terça-feira, 14 de maio de 2019

Nada a ver com nada, mas... (uma reflexão completamente solta sobre GoT)


Tô achando fascinante as reações ao episódio passado de Game of Thrones, vcs não? De um lado, galera criticando o desenvolvimento de personagens. Do outro, gente criticando o ritmo da série. No meio, gente no meio do caminho. E em todos os lados, gente falando que os livros vão ser melhores.
Eu? Fico no segundo grupo. Acho que a série cometeu uns pecados meio feios e tomou umas liberdades esquisitas, aqui e ali. Mas nem tanto ao céu, nem tanto à Terra. 
Eu li alguém dizendo que o problema com as reações do fandom é que parte dela acha que é errado pintar a Daenerys como uma pessoa ruim por "N" razões: pq ela foi abraçada como ícone feminista, pq nega a natureza da personagem, pq serve apenas pra "heroificar" Jon Snow e os cacetes. Obviamente isso tudo é bullshit. Ou pelo menos as duas primeiras razões. A terceira, realmente um rumo ruim em todos os aspectos, só vamos saber se é real ou não ao final dos 80 minutos do episódio final da série, a ser exibido semana que vem. 
Quanto ao lance da conexão das pessoas com a Dany: bom.... quem mandou abraçarem o negócio cedo demais? Eu tb, ia fazer até tatoo de Supernatural pq "não tinha como a série ficar ruim". Até o momento em que ficou. 
Sobre a negação a natureza da personagem: bom, nenhum rei presta em GoT. Nem regentes, pra ser honesto. Nem Ned Stark se salva, já que o pecado dele foi a omissão e o fato de querer jogar pelas regras do "good guy". "Temam os sinceros, pois não terão medo de te machucar pra que possam se manter limpos", saca?
Sei lá, confesso achar todo esse processo fascinante, já que desde o fim de Lost não me lembro de ver algo dessas proporções. Talvez, TALVEZ, Breaking Bad, mas fico com minhas dúvidas. 
O ponto é que eu tenho que ser coerente e desde o meu texto sobre Secret Empire, eu defendo essa bandeira: nenhuma idéia é ruim e nenhuma idéia, na arte, deveria ser rechaçada antes de poder ser devidamente executada. O que se pode criticar é a execução. Não o "o que", mas o "como". 
Confesso que eu gosto do rumo que a série tá tomando e, tendo lido até o quarto livro, preciso dizer: tenho certeza que isso é canon mesmo. Vai estar lá nos livros quando - e se - saírem. Pq isso é muito George Martin, manja? A subversão do papel do herói - ou da heroína - e a revelação de que estivemos torcendo pro lado errado o tempo todo. Aliás, antes, disso, que torcer pra alguém no tal do "jogo dos tronos" era errado desde o começo, já que o problema não são e nem nunca foram os players mas o jogo em si. Poder corrompe e poder absoluto corrompe absolutamente. O melhor governante que vcs puderem lembrar, se caçarem, o cara fez algo de ruim que mancharia uma visão mais "moral e ética" dele. Um líder governa pra todos e pra poder liderar, precisa ser apoiado por um monte de gente. Incluindo um monte de gente escrota e isso pq gente escrota tb quer coisas e se articula pra poder pedir tais coisas politicamente. Taí, só pra me restringir à política brasileira, a bancada ruralista, a bancada da bala e a evangélica que não me deixam mentir. São as regras do tal do jogo. Se vcs viram aquele filme maravilhoso, o "Obrigado por fumar", vcs tem uma noção de como isso funciona na política norte-americana. 
A mensagem da série é bem essa, de que poder corrompe. Com todas as falhas do sistema democrático, pelo menos existem poderes regulatórios controlando o principal governante para impedir que num acesso emocional, ele "faça a Daenerys", grite Dracarys e saia tocando o terror. Pessoas são falhas e, num sistema monárquico absolutista, "L'État, c'est moi". O estado É o rei. E reis erram. Já vi também leituras ótimas de como a Khaleesi NUNCA foi uma heroína, reproduzindo a atitude típica de toda nação imperialista que já existiu. 
Enfim, meu ponto aqui é: tô achando maravilhoso ver as reações. No meio da chorumada tipo "não podiam ter feito isso" e "mataram Game of Thrones", tu acha uns textos bem legais - alguns com os quais concordei, outros não - debatendo os rumos narrativos da série. O quanto isso tudo vai ser canon nos livros, não dá pra saber. Quais vão ser os erros e acertos dessas obras, menos ainda (e vale um lembrete: todo mundo fala dos erros da série e não tenho como discordar da maioria das críticas. Só me incomodo um pouco quando vendem os livros como a salvação da lavoura e como são maravilhosos e os cacetes e isso pq a série tomou algumas liberdades bem positivas, aqui e ali, em comparação à fonte original, cortando algumas gorduras, limando alguns personagens desnecessários e ignorando algumas barrigas da escrita de Martin - o que inclui ignorarem quase totalmente tudo que rolou no quarto livro, o que é muito acertado já que o volume 4, o "Festim dos corvos" é fácil, FÁCIL, o maior desperdício de papel que eu já encontrei em minha "carreira" como leitor). Mas, como mensagem, macro-tema da série como um todo, os realizadores da série parecem ir de encontro ao que Martin reserva aos leitores no final do livro seis. 
Citando as hienas do Rei Leão: que morram os reis. 

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