quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Doctor Who 9x03: "Under the lake" - What is a ghost?


Preparem-se para um momento de reafirmação do óbvio. Prontos? Here we go: Toda história pode ser encaixada num modelo, numa estrutura, já utilizada "N" vezes antes.


Ainda aqui? Good. Então. Histórias serializadas de caráter episódico e auto-contidas acabam se utilizando muito destas estruturas para se manterem vivas. Imaginem, portanto, uma série como Doctor Who, com seus 50 anos de idade. Mais do que um recurso válido, a reutilização desses modelos passa a ser uma necessidade. Por isso, é possível, olhando Doctor Who de uma perspectiva externa, enxergar os modelos de história que são os favoritos de seus roteiristas e, indo mais além, o reuso dessas ferramentas narrativas passa a ser um elemento constituinte da própria mitologia do show.
E poucos desses recursos narrativos são mais típicos do programa do que a trama do base under siege.
Resumindo: 


"Base Under Siege:

The Doctor arrives at a base. Bases are always located in isolated areas such as alien planets, space stations, or Antarctica. As soon as the TARDIS lands, the base comes under siege from implacable enemies. The Doctor must use his special talents to help the personnel, who are useless in a crisis, defend themselves.

If this is a television episode, the base will feature a large room in which most of the action will take place."

O que seria da série clássica sem episódios tipo "base under siege". Posso estar falando besteira, já que estou tirando isso da memória, mas ACHO que o primeiro arco a usar esse trope foi o clássico "The tenth planet", que introduziu os Cybermen na série e, mais importante, onde o 1st Doctor regenerou



O 2nd Doctor provavelmente foi o que mais viu histórias desse tipo. Imagino que, de uma perspectiva prática, episódios assim sejam interessantes para a produção por funcionarem quase como bottle episódios (histórias que contam com apenas um cenário, perfeito para economizar recursos para um proximo episódio mais dispendioso). Não sei se é esse o caso aqui, já que "Under the lake" teve sua boa cota de efeitos especiais, mas imagino que os recursos mais visualmente mirabolantes ficaram para a segunda parte da trama. 


Anyway, "base under siege". Recurso usado pra cacete na série clássica e que já teve sua cota de reutilizações na série moderna. Sendo um elemento recorrente, o uso dele em si não vai ser o elemento determinando a qualidade (ou falta de) do episódio, e sim o COMO ele foi utilizado e acho seguro dizer que Toby Whithouse (guardem esse nome pq ele ainda vai ser showrunner da série) agrega elementos novos e extremamente bem vindos a esse tipo de história. O technobabble soou convincente aos meus ouvidos leigos a ponto de soar realmente crível. O grupo de coadjuvantes, mesmo sem ter pleno desenvolvimento, era extremamente carismático a ponto de me importar com eles. O elenco continua no topo de seu talento. E o roteiro apresentou algumas nuances que podem ou não convergir pra se tornarem o tema da season 9. 
Perceberam como o Doctor pareceu um pouco incomodado demais com a postura da Clara diante dos eventos ocorridos? Ou o olhar um pouco too much alegre da personagem quando inquirida pelo Timelord?
Não é a primeira vez que a série insinua que Clara Oswald seja uma adventure junkie, viciada na vida de companion, sempre precisando de um novo pico de adrenalina. Talvez seja essa a genese da crise que vai resultar na partida dela como companion. Talvez seja só um momento de aprofundamento da personagem num episódio majoritariamente focado no desenvolvimento da trama, mas.....



ah sim, só pra tocar no tema: Fantasmas



Não é a primeira vez que o tema surge, apesar dele ser um tabu na série. Pra um programa de Tv que já viu sua cota de deuses, semi-deuses, anjos, demonios e etc, a regra sempre foi simples: não existe magia em Doctor Who!!



não mesmo? Vejam esse diálogo entre o 7th Doctor e Ace que ocorre em Battlefield: 

(The Doctor leads the way up a spiral staircase.) 
ACE: This is a spaceship? 
DOCTOR: More than that. It's a craft for travelling between dimensions. 
ACE: It's more like being in some huge animal. Who built it? 
DOCTOR: It wasn't built, it was grown. 
ACE: Who grows spaceships? 
DOCTOR: Very advanced bioengineers. 
ACE: Ask a stupid question. Well, if they're grown, how do they fly? 
DOCTOR: Magic. 
ACE: Oh, be feasible, Professor. 
DOCTOR: What is Clarke's law? 
ACE: Any advanced form of technology is indistinguishable from magic. 
DOCTOR: Well, the reverse is true.

Esclarecedor, não? E perfeitamente coerente. Vamos ser honestos aqui, ok? Doctor Who não é e nunca foi lugar pra hard sci-fi. Tramas que se alicerçam numa base cientifica mais densa? Sim, ocasionalmente.
Ficção cientifica hard? Nope....  O Doctor é um trickster que viaja pelo tempo e espaço numa caixa mágica e usa sua varinha encantada pra enfrentar monstros e é por isso que gostamos tanto da série. Mesmo nos momentos mais adultos, a série flerta com a fantasia e, da fusão desta com o sci-fi, surge algo com o objetivo de divertir e estimular o sense of wonder. Eu diria, inclusive, que esse é um dos elementos fundamentais pra explicar a longevidade do show.


So.....feito esse preambulo...fantasmas. A série moderna, em "Hide", já utilizou o conceito e ele pode ser perfeitamente reutilizado aqui (de que fantasmas são pessoas deslocadas no espaço tempo, presas em dimensões de bolso com um passar de tempo diferente da nossa e, portanto, percebidas de forma "espaço-temporalmente errada) mas acredito que não vá ser o caso. E interessante como, mais uma vez, uma idéia que, em si, poderia render uma temporada inteira só pra ela ("existem fantasmas?") é absorvida pelo protagonista em um minuto, não apenas como algo plenamente possível mas com profundo fascínio. 
A temporada aparentemente não vai perder tempo com longas discussões que só interessam aos fanboys aficionados por continuidade e caçando furos de roteiro. Sim, Missy voltou dos mortos no arco anterior, só aceitem.
Sim, pode ser que fantasmas existam. Lidem com isso. 
Pelo amor dos deuses, o Doctor já esteve face a face com o próprio demônio mais de uma vez e, na season finale da temporada passada, LITERALMENTE viajou até o mundo dos mortos. 
Tudo é possível aqui. É Doctor Who afinal das contas. 
O viajante do tempo que já enfrentou artistas de circo homicidas, um Yeti que mais parecia um bichinho de pelúcia gigante. Um Timelord que já fez team up com um super herói batman-like e que já saiu na porrada com isto: 

                            

Fantasmas?

Hell yeah, fantasmas!!!!!

Melhor episódio até agora, fácil. Tomara que a segunda parte mantenha o nível.



Outros pensamentos

- Desculpem qualquer coisa aqui mas eu não consegui não soltar um "awwww" alto na cena em que a O'Donnel fica toda encabulada ao receber um elogio do Doctor. Ela é uma gracinha, não?
- "The Tardis is not happy". Isso poderia ser um tema? Pq diabos ela parou exatamente nessa base, um lugar onde ela visivelmente não queria ir? E isso depois de ter levado o Doctor pra Skaro, semana passada. Mas não sei se dá pra dizer que isso é um tema já que, desde o primeiro episódio da série, láaaaa atrás em 63, a Tardis é conhecida por levar o Doctor pros lugares mais inconvenientes e perigosos do cosmo, então....
- Enquanto no arco passado, a história aparentava estar mais ou menos dividida de forma uniforme nos dois episódios, "Under the lake", com todos os méritos dele, me parece um gigantesco prólogo pros eventos do episódio de semana que vem. Mesmo assim, se for o caso, vou achar que esse arco utilizou melhor o formato de "arco em duas partes" que o anterior, que tinha suas gorduras aqui e ali.
- Legal, depois de 50 anos de série, me surpreender com o Doctor. Sempre pensei que a morte era o "ultimate enemy" pro personagem mas, aos moldes tolkenianos, a morte aqui é vista como o ultimo mistério, a aventura final. Poético não?
- As mudanças de humor no Doctor soam meio esquizofrênicas/bipolares e um ator menos talentoso teria problemas em pular de um estado de espirito pra outro. Capaldi absolutamente domina o papel.
- Minha vida seria tão absurdamente mais fácil se eu tivesse aqueles cartões de respostas que o Timelord saca durante o episódio. Quem me conhece sabe que eu beiro o Asperger, então....




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