segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Babylon 5 - Season 01


As vezes, enquanto assistia os episódios de Babylon 5, clássica série de sci-fi dos anos 90 criada por J. Michael Straczynski, eu ficava com a impressão de que aquilo era o material do qual os pesadelos de Gene Roddenberry, criador de Star Trek, eram feitos. A ambientação espacial e o foco na tripulação de uma estação orbital eram os elementos em comum, mas acabava ali. Sim, Star Trek sempre teve sua cota de conflitos, variando entre as descobertas feitas pelas tripulação da nave liderada por James Tiberius Kirk e antigos conflitos com raças como os Klingons e os Romulanos, mas pelo menos, "em casa", a população terrestre havia conseguido vencer antigos desafios como guerra de classes, pobreza, racismo e semelhantes. Mas Babylon 5? Nope. Estes conflitos ainda atormentam não só a Terra, mas o universo como um todo (Interessante notar que, visivelmente influenciada por B5, a terceira - e melhor - série do universo trekker, DS9, vai acrescentar tons de cinza num mundo em que a moralidade é, em tese, em matizes de preto e branco). Pra começar, a base era uma espécie de posto diplomático espacial com a missão de servir de centro de convivência e discussão entre diferentes raças alienígenas, visando uma coexistência pacífica e de mútuo aprendizado. Mas esse recurso veio oriundo do mais profundo desespero, depois de anos e anos de constantes surras numa guerra entre os humanos e os minbaris, guerra essa que se encontrava nos seus dias finais quando, sem qualquer explicação lógica, os alienígenas, à beira da vitória, simplesmente se renderam. A seguir, vieram as subsequentes conversas sobre acordos de paz e, como consequência, a idéia da criação de uma estação espacial, território politicamente neutro, onde os conflitos entre diferentes povos espaciais seriam resolvidos por meio da deliberação pacífica. Com os episódios avançando, vemos que, se algumas batalhas foram vencidas (o vídeo a seguir vem do episódio em que nosso planeta é convidado a apresentar como funciona a fé em nosso mundo para as demais raças membros da aliança).....


.....outras ainda seguem inclementes, ainda que sob nova roupagem (a pobreza ainda é um fantasma pairando sobre o dia a dia dos humanos, com grupos extremamente desfavorecidos inclusive vivendo - a duras penas - dentro da base espacial. E o racismo e xenofobia, antes focado dentro dos diferentes fenótipos humanos, agora se manifesta contra os alienígenas que tentam criar residência nessa bola de lama flutuante que chamamos de lar). 
Se Jean Luc Picard consegue manter-se relativamente são diante dos desafios enfrentados, chega a ser comovente o efeito dos constantes conflitos na fisionomia do líder da B5, o comandante Jeffrey Sinclair. Ele e sua equipe (o chefe de segurança Michael Garibaldi, a segunda em comando, Tenente Susan Ivanova, o chefe do grupo de médicos da base, Dr. Stephen Franklin, Talia Winters, membro enviado do grupo de Psi-corps, humanos com habilidades telepáticas, entre outros) são os responsáveis por resolver os vários e vários e vários e jesus cristo, VÁRIOS conflitos de toda sorte que frequentemente surgem dentro da estação espacial. Se a humanidade havia conseguido evoluir em termos sociais no universo de Roddenberry, aqui, temos além de questões sociais e econômicas, tb diferenças políticas como a que vemos no episódio focando nos grupos de colonos humanos que buscam independência do planeta metrópole, com uma guerra civil interplanetária prestes a explodir. Temos tb os primeiros vislumbres de um grupo político anti alien (ou "pro-Earth") se organizando. E como se não bastasse tudo isso (e os conflitos advindos das diferenças políticas e culturais entre as diferentes raças alienígenas), uma nova força começa a botar seus planos em ação, ameaçando a existência de todo o universo.



"It was the dawn of the third age of mankind – ten years after the Earth-Minbari War. The Babylon Project was a dream given form. Its goal: to prevent another war by creating a place where humans and aliens could work out their differences peacefully. It's a port of call – home away from home – for diplomats, hustlers, entrepreneurs, and wanderers. Humans and aliens wrapped in two million five hundred thousand tons of spinning metal… all alone in the night. It can be a dangerous place, but it's our last best hope for peace. This is the story of the last of the Babylon stations. The year is 2258. The name of the place is Babylon 5."

Toda a dinâmica interna de Babylon 5 gira em torno de Sinclair e dos demais membros da aliança interplanetária, então, vamos a ela:
O nome da estação vem do fato de que esta é a quinta versão do projeto, desenvolvida depois do fracasso das 4 primeiras: 3 delas, destruídas, fruto de sabotagem. Da Babylon 4, pouco se sabe, exceto de que um dia, ela simplesmente desapareceu misteriosamente. Enfim, de volta ao cenário atual da série: pensem numa espécie de ONU espacial. Um território neutro com fins majoritariamente diplomáticos. Para este fim, as 4 maiores raças conhecidas do universo enviaram embaixadores que deveriam representar seus planetas de origem:



Os Minbaris: Uma das raças mais poderosas do universo. A embaixadora oficial é Delenn, tendo como ajudante o jovem Lennier



Os Centauri: Uma raça guerreira que já teve um passado glorioso mas hoje em dia, vê seu poder consideravelmente diminuído. Pensem numa versão militarizada dos Ferengis de Star Trek (por causa do forte faro pra um bom negócio, além de certa predileção pelos elementos mais boêmios da cultura humana). O embaixador oficial é Londo Mollari, tendo como segundo em comando, Vir Cotto.



Os Narn: Outra raça belicista que já foi conquistada pelos Centauri no passado. O embaixador é G'kar, com N'toth como ajudante.



Os Vorlon: a raça mais misteriosa da série. O embaixador oficial é Kosh, uma criatura que vive dentro de uma armadura e cuja aparência é um mistério pra quase todo mundo na estação.



Morden: O misterioso homem aparece quase no final do primeiro ano da série, mas sua presença mefistofélica desencadeia eventos que, com certeza, vão ter desdobramentos violentos nas 4 temporadas restantes do programa.



Alfred Bester: Um dos membros sênior dos Psi Corps. De acordo com a mitologia da série, uma parcela pequena da humanidade desenvolveu espontaneamente habilidades telepáticas. Após uma série de incidentes relacionados a tais indivíduos, o governo mundial estabeleceu que todo telepata tem as seguintes opções, uma vez que seu dom se manifestar e isso se tornar de conhecimento público: se juntar ao governo, serem encarcerados ou passarem a vida sob tratamento médico a base de drogas suprimindo seus poderes. Como seria de se esperar, os Psi Corps operam como um dos braços coercitivos do governo humano e aparentam - de forma não muito sutil, aliás - terem propósitos particularmente sinistros. 

Londo: What reasonable explanation is there for the slaughter of unarmed civilians?
G'Kar: Curious. We wondered the same thing when you invaded our world. The wheel turns, does it not, Ambassador?
Londo: We should have wiped out your kind when we had the chance.
G'Kar: What happened? Run out of small children to butcher?





A primeira temporada, como geralmente ocorre com todo seriado contando uma grande trama serializada, demora um tiquinho pra engrenar, mas quando engrena, segue particularmente consistente, com direito a pelo menos uma meia duzia de episódios dignos de serem descritos como "brilhantes". A season 01, que posteriormente recebeu o subtítulo de "Signs & Portents" serve basicamente pra apresentar os principais players da trama e, me perdoem o clichê, botar as peças em seu devido lugar no tabuleiro. As primeiras aparições de Bester e Morden, o misterioso papel de Delenn dentro do conselho cinza, as memórias de quando Sinclair esteve dentro de um cruzador Minbari, as primeiras menções ao movimento "Free Mars" e ao "Homeguard",  já mencionado grupo xenófobo anti-alien. O crescente mal estar e ressentimento entre Narns e Centauris......


Pra quem for se aventurar pela série, já adianto que os episódios isolados, focados no dia a dia dentro da nave, são tão interessantes e fascinantes quanto os episódios que se focam na trama maior que só vai ser abertamente abordada a partir da season 02. Minha listinha de pontos altos: 

The Gathering

O filme para TV que abre a série. Uma história de mistério em que Sinclair precisa descobrir quem tentou culpa-lo pela tentativa de assassinato contra o embaixador Kosh.

Ep. 06 - Mind War

Primeira aparição dos membros da Psi Corps. 

Ep. 07 - The War Prayer

Primeiro ep. a explorar a tensão pós-guerra entre humanos e alienígenas. 

Ep. 08 - And the sky full of stars

Sinclair é raptado e questionado a respeito de sua lealdade à raça humana. Novamente, um ep. bem legal pra entender o contexto político da série e como as tensões estão escalando perigosamente.

Ep. 09 - Deathwalker (Provavelmente, o melhor ep. da temporada de estréia da série)

Uma cientista surge com uma descoberta que pode resultar no elixir da vida eterna. Mas o que fazer ao descobrir que o preço da imortalidade pode ser excessivamente alto? 

Ep. 10 - Believers (disputando o título de melhor ep. dessa season com o anterior)

Um dos melhores episódios a discutir as diferenças culturais entre as raças dentro da Babylon 5. Um episódio sobre os aspectos positivos e negativos da fé. 

Ep. 12 - By any means necessary

A estação do comandante Sinclair se vê diante de uma greve de trabalhadores em busca de melhores condições de trabalho, após um acidente fatal. Adorava quando esses elementos mais "mundanos" eram abordados em Battlestar Galactica. Legal ver o tema ser tratado com a mesma seriedade aqui. And also: descobrimos que o governo humano pode não ser tão legal quando inicialmente poderia parecer. 

Ep. 13 - Signs and Portents

Primeira aparição de Morden. O começo do fim!!!

Ep. 14 - TKO

Outro episódio "menor", sobre o cotidiano da nave, onde descobrimos um submundo de lutas "ilegais" rolando. 

Eps. 18 e 19 - A voice in the wilderness (partes 1 e 2)

Outro ep. do grande arco, onde vemos eventos que com certeza serão revisitados nos momentos climáticos da série. E um mergulho dentro da cultura Minbari.

Ep. 20 - Babylon Squared

Episódio de viagem no tempo. Provavelmente o mais importante e um dos mais legais da primeira temporada. 

Ep. 22 - Chrysalis

Também conhecido como "aquele onde tudo vai pro cacete!!!"

Ao final da season 01, descrever o cenário em que os personagens são deixados como "desolador" ainda seria brando: Sinclair quebrado, após uma visão do futuro mostrando um cenário de guerra, após desvendar o mistério do paradeiro da Babylon 4 e, cereja no topo do bolo, tendo que lidar com o potencial assassinato do presidente da aliança Terrestre. Delenn num casulo, em mutação para se tornar......algo. Dez mil colonos Narn exterminados pelos misteriosos aliados de Morden e um Londo acuado, diretamente, embora de forma não intencional, responsável pelo massacre. Uma tempestade à caminho, prestes a atingir cada um dos personagens dessa série de forma traumática. Daqui pra diante, crianças, é highway to hell!!!!!



A partir daqui, devo começar a escrever sobre a série, episódio à episódio, como já fiz com a nona temporada de Doctor Who e como comecei, semana passada, a fazer com Twin Peaks. Então, até breve, senhores, quando nos encontraremos de novo pra falar sobre o season premiere da segunda temporada da série, "Points of Departure"


Sinclair: Nothing's the same anymore. (última linha de diálogo da temporada e um mau presságio, sem sombra de dúvidas).


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