Considerando os dois volumes anteriores de "Criminal" comentados aqui, é possível nos perguntarmos se as escolhas de vida dos seus protagonistas são fruto do contexto onde estes se inserem ou da criação que receberam Ou seja, que sendo produtos de pais criminosos, o resultado, inseridos no mesmo ambiente daqueless, era inevitável. Bom, o terceiro TPB da série, "The dead and the dying" vem não apenas para NÃO responder esta pergunta, mas para adicionar mais um grau de complexidade neste universo. Desta vez, dando um salto no tempo e nos levando para a geração anterior de clientes do Undertown, em 1972.
Ao contrário dos anteriores, que contavam histórias numa perspectiva de tempo linear, vemos as histórias de 3 pessoas: o boxeador Jake "Gnarly" Brown, Teegar Lawless e Danica Briggs. O foco salta por momentos distintos de suas vidas, mostrando situações chave onde suas jornadas se conectam e as consequências disso. Jake, antes de se tornar o barman do "Undertown", era o guarda costas de Sebastian Hyde, que vimos em "Lawless" como o grande capo local e o homem que termina empregando o protagonista daquele encadernado, Tracy. Teegar, como o sobrenome indica, é o pai de Tracy e Ricky. Danica, por sua vez, é uma stripper envolvida com Sebastian e Jake e que vai ter um trágico encontro com o patriarca da família Lawless.
O que vemos aqui é o puro creme do noir: pessoas envolvidas em situações impossíveis, tendo que fazer escolhas horríveis para sobreviver numa cidade que quer devorá-lo vivos. Escolhas essas que na maioria dos casos, tem consequências trágicas não apenas para esses indivíduos em si, mas para aqueles ao seu redor, estejam ou não dentro do "jogo".
Curioso notar os paralelos entre a primeira e a ultima história que fecha a revista: Se, por mais que as coisas pareçam sinistras, sabemos que podemos respirar relativamente aliviados porque temos ciência do que o futuro reserva para Jake, por outro, a história de Danica é literalmente a "crônica de uma morte anunciada" e, ainda assim, isso não nos impede de torcer por ela, mesmo sabendo o que o futuro lhe reserva (e creiam-me, mesmo num contexto como o de Criminal, a história dela é particularmente sinistra). Ainda assim, o texto de Brubaker e a arte de Phillips são bem sucedidos em nos levar a questionar se apesar de tudo, sua decisão está errada. Afinal, ela usou as armas que tinha para poder sobreviver naquela selva de pedra. Suas escolhas tem consequências macabras que vão marcar a vida de pelo menos duas gerações de personagens, mas ainda assim, por um tempo ela esteve no topo do mundo e nesse universo, isso é o mais próximo de um "final feliz" que ela pode conseguir. De fato, como ela mesma observa ao final da trama, morrer não é a pior coisa que pode lhe acontecer ali. Não seria, de fato, nem a primeira vez que alguém iria acabar com a vida dela, esta sendo uma sucessão de "mortes menores". Como o título deste arco entrega, dentro desse jogo, só existem dois tipos de competidores: os mortos e aqueles em vias de se juntarem a estes. "Memento mori"
E citando o pirata Long John Silver de "A ilha do tesouro", em alguns casos, "sortudos são os mortos". Jake Brown provavelmente concordaria com esta afirmação. Danica também e ela viveu sob esse prisma. E por um tempo, ela esteve certa. Até deixar de estar.
Mas como ela - e Leonard e Tracy antes dela - deixa claro, "ganhar" neste jogo não é "não morrer" até porque, spoiler alert: vamos todos.
Neste jogo, ganhar é se manter no topo pelo máximo de tempo possível antes da queda, é surfar a onda o quanto der, é sentar no trono e se manter nele o quanto você conseguir.
Se o final é inevitável, que pelo menos a jornada seja memorável.
Memento mori, de fato
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