terça-feira, 25 de agosto de 2020

Better living through circuitry



Assistir esse documentário foi uma experiência ligeiramente agridoce. Não exatamente nostálgica, porque eu nunca fui exatamente um frequentador de raves, principalmente considerando que eu morava numa cidade do interior de São Paulo quando cheguei na idade em que isso era um trending. Mas lá por 1999, quando finalmente pus minhas ursídeas patas num computador conectado a internet e fui apresentado ao "Napster"? Aí sim, me tornei um grande consumidor de música eletrônica, indo além do que me era ofertado pelas rádios FMs disponíveis. O que era um interesse superficial foi se aprofundando conforme tive acesso a compilações de gêneros. Vir para São Paulo e ter MTV a disposição, com programas especializados no gênero como o saudoso AMP, só me permitiu me aprofundar ainda mais no estilo - inclusive, finalmente, frequentando minha primeira festa onde a música eletrônica era protagonista. 
Então, sim, existe um elemento de nostalgia aqui sim. Mas claro, porque afinal, eu não consigo manter alegria por grandes períodos de tempo, vem a descida e a trip vira uma bad. 
O documentário abaixo, pegava o começo do fim. Tudo parecia que ia crescer e os limites pareciam ir para direções maravilhosamente imprevisíveis e estranhas e aí... Aí veio o que ocorre com todo movimento de contra-cultura: o homem branco hétero rico demonstra interesse, absorve os elementos mais superficiais da cena e a transforma num pastiche dela mesma. 
Para quem for se aventurar pelo documentário, percebam como a maioria esmagadora dos djs entrevistados responde pelo nome artístico. O movimento dance/techno/raver era marcado pela iconoclastia, por ir contra a idéia do culto à imagem.
Corta para o pós 2000 e o que temos: djs milionários. Músicas que, como celebração à uma cultura, são excelentes temas de fundo para comerciais de margarina e para a "festa da firma". E um público que simplesmente não dança e se satisfaz simplesmente pulando, balançando os braços enquanto olham para o palco enquanto o dj faz...... faz.... nada?
Exato. 
Aconteceu com o punk - que foi deformado até virar Emo - e o rap - nos piores momentos do hip hop de ostentação. Vai acontecer de novo e de novo porque, afinal, esta é a natureza da besta. 
Mas não é por isso que não vou lamentar. E sim, eu sei que tem muita gente que sobreviveu a esse processo de assimilação e continuam "lutando o bom combate" com sua integridade artística intacta. 
Como também existe no punk, no rap, no rock e em qualquer gênero de arte que surge como algo subversivo. 
Mas ver o documentário registrando um momento muito específico dentro da cena me fez pensar no que poderia ter sido. E eu sei, "a grama do vizinho é sempre mais verde".
E afinal, uma das melhores características da contra-cultura é seu elemento mercurial. O punk foi anti-sistema até se tornar parte dele. O jazz e o rock antes dele. O techno e o rap, depois. Mas sempre que o $$$istema pensa que finalmente enjaulou a rebeldia, ela acha um ponto de escape e se torna algo novo e bizarro, que vai lhe causar asco até Ele perceber como pode capitalizar em cima disso, o que vai causar a diluição dessa rebeldia e sua inevitável transformação em algo novo. Tentar conte-la é como segurar areia, como tentar conter o ar com as mãos. 
Não dá para parar tais movimentos. Não dá para controlar ou prever de onde eles vem.
You can't stop the beat. 

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