Eu sei que é paradoxal, mas o que são as pessoas senão um amontado de contradições, não? Eu, que vivo falando mal de figuras como Tiesto e semelhantes, esses tais 'super deejays", tacando-lhes pedra por terem cometido o pecado mortal de pegarem um movimento iconoclasta em sua essência e transforma-lo em algo masturbatório orbitando ao redor do "super disc jockey", movimentando $$$ equivalente ao PIB de um pequeno estado. Eu, aqui, prestando homenagem ao rosto mais associado ao movimento raver/eletrônico. Bom, em minha defesa, existem rostos e rostos e se todo um gênero marcado pelo hedonismo e subversão tem que ter uma cara, prefiro mil vezes algo perturbador estilo Keith Flint do que o rostinho limpo dos Steve Aokis e David Guettas da vida.
Indo além, tem o lance punk que me pega de jeito. Pode ser um conceito bizarro pros não iniciados, mas musica eletrônica é punk. Funk carioca é punk pra caralho. Rap é punk até dizer chega. Reggae é punk. Jazz já era punk meia década antes do punk existir. Punk, com P maiúsculo, o espírito de subversão personificado em arte, isso orbita pela história da humanidade feito um espectro desde que o mundo é mundo. Jazz e blues já eram disruptivos nos anos 20. Rock, 2 décadas depois, idem. Em toda a história, sempre tem um núcleo de arte separada do mainstream, do limpinho, do publicamente aceito, do inofensivo; geralmente vindo de núcleos periféricos ao redor do mundo, cronicalizando o cotidiano através de música e da junção dessa com outras formas de arte como pintura, moda, literatura e tals. Punk nos subúrbios americanos, lá pelos lados do Queens em NY. O Reggae, no fundão de Kingston. O funk carioca nos morros da cidade maravilhosa. Tudo bebendo de outros gêneros, mas distintos a ponto de se tornarem criaturas distinguíveis. Pequenas revoluções. Primos separados em esquinas diferentes do planeta.
E o Prodigy era punk pra caralho. Tanto que o criador da banda pegou dois malucos muito mais chamativos que ele próprio para serem os mcs do negócio. Quase um truque de mágica. "Eu faço a mágica e vcs seduzem o público". Angier e Borden, mas não mais oponentes, mas aliados, uma só força irresistível. Culto à personalidade e iconoclastia no mesmo pacote. Punk pra porra, se me perguntarem. Dizer que isso foi um acidente seria o cumulo da ingenuidade. Liam Howlett, o cérebro por trás da operação, sabia o que tava fazendo quando pegou um bozo from hell e um gigante negro para serem o cartão de visitas de sua banda. Estilo e substância, senhores. E algumas das batidas mais selvagens, alguns dos BPMs mais intensos que os senhores vão experienciar.
Por isso a Monster Mash abaixo é uma celebração não apenas de Keith Flint mas do Prodigy como um todo (por isso não excluí faixas do "Always outnumbered, never outgunned", álbum em que Howlett deu uma folga pra Flint e Maxim e chamou gente do calibre de Liam Gallagher e Juliette Lewis pros vocais). Resolvi ser honesto e parar no ultimo álbum que ouvi deles, o "The day is my enemy", apenas pq ainda não consegui dar a devida atenção pro disco mais recente do grupo, o "No tourists", do ano passado.
Mas enfim, fica a homenagem deste humilde bloguinho, meu canto do mundo em que eu tento celebrar tudo que tem esse espírito mercurial e autofágico do punk (em todas as suas formas e mídias) para uma banda - e seu principal frontman - que é, foi e sempre será uma das encarnações desse espírito, avatares desse deus, talvez o único diante do qual eu me prostre e o unico o qual eu acho digno de meu louvor.
The beat won't stop, guys.
Godspeed and cheers for the real and twisted firestarter.
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