Ultranave Randômica Senciente Omniversal |
A editoria da Marvel, vendo o rebuliço, decidiu que dava pra milkar essa vaca. Conversas rolaram com Ross que se interessou pela idéia de se aprofundar nesse mundo, contanto que ele não precisasse fazer o roteiro ou as artes. De fato, o artista terminou fazendo apenas as artes de capa da série e de suas sequências. Na parte mais laboral do trampo, ficaram Jim Krueger nos argumentos e John Paul Leon na arte.
E o resto é história, publicada entre Março de 99 e Junho de 2000. Com o sucesso, Universo X foi publicada no ano seguinte, com a parte final da série, Paraíso X, saindo em 2003.
A idéia, sejamos honestos aqui, era imaginar como seria o Kingdom Come da Marvel. "E a história é tão boa quanto Reino do Amanhã?", você me pergunta, kemosabe.
Não. E sim. Mas não. Mas em alguns momentos, sim. No final, é algo MUITO diferente, apesar de partir da mesma premissa. Muito distinto em tom e na estrutura do storytelling, em como quer contar essa história.
Earth X tem idéias bem interessantes, com uma boa execução, mas o ritmo pode ser meio cansativo. Apesar de vermos os eventos diretamente, eu diria que na maior parte do tempo, testemunhamos a guerra entre Steve Rogers e o novo Caveira Vermelha, as ações de Reed Richards e a chegada de uma ameaça espacial como jamais vista, através de diálogos entre Uatu, o Vigia, e Aaron Stack, o X-51. Eu entendo que isso, esse volume de exposição, pode ser meio over the top, mas eu gosto de imaginar que o ritmo e o estilo de narrativa são pra acentuar o aspecto ao mesmo tempo documental e teatral dos eventos que estamos assistindo. De fato, Aaron e o Vigia estão assistindo ao "documentário em tempo real" narrando o fim da Terra 616. O que vai diretamente em direção ao tema principal da série: ação vs passividade. Registrar histórias como um observador imparcial ou se tornar um agente da História, essa com H maiúsculo, ao invés de simplesmente reagir a ela? É aquela metáfora do documentarista na selva, vendo um predador espreitando sua presa. Fazer algo pra salvar o bichinho, acabando com qualquer perspectiva de isenção enquanto observador daquele espaço ou só deixar a natureza seguir seu curso, se abstendo de qualquer tipo de julgamento moral a respeito dos eventos documentados?
Recentemente, a Marvel lançou um prequel para a série, Marvels X, que mostra como aquela versão do universo 616 chegou no estado distópico que chegou.
Ainda não li Marvels X, mas pretendo pegar um dia. Se prestar, eu comento aqui.
Por hora, no entanto, vamos falar de Terra X. This is how the world ends.
EARTH X Nº0
Certo dia, Aaron Stack acordou de sonhos intranquilos. Mas, ao contrário de Gregor Samsa, o rapaz não haveria por que temer perder a própria humanidade ou que seu corpo adotasse formas inumanas.
A metamorfose ocorrendo neste momento, seria conceitual e, de certa forma, coletiva, compartilhada com a raça com a qual tenta conviver em paz.
Uma porta que vai leva-lo para o infinito. Despido de sua aparente humanidade, mas escolhido exatamente pelo aspecto real que ele carrega consigo.
"I don't have the eyes of my father"
Depois do mergulho nas trevas, Aaron se vê diante de uma "deidade" cega, um vigia incapaz de enxergar e precisa tomar seu lugar como o par de olhos que registra os eventos diante dele.
Vigia "morto", vigia posto.
"I got eyes but I'm not a watcher" |
A partir daí, o time criativo nos leva pela mão para assistirmos algumas centenas de milhões de anos da Terra 616. Quando Deuses criaram a humanidade. Quando anos depois, a julgaram indigna.
Quando retornaram pela terceira vez e encontraram guerra e, finalmente paz. O resultado de seu trabalho, no entanto, já apresentava sinais de vida. A semente Celestial, parte estrutural das espécies que caminham pelo terceiro planeta do sistema solar.
"why do you show me this?"
"the celestials are evil".
Quando a faísca potencial que os celestiais implantaram na humanidade começaram a finalmente queimar, a humanidade se viu invejosa. "prego que se destaca leva martelada".
Algo sobre a grama do vizinho ser mais verde...
Se uma árvore cai na floresta enquanto ninguém está perto pra ouvir, ela faz som?
O gato da caixa de Schroedinger está vivo ou morto?
Uma história ocorre de fato se não houver pelo menos um par de olhos para testemunhá-la e passar tais eventos adiante para que possam correr mundo afora?
Enquanto houverem eventos extraordinários acontecendo naquela Terra, é preciso que haja uma testemunha para se emocionar com as aventuras de tais maravilhosos gigantes.
É preciso público, é preciso um leitor, é preciso um observador.
É preciso um Vigia.
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