Okay, acabei de terminar a leitura do segundo volume de Criminal e preciso dizer: não é comum arte me pegar de guarda baixa. Depois de algumas décadas consumindo histórias com a mesma voracidade de um junkie atrás do novo pico, você desenvolve certa "calosidade" que te deixa supostamente "esperto" diante de novas narrativas, principalmente se elas se inserem num nicho teoricamente tão específico como é o noir. No entanto, Brubaker e Phillips pegam minhas expectativas com a continuação da série e as subvertem de um modo bastante satisfatório: o que eu achava que seria uma antologia com contos completamente independentes na verdade se mostra como um universo com algumas raras conexões ligando tudo. Além do bar Undertow, que foi palco de um momento particularmente importante no primeiro volume, "Coward", temos também a revelação do destino de Leonard, protagonista do TPB, após os eventos ocorridos ao final daquele arco. Se tais conexões vão ser importantes no futuro de Criminal ou não, só vou saber com a devida perspectiva histórica, mas estou bastante curioso com como a série vai se revelar no futuro, como esse universo aparentemente maior do que a mera soma de suas partes vai parecer quando tivermos a "imagem completa".
Mas, isso posto, "Lawless" é bem mais do que apenas as referências ao primeiro volume. Desta vez, acompanhamos a história de Tracy Lawless, um ex-soldado em desgraça, prestes a deixar a penitenciária aonde foi abandonado depois de 18 meses decorrentes de algum escândalo militar do qual, inicialmente, não temos muitos detalhes. Em liberdade, o protagonista cria uma nova identidade e vai atrás do(s) assassino(s) de seu irmão mais novo, Ricky. No caminho, ele vai se envolver numa trama sobre ladrões, amor, dinheiro falso e pecados passados.
Falemos novamente sobre perspectiva: Alguns temas maiores que compunham a história anterior se repetem aqui. O papel de pais e como parte das escolhas ruins dos personagens principais de ambos os arcos vem como consequência da ação de patriarcas ausentes ou, pelo menos, com uma moral questionável.
"A fruta não cai longe da árvore", de fato. Leonard e Tracy tem em comum, o elemento de lutarem contra esta programação inicial que receberam de suas respectivas figuras paternas. Duas vidas inteiras lutando para saírem das jaulas onde foram enfiados por aqueles que deveriam protegê-los. Leo teve mais sorte que Tracy, mas no final, os efeitos foram parecidos.
Falo sempre muito sobre o impecável roteiro de Brubaker e a econômica mas extremamente competente arte de Phillips mas queria reservar um comentário sobre as cores do gibi: Val Staples faz um trabalho interessante ao usar as cores como elemento de identidade entre os dois arcos da série. "Coward" era, apesar de seus momentos de sombras, uma história mais diurna, que se permitia cores mais claras. Aqui, o preto, branco e cinza convivem com tons pastéis e cores mais neutras. Os únicos momentos de cores mais berrantes ocorrem exatamente em duas situações de revelações importantes. O amarelo do fogo ameaçador, os tons azulados de um flashback particularmente doloroso.
E, obviamente, o vermelho do sangue.
O final de Lawless é menos uma conclusão de fato e mais um "to be continued" a ser acompanhado nos próximos números da HQ e, sabendo disso, minha ansiedade pelas próximas edições aumentou, já que agora quero ver o que o universo em que se inserem guarda não apenas para os dois, mas também para os infelizes homens e mulheres que iremos conhecer. Um universo inclemente, como é o de qualquer história noir, mas onde pequenos fachos de luz parecem resistir. Se serão abraçados pela resiliente luz ou devorados pelas trevas, só o futuro dirá. Mas fico ansioso pela próxima vez que vou andar por aquelas ruas escuras com eles, temer pelos seus destinos e, ocasionalmente, rever alguma face familiar enquanto bebericamos whisky sob a fosca luz do Undertow bar.
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