quarta-feira, 31 de maio de 2023
Navegando pelo multiverso: "Earth X" - parte 03
No número 2, terceiro capítulo (contando o ep. 0) da série, x-51 volta seu olhar para alguns dos outrora demais campeões que a Terra já teve.
Os Inumanos, tentando entender as mudanças no que um dia foi o mundo que chamaram de lar, vão atrás de seus velhos aliados, o Quarteto fantástico, para conseguir informações.
Então, encontramos um aposentado Ben Grimm, distante de sua persona mais famosa e dos dias de aventuras. É quando começamos a entender o que aconteceu com a humanidade e que ocasionou a evolução, se é que se pode chamar assim, da raça. Em um dia, quase toda a humanidade começou a apresentar poderes super-humanos. E em mundo de super humanos, qual a necessidade de super heróis?
Descobrimos também o trágico fim do quarteto, quando Sue e Johnny caíram em batalha contra Von Doom e Namor. E como o choque resultante, aliado a necessidade de entender as razões que levaram a humanidade quase inteira a desenvolver poderes, levou Reed a se isolar no palácio de seu nêmesis.
"A estrada para o inferno é pavimentada de boas intenções"
Existe uma lenda que diz que Santos Dumont, que cometeu suicídio, teria o feito como resultado do trauma de ver suas invenções usadas para fins belicistas. Informações descobertas posteriormente nos fazem pensar que é mais provável que seu suicídio tenha sido decorrente de depressão, mas é compreensível porque a versão mais "popular" é a que vem fortemente carregada de tons "românticos". A figura do cientista bem intencionado que se vê insignificante diante dos horrores que ele próprio inadvertidamente liberou no mundo é um trope comum na ficção desde Victor Frankenstein e que encontra certo eco na vida real.
Você pode encontrar em vídeo o fatídico comentário de Oppenheimer que, diante da grandiosidade de sua bomba atômica cita a passagem do baghavad gita e se declara "um destruidor de planetas".
Da mesma forma, vemos Reed, tal qual Steve Rogers, quebrado diante das consequências de suas melhores intenções. Portais para outras dimensões, usados por homens pequenos como depósitos de lixo tóxico e nuclear, além de prisões para os enjeitados sociais. Um sistema de distribuição de energia gratuita e de proporções globais, sendo uma das possíveis causas do "salto evolutivo" da humanidade.
Suas intenções heróicas, resultando na morte de metade de sua família. Considerando toda a culpa que o líder dos Fantastic Four sempre carregou pelas mudanças que sua viagem ao espaço causou em seus familiares mais próximos, é compreensível que sua psique não tenha aguentado os traumas repetidos e se partido de vez. O diálogo entre ele e Tony Stark vem carregado da melancolia de homens com um potencial imenso, mas que foram deixados para trás por causo do avanço inexorável do tempo.
O tom de nostalgia em Stark não é diferente do aspecto kitsch das criações de Alícia Masters que vemos na cena do jantar dos Grimm com os Inhumans. A personagem que outrora foi uma mulher cega com o talento de escupir em barro, ganhou tons semi-divinos quando seus poderes se manifestaram. Não apenas ela recobrou a visão, mas ganhou também o dom de animar e conferir senciência as suas criações. No entanto, o que vemos são estátuas inspiradas nos heróis do passado. Fantasmas, estátuas de cera. Não muito diferentes dos Vingadores de Ferro de Stark. Reminiscências de natais passados.
O quão patético é que, Reed e Stark, dois futurólogos capazes de desenhar o destino de seu universo por séculos adiante, terminem em um mundo sem futuro, tendo que se limitar a olhar pro passado e para os "bons velhos tempos"?
E enquanto homens velhos lamentam pelos dias perdidos, uma sombra espalha suas asas pelo mundo.
Enquanto as maravilhas dos dias passados dançam, um fantasma ostentando sua máscara da morte rubra avança...
Ring the Bell#05: PAC vs Cara Noir (Riptide, 2019)
terça-feira, 30 de maio de 2023
Ring the bell #04: "The Revolutionary" Darius Lockhart vs Lee "Taigastyle" Moriarty (Enjoy's NIGHT MOVES s03e04, 2022)
segunda-feira, 29 de maio de 2023
Ring the Bell #03: Swerve Strickland vs Nick Wayne (DEFY, 2022)
Começando mais uma semana, meus ímpios proletários, enfiados na correria pelo pão de cada dia.
Onze e trinta, hora de dar uma relaxada em seus 60 minutos e tio Hak traz mais luta de pro-wrestling para seu entretenimento.
Dessa vez, vamos com um de meus favoritos desde seus dias como Killshot no saudoso Lucha Underground, Swerve Strickland, e um dos novos nomes mais promissores do wrestling do século 21: Nick fucking Wayne.
Começo de uma feud entre os dois que tem potencial de ser histórica. E já é uma boa porta de entrada para vocês conhecerem Wayne. Detalhe para quando vocês estiverem assistindo: Nick tinha 16 anos nessa luta.
Falemos de "o futuro do wrestling". E já com contrato assinado pra estrear ainda esse ano na AEW.
Com nomes como o dele, Starboy Charlie, Billie Starkz, os 4 pilares da AEW, entre outros, acho seguro dizer que os próximos anos e décadas do wrestling profissional serão bem divertidos...
Nos vemos amanhã, crianças, com mais uma luta maneira com a curadoria 100% confiável do bom e velho Urso que vos fala.
Hasta.
sábado, 27 de maio de 2023
sexta-feira, 26 de maio de 2023
Ring the Bell #02: Cm Punk vs Brock Lesnar (Summerslam 2013)
Yo, ímpios.
Edição nova da Ring the Bell pra acompanhar os senhores na sagrada hora da refeição diária. E dessa vez, vamos com um clássico que durante um bom tempo foi minha luta favorita e, ainda hoje, é a luta que eu mostraria pra qualquer um que queira começar a ver wrestling. "The Best vs The Beast", pra mim, resume em seus quase 40 minutos, tudo de apaixonante que existe nessa mídia: temos o lance de Davi vs Golias. Clímax e anticlímax. Toneladas de drama. Bem vs Mal.
E a resolução, que, se por um lado, nos lembra que nem sempre o "herói" vai ganhar, por outro, as vezes não é sobre vencer ou perder, mas sobre lutar e dar 100% de si. E ver o olhar de apreensão vindo de volta de alguém que se achava, até então, inatingível.
É isso, senhores. Divirtam-se. Nos vemos novamente segunda-feira. Aproveitem o final de semana.
Now ring the fucking bell.
quinta-feira, 25 de maio de 2023
Ring the bell #01: Sabu vs Terry Funk - barbedwired match (ECW: Born to be wired, 1997)
Seção nova aqui no blog, fiotes.
Deu meio dia, hora do almoço, hora sagrada, fominha, hora do proletariado ir resgatar algum descanso das mãos de seus empregadores.
Que tal, nessa hora, você tirar um tempinho para apreciar o "the one TRUE sport", o esporte "verdadeiro" e curtir alguns dos maiores clássicos de sua secular história?
Pois é, crianças. Agora, todo dia, lá pelas 11h30, voi subir um combate aqui no blog para você poder apreciar enquanto bate aquela marmitinha febrosa.
Bem vindos ao "Ring the Bell": seu arroz, feijão, bife e ovo frito regado com um tiquinho de sangue.
Pra começar, falemos de sangue: pensei em pegar leve na primeira entrada desta nova seção aqui no Groselha, mas vcs conhecem o tio Urso, certo? "Go hard or go home".
Então, inspirado pelo ep. de ontem do Dynamite, decidi resgatar um clássico da ECW: Terry Funk, uma das maiores lendas do hardcore wrestling vs the HOMICIDAL, SUICIDAL, GENOCIDAL Sabu, em uma barbedwired match (versão hardcore de wrestling onde as cordas do ringue são substituídas por arame farpado para que você possa rasgar, lacerar e fazer toda sorte de miséria com a carcaça de seu coleguinha).
Pessoas de estômago fraco talvez devessem considerar terminar de comer antes de dar o play no vídeo abaixo, mas hey: eu não sou pai de ninguém.
De segunda a sexta, as 11h30, fiotes, tem lutinha nova aqui. Technical wrestling, Deathmatch, Joshi, Comedy wrestling, wrestling à moda antiga, gimmick matches. Todos os estilos vão ter sua vez.
Vejo vocês amanhã, ímpios.
Now ring the fucking bell.
Lucifer #01: "The fall from grace and down the stairs"
E no princípio, havia o silêncio.
E então, fez-se o som.
As mãos do anjo caído tocando "Endlessly Rising Modulation Canon" de Bach são nossa porta de entrada para o estranho e sinistro novo mundo que é a terceira encarnação do título "Lúcifer", concebido por Dan Watters e os irmãos Max e Sebastian Fiumara, publicado em 24 edições e posteriormente compilado em 4 TPBs.
A música, como o personagem comenta, é uma composição que se destaca por sua estrutura cíclica em constante ascensão e modular.
Rápido contexto, até porque eu não sou o maior especialista em notação musical: modulações são quando obras musicais mudam de tom. Simples assim. A obra segue com sua estrutura em um tom e em um certo tempo e aí, em algum momento, ela muda o tom. Nesse momento, ocorre uma modulação.
Acho que o exemplo mais simples de todos: "My heart will go on". No final, pra efeitos dramáticos, rola uma modulação, visando um efeito bombástico.
Outros exemplos de música onde isso rola: "Good Vibrations" dos Beach Boys. "Bohemian Rhapsody". "Layla", do Clapton. "Só Hoje" do Jota Quest. A estrutura da música e seu tempo se mantém os mesmos, mas há uma súbita alteração na nota em que ela é interpretada.
Agora, e antes que algum músico profissional entre meus leitores venha me apontar esse detalhe: isso não é um consenso. Alguns textos e vídeos que eu vi dizem que modulação e mudança de tom não são a mesma coisa. Pra alguns depende da posição em uma música. Pra outros, depende do tempo que dura e se retoma o tom original em algum momento (ou seja, modulações teriam, nesse caso, um aspecto finito dentro da canção). Mas enfim, independente de discordâncias, a grosso modo, é isso.
Como eu disse, você pode fazer isso em uma canção por vários motivos e pra tentar provocar as mais diversas reações no ouvinte. Desde esse efeito de "crescendo", de tentar aumentar o impacto e conferir caráter épico em um momento da composição, até o inverso. Também, dependendo do quão harmônica (ou não) é essa alteração, o efeito almejado pode ser o choque, a surpresa ou mesmo o desconforto.
Imagine uma canção em notas mais altas, visando alegria e tals e aí, subitamente, há uma alteração para notas mais soturnas, entende?
Em UMA página e com algumas palavras sobre música, o time criativo já dá o tom da trama: esperem o inesperado.
Considerem também o seguinte: independente do caráter perpétuo da composição de Bach, existe um limite de notas que podem ser atingidas. Ou seja, em determinado momento, a composição vai ter que retornar ao começo. Então, estamos na verdade enfiados em um ciclo perpetuamente se repetindo.
Also: considerem que a promessa no título da canção é, obviamente, uma mentira. Porque mesmo que um homem se pretenda a tocar a peça por toda sua vida, ela não vai ser infinita porque... bem,... porque ele vai morrer.
E mesmo se um segundo interprete mantiver o ciclo se repetindo, ele também vai ter seu fim. E mesmo que sucessivos músicos se predispusessem a manter o ciclo se renovando... Bem, em um determinado momento o universo vai morrer. E aí, finalmente, o ciclo vai terminar
Novamente, tudo isso em UMA PÁGINA da série. Já estão animados?
O título da primeira edição da série "the fall from grace and down the stairs" ("caindo em desgraça e escada abaixo") já nos introduz ao aspecto mais marcante e significativo a respeito do lore cristão e do papel do anjo caído nele: sua queda.
Lúcifer é um anjo rebelde, que em determinado momento desafiou seu criador e foi derrotado e posteriormente expulso do paraíso por sua arrogância.
Claro, Lúcifer também é um homem distante de sua glória no momento em que o vemos em tempo presente na história. Magro e cabeludo, ele está há milênios de distância do anjo descrito como o mais belo já criado por seu Pai.
Paralelo a essa trama, temos outra que nos introduz ao ex-policial John Decker.
Uma pausa, porque nomes são importantes: John. Decker. John = João, o mais jovem dos apóstolos. Este é um nome recorrente na bíblia, remetendo também a João Batista, o homem que batizou o messias. Decker. Deck of cards. Um baralho de cartas. Decker = o homem que embaralha e distribui as cartas.
Ainda nesse tópico Deck = níveis. Camadas. Andares, como os de um prédio (ou de um labirinto? Ou de uma prisão?). Visitando sua esposa, Penélope (nome da esposa de Ulisses, protagonista da Odisséia). A mulher vive seus dias finais, morrendo em virtude de um tumor no cérebro. Atormentado, depois de lhe ser negada a possibilidade de ser representante legal de sua mulher, o que lhe permitiria abreviar seu sofrimento, ele simplesmente foge com ela de carro, o que resulta em um acidente onde ele desperta, ferido, mas vivo e ela morta. Um acidente ou uma tentativa frustrada de suicídio?
No mundo (reino, plano dimensional?) onde Lucifer se encontra, outros homens debatem sob destino. Dá pra reconhecer figuras como Robert Johnson, Hitler e alguém, o líder do grupo, chamado simplesmente "Jack".
Não é difícil conceber que são homens que, por suas ações (definitivamente Hitler) ou pelas lendas a seu respeito (no caso de Johnson, perpetuamente associado àquela fatídica e hipotética noite onde conversou com o diabo na encruzilhada) foram condenados ao Inferno.
Então, estamos no inferno? Ainda é cedo pra saber.
Depois de um pesadelo cheio de simbolismos, onde é visitado por seu cunhado, John decide ir até a casa de repouso "Gately House", último local em que o rapaz, Robert, viveu.
Neste estranho local, somos apresentados a outro personagem aparentemente importante: Caliban. Aquele mesmo da peça "A Tempestade". Filho de Sycorax, tornado escravo por Próspero. Na trama da peça de Shakespeare. Próspero é deixado pra morrer no meio do mar com sua filha, Miranda. No entanto, no barco em que foram deixados para morrer, um aliado escondeu comida, água e alguns livros de magia, o que permitiu que os dois sobrevivessem no mar por alguns dias, até chegarem na misteriosa ilha. Lá, Caliban se aproxima dos dois, mas é escravizado pelo mago depois de tentar estuprar sua filha.
Existem várias interpretações a respeito da natureza simbólica de Caliban dentro da trama. Desde mais óbvias, como o fato de seu nome ser um anagrama para Canibal, passando por mais sutis. Uma delas, fala que Caliban ataca a filha de Próspero por ciúme. Sem a mãe - que, quando a história começa, já está morta - ele vê no mago uma figura paterna de autoridade. Deformado, ele sente ciúme de Miranda, como se ambos disputassem o amor do homem, com ele, por sua aparência, em posição de desvantagem.
Um filho que, confrontado com o fato de que seu pai está dando atenção para o filho mais novo, decide se rebelar contra o irmão/irmã e termina rechaçado no processo. Familiar?
Sigamos.
Terminamos a primeira edição com o anjo caído, cavando, cego, atrás de algo e encontrando o que parece uma estátua. Mais importante: a estátua de Caliban. A quem Lúcifer acusa de ter sido o responsável por sua prisão naquele lugar desconhecido.
Não sabemos o que Caliban pretende, se ele de fato é o responsável pelo cativeiro do diabo ou não. Mas o estrela da manhã promete que, quem quer que seja seu captor, ele será reduzido a cinzas.
Excelente primeira edição, instigando curiosidade no leitor. O roteiro de Waters é profundamente elegante, com temas e tropes que se repetem (o papel de irmãos, biológicos ou não, dentro da trama. a idéia de "quedas transformadoras", entre outros).
A escuridão espreitando ao fundo do painel e onde Lucifer termina, vencido. |
Enxergamos essa cena do ângulo que é conhecido no cinema como "God's eye" ou "O olhar de Deus". |
E a arte dos irmãos Fiumara. Okay, se vocês já viram imagens dessa série ou quando vocês forem ler o gibi, vocês devem ter notado (ou irão notar) que os Fiumara tomaram decisões bem interessantes a respeito do character design de vários personagens, sendo o protagonista a mais interessante delas, já que claramente a fonte de inspiração foi David Bowie.
E não qualquer persona da mitologia Bowieana, mas o aspecto mais soturno, a ovelha negra dentre eles, o Thin White Duke.
Nascido no final dos 70, anos depois da morte de Ziggy Stardust, o Duque magro e pálido é seu oposto. No que Ziggy era passional e uma explosão de cores, o duque é frio e monocromático. No que Ziggy era apolíneo e solar, o duque é dionisiano e noturno. Sua primeira "aparição" ocorre em "Station to Station", música que batiza o álbum de 1976 de Bowie, décimo disco de sua carreira e um dos últimos trabalhos do tipo que o artista lançou na década de 70 (antecedendo a trilogia de Berlim, "Low", "Lodger" e "Heroes". Tecnicamente, por ser um LP lançado em 80, "Scary monsters e super creeps" ainda é um disco da década de 70, mas ninguém se importa. Eu sei que a década começa no ano 1 e termina no ano com zero, mas símbolos, tal qual nomes, são importantes).
Esse era um momento de transição pra Bowie. Sua passagem em solo americano, pra gravar o soul álbum "Young Americans" rendeu ao cantor o vício em cocaína. Pra fugir dele, ele decidiu uma mudança drástica e foi morar em Berlim o que, em retrospecto, não foi a mais inteligente das decisões.
De acordo com o próprio, Bowie se enfiou em uma espiral de decadência onde se mantinha vivo com uma dieta a base de cocaína, pimenta, leite e paranóia. É desse período que vem os flertes com o nazi-fascismo que renderam aquela imagem onde ele aparece publicamente mandando o "sieg heil" nazista.
Esse foi o momento da "noite sombria da alma" bowieana, que vai render não só "station to station" mas, a partir da parceria com Brian Eno, a trilogia eletrônica. Os temas quentes dos discos anteriores vão dar lugar a canções frias (mas boas pra cara***, não me entendam errado, eu adoro a trilogia de Berlim). As letras com simbolismo vão dar lugar a músicas instrumentais, tentando transmitir suas idéias através de texturas sonoras.
Vai ser um tempo até David Robert Jones voltar a ter dias mais solares, já na sua fase como cantor de "arena" e capaz de encher estádios (de seus discos mais bem sucedidos financeiramente: "Let's Dance" e "Tonight").
....
Só agora eu me toquei que eu estou há 5 parágrafos falando de David Bowie e não mais do gibi que deveria ser o foco desse texto. Mas enfim, o contexto tá dado. Esse Bowie, o duque pálido, é a versão perfeita para ser a face do demônio em pessoa.
Esse texto sobre o primeiro número da série fica por aqui.
Eu ia falar de TPB por TPB mas essas histórias são BEM densas, cheias de símbolos e referências e eu acho que, honestamente, vai ser bem mais divertido pra mim e pra vocês se formos juntos, edição por edição.
Tão comigo crianças? Então bora, que, como diriam em um filme do Scorsese, "todo homem tem que descer até o inferno se quiser chegar ao paraíso...."
A seguir: "Of Red Death and ginger tomcats"
terça-feira, 23 de maio de 2023
Navegando pelo multiverso: "Earth X" - parte 02
Na edição anterior, Aaron Stack foi "presenteado" (ou amaldiçoado, dependendo da perspectiva) com....bom... "perspectiva" é a palavra. Perspectiva histórica. Cósmica. Os olhos de Uatu.
No texto anterior eu não comentei a esse respeito, mas é preciso lembrar que eu leio essa série com a "visão" de alguém que recentemente leu Inferno#4 de Jonathan Hickman e.... A edição que, sem hipérboles, muda TUDO no universo Marvel. Neste últimos 60 anos de existência da editora, principalmente depois da celebrada passagem de Chris Claremont pelos títulos mutantes, a história da Terra 616 tem sido vista como um cabo de guerra entre duas espécies: humanos e mutantes. O que Inferno faz, é nos lembrar que existe mais uma raça correndo por fora, desconsidera, desprezada, mas que decidiu clamar por sua posição como potenciais senhores do futuro do mundo: as máquinas.
Formas de inteligência artificial, como é o caso da pedra fundamental deste universo: James Hammond, o Tocha Humana original. Na cena em que Aaron vê o nascimento do andróide, há um fechar de ciclo.
O passado, presente e futuro daquele planeta, girando em torno de seus homens-máquina. Claro que, mesmo esta perspectiva é uma simplificação, já que desconsidera outros agentes importantes na luta por dominância nesse contexto: Inumanos, Atlantes, Deviantes, Eternos, a nação Vampira, além dos "imigrantes" vindos de outros planetas ou mesmo dimensões e que fizeram da Terra a sua morada.
O olhar de Aaron então, deixa o passado e foca no presente diante dele. Os Inumanos retornando para seu mundo de origem.
Uma América quebrada, consumida pela apática e lenta morte decorrente do capitalismo tardio, simbolizada não apenas pela grotesca figura do líder eleito daquela nação, Norman Osborn, mas por seu campeão. O homem conhecido como Capitão América.
O sentinela da Liberdade aparece em uma cena que representa sua luta perpétua, seu pathos, sua razão de existência: um homem sozinho, contra o pensamento-colméia do fascismo. Um fascismo que, como é típico dele, coisifica. Torna tudo que toca em um monstro sem forma, sem individualidade, sem agência e poder. Uma coisa que apenas existe, que entregou qualquer poder ativo pela comodidade de fazer parte um grupo. Sem vontade própria, sem emoções. Vivendo pela propagação das próprias crenças, como uma idéia-vírus.
Depois de décadas e décadas de guerra contra o fascismo, de guerra contra homens malignos tentando subverter o mundo à suas crenças e, paradoxalmente, de guerra contra "guerras", mesmo Rogers se vê exausto, quase cedendo ao pensamento-colméia.
Homem ou Super-homem?
"Qual o propósito da guerra se a paz for uma impossibilidade?"
A América de Earth X é um país distante do sonho do Capitão América. E como tal, o personagem se mostra um fragmento de um passado morto. Um sonho que se assemelha a imagem que temos de nossa passagens oníricas noturnas quando já acordados: sombras, memórias de memórias que nunca existiram. Vislumbres. Pedaços de um caleidoscópio partido em mil pedaços.
Steve Rogers é um homem demolido não apenas pela passagem do tempo, mas por ter se ancorado em um sonho de América que nunca existiu. América. A terra da liberdade e casa do 1%.
Sob o olhar perturbado de Stack, descobrimos que o Duende Verde transformou o país em seu quintal pessoal onde, a partir do poder eleito, transformou o país em uma subsidária da Oscorp. Onde famintos vivem apenas para trabalhar e sobreviver das migalhas que a elite "misericordiosamente" lhes joga de tempos em tempos. (Ainda bem que é só ficção).
"Homens não são feitos de pedra ou aço, mas barro, moldado pelas mãos da experiência".
Não existe sonho que sobreviva diante da fria realidade. Mudar ou morrer. Se adaptar ou ser deixado para trás.
Rogers fez sua escolha e agora, paga por ela. E o mundo inteiro com ele.
A fantasia segue. Vingadores robôs. Cores que se destacam diante de um contexto pétreo e vazio.
Sombras, sonhos de um passado que homens velhos tentam manter preso em âmbar. Gigantes mortos.
"Desesperai, ó grandes, vendo as minhas obras".
Arte e roteiro se juntam maravilhosamente contando o paradoxalmente sereno e cacofônico lento morrer daquele mundo.
"an end..."
segunda-feira, 22 de maio de 2023
The Vitamin D Diaries #01
A culpa, como normalmente ocorre, não foi minha.
Eu fui fazer meu check up anual como de praxe. Foi a médica que disse: "tu precisas tomar sol".
Aparentemente, meu estoque corporal de Vitamina D tá baixo. Tô tomando um suplemento caríssimo (peguei na promoção, mas o preço cheio das duas caixinhas passa de 200 conto) pra tentar corrigir.
Stella, no entanto, foi enfática: "sol é de graça".
Obviamente vocês conseguem enxergar o escárnio nessa frase. Eu? Tomar sol?
Eu sou praticamente um vampiro. No entanto, okay... regras do jogo. Aquilo de limões e limonada e tals.
30 minutinhos ao sol, 4 vezes por semana.
E pra não morrer de tédio - se a possibilidade de entrar em combustão espontânea não acabar comigo antes - minha companhia habitual: música.
Como estamos na era da criação de conteúdo, decidi compartilhar minhas listinhas de música diárias com vocês. Nunca passando de 30 minutos.
The Vitamin D Diaries. Porque, ainda que eu odeie admitir, o fato é que um pouquinho de sol e música boa não fazem mal pra ninguém.
domingo, 21 de maio de 2023
sexta-feira, 19 de maio de 2023
Monster Mash #62: "Sério, eu ODEIO coaches, dude..."
Monster Mash novinha proceis.
Tinha um daqueles meus textos surreais prontinhos na minha cabeça pra postar aqui.
Infelizmente, cometi o erro de ver um vídeo react com um desses gênios de adm. financeira e agora eu tô puto, naquele estado de espírito que tu ganha de perfect no Street Fighter sem se esforçar, que tu capricha no Brutality em MK. Naquele estado em que tu faz o dobro na esteira, na metade do tempo, só movido pela força do mais puro ódio.
Então é isso. Fucking coaches, dude...
Monster Mash da semana: $uicideBoy$, Nine Inch Nails, Ladytron, Madvillain, Ludmilla, Idris Elba, Klaxons e mais uma pá de gente.
Dá o play e seja feliz.
E se hidratem. Porque é importante. Pedra nos rins é sinistro, guris. Não que eu tenha.
E sabem porque eu não tenho? Exato. Porque eu me hidrato, ímpios.
Enfim, hasta.
quinta-feira, 18 de maio de 2023
The book is on the table: "Cais do porto", "Janelas" e "It's lonely at the center of the earth".
"Cais do Porto" por Brendda Maria
Cacete, desculpem o tio por abandonar o formalismo que lhe é típico, mas PQP que coisa boa que é ler um gibi nacional com diálogos orgânicos, que soam como gente de verdade conversando.
Por algum motivo, durante anos, autores nacionais adotaram a norma culta de diálogos como regra e aí você tinha personagens em toda sorte de cenário, interagindo entre si com frases cheias de formalismo e erudição.
De uns anos pra cá, depois do BOOM da nova geração de hqs nacionais, pessoal decidiu abandonar esse dogma e agora, direto, vemos gente falando como, veja só, gente de verdade.
E se, normalmente, isso já seria algo legal, aqui, especificamente no caso de "Cais do Porto", isso é um aspecto fundamental para podermos imergir na trama, já que ela é um exemplo de "slice of life". Ou seja, são histórias que tem como intenção mostrar o realismo cotidiano em toda sua "mundanidade", a vida sem fantasias grandiloquentes e toda a beleza da existência rotineira.
Fazendo um reducionismo grosseiro, "Cais do Porto" de Brendda Maria (roteiro e arte. E aliás, que arte linda. Me lembrou o traço de gibis da Boom! Comics como as adaptações de "Stephen Universe" e "Bee & the Puppycat". Tons e cores conferindo um aspecto onírico pra coisa) é sobre duas amigas conversando durante uma viagem de ônibus. Simples assim.
Mas nunca é simples assim, certo? Porque todo mundo que já pegou busão sabe que, as vezes, você cai de para-quedas no meio de uma conversa entre estranhos e você se pega morbidamente interessado, quase como se tivesse chegado no meio de um filme. Em todos esses anos de usuário de ônibus aqui em SP, eu já testemunhei um sem número de fins de relacionamento, DRs tensas e sessões de descarrego emocional, lá, sentadinho, tentando só voltar pra casa.
Em determinado episódio, terminei testemunhando o motorista calmamente descendo do veículo pra ir cobrir um sujeito de porrada. Pra quem tem que trabalhar e passa uma grande quantidade de tempo dentro de transporte público, essas viagens acabam também sendo uma parte importante do seu cotidiano e os eventos lá dentro podem, de vez em quando, moldar seu dia.
Na trama, Clara e Gi, amigas de faculdade, se reencontram depois de um tempo distantes e botam a conversa em dia. A partir dessa premissa simples, seguimos com esse grupo de personagens. Literalmente, porque é um ônibus lotado, mas figurativamente também, porque, afinal, não são só as duas, mas também é o resto do pessoal com quem elas estudavam, é a família da Gi, a irmã e a avó da Clara, o vendedor informal fazendo os corres dele, a equipe produzindo o game junto com Clara. E a cidade de Fortaleza, um personagem em si.
Acompanhamos as duas e aí.... a história acaba abruptamente. E eu adoro isso porque, novamente, é como é na vida real. Estamos ouvindo um diálogo de pé de ouvido, interessados, mas aí um dos interlocutores precisa dar o sinal, ou o ônibus chega no ponto final, ou é a NOSSA hora de dar o sinal pra descer, e terminamos sem saber como a vida daquelas pessoas se desenrolou. Somos roubados de nossa catarse.
O casal vai continuar junto? O cachorrinho dodói conseguiu ficar bem depois da operação?
Eu lembro que, certa vez, voltava do trabalho, na época que morava lá na Vila Carrão e estava indo pro Shopping Aricanduva, onde ficava a Smart Fit em que treinava. No caminho, em meu acento, estava vendo "Omega vs Okada" no Wrestle Kingdom 11. Aí, passa o McDonalds que eu usava como referência e era hora de dar o sinal, quando eu me viro e noto pelo menos umas 5 pessoas olhando a tela do meu celular, interessadíssimas em saber se Kenny finalmente venceu o Rainmaker ou não. Provavelmente pessoas que nunca tinham visto wrestling, mas estavam encantadas com a narrativa diante de seus olhos. E da mesma forma, eu roubei a catarse delas, descendo antes da conclusão do combate.
A vida é assim, né?
A edição da Conrad traz uma segunda história curtinha, onde testemunhamos duas outras amigas conversando em uma cafeteria aqui em SP.
E pro caso de você estar se perguntando "porque isso é interessante?", a resposta é: porque adoramos histórias e personagens com os quais nos relacionar. E problemas cotidianos são universais.
Eu nunca vou matar um dragão ou tentar dominar o mundo.
Mas eu sei como dói ter que ir dormir se preocupando com um ente querido que está em um hospital se tratando de algum problema. Eu sei como é me sentir distante dos amigos e, ocasionalmente, de quem eu queria me tornar, por causa da vida e da necessidade de pagar contas.
"Cais do Porto" é muito sobre nossos pequenos mas imensos épicos cotidianos, em todo seu aspecto igualmente ordinário e majestoso.
E você sabe que um slice of life foi bem sucedido quando, ao final, você se pega pensando nos personagens como se fossem amigos com quem perdeu contato porque... bom... novamente, a vida, né?
Espero que Clara e Gi estejam bem.
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"Janelas" por Vinícius da Silva
Vivemos filtrando o mundo através de janelas.
Desde as que temos em casa ou no trabalho, até as imateriais. A tela da sua tv, celular e notebook. O seu olhar restringido pelo frame dos óculos, como diria Win Wenders no doc. "A janela da alma".
Janelas, além de um canvas animado, é uma válvula de escape. Hey, minha vida teria sido bem mais miserável se, durante as aulas no ensino médio, eu não pudesse ignorar as vozes dos professores e demais crianças na sala e ficar olhando pela janela por horas a fio, imaginando cenários fantásticos e devaneios surrealistas.
A janela filtra o mundo. Impede o som de entrar. Reflete. Tal qual um espelho. Vemos o mundo e nos vemos refletido nele.
"Janelas", de Vinícius da Silva (roteiro e arte), é sobre isso. Sobre a jornada do nosso olhar indo em direção à janelas e sobre o que vem refletido. E sobre como aquilo que nós escolhemos observar diz algo a respeito de nós mesmos.
Na trama, um personagem sem nome, chamado apenas de Anônimo, conversa com um programa de computador, uma inteligência artificial aos moldes da Siri ou Alexa. Demonstrando intenções de se matar, o programa, chamado Atena, decide interceder. Ela grava todo o diálogo e transmite internet afora. A lógica é que transformar a dor de seu interlocutor humano em fonte de entretenimento alheio - e capitalizar em cima disso - pode ser uma fonte de motivação para o protagonista.
Diante de um público igualmente fascinado e enojado, em constante estado de atenção crescente, o protagonista passa a se degradar de formas mais e mais grotescas, sempre visando manter o olhar daqueles que parecem horrorizados mas que são incapazes de olhar para o outro lado enquanto incentivam, sedentos, por mais e mais.
Esse tema já foi tratado várias vezes na ficção - um dos momentos mais recentes foi naquele episódio das abelhas de Black Mirror - mas eu gosto muito de como essa hq em 3 capítulos o desenvolve.
É curioso, inclusive, pensar que eu li isso em um momento onde, sem citar nomes para não parecer que eu mesmo estou tentando milkar a mais recente trend virtual, uma treta entre web celebridades sobre identidade e super-exposição com tons macabros é um dos assuntos mantendo os ratinhos correndo em sua roda giratória conceitual. Relevante como nunca.
A verdade, no entanto, é que uma história dessas SEMPRE vai ser relevante. Crescemos vendo programas sensacionalistas que exploravam a dor alheia. Diabos, o "aqui agora", jornaleco que é o avô dos "Cidade Alerta" da vida, teve que LITERALMENTE mostrar uma pessoa dando um tiro na própria cabeça para que, finalmente, alguém olhasse e dissesse "olha, vocês foram longe demais". Eu me lembro de, em outra ocasião, o programa encerrando e, enquanto subiam os créditos, eles reprisavam - sim, mostravam DE NOVO - a cena de um homem enquanto ele agonizava, depois que capsulas de cocaína que ele trazia no estômago estouraram.
A internet e sua pulsão de morte coletiva são só a versão tecnologicamente atualizada disso. Suicídio coletivo em 4K, Ultra High Definition. Onde pagamos pela nova oportunidade de ver terceiros se jogando abismo adentro, para nossa diversão.
A arte de Vinícius transmite bem o tom onírico que a história quer passar, como se a janela sob a qual a vemos estivesse em um não-espaço entre o mundo real e o virtual, entre a percepção de fato daquele cenário e a forma com a qual Anônimo a interpreta. E também como se transitássemos entre o NOSSO olhar de leitor e a forma como Atena testemunha aquele show de horrores.
Eu falei dos diálogos realistas comentando sobre Cais do Porto e aqui ele também orbita entre dois mundos, alternando entre norma culta e coloquial só que aqui, por causa do tom da trama, funciona perfeitamente, conferindo tons meio operísticos para o negócio. Tanto pela arte quando pelos diálogos e também pelo tom depressivo da história, ela me lembrou muito do estilo do Mutarelli (e é um crime que, em quase 15 anos de blog, acho que essa é a primeira vez que menciono um dos meus artistas nacionais favoritos aqui. Precisamos fazer algo a esse respeito, não?).
Depois de um momento de alívio, a história retoma o tom niilista, o que nos conduz a seu catártico final onde o autor não tem pudores de apontar o dedo na NOSSA cara e nos perguntar, através da trama, a respeito do nosso papel nessa cadeia produtiva demoníaca. Afinal, se não tivesse ninguém constantemente interessado e esperando uma escalada nos eventos e na degradação nessas tretas, elas existiriam? A tal história da árvore caindo na floresta sem ninguém perto pra ouvir o estrondo...
Não, não seremos perdoados. A culpa disso também é nossa, por transformarmos o mundo em um gigantesco programa do João Kleber em tempo real. Novamente, janelas libertam, mas elas também refletem.
Se a fonte do seu entretenimento vem da dor do outro, da destruição do outro, o que isso diz a seu respeito?
As monstruosidades que você vê na janela são as de um mundo tentando te manter amortecido através do choque ou são partes da sua própria monstruosidade, que você está apenas regurgitando de volta?
Aquela janela é um portal ou um espelho?
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"It's lonely at the center of the earth" por Zoe Thorogood
Pode ser a melhor história do mundo, mas a forma como um artista decide narrá-la é o que vai separá-la entre ser "um clássico" ou "mais do mesmo".
"It's Lonely at the center of the earth" é uma história auto-biográfica sobre uma artista tentando criar sua próxima obra depois um grande sucesso e, ao mesmo tempo, tendo que lidar com depressão clínica. Agravada depois que uma viagem para divulgação de seu novo trabalho é cancelada em virtude da pandemia.
É isso. A magia dessa obra vem exatamente do como Zoe Thorogood (roteiro e arte) decide registrar sua história pro mundo.
Poderia ser algo enfadonho. Já vimos essa história ser contada de forma "linear" tantas, e tantas, e TANTAS vezes. Desde cine-biografias extremamente formulaicas até outros quadrinhos. "Blankets", por exemplo, é um quadrinho que eu acho extremamente enfadonho por ser uma biografia contada da forma mais comum, linear e desinteressante possível.
O que Zoe faz aqui, no entanto, é usar o fato de ser um gibi para, usando de aspectos típicos dessa mídia, como a arte, distribuição de quadros na página, quebra de linearidade temporal, metalinguagem, entre outros, fazer uma trama de fortes tons impressionistas, mostrando como ELA lida com tais questões, quase como se tivéssemos acesso a um portal - ou janela - pra dentro da mente dela.
E novamente: parece um problema ordinário. Mas nós nos identificamos na universalidade da dor dela.
Eu, Hak, The Bear, eu SEI, OBJETIVAMENTE, como é tentar fazer algo criativo em um momento em que você está sentindo dor. Ou pior, não está sentindo absolutamente nada. As auto-cobranças, o peso da responsabilidade...
"Como assim você está com bloqueio criativo? Filho da pu**, tu acha que o pedreiro levantando 50kg de saco de cimento nas costas no sol tem bloqueio criativo????"
Zoe poderia fazer o que quisesse com a própria dor. Que ela tenha transformado sua batalha contra a depressão em arte é digno de aplausos. E arte confessional. Zoe não é gentil com ela própria.
Li uma crítica desse gibi se referindo a ele como "egoísta e excessivamente auto-centrado" e, mesmo desconsiderando que é uma AUTO-biografia, acredito que a própria autora concordaria com o comentário. Sim, é centrado nela. Mas é universal. E cria pontes, conexões com quem vive com dores parecidas. E faz isso de formas tão inventivas que mesmo nos momentos mais cotidianos, tu se pega maravilhado com o quanto aquilo é representado de forma visualmente bonita.
E dolorosa. E encantadora. E as vezes, enervante (eu tenho depressão e mesmo sabendo que não é culpa minha, eu sei o quanto pode parecer irritante pra quem tá de fora. E honestamente? Não tiro a razão de ninguém que pensa assim).
Mas nesse caso? Acima de tudo? Sublime. E única.
Esses dias o Eisner anunciou seus indicados para o prêmio americano dos Quadrinhos e, surpreendendo a absolutamente ninguém, Zoe está entre os indicados. Na verdade, liderando o número de indicações com "It's lonely...".
Tudo que eu posso dizer? Merecido.
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É isso crianças. Hak tá indo nessa.
Volto pra falar de mais gibi assim que tiver lido mais coisa legal.
Fiquem bem.