segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Conversando com o Starman #15

Mais uma semana, mais 4 novos episódios da coluna para tentar jogar alguma luz sobre a vida dos senhores e oferecer certa iluminação ultra-pop advinda do labirinto fractal que foi a mente de David Robert Jones. 
E a música do dia vem de uma das fontes mais obscuras de sua discografia, um CD da trilha sonora de uma minissérie da BBC que pouca gente viu (eu, incluso). A música é "BLEED LIKE A CRAZE, DAD"



Contexto: Okay, esse vai ser um texto complicado para dar o devido entorno temporal já que ele é baseado numa série que não vi, adaptação, por sua vez, de um livro que eu não li. Mas nada que uma pesquisa no google não possa resolver: O livro, "The Buddha of suburbia", escrito em 1993 por Hanif Kureishi, narra o dia a dia de Karim, um adolescente crescendo na periferia de Londres no começo da década de 1970, ansiando por uma vida melhor. O rapaz, conforme a obra avança, vai conhecendo outras pessoas e se embrenhando na cena cultural inglesa da época. Num determinado momento, seu pai é abraçado pelas elites locais como um guru e vemos os conflitos que essa bizarra nova realidade vai desencadear no jovem. O livro foi bem sucedido, o que levou a conversas com a BBC sobre a adaptação dele para tv, resultando em uma minissérie em 4 episódios. Numa conversa durante a turnê do "Black Tie White Noise", Bowie e Kureishi discutiram sobre a possibilidade do cantor criar uma OST para a adaptação. Não é muito difícil imaginar Bowie empolgado com a idéia, já que o livro trata de temas que são frequentes em sua obra como a insatisfação com uma vida ordinária, os efeitos da fama, budismo, negação dos limites estabelecidos pela sociedade, conflitos geracionais, etc.. A primeira versão do disco não agradou o artista. Uma nova versão, agora com a parceria do músico turco Erdal Kizilcay, teria melhor resultado, resultando no seu lançamento em Novembro de 93. Segundo David Bowie, "The Buddha of Suburbia" é seu trabalho favorito.

Sobre a música: Este é um cd conceitual sobre um programa de TV que soma quase 5 horas de duração. Confesso que é um dos álbuns bowieanos com os quais não tenho muita familiaridade então não posso falar sobre como a faixa se relaciona com o resto do LP, mas a letra cita Hollywood, desejos materiais e motivos urbanos. Como dito no parágrafo anterior, esse é "mundo" de Karim no começo de "Buddha...": anseios e sonhos. Anseios por coisas materiais, por uma vida melhor, por estar imerso numa cultura e numa realidade e num conjunto de experiências que lhe são, neste momento pelo menos, distantes. 
O olhar é de estranheza e medo mas também de fascínio, sensação que vai soar familiar a qualquer guri ou guria de cidade pequena que já se viu sozinho no coração de algum grande centro urbano (como este que aqui escreve, por exemplo).



Como vai ser o seu dia: Nem tudo que reluz é ouro. Não tenha medo de se jogar em novas experiências mas tenha cuidado para reconhecer se aquele corpo brilhante à sua frente é a tal "luz no fim do túnel" arquetípica ou se, na verdade, é um trem vindo para cima de você. Lembrem-se dos contos de fada sobre o canto da sereia ou das histórias sobre os efeitos encantadores que as plantas carnívoras tem para suas presas. A cidade é uma selva cheia de predadores e você, uma vez nela, está no meio da cadeia alimentar. Agora, é "evolução ou morte". 

Frase do dia: "Living on a movie/All the Shirley/Charley films on film/Come together, party"

Nenhum comentário: