "What is this shit? A fucked up Rushmore?". Essa é um tiquinho mais obscura que a anterior: Rushmore é o segundo filme de Wes Anderson. O diretor americano já tinha um trabalho anterior em seu currículo, o Bottle Rocket de 1996, mas Rushmore foi o que o projetou pro mundo, além de também lançar a carreira de Jason Schwartzman e ser o marco zero da retomada do Bill Murray.
- Eu nem comentei em Puppet patrol, sobre a aparição de Steve Larson. Um dos experimentos "bem sucedidos" de Fuchtopia, aparentemente a carreira meta humana do....meu bom jesus... "Homem Animal-Vegetal-Mineral" não está sendo tão gloriosa quanto o sujeito esperava.
mano...vai se foder.... a meia calça na cabeça do velociraptor.... I can't, I just can't........
- wait, wait, wait.....Rita mencionou....a "MUSCLE BEACH"??
I mean..... that means....
OOOOOOOOOOOOOOOOh, boy!!!!!!!
- wait, wait, wait again.......aquela era a armadura do Cérebro? Não o rato amigo do Pinky, mas o vilão da Doom patrol?? Isso significa que....
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOH, BOY!!!! A unica coisa que falta pra essa série é um cérebro desencarnado senciente que se encontra num relacionamento gay com um gorila guerrilheiro falante de boina e sotaque francês. HELL THE FUCK YEAH pra gorilas falantes!!!!!!!
- Flex is coming. Danny, the street is coming. Brain and Mallah are coming.... jesus mothafucking christ.....
A seguir: Everything is just fine.
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