terça-feira, 7 de junho de 2016

Alice isn't dead: the road is dark and full of terrors....


Começo com uma confissão pessoal, provavelmente oscilando entre o "facilmente relacionável" e o "esperava mais de vc, Urso": de tempos em tempos, eu viajo pra casa dos meus pais, lá em Avaré, em torno de 300 km daqui de SP. E pra aumentar a chance de pegar lugar vazio, eu tento preferencialmente ir pra lá à noite. Aqui vai a parte constrangedora: eu evito ficar fitando as janelas do busão durante a viagem. Mata fechada com uma ou outra casinha perdida aqui e ali habitada por, seguramente, algumas das pessoas mais corajosas do universo. Eu tenho a nítida impressão de que se eu olhar por tempo o suficiente, vou ver algo que não deveria.

Sabem aqueles filmes de horror japoneses, em que alguém abre um livro ou vê um vhs ou entra em um lugar que todo mundo vê mas, igualmente, todo mundo ignora e exatamente por, naquele dia especifico, ele ter notado a existência daquele item/evento, ele desencadeia eventos sobrenaturais? Algo assim. Meio que a metáfora do abismo misturada com aquele postulado da influência do observador sobre o evento observado. Exatamente porque eu estava fitando o abismo, ele decide que vale a pena mandar um "oi" de volta. E aí, como eventualmente ocorre, unleash hell e toda sorte de males capiróticos, crias das trevas, Babadooks, Kagutabas e Black Philips. 




É bem esse clima de terror ocasionado pela estranheza de estar num local entre locais que "Alice isn't dead" evoca. O podcast é um audiodrama mais ou menos ao estilo de "Nightvale", só que, sai o formato "programa de radio" e em seu lugar, entra as transmissões da caminhoneira sem nome que protagoniza a trama. A moça em questão tinha (até onde sabemos) uma vida relativamente normal até que sua esposa, a Alice do título, desaparece misteriosamente. Então, ela se torna uma caminhoneira e sai atravessando as estradas americanas tentando descobrir o paradeiro da parceira.

E no meio do caminho, como de praxe, Unleash Hell: cidades fantasmas (literalmente), monstros psicóticos, eventos sobrenaturais e a certeza de que existem forças muito maiores que ela própria (e muito mais sinistras) particularmente interessadas em sua busca por Alice.


A série tem roteiros de Joseph Fink (tb roteirista e criador de Nightvale) e toda a narração é feita por Jasika Nicole (A Astrid de Fringe). A trilha sonora que, tal qual em Nightvale, inclui, alem da voz da protagonista, efeitos sonoros e música de fundo, leva o nível de imersão perto da escala do absurdo. Ouvi ontem 5 episódios dos 7 já lançados, até o momento, enquanto voltava pra casa do trabalho, à noite e, man........ 
Não estou entrando no terreno dos eventos narrados apenas pra não soltar spoilers mas a coisa vai num crescendo tal que até o papel da protagonista vai mudando, com um novo fato, um novo detalhe, uma frase dita de um determinado modo e até mesmo um detalhezinho no tom de voz levantando dúvidas a respeito do quanto ela é REALMENTE a trágica heroína da história ou............something else.

E pra galera que não ouve tão bem em inglês mas lê razoavelmente, o fandom já fez transcrições do audio que vcs podem baixar em pdf ou outros formatos pra lerem enquanto escutam. 

Recomendo pra caralho, mas tenham certeza de que vcs nunca mais vão conseguir parar num restaurante de beira de estrada sem sentir um calafrio aqui e ali, sem uma olhadela por cima do ombro procurando por algo que não deveria estar lá e sem aquele pensamento recorrente de "ok, monstros não existem.................certo?"

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