quinta-feira, 23 de setembro de 2021

The book is on the table #2 - "Kaijus, Heavy Metal e consciência de classe"

 Yo dogs...

Eu sou o seu adorável host, Misunderstood Mastermind, de volta. De bom humor. 

Tava de péssimo humor quando comecei a escrever hoje cedo, devido a uma fila pavorosa, excruciante, inumana, INACREDITAVELMENTE lenta que peguei no mercadinho hoje cedo. 

E eu disse que do lado de fora do mercado estavam rolando obras na rua que envolviam, OBVIAMENTE, uma britadeira funcionando em full mode berserk? Pois é. 

Mas agora, depois de algum tempo, já estou em meu mood habitual. 

So, gibizinhos e demais coisinhas legais consumidas essa semana.

E em dose dupla. Eu prometi semana passada, lembram? Amanhã tem outra.

C'mon, eu jamais mentiria pra vocês. Bom... okay, eu totalmente faria isso, mas desta vez eu estou falando sério, okay? Talvez tenha até uma edição outta nowhere da Monster Mash vindo. Vai saber.



Anyways. Comecemos com o principal: ESSA SEMANA VOLTA DOOM PATROL.

Melhor série baseada em hqs já feita. Pau a pau com Legion, da FX. Dois exemplos de que DÁ PRA FAZER. Não precisa ser uma parada medíocre tipo as séries do Arrowverse ou os Defenders da Netflix. 

A temporada passada acabou em um cliffhanger, em consequência do final súbito das gravações em detrimento da pandemia. Dorothy Spinner indo enfrentar o Candlemaker na pocket dimension de onde os monstros que a menina cria se originam. Os trailers recentes já vieram anunciando que vai tudo ser elevado à enésima potência. DIABOS, vai ter Monsieur Mallah. Ansioso? HELL YEAH, eu tô ansioso. 

Que mais...

Ah sim.

Se não teve coluna semana passada, os culpados são Zander Cannon, Tom King e Jorge Fornés, Daniel Warren Johnson e Brandon Graham. Alguns de seus trabalhos (respectivamente Kaijumax, Rorschach, Murder Falcon/Space Mullet e King City) me levaram para um vórtex do qual eu quase não saio mais.



Kaijumax, particularmente, eu reli tudo, as 5 temporadas anteriores (que é como Cannon, autor da série, decidiu dividir os arcos. Cinco seasons de seis edições cada). Começa incrível e segue incrível até a season 4. Aí chega a season 5 e DEUS DO CÉU. Mas vamos por partes.

Kaijumax, série de, até o momento, 30 edições, da Oni Press, narra o cotidiano da ilha prisão de mesmo nome onde kaijus - sim, os monstros gigantes - são enviados para pagar pelos crimes cometidos contra a humanidade.

Ceis viram "Orange is the new black"? Ou "Oz"? Ou qualquer filme que narra o cotidiano dentro de uma prisão? Então vocês sabem o que esperar.

A arte e a premissa prometem um gibi leve, talvez uma comédia. E o humor está lá, não duvidem. mas ele vem de forma episódica e entre um rompante e outro, temos drama, tragédia e muita, MUITA dor.

Acompanhamos a trama pelos olhos de Electrogor, um kaiju que foi preso enquanto tentava sugar energia de uma usina nuclear para gerar os ovos que usa para alimentar seus filhos. Novamente, se vocês viram séries e filmes passados em penitenciárias, vocês PODEM PENSAR que sabem o que esperar. Mas nope, a série sabe te pegar de surpresa. 

Os 3 primeiros arcos mostram as idas e vindas de Electrogor e outros presos, além da dinâmica interna da ilha. Os grupos que se formam (supremacistas kaijus, cyber monstros que rejeitam a vida carnal, além dos perdidos que tentam orbitar - e talvez, faturar algum $$$$ - entre todos os grupos), a perspectiva dos "guardas" (basicamente, uma versão mais corrupta da tropa Ultra) e, em algumas situações, como é o mundo fora daquele pedaço do inferno. 

É uma história PROFUNDAMENTE divertida, não me entendam mal. Mas também é uma sátira política sobre as falhas do sistema prisional e como ele é parte de um sistema maior, feito para manter todo um grupo oprimido. As metáforas não são sutis de maneira nenhuma e, nesse caso, nem precisam ser. 

O quarto ano da série foca na ala feminina da ilha. Começa mais leve, mas, novamente, te surpreende quando tu menos espera.

Aí vem o ano 5. BOY, oh boy. "The orange mile", mostrando a ala da cadeia destinada para os monstros condenados à morte e esperando execução. Acompanhamos o julgamento de Pikadon, um dos maiores chefões do crime kaiju no planeta. Alguém de quem apenas ouvíamos falar nos números anteriores da série, sempre com um ar de horror acompanhando seu nome. E de fato, quando finalmente nos damos conta - e veja bem, era TÃO óbvio que passou batido por todo mundo - ele é, figurativa e literalmente, um monstro. Mas passamos a ver detalhes desse personagem, seu passado e quando essa carga de informação, somada ao backstore dos personagens que já conhecemos anteriormente, nos é revelada com nuances, percebemos que essa é uma história sobre empatia. Sobre como a sociedade crucifica pessoas que, pra começo de conversa, nunca tiveram uma chance pq essa mesma sociedade destinou a elas uma posição de periferia (novamente, literal e figurativamente) na sociedade. O papel deles é ser os monstros. As vítimas que cometeram o crime de tentar fugir do destino que esta mesma sociedade reservou pra eles, da forma que for. Sintomas de um mundo PROFUNDAMENTE doente. Não uma falha do sistema, mas um de seus produtos naturais. Sempre é preciso lembrar: criminalidade, pobreza, classes sociais desfavorecidas. Isto NÃO é um acidente do capitalismo. Isso É o capitalismo. É o capitalismo funcionando EXATAMENTE como deveria. 

Que esse gibi traga essas discussões ENQUANTO nunca deixa de ser um gibi divertido e que entretêm o tempo todo, é algo digno de nota. As referências quase non-stop sem nunca deixarem de soar orgânicas (sério, sem adentrar detalhes em excesso, mas vemos um musical "Hamilton style" dentro da trama só que recontando a história do Godzilla original de 54), tanto no visual dos personagens, quanto nas gírias desse grupo e até nas tatuagens que estes condenados carregam, tudo traz um pedacinho a mais de história e confere tridimensionalidade a aquele universo. A série tem momentos PROFUNDAMENTE perturbadores ao mesmo tempo que tem outros que me fizeram rir alto. 

Já está rolando a season 6 e última da série. Bate aquela sensação agridoce de ver a conclusão da trama como planejada por Cannon, mas ao mesmo tempo, ter que dizer adeus a este mundo riquíssimo, cheio de super ciência, magia negra, aliens e criaturas intra-terrenas. Um mundo de monstros e homens e sobre as linhas que separam estes dois conceitos.  

Espero alguns spin-offs mostrando outros aspectos desse mundo - bom, caso sobre algo dele depois do fim. 

E falando sobre o fim do mundo...



Ainda me mantendo nesse terreno do gibi autoral, li Murder Falcon (roteiro e arte de Daniel Warren Johnson e cores de Mike Spicer) e Space Mullet (Johnson escrevendo e desenhando).

O desenhista e roteirista é um dos "novos nomes" dos quadrinhos americanos e tem tomado a cena de sobressalto, já tendo inclusive um trabalho lançado em uma das duas majors (Wonder Woman: Dead Earth). De fato, seu roteiro e arte são... acho que "refrescantes" é a palavra. De fato, seus gibis tem uma energia punk e ele navega por temas sabendo transitar entre drama e leveza com uma graciosidade que é raro de ver. 

Murder Falcon é uma mini em 8 partes, publicada pela Image Comics, que mostra as aventuras de Jake. Ex-membro e líder de uma banda que se separou depois de uma tragédia pessoal vivida por seu frontman, seu mundo muda depois de, durante um ataque de monstros, ele encontrar Murder Falcon, uma entidade guerreira que utiliza o poder do rock como combustível e precisa não só que o rapaz volte a tocar, mas que reúna sua banda como forma de reviver outras entidades para ajudá-lo em sua missão. 

Falando assim parece uma trama leve e escapista e de fato, o gibi bebe muito de obras como o filme do Tenacious D ou jogos como Brutal Legend. Aquela coisa do PODER DO METAL (imaginem isso dito com um agudo Detonator-style). Mas ao mesmo tempo, existe um segundo nível de trama, BEM menos leve, sobre o poder da música como elemento de superação de traumas e tragédias. O quadrinho tem momentos bastante densos, emocionalmente falando e que podem tirar uma ou duas lágrimas de algum leitor incauto (nope, não falo em primeira pessoa. Nope... de forma alguma......). Exatamente por causa desses momentos, a ação é PROFUNDAMENTE empolgante, pq nos importamos com aqueles personagens. Porque sabemos do peso que Jake carrega consigo, assim como ocorre com os demais membros da sua banda, a Brooticus. Todos os personagens tem seu devido momento de brilhar sob os holofotes, e estamos falando de um grupo não particularmente pequeno. 

Pra qualquer um, esse gibi é certeza de uma boa leitura. Se você for fã de metal então, só pega algum disco clássico do gênero, coloca pra rodar com o volume no talo e apenas VAI ler Murder Falcon.


Já Space Mullet é uma graphic novel publicada pela Dark Horse em 2016 - surgida inicialmente como uma webcomic publicada por Johnson, na íntegra e gratuitamente, em seu site -  que traz temas parecidos com os de Kaijumax. Jonah e seu parceiro, o alien Alphius, são dois pilotos de uma nave de carga que vai aos trancos e barrancos, entre um trampo mal pago e outro, até que são contratados para realizar um trabalho que pode mudar a vida de ambos, ao mesmo tempo que força Jonah a reviver seu sombrio passado. Novamente, uma trama de premissa simples mas que serve de porta de entrada pra um universo muito bem elaborado e cheio de detalhes. A trama também inclui discussões sobre classes sociais, preconceito e xenofobia, abuso de poder militar e espetacularização da miséria. 

Apesar da publicação, a história ainda está disponível no site oficial da série (inclusive, o tpb que eu li contem apenas uma parte da história. Terminando esse texto, vou lá conferir o resto). 

A arte lindíssima, em tons de preto, branco e azul descreve muito bem o mundo dos personagens. Noir e melancólico. Altíssima tecnologia que convive com cantos do universo em estado de miséria. Personagens se colocando em situações que jamais deveriam estar, em primeiro lugar, se não estivessem tolhidos de qualquer outra opção como forma de garantir a própria sobrevivência. Acreditem: o título engana. A trama tem elementos que me lembraram, ao mesmo tempo, o clássico de 1969 "They shoot horses, don't they?", o anime Cowboy Bebop e sua "prima americana", Firefly

Outro daqueles gibis que poderiam durar pra sempre, com mundos ao mesmo tempo estranhos e tristemente familiares que causam na mesma medida, repulsa e fascínio e dos quais nos vemos querendo conhecer mais e mais. 

De Rorschach e das obras do Brandon Graham, eu falo outro dia.

Por hora, vou deixar os gibizinhos e falar das paradas que estou ASSISTINDO.


Larguei quase todas as séries de TV que via - ou melhor, coloquei todas em um hiato indeterminado - e decidi voltar pro universo dos tokusatsus. 

Leitores de longa data do blog devem lembrar que eu tive, por um tempo, uma seção fixa onde eu falava de séries japonesas desse tipo. Acabei não dando continuidade, mas decidi que era uma boa hora pra ficar em dia. Até pq, vejam bem...


Meu problema com séries em geral, é que eu tenho SERÍSSIMOS problemas de atenção. Manter minha concentração é algo complicado. Quando vejo séries com Stella, durante o final de semana, é bem mais simples. Mas sozinho, com toda a constante cacofonia da internet pra me tirar a atenção? Querer que eu me dedique a programas de tv de uma hora com 12 a 24 episódios é esperar um pouco demais de mim.

Existem exceções, mas estas só vem para comprovar a regra. 

Com tokusatsus é bem mais simples. 20 minutinhos por episódio e, em média, 50 episódios por série. 

Se eu quisesse, em uns 3 dias dava pra matar séries inteiras. Dessa forma, eu consigo enganar meu cérebro e mante-lo concentrado por 3, 4, 5 episódios de toku-shows por vez.

Uma vez decidido a ver programas do tipo, a questão era: por onde começar? 

Pensei em ver na ordem cronológica, mas não ia funcionar. Pretendo voltar para os clássicos e primeiras gerações dos Sentai, Ultras e Riders, mas por hora, fiquei com contrapartes mais recentes destas franquias.

A saber: 

Kamen Rider Zi-O

Kamen Rider Gaim

Kamen Rider Ex-Aid

Kamen Rider Wizard

Shinkenger

e Ultraman Orb. 

Vi os primeiros eps. de todas acimas, mais uma que só não curti e vou deixar pro futuro (Goseiger). 

Meio que eu adorei todas. Wizard, Gaim e Ex-Aid tem uma cinematografia linda, em um mundo vivo e cheio de cores e isso me fisgou rápido. A trama, bem legal, só contribuiu.

Zi-O também me encantou, apesar de beber com força do lore dos Riders e como eu só vi o que passou no Brasil e mais Kamen Rider Ryuki, pode ser que eu "perca a piada" aqui e ali. Mas se isso não me impediu de adorar Gokaiger, série cuja trama girava em torno de todas as séries sentai anteriores, acho que não vai ser isso que vai me fazer desgostar do show. 

Shinkenger... confesso que foi escolhida por pura aleatoriedade e, devo dizer, dei sorte. A série é visualmente bonita e a trama... acho que é melhor roteiro de todas dessas que comecei a ver. O episódio 5, por exemplo, usa a história para, através de uma trama de crescimento do líder do grupo, introduzir um dos tropes mais clássicos do gênero mas que, aqui, soa realmente surpreendente. Todo mundo, dos heróis aos vilões, exala carisma, com personalidades muito claras e bem definidas. As cenas de ação são muito legais e nem o CGI meio tosco atrapalha. Se você, como eu, é um toku-fã mancheteiro criado a base de Jaspion e Changeman, sempre quis voltar a ver seriados dessa natureza mas nunca soube por onde começar, vai na fé: Shinkenger é maravilhosa e daquelas pra fazer binge de horas e horas. 

Falo mais - COM CERTEZA - conforme for avançando. 

Por fim, Ultraman Orb. Minha primeira série Ultra da vida adulta (vi episódios da série original mas nunca fui até o fim). Até o momento? Só sei que gostei. Vi só o primeiro episódio e não tem muito nele pra tecer parágrafos e parágrafos, mas ele vem pra estabelecer a premissa e manter o interesse do público e fez as duas coisas comigo de forma muito competente. E ser uma série mais curtinha, com apenas 25 episódios, só contribui. 


É isso, crianças. Promessa paga. Amanhã tem mais. Mais curta, provavelmente, mas tem. 

The Misunderstood Mastermind is out!!!

Respect!!!

*Atualização: eu erroneamente creditei a arte de Murder Falcon a Mike Spicer, quando na real, ele foi o colorista da série que tem roteiros E arte de Daniel Johnson. Já corrigido mas ainda assim, mals aê. 

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