sábado, 29 de agosto de 2020

05

 


"I play my part on life's stage. I tell what I can to form the perfect answer
But that answer cannot come before all are ready to hear, so I tell what I can to form the perfect answer
Sometimes my anger at the fire is evident
Sometimes it is not anger, really – it may appear as such, but could it be a clue? 
The fire I speak of is not a kind fire."

#FireWalkWithMe

E agora, estamos prontos para continuar de onde paramos...

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

 


Rest in power, Haramu-Fal. 

04

 



"Even the ones who laugh are sometimes caught without an answer. 
These creatures who introduce themselves, but we swear we have met them somewhere before, yes? Look in the mirror. 
What do you see? Is it a dream, or a nightmare
Are we being introduced against our will? 
Are they mirrors
I can see the smoke
I can smell the fire. The battle is drawing nigh."

#FireWalkWithMe

Monster Mash - edição de improviso



Pro inferno. 
Só porque me deu na telha. 
Edição feita agorinha, menos de 5 minutos, só com as primeiras músicas que me vieram à memória.
Edição de festa, (quase) toda dançante, porque afinal, até eu preciso de uma folga da miséria que são nossos dias atuais. 
Já que não dá pra ir pra balada, só bota o som no máximo, arrasta os móveis e se joga. 




 




 


Derek Chatwood

quinta-feira, 27 de agosto de 2020


 

03

 


"There is a sadness in this world, for we are ignorant of many things. 
Yes – we are ignorant of many beautiful things. Things like the truth
So sadness in our ignorance is very real
The tears are real. What is this thing called a tear? There are even tiny ducts – tear ducts – to produce these tears should the sadness occur. 
Then the day when the sadness comes. 
Then we ask, 'Will the sadness which makes me cry, will the sadness that makes me cry my heart out, will it ever end?' 
The answer, of course, is yes

One day, the sadness will end."

#FireWalkWithMe

 


 


Criminal vol. 03 - "The dead and the dying"


Considerando os dois volumes anteriores de "Criminal" comentados aqui, é possível nos perguntarmos se as escolhas de vida dos seus protagonistas são fruto do contexto onde estes se inserem ou da criação que receberam Ou seja, que sendo produtos de pais criminosos, o resultado, inseridos no mesmo ambiente daqueless, era inevitável. Bom, o terceiro TPB da série, "The dead and the dying" vem não apenas para NÃO responder esta pergunta, mas para adicionar mais um grau de complexidade neste universo. Desta vez, dando um salto no tempo e nos levando para a geração anterior de clientes do Undertown, em 1972. 
Ao contrário dos anteriores, que contavam histórias numa perspectiva de tempo linear, vemos as histórias de 3 pessoas: o boxeador Jake "Gnarly" Brown, Teegar Lawless e Danica Briggs. O foco salta por momentos distintos de suas vidas, mostrando situações chave onde suas jornadas se conectam e as consequências disso. Jake, antes de se tornar o barman do "Undertown", era o guarda costas de Sebastian Hyde, que vimos em "Lawless" como o grande capo local e o homem que termina empregando o protagonista daquele encadernado, Tracy. Teegar, como o sobrenome indica, é o pai de Tracy e Ricky. Danica, por sua vez, é uma stripper envolvida com Sebastian e Jake e que vai ter um trágico encontro com o patriarca da família Lawless. 
O que vemos aqui é o puro creme do noir: pessoas envolvidas em situações impossíveis, tendo que fazer escolhas horríveis para sobreviver numa cidade que quer devorá-lo vivos. Escolhas essas que na maioria dos casos, tem consequências trágicas não apenas para esses indivíduos em si, mas para aqueles ao seu redor, estejam ou não dentro do "jogo". 
Curioso notar os paralelos entre a primeira e a ultima história que fecha a revista: Se, por mais que as coisas pareçam sinistras, sabemos que podemos respirar relativamente aliviados porque temos ciência do que o futuro reserva para Jake, por outro, a história de Danica é literalmente a "crônica de uma morte anunciada" e, ainda assim, isso não nos impede de torcer por ela, mesmo sabendo o que o futuro lhe reserva (e creiam-me, mesmo num contexto como o de Criminal, a história dela é particularmente sinistra). Ainda assim, o texto de Brubaker  e a arte de Phillips são bem sucedidos em nos levar a questionar se apesar de tudo, sua decisão está errada. Afinal, ela usou as armas que tinha para poder sobreviver naquela selva de pedra. Suas escolhas tem consequências macabras que vão marcar a vida de pelo menos duas gerações de personagens, mas ainda assim, por um tempo ela esteve no topo do mundo e nesse universo, isso é o mais próximo de um "final feliz" que ela pode conseguir. De fato, como ela mesma observa ao final da trama, morrer não é a pior coisa que pode lhe acontecer ali. Não seria, de fato, nem a primeira vez que alguém iria acabar com a vida dela, esta sendo uma sucessão de "mortes menores". Como o título deste arco entrega, dentro desse jogo, só existem dois tipos de competidores: os mortos e aqueles em vias de se juntarem a estes. "Memento mori"
E citando o pirata Long John Silver de "A ilha do tesouro", em alguns casos, "sortudos são os mortos".  Jake Brown provavelmente concordaria com esta afirmação. Danica também e ela viveu sob esse prisma. E por um tempo, ela esteve certa. Até deixar de estar.  
Mas como ela -  e Leonard e Tracy antes dela - deixa claro, "ganhar" neste jogo não é "não morrer" até porque, spoiler alert: vamos todos. 
Neste jogo, ganhar é se manter no topo pelo máximo de tempo possível antes da queda, é surfar a onda o quanto der, é sentar no trono e se manter nele o quanto você conseguir. 
Se o final é inevitável, que pelo menos a jornada seja memorável.
Memento mori, de fato 

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Nakamurawave

Eu tinha certeza de que já havia postado isso aqui antes, mas vi que minha memória me traiu. Depois de revirar os arquivos do groselha sem sucesso, só desisti e decidi posta-lo.
Não que seja nenhum sacrifício: estou revendo-o em looping e sem perspectiva de parar:


YeaOH!!!!!

Better living through circuitry



Assistir esse documentário foi uma experiência ligeiramente agridoce. Não exatamente nostálgica, porque eu nunca fui exatamente um frequentador de raves, principalmente considerando que eu morava numa cidade do interior de São Paulo quando cheguei na idade em que isso era um trending. Mas lá por 1999, quando finalmente pus minhas ursídeas patas num computador conectado a internet e fui apresentado ao "Napster"? Aí sim, me tornei um grande consumidor de música eletrônica, indo além do que me era ofertado pelas rádios FMs disponíveis. O que era um interesse superficial foi se aprofundando conforme tive acesso a compilações de gêneros. Vir para São Paulo e ter MTV a disposição, com programas especializados no gênero como o saudoso AMP, só me permitiu me aprofundar ainda mais no estilo - inclusive, finalmente, frequentando minha primeira festa onde a música eletrônica era protagonista. 
Então, sim, existe um elemento de nostalgia aqui sim. Mas claro, porque afinal, eu não consigo manter alegria por grandes períodos de tempo, vem a descida e a trip vira uma bad. 
O documentário abaixo, pegava o começo do fim. Tudo parecia que ia crescer e os limites pareciam ir para direções maravilhosamente imprevisíveis e estranhas e aí... Aí veio o que ocorre com todo movimento de contra-cultura: o homem branco hétero rico demonstra interesse, absorve os elementos mais superficiais da cena e a transforma num pastiche dela mesma. 
Para quem for se aventurar pelo documentário, percebam como a maioria esmagadora dos djs entrevistados responde pelo nome artístico. O movimento dance/techno/raver era marcado pela iconoclastia, por ir contra a idéia do culto à imagem.
Corta para o pós 2000 e o que temos: djs milionários. Músicas que, como celebração à uma cultura, são excelentes temas de fundo para comerciais de margarina e para a "festa da firma". E um público que simplesmente não dança e se satisfaz simplesmente pulando, balançando os braços enquanto olham para o palco enquanto o dj faz...... faz.... nada?
Exato. 
Aconteceu com o punk - que foi deformado até virar Emo - e o rap - nos piores momentos do hip hop de ostentação. Vai acontecer de novo e de novo porque, afinal, esta é a natureza da besta. 
Mas não é por isso que não vou lamentar. E sim, eu sei que tem muita gente que sobreviveu a esse processo de assimilação e continuam "lutando o bom combate" com sua integridade artística intacta. 
Como também existe no punk, no rap, no rock e em qualquer gênero de arte que surge como algo subversivo. 
Mas ver o documentário registrando um momento muito específico dentro da cena me fez pensar no que poderia ter sido. E eu sei, "a grama do vizinho é sempre mais verde".
E afinal, uma das melhores características da contra-cultura é seu elemento mercurial. O punk foi anti-sistema até se tornar parte dele. O jazz e o rock antes dele. O techno e o rap, depois. Mas sempre que o $$$istema pensa que finalmente enjaulou a rebeldia, ela acha um ponto de escape e se torna algo novo e bizarro, que vai lhe causar asco até Ele perceber como pode capitalizar em cima disso, o que vai causar a diluição dessa rebeldia e sua inevitável transformação em algo novo. Tentar conte-la é como segurar areia, como tentar conter o ar com as mãos. 
Não dá para parar tais movimentos. Não dá para controlar ou prever de onde eles vem.
You can't stop the beat. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

 


É engraçado porque é verdade...

Monster Mash #52 - "Onipotência para principiantes"



Como é que é?
Monster Mash por dois dias seguidos? Terá a ordem universal sido subvertida e toda a tessitura cósmica virá abaixo como consequência?

Em resumo: não.
O que eu posso dizer? Apenas tive uma semana mais musical do que de costume, o que rendeu material pra uma mixtape mais gordinha. 
É isso, ímpios. 
Já sabem como funciona: deem o play e abracem o mistério. 


                                        

Essa edição tem Poppy, Djonga, PIL, Propagandhi, Dropkick Murphys, Death Grips e Tears For Fears, entre outros. 
Divirtam-se

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

and now for something completely different...

 

#LoveThatDanhausen

Monster Mash: "Conversando com o Starman - Season 01"



Surpreendendo a absolutamente ninguém: As 22 músicas que compuseram a primeira temporada da seção oracular aqui do Groselha, organizadas para o desfrute dos senhores e senhoras 

So, sem mais delongas, e depois de um looongo hiato: 



quarta-feira, 19 de agosto de 2020

terça-feira, 18 de agosto de 2020

02


"Sometimes ideas, like men, jump up and say, 'Hello!'
They introduce themselves, these ideas, with words – are they words? 
These ideas speak so strangely. 
All that we see in this world is based on someone's ideas
Some ideas are destructive, some are constructive
Some ideas can arrive in the form of a dream. 
I can say it again: Some ideas arrive in the form of a dream."

#FireWalkWithMe

Criminal Vol 02 - Lawless



Okay, acabei de terminar a leitura do segundo volume de Criminal e preciso dizer: não é comum arte me pegar de guarda baixa. Depois de algumas décadas consumindo histórias com a mesma voracidade de um junkie atrás do novo pico, você desenvolve certa "calosidade" que te deixa supostamente "esperto" diante de novas narrativas, principalmente se elas se inserem num nicho teoricamente tão específico como é o noir. No entanto, Brubaker e Phillips pegam minhas expectativas com a continuação da série e as subvertem de um modo bastante satisfatório: o que eu achava que seria uma antologia com contos completamente independentes na verdade se mostra como um universo com algumas raras conexões ligando tudo. Além do bar Undertow, que foi palco de um momento particularmente importante no primeiro volume, "Coward", temos também a revelação do destino de Leonard, protagonista do TPB, após os eventos ocorridos ao final daquele arco. Se tais conexões vão ser importantes no futuro de Criminal ou não, só vou saber com a devida perspectiva histórica, mas estou bastante curioso com como a série vai se revelar no futuro, como esse universo aparentemente maior do que a mera soma de suas partes vai parecer quando tivermos a "imagem completa".
Mas, isso posto, "Lawless" é bem mais do que apenas as referências ao primeiro volume. Desta vez, acompanhamos a história de Tracy Lawless, um ex-soldado em desgraça, prestes a deixar a penitenciária aonde foi abandonado depois de 18 meses decorrentes de algum escândalo militar do qual, inicialmente, não temos muitos detalhes. Em liberdade, o protagonista cria uma nova identidade e vai atrás do(s) assassino(s) de seu irmão mais novo, Ricky. No caminho, ele vai se envolver numa trama sobre ladrões, amor, dinheiro falso e pecados passados. 
Falemos novamente sobre perspectiva: Alguns temas maiores que compunham a história anterior se repetem aqui. O papel de pais e como parte das escolhas ruins dos personagens principais de ambos os arcos vem como consequência da ação de patriarcas ausentes ou, pelo menos, com uma moral questionável. 
"A fruta não cai longe da árvore", de fato. Leonard e Tracy tem em comum, o elemento de lutarem contra esta programação inicial que receberam de suas respectivas figuras paternas. Duas vidas inteiras lutando para saírem das jaulas onde foram enfiados por aqueles que deveriam protegê-los. Leo teve mais sorte que Tracy, mas no final, os efeitos foram parecidos. 
Falo sempre muito sobre o impecável roteiro de Brubaker e a econômica mas extremamente competente arte de Phillips mas queria reservar um comentário sobre as cores do gibi: Val Staples faz um trabalho interessante ao usar as cores como elemento de identidade entre os dois arcos da série. "Coward" era, apesar de seus momentos de sombras, uma história mais diurna, que se permitia cores mais claras. Aqui, o preto, branco e cinza convivem com tons pastéis e cores mais neutras. Os únicos momentos de cores mais berrantes ocorrem exatamente em duas situações de revelações importantes. O amarelo do fogo ameaçador, os tons azulados de um flashback particularmente doloroso. 
E, obviamente, o vermelho do sangue. 
O final de Lawless é menos uma conclusão de fato e mais um "to be continued" a ser acompanhado nos próximos números da HQ e, sabendo disso, minha ansiedade pelas próximas edições aumentou, já que agora quero ver o que o universo em que se inserem guarda não apenas para os dois, mas também para os infelizes homens e mulheres que iremos conhecer. Um universo inclemente, como é o de qualquer história noir, mas onde pequenos fachos de luz parecem resistir. Se serão abraçados pela resiliente luz ou devorados pelas trevas, só o futuro dirá. Mas fico ansioso pela próxima vez que vou andar por aquelas ruas escuras com eles, temer pelos seus destinos e, ocasionalmente, rever alguma face familiar enquanto bebericamos whisky sob a fosca luz do Undertow bar. 

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Preto, branco e sangue



Curti a simplicidade da idéia: uma mini em 3 edições protagonizada pelo mutante canadense, cada uma delas retratando um momento específico da riquíssima história do personagem. O primeiro número, focando em suas origens e os anos em que esteve associado ao programa Arma X. 
O segundo, vai se passar em uma das incursões de Logan pelas selvas canadenses
O número 3 conclui a minissérie focando numa história de espionagem, outro dos aspectos que são um dos elementos mais marcantes dele. 
O time artístico é rotativo, mas em comum, além do protagonista, também a escolha estética de 3 cores em todas as histórias: preto, branco e o vermelho. Porque, afinal, outro aspecto constituinte do Wolverine é, claro, a boa e velha violência. E aparentemente, vamos te-la aqui, sem censura. 
A primeira edição de "Wolverine: Black, white and blood" chega em Novembro nas Comic shops americanas. 


01

 


"I carry a log, yes. 
Is it funny to you?

It is not to me. 

Behind all things are reasons. Reasons can even explain the absurd
Do we have the time to learn the reasons behind human beings' varied behavior? I think not. 
Some take the time. 
Are they called detectives
Watch, and see what life teaches."

#FireWalkWithMe

"Seja como uma cascata"



Enquanto eu estudava para a "Conversando com o Starman", descobri que, parte do processo criativo de Bowie em sua parceria com Brian Eno na segunda metade dos anos 70, envolvia uma técnica criada pelo produtor e ex-membro do Roxy Music que envolvia cartões com aforismos. No "Outside", disco conceitual de Bowie, os cartões tinham informações sobre cada personagem, que ofereciam um background para os artistas de como deveriam tocar e qual "clima" deveriam injetar nas composições. Em demais trabalhos, a idéia dos cartões, que Eno batizou de "Oblique Strategies" era, por meio das frases neles, oferecer uma certa limitação conceitual e a partir disso, estimular o pensamento lateral.
A frase que eu usei como título deste post, por exemplo, foi uma das que tirei outro dia. Como você interpreta cada uma, é contigo. O negócio é praticar esse raciocínio de associação como um gatilho para o processo de criação artística. 



Quando li sobre isso, pensei "que legal, isso poderia ser lançado pro público"
Foi.
Também pensei "isso também funcionaria perfeitamente como um app"
Bom, Eno e seu parceiro no projeto, Peter Schmidt devem ter pensado o mesmo, já que isso existe, estando disponível para download gratuitamente lá no google play.
Pra galera que trabalha com arte, recomendo bastante. Não sei exatamente qual o processo racional envolvido, mas de fato, o app já me ajudou em um ou dois momentos de bloqueio criativo. 



Criminal Vol. 01 - Coward



Poucas pessoas podem dizer que vem de uma linhagem de criminosos e que, dentro dela, conseguiram sobreviver por tempo o suficiente para desenvolver décadas de carreira nesse mundo. Leonard, o protagonista do primeiro Tpb de Criminal, série da Image Comics de autoria de Ed Brubaker e Sean Philips, é uma exceção a essa regra. Curiosamente, a vida do batedor de carteiras só mantem um ar de estabilidade graças a seu apego pelas regras que criou e sob as quais vive de forma rigorosa. Obviamente, a história aqui começa no momento em que ele ignora seus instintos mais básicos e sua "ética de trabalho" e embarca num heist que deveria render o suficiente para ser sua porta de saída do "jogo".
Deveria. Futuro do pretérito. 
Noir é um gênero particularmente querido por mim, depois de anos e anos vendo filmes em preto e branco baseados em histórias de Raymond Chandler, com jazz na trilha sonora, homens perigosos fazendo coisas perigosas e femme fatales instaurando o caos em cenários já impossivelmente instáveis. "Criminal" se insere nesse universo, bebendo das devidas referências, mas trazendo este background para um cenário moderno, da mesma forma como filmes como "Heat" ou "Brick" fizeram antes dela. Conhecido por ser um gênero com tramas intrincadas, o primeiro volume da série nos traz um plot relativamente simples: Existe o plano. Sujeito descobre no pior momento possível que havia um segundo plano dentro do primeiro. Ambos dão errados e agora ele tem que dar início a um terceiro plano para tirar o pescoço dele da reta. 
No mais, os elementos básicos de um bom noir estão todos ali: a femme fatale (ainda que de bom coração), os homens degenerados, o twist que torna uma situação já complexa mil vezes pior. 
E a tragédia. Porque todo noir chafurda na tragédia. O universo noir é cheio de homens maus, vivendo num mundo niilista onde o crime compensa de fato. Onde pessoas ruins vivem à margem de qualquer karma ou retribuição, humana ou divina. 
O universo noir vive num plano alheio à "finais felizes" e, sem medo de spoilers, não espere encontra-los aqui. 

Lágrimas na chuva


Oito horas. Quase 500 minutos de sons de chuva e a maravilhosa OST concebida por Vangelis para o clássico Blade Runner. 

Certas distopias, como a de Exterminador do Futuro ou Mad Max, te pegam pelo choque, pelo som e fúria e pela cacofonia. A do longa de Ridley Scott - baseada no conto de Philip K. Dick - no entanto, é mais próxima da nossa, calma, silenciosa, fruto da apatia e da omissão. Um futuro que, ironicamente, já virou passado (lembremos que os eventos da história se passam em 2019) mas que continua aqui, num estado de perpétuo presente. 

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

00


"Welcome to Twin Peaks. My name is Margaret Lanterman. I live in Twin Peaks. I am known as the Log Lady.
There is a story behind that. There are many stories in Twin Peaks. 
Some of them are sad, some funny. 
Some of them are stories of madness, of violence. Some are ordinary. 
Yet they all have about them a sense of mystery – the mystery of life. Sometimes, the mystery of death. The mystery of the woods. The woods surrounding Twin Peaks. 
To introduce this story, let me just say it encompasses the all – it is beyond the "fire", though few would know that meaning. 
It is a story of many, but begins with one – and I knew her. 
The one leading to the many is Laura Palmer
Laura is the one."

#firewalkwithme

Um recado da diretoria

Okay.... duas notícias, uma boa e uma má. 
Primeiro, a má, para já tirar da frente: O episódio de ontem foi o fim da "Conversando com o Starman".

"O QUE? Mas você disse que o projeto foi bem recebido"

Sim, kemosabe, foi. E exatamente por isso, decidi acabar com o negócio, pelo menos, nos moldes atuais. 
Mas não veja como um final, mas como o último da primeira temporada.
O que nos traz à boa notícia: Eu comecei esse projeto como um desafio pessoal, para testar se 
a) eu conseguia escrever um post médio todo dia (salvo quartas-feiras)
b) se eu conseguia escrever sobre música, mesmo sem entender de linguagem musical, tendo que me concentrar em análise das letras e elementos históricos ao redor dos discos. 
E sim, estou bem satisfeito com os resultados. O número de acessos, mesmo considerando que são textos que, em tese, tem a vida útil de exatas 24 horas, era bem grandinho para um blog das proporções do Groselha. Aparentemente vocês curtiram, eu curti, então, vamos ao próximo passo lógico. 
Um dos meus maiores medos sempre foi me meter a fazer uma discografia comentada da obra Bowieana porque, afinal, como eu disse, eu tenho zero conhecimento em teoria musical. Mas confesso que o "Conversando..." me deu certa segurança. Em mim, nos meus textos (alguns cacoetes típicos da minha escrita foram sumariamente abandonados, espero que os senhores tenham notado) e no resultado final. 
Então.... acho que eu estou pronto. Eu tenho o "know how" de mais de 15 anos sendo fã do Starman, eu tenho referências - desculpem, senhores, se vocês acharam por um momento sequer que eu tirava todas aquelas informações da memória. Para quem estiver interessado, minhas referências vem daqui, daqui, daqui, daqui, daqui e, quando eu preciso de um ou outro detalhe que possa, por mais improvável que seja, ter passado despercebido para os autores anteriores, sempre tem o santo wikipedia - eu tenho a vontade de passar pela história do Homem em seus 26 discos. Então.... por que não?
E caso tenha ficado a dúvida: sim, a idéia é, conforme for passando pelos discos, falar de forma aprofundada, música por música, como eu já fazia na "conversando com o starman", analisando contexto histórico e o conteúdo das letras. 

Ah sim, para aqueles dentre os senhores que se sentirem abandonados, eu pretendo trazer a coluna de volta, um dia. Até então, minha sugestão: abracem o mistério. Caso a vida moderna e seus constantes gatilhos de ansiedade forem demais para os senhores, pensem assim: nenhum oráculo funciona. Vocês não precisa de Jesus, de Buda, de Zeus, Odin, Joseph Smith ou L. Ron Hubbard. Qualquer tentativa de prever o futuro é tão falsa quanto todas as demais, então criem as suas próprias.
Na dúvida? Abraça o caos e a aleatoriedade. Tira um cara ou coroa, joga uma pedrinha e vê a direção para onde ela vai, olha como as folhas de uma árvore caem, procure jornais velhos ou qualquer papel jogado com um texto legível que possa ser interpretado como um sinal. Incorpora o aleatório e a serendipitía. 
Se nenhum deles funciona, você pode dizer que todos tem o mesmo índice de sucesso, então o que diabos tu tens a perder? 

Então, é isso. Continuo postando um post - seja em forma de texto, vídeo ou podcast - por dia (ocasionalmente, até em alguma quarta. E se eu estiver de MUITO bom humor, talvez possa aparecer aqui em finais de semana). A diferença é que os temas variam: além de música, voltam posts sobre filmes, hqs, séries e pro-wrestling. Porque eu sentia falta desse caos, dessa bagunça por aqui. Da próxima vez no entanto, que vocês virem a palavra de nosso senhor sendo professada por aqui, será na introdução da "discografia comentada - David Bowie". Muitas pessoas já fizeram algo do tipo. Mas eu não sou uma delas e, só por isso, já acho válido tentar. 
Eu perguntaria se vocês estão comigo, mas vocês nunca me abandonaram, mesmo nos momentos de hiatos mais longos desse diário virtual. E eu sou muito grato por isso, não tenham dúvidas. 
Mas, mesmo assim, me permitam uma pequena auto-indulgência só para validar a inserção de um gif do Rocko com o Vacão aqui: 


quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Conversando com o Starman #22

Música do dia: QUEEN BITCH

Contexto: Disco já comentado aqui antes (na nona entrada desta seção) então, como de praxe: 笑うノームに従ってください

Sobre a música: Eu gosto do quão referencial "Queen Bitch" é, mas da forma correta. Existem formas e formas de você colocar suas influências na arte que produz, algumas mais ou menos óbvias, algumas mais ou menos sutis. Não coincidentemente, essa faixa se encontra no mesmo LP que "Andy Warhol" e aí, quando somamos os temas Nova Iorquinos, a presença de uma travesti como musa, e a acima citada canção batizada com o nome do líder da Factory, chegamos a óbvia conclusão que, para surpresa de ninguém, Bowie era um grande fã de Velvet Underground. De fato, a partir das visões de New York concebidas a partir da audição do trabalho de estréia do revolucionário grupo liderado por Lou Reed, viria o fascínio de David com a cidade americana, que futuramente seria seu lar por quase toda a segunda metade da sua vida. 

Como vai ser o seu dia: bom, um grande potencial desperdiçado já que, considerando o conteúdo da letra, meu conselho óbvio seria para irem passear pela cidade, aproveitar o local onde vivem e se permitirem ser parte dessa grande teia que é a existência num grande centro urbano. Mas aí lembramos que, apesar das pessoas aparentemente terem se esquecido deste detalhe, ainda estamos em meio a uma pandemia e quarentena é indicada. Então, NÃO TIREM O PÉ DE CASA. 
Moro em SP já há mais de 20 anos (ninguém é perfeito) e, nesse momento, amar essa cidade, lembrando que todo grande centro urbano é formado por cada um dos seus indivíduos formadores, como uma grande colméia sustentada por cada um de seus habitantes, é tomar todos os cuidados possíveis para garantir a própria integridade física, assim como a dos demais fios que compõem essa gigantesca colcha. Então se cuidem, se puderem, fiquem em casa, usem máscara, lavem as mãos, já sabem de todo o processo. Sejam responsáveis.
E, uma vez que o apocalipse acabar, aí sim, compensem todo o tempo perdido. A cidade que amamos (qualquer que seja a sua), essa grande entidade transgênero, igualmente classy e trashy, hostil e acolhedora, vai estar lá fora, esperando pela gente quando o pior passar. 

Frase do dia: "If she says she can do it then she can do it/She don't make false claims"

terça-feira, 11 de agosto de 2020

A previsão do tempo, com David Lynch

 

Eu, como todo mundo, sou uma criatura de hábitos. Acordo cedo, junto com a namorada, vou ao banheiro, escovo os dentes e venho pro meu puff na sala para escrever. Ocasionalmente com uma caneca de chá. As vezes, café com leite. Mas na maioria das vezes, nada, só uma garrafinha de água filtrada. 
Meu primeiro hábito, uma vez já instalado no meu "trono de poder", é sempre abrir o spotify e jogar o randômico pra tirar a música do dia pra coluna "Conversando com o Starman".
Meu SEGUNDO hábito, após este, antes mesmo de começar a digitar os primeiros caracteres pro blog, é correr pro youtube e ir ver a previsão de tempo no canal oficial de David Lynch, onde ele fala sobre o clima local em Los Angeles, cidade onde vive.
Não, eu não sou vizinho dele. Não, eu não moro em LA. Na verdade, eu moro quase no outro extremo do continente. Por que eu religiosamente faço isso desde que tomei ciência de que isso era uma coisa que existia? Não sei. Tem algo profundamente confortador na voz do diretor e no cenário em que as pílulas diárias são gravadas. O tom azulado e etéreo, o vocabulário charmoso, a fumaça do copo de café que ocasionalmente se faz notar no canto inferior da tela. 
Da mesma forma que eu retorno de tempos em tempos para seus filmes, mesmo os mais crípticos entre eles (eu diria que PRINCIPALMENTE estes), eu sempre volto pro seu "Weather report". E recomendo aos senhores o mesmo. 
Não sei se eu conseguiria descrever racionalmente o que tem de tão fascinante ali. Mas considerando que estamos falando da mente que gerou "Inland Empire", "Mullholand drive", "Eraserhead", "Lost Highway" e, claro, "Twin Peaks", nada mais normal. 

Conversando com o Starman #21

Mais um dia, mais um texto e mais uma música particularmente incomum a ser comentada, o que é sempre divertido. A faixa de hoje é "SHE SHOOK ME COLD"


Contexto: Cd já comentado aqui, então, sigam o protocolo e "vão atrás do gnomo que ri"

Sobre a música: Como eu a) me concentro nas letras das composições Bowieanas já que b) não entendo notação musical o suficiente para descrever como a melodia é utilizada para contar essas histórias, geralmente acabo restringindo essa seção a figura de David Bowie em si, parecendo que este foi um gênio absoluto que construiu a mítica ao seu redor de forma solitária e, obviamente, nada poderia estar mais distante disso. Falar do cantor britânico e suas décadas de carreira é também falar de personagens como Kenneth Pitt, Tony DeFries, Tony Visconti, Carlos Alomar, Angela Bowie. 
E claro, Mick Ronson.


Apesar dessa canção ser creditada apenas a Bowie, é um consenso entre todos os textos que li, que esta é uma composição coletiva, sendo concebida à "8 mãos" (Além de Bowie e Mick, Woody Woodmansey nas baterias e Visconti no baixo). Mas vamos ser honestos: essa música é aquele momento do show em que todos os holofotes vão para o guitarrista e seus 50 dedos perdidos num solo maior que a vida. E, de fato, quando "She shook me..." entra em seu segundo minuto, ela se entrega a um solo maravilhoso de quase 120 segundos, onde podemos ver porque Ronson merece todos os créditos pelo seu papel na mítica Bowieana, principalmente neste momento formativo da história dela (Ronnie estava lá quando "Ziggy" e suas aranhas de marte catapultaram Bowie e sua banda para o status de deidades). Altamente influenciada por bandas como o Led Zepellin e Cream, "She shook me cold" foi provavelmente o mais próximo que o Starman chegou de compor uma faixa de metal.  

Como vai ser o seu dia: A canção descreve o encontro romântico entre duas figuras, perdidas no frenesi romantico que, por sua vez, ganha tons ligeiramente sinistros conforme ela avança e....

Okay, honestamente, eu vou fazer o extremo oposto do que normalmente ocorre aqui e vou ignorar a letra. Só ouçam a melodia e se percam naquele solo belíssimo, naquela colaboração que berra anos 70, naquela jam onde, no final, eram 4 pessoas se divertindo num estúdio. 
E se quiserem tirar algo da experiência - e devo presumir que vocês querem, afinal, os senhores estão aqui - pensem o seguinte: se quiser chegar "lá", onde quer que "lá" for, escolha bem seus companions para a jornada. Hey, eu defendo a lógica do lobo solitário tanto quanto qualquer um, mas vamos aos fatos: arte é um processo coletivo. E as vezes, de fato, compor com alguém permite uma visão mais fresca ou a correção de um detalhe que, sozinho, você seria incapaz de notar.  É aquilo de mangás para garotos tipo One Piece: você precisa de um crew, uma tripulação que complete seu time, com qualidades diferentes da sua. 
A soma dos fatores, de fato, pode ser maior que seus elementos isolados.

Frase do dia: "I'll give my love in vain/ to reach that peak again"

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Conversando com o Starman #20

Bom dia, senhores.
Nova semana, nova entrada em sua seção oracular favorita deste weblog..
Hoje, temos um capítulo particularmente diferente dos demais, o que é maravilhosamente adequado, considerando o caráter disruptivo do disco de onde a faixa que iremos comentar vem. Vamos todos para Berlin, enquanto ouvimos a instrumental (eu disse) e gélida ART DECADE.



Contexto: Então, "Station to Station" era passado. O Duque havia vindo e deixado a vida de Bowie em estado de "terra arrasada" e ele precisava de um recomeço, um sopro de ar fresco. E principalmente, de distância da cena de drogas de Los Angeles. O cantor nunca escondeu seu amor pela Alemanha, desde sua visita inicial a Berlin em 1969. A decisão parecia óbvia e ele (e Iggy junto) foi para a capital germânica. 
Como consequência, não apenas da mudança geográfica mas também do desejo de distanciamento do próprio passado e de uma mente aberta as influências locais, Bowie se viu curioso com as características da música pop de vanguarda produzida na cidade: era a época de bandas como Tangerine Dream, Kraftwerk, Can e Neu!. Em comum entre todas, o minimalismo, as vezes em menores tons, dividindo palco com sons mais grandiloquentes, as vezes tomando o papel de protagonismo. 





Com a parceria com Brian Eno veio também o interesse por sons mais ambientes. A idéia era rejeitar a história de "storytelling", de narração, que é característica da música americana em gêneros como o folk e o blues e se aproximar da criação de "cenários" sonoros. De fato, o primeiro LP resultante desta nova página na vida do artista, "Low", seu 11º trabalho de estúdio (1977), era dividido em duas metades distintas: o lado A tinha composições em que o rock e o eletrônico coexistiam em músicas com letras, mais próximos do passado de Bowie. Já o lado B era de faixas instrumentais, o mais distantes o possível do que se esperaria de um trabalho de "música pop". 
Não surpreendendo ninguém, "Low" dividiu opiniões do público e crítica da época. David, por outro lado, encontrava uma nova "caixa de ferramentas" pra brincar e estava particularmente "confortável" nela. Tanto que seus próximos dois lançamentos teriam fortes semelhanças estilísticas com este disco, daí o hábito de se reunir os três trabalhos sob o epíteto de "a trilogia de Berlin". 

Sobre a música: Okay, faixa instrumental, não temos o norte das letras para comentar. Mas o título da canção, "Art Decaded" é, na verdade, um trocadilho com "art decayed" (arte decaída), um comentário de Bowie sobre o estado estéril da cena artística do lado ocidental de Berlin na época, isolada criativamente do resto do mundo. A faixa, de menos de 4 minutos, evoca sensações de estranheza, certa tensão e ao mesmo tempo, conforto. Bebendo das influências locais, a faixa é econômica em seus sons, com os sintetizadores criando um canvas de texturas sonoras ao mesmo tempo agradáveis e estranhas. O final, catártico, parece nos pegar pela mão, e nos levar para um lugar seguro. 

Como vai ser o seu dia: Toda mudança é difícil. Eu sei, vocês sabem. Aliás, todo mundo, em escala global, se não sabia disso, aprendeu do pior jeito possível, com esse ano provocando quebras de paradigma de escala global. Adaptação é sempre importante. Absorva o que você puder do melhor do seu novo contexto e se permita se transformar. Toda mudança traz elementos positivos e negativos e cabe a cada um de nós, filtrar o que funciona e o que não. Se tornar algo diferente mas sem abrir mão daquilo que, por sua vez, temos de mais fundamental em nós. Porque, se afinal, mudar é inevitável, equilíbrio também o é. 

Frase do dia: Qual parte de "faixa instrumental" você não entendeu? Mas okay, okay,  se você precisa de uma frase pra servir de norte, que tal: "Todo mundo quer mudar o mundo mas ninguém pensa em mudar a si mesmo". 

domingo, 9 de agosto de 2020

sábado, 8 de agosto de 2020

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Conversando com o Starman #19

Bom dia, ímpios.
Mais um dia, mais um episódio desta seção. E mais uma vez, retornamos para um álbum que já teve uma de suas faixas comentadas aqui. O disco em questão é "The man who sold the world" e a música é "SAVIOUR MACHINE"


Contexto: Cd já comentado aqui então, já sabem: "sigam o gnomo que ri"

Sobre a música: Essa talvez seja uma das representações mais cínicas e niilistas encontradas na obra artística de David Bowie, e considerando que, anos depois, iríamos entrar na cabeça do artista, mas sob o filtro do olhar do monstruoso Thin white duke, isso quer dizer alguma coisa. 
A letra é uma história com começo, meio e fim e é facilmente compreensível: No alvorecer do apocalipse, a humanidade, através de seu líder (o "President Joe" da primeira linha) resolve criar um computador cujo objetivo é, em resumo, resolver todos os problemas do mundo. 
E ele sucede. O problema é: e depois?

"They called it the Prayer, its answer was law 
Its logic stopped war, gave them food"

O que acontece quando a máquina que foi criada para nos salvar de nós mesmos é bem sucedida?

"How they adored till it cried in its boredom 
'Please don't believe in me Please disagree with me 
Life is too easy 
A plague seems quite feasible now 
Or maybe a war 
Or I may kill you all'"

O Agente Smith já havia cantado essa pedra, só pra ficarmos numa referência que todo mundo vai pegar, no primeiro "Matrix": 


A humanidade se define pela sua capacidade de sentir dor. Eu li em algum lugar alguém dizendo que o motivo pelo qual todo sonho longo acaba virando um pesadelo é porque temos a tendência de enxergar as falhas naquele cenário. O efeito de "uncanny valley" leva à suspeita. A suspeita, ao medo. O medo, ao horror. E temos aí, um cenário propício para a manifestação dos nossos temores. 

"Don't let me stay, don't let me stay 
My logic says burn so send me away 
Your minds are too green, 
I despise all I've seen 
You can't stake your lives on a Saviour Machine"

Só piora quando o deus ao qual entregamos nossos destinos nota esse mesmo detalhe. O quão preguiçosos ficamos sem dificuldades, sem adversidades e com tudo entregue em nossas mãos.
E esse deus se ressente. E ele planeja. E, mais uma vez, os elementos para a tragédia estão todos lá.

"I need you flying, and I'll show that dying 
Is living beyond reason, sacred dimension of time 
I perceive every sign, 
I can steal every mind"

O final da canção é um prenúncio do que vai vir: O que acontece quando o deus ao qual nos voltamos decide que não somos dignos dele?
Se essa premissa lhes soar familiar, principalmente para a parcela dentre vocês que é fã de literatura sci-fi, é porque, de fato, a referência é óbvia: esta música foi composta 3 anos depois de Harlan Ellison publicar, na edição de Março de 67 da revista IF: Worlds of Science Fiction seu clássico conto "I have no mouth, and I must scream" ("Não tenho boca e preciso gritar). 


No conto, tal qual como em "Saviour Machine", a raça humana, num mundo pós Terceira Guerra, entregou seu destino para um computador que, depois de assimilar outros sistemas de IA parecidos da China e Rússia, desenvolveu consciência e, como seria de se esperar, erradicou completamente a população da Terra, com exceção de 5 pessoas, que ele mantém vivas. O computador, que se autodenomina AM, usa os sobreviventes em sádicos jogos de tortura como bodes expiatórios, pagando pelos crimes de toda a sua espécie. Não vou entrar nos méritos da história aqui para efeitos de concisão (se quiserem bem mais detalhes, cliquem no vídeo acima que fala de forma mais aprofundada sobre o conto de Ellison e o contexto em que ele surgiu), mas depois de serem torturados física e psicologicamente diversas vezes, o grupo de personagens consegue escapar por tempo o suficiente para que 4 deles consigam morrer, única forma de "fuga" possível. 
O último dos humanos é interceptado por AM e tem seu corpo alterado para uma "coisa" disforme, sem braços, pernas, boca, nariz, ouvidos e genitais, incapaz de se suicidar e com sua percepção de tempo alterada para que cada segundo de tortura pareça uma eternidade. Nessa condição, num último momento de sanidade, ele profere a frase que intitula a história. 

...e todos foram felizes para sempre. 

Como vai ser o seu dia: Essa idéia de "cuidado com seus heróis" não é nova de forma nenhuma. Para ficarmos em obras recentes, na ficção temos esse tema abordado em trabalhos como "O fim da infância", "Batman: the dark knight rises", "Fight Club", "Watchmen", "Superman: the red son" , entre outros. 
Principalmente nesse mundo pós-me too, em que várias figuras públicas tem sido expostas como abusivas, é válido termos cuidado com quem vemos como ídolos. Não é o caso apenas de escolher de forma sábia, mas sim de se perguntar: "eu devo adorar essa pessoa incondicionalmente, apenas porque eu gosto da arte que ela produz?"
Todos temos heróis, exemplos, que usamos como bússolas morais naqueles momentos complicados da vida. Diabos, essa coluna aqui só existe porque David Bowie é minha deidade pessoal. 
Mas eu não fecho os olhos para os momentos mais sinistros da história dele. O uso de drogas, as relações abusivas com suas ex-esposas, a acusação de ter relações com uma menor de idade nos anos 70, no auge da época do consumo de cocaína (o negócio foi resolvido extra-judicialmente e ficou nisso). 
E você também não deveria, independente de quem são seus heróis pessoais. 
Dizer "não tenha ídolos" é ridículo, porque sempre nos miramos em exemplos. É apenas humano isso de endeusarmos sujeitos que possuem qualidades que achamos admiráveis. De fato, é assim que alguns dos deuses antigos surgiram. Mas lembre-se que toda moeda tem dois lados e todo mundo tem sombras que mantém longe do olhar público. 
Então, tome cuidado antes de se jogar nas mãos daquela "fada sensata". Toda sereia soa linda. Toda planta carnívora parece encantadora para sua presa, antes de revelar sua face letal.

Frase do dia: "You can't stake your lives on a saviour machine". 

quinta-feira, 6 de agosto de 2020



Let's rock!!!

Saudades.
Eu sei, logo eu, que sempre me orgulhei de não sentir saudade de nada e nem de ninguém.
Mas, eis-me aqui, cansado, velho. E saudoso.
Sentindo saudades de Doctor Who novo.
De quando era bom.
Do 12th, provavelmente minha encarnação favorita do personagem, disputando ferozmente a posição com o 4th e o 7th. 
Saudades de...bom, você sabem. Tenho falado majoritariamente sobre ele nos últimos dias. 
Curiosamente, vendo um fan-clip pra um remix Bowieano que eu amo num nível absurdo, achei essa imagem. Aí, só peguei. 


Minhas 4 coisas favoritas da vida reunidas: Bowie, música, quadrinhos e Doctor Who (só faltou um Kaiju ao longe e alguém segurando um copo de Toddy com Nescafé)

Achei aqui (tentei achar o nome do artista, sem sucesso.)

Banksy, simples assim. Lindo, não?

Conversando com o Starman #18

Senhoras, senhores, mais um dia, mais uma sexta chegando, mais uma semana na qual sobrevivemos (continuamos em quarentena aqui, mas como todo mundo sabe, tem muita gente tendo que se jogar nas ruas graças a irresponsabilidade dos "nossos" governantes.  Tem também a galera negacionista sem noção, mas pro inferno com eles). Seu oráculo über-pop já está aqui para oferecer alguma luz pelas próximas 24 horas e vamos direto ao ponto: a faixa do dia é FALL DOGS BOMBS THE MOON


Contexto: Primeira faixa do "Reality", vigésimo terceiro lançamento da discografia Bowieana, e aquele que, por muito tempo, foi visto como o álbum final do artista, até que, 10 anos depois, "The next day" viria pegar o mundo de surpresa. Os elementos eletrônicos, protagonistas nos seus trabalhos da década anterior, ainda estão presentes, mas cedem espaço ao rock . Segundo trabalho seu feito pós 9/11, o disco não esconde que é um fruto de seu tempo (a faixa comentada aqui hoje sendo um exemplo perfeito disso). O título, "Reality" vem quase como uma elegia, uma memória perdida num mundo pós-realidade, pós-filosofias, em que a maioria das crenças e certezas que tínhamos como sociedade ruíram junto com as torres do WTC. 

Sobre a música: Para uma canção que possui uma letra tão críptica, é curioso notar como seu sentido é tudo, menos sutil. Mais uma vez, o eu-lírico adotado por Bowie é o do déspota que, deitado em berço esplendido, reflete sobre o próprio poder. 

"Hope little girl 
Come blow me away 
I don't care much 
I win anyway 
Just a dog 
I'm God damn rich 
An exploding man 
When I talk in the night 
There's oil on my hands 
What a dog"

Não um déspota qualquer, mas um barão do petróleo, explorando garotinhas e vendo pessoas explodindo como rojões sem se importar muito. 

"Devil in a market place
Devil in your bleeding face"

É o período de George W Bush e Tony Blair no poder, o ano em que Saddam Hussein seria capturado e onde seria "encerrada" a guerra contra o Iraque. As aspas presentes já que, de fato, as consequências dela e seus efeitos podem ser vistos até hoje, no mundo pós-Trump. 

"These blackest of years
That have no sound
No shape, no depth
No underground
What a dog"

Nestes anos, tão pretos quanto o óleo que esses homens vendem e pelo qual países democráticos foram, são e serão transformados em cinzas, não existe forma. Mercurial e líquida, nossa realidade está em constante revisão, num perpétuo estado de "não-ser", de "pós-verdade", de "alt-truth". Mas os cães da guerra, continuam gordos e felizes. 

Como vai ser o seu dia: provavelmente, muito ruim. Ou você é alguém em isolamento, e vai continuar assim se puder e apenas se você tiver condições disso, ou vai ter que sair de casa para garantir comida na mesa. Em ambos os casos, pode agradecer ao fascista miliciano na cadeira presidencial. Lembre-se disso nas próximas eleições, e não apenas para o cargo maior da nação, mas em todos os demais, do senado, passando pelos deputados, dos prefeitos aos vereadores. Mas mais além, repense sua relação com a política como um todo. Votar certo é obviamente importante, mas não é tudo. Votar certo é política, nossa relação com o mundo é política, como e contra o que protestamos é política. 
Tudo na verdade é. Repensar a própria vida e se enxergar como um sujeito político é um processo que leva anos, mas se queremos derrubar a besta maior que sustenta todo esse Sistema, é o que precisa ser feito. Cada ato seu, da cultura que você consome, passando pela comida que você decide comer, de onde você vai comprar as coisas que precisa, que projetos você apoia ou deixa de apoiar, financeiramente ou não, tudo isso é política. Parece óbvio, mas é importante ter isso em mente e, uma vez, cientes disso, correr atrás de informação. De novo, citando novamente uma frase que já usei aqui: toda jornada de 1000 quilômetros começa com um passo. 
Tá, tudo lindo, mas deixemos abstrações de lado: dois bons lugares pra começar? Aqui e aqui. Não precisa agradecer. 

Frase do dia: "There's always a moron/Someone to hate/A corporate tie/A wig and a date". Porque o Sistema precisa de um inimigo constante, um bicho papão novo todo dia pra manter as pessoas assustadas. Antes, eram os terroristas. Agora, são os imigrantes e os "comunistas". Amanhã, vai ter outro e outro e outro. Enquanto isso, os cães da guerra dormem tranquilos. E tudo "segue bem". 

quarta-feira, 5 de agosto de 2020


Conversando com o Starman #17

Mais um dia, ímpios, mais um episódio do único oráculo com 100% de garantia de NÃO funcionar e que, ainda assim, pisa em todos os demais, mesmo com uns 1000 anos de existência a menos e....
o que?

Surpresos? Sim, amigos, a seção tem tido uma recepção tão legal que decidi (não sei se em caráter definitivo ou não), ajudar a guiar as quartas feiras dos senhores. 
E, por uma gigantesca coincidência (ou não?), a música de hoje vem do mesmo cd da faixa comentada ontem. E que já tinha rendido outro texto semana passada. Universo mandando mensagem? (spoiler alert: não. Apenas uma mistura de "coincidência" com a lógica interna dos algoritmos do spotify)
Então, sem mais delongas: THE STARS (ARE OUT TONIGHT)




Sobre a música: Faixa 3 do "The Next Day", a canção, tal qual a faixa da qual falamos ontem, não esconde suas metáforas de forma sutil, já entregando seus temas nas duas primeiras linhas: 

"Stars are never sleeping
Dead ones and the living"

Mantendo os temas dos quais já falamos antes nos textos sobre "Love is Lost" e "If you can see me", mais uma vez o artista olha para o passado e reflete sobre a fama, os custos, luxos e efeitos dela. 
Estrelas, artistas, pessoas famosas, nunca dormem, porque, afinal, suas vozes estão sempre ressoando de novo e de novo, pela eternidade. Artistas são imortais por todo o período em que sua arte se mantiver no inconsciente coletivo. Por consequência, as mais brilhantes dentre estas irão ressoar pra sempre, enquanto houver alguém redescobrindo sua obra. 

"We live closer to the earth/Never to the heavens"

Estes contadores de histórias podem ser maiores que a vida, ídolos, gigantes. Mas sua pena é jamais voar alto demais, sob o risco de se distanciarem excessivamente do seu público. Citando Chili Peppers, "se você me ver subindo alto demais, me derrube. Eu não sou maior que a vida". 
O problema de tratar alguém como se fosse um deus é que há sempre o risco de que a pessoa em questão acredite nisso.
Citando o "Dig", documentário recentemente visto cobrindo a ascensão (e queda) dos Dandy Warhols e do Brian Jonestown Massacre, "o elemento comum entre todas as religiões é que não existe pecado maior do que se auto-declarar um Deus sem condições de agir como tal". Aquilo que os americanos dizem: you can talk the talk. Can you walk the walk? Da boca pra fora, todo mundo é "o melhor". Mas você consegue bancar com a sua arte?

"They watch us from behind their shades/Brigitte Jack and Kate and Brad
From behind their tinted window stretch/Gleaming like blackened sunshine"

Estrelas eternamente em movimento e protegidas por seus óculos escuros e vidros de carro cobertos por filme. E ainda assim, brilhando de dentro de suas limousines como um sol negro (não, a mórbida presciência das palavras escolhidas aqui não me escapou). 

"Waiting for the first move 
Satyrs and their child wives 
Waiting for the last move 
Soaking up our primitive world"

O trocadilho esperto entre "move" (movimento) "movement" (é como, na música, se referem a uma parte independente dela, aquela parte da composição que, sozinha, poderia funcionar como uma obra completa) e "movie" (filmes) deixa aquela alfinetada nas celebridades da música e cinema, saltitando por aí como entidades míticas ao lado das suas namoradas-troféu com décadas de idade a menos, afogando o mundo com seus novos trabalhos. 

"Their jealousy's spilling down 
The stars must stick together 
We will never be rid of these stars 
But I hope they live forever"

O paradoxo supremo: adoramos celebridades. Mas adoramos também vê-las desabando, lembradas da própria pequenez. Tem algo de doentio na nossa relação, como sociedade, com as pessoas que se destacam no campo artístico: nós as elevamos à condição de super-humanos, apenas para nos ressentirmos delas. "Por que elas e não nós?" 
Lembram-se do mórbido fascínio que as pessoas tinham na época das notícias sobre o lento processo de destruição de Amy Winehouse? Tudo visto em tempo real, transformado em piada. 
Sejamos honestos: existe um motivo pelo qual o Buzzfeed vive recomendando notícias do tipo "lembram de (insira o nome de uma celebridade aqui)? Você não vai acreditar em como ela está hoje em dia". Amor e ódio. 
Existe muita arte sendo produzida, todo dia, o tempo todo. Todo dia, uma nova voz se lançando, querendo jogar o jogo lado ao lado com os grandes. Elas são odiadas e invejadas por terem esse "algo" que a maioria das pessoas não possui. Mas o que seria da vida sem elas?
Quer seja pela arte que produzem, quer seja pela promessa de que "se deu certo para elas, pode dar certo para mim também". 

"And they know just we do/That we toss and turn at night"

"Here they are upon the stairs/Sexless and unaroused"

"They're broke and shamed or drunk or scared/But I hope they live forever"

Em entrevistas na época de "Ziggy..", Bowie afirmava que seu objetivo, com a escolha de adotar personas artísticas, era compor o astro pop de plástico perfeito. Um teste de Rorschach que pudesse alquimicamente se transformar naquilo que o público quisesse, o tempo todo. Como uma Barbie, "sem gênero e impassível", entidades que falam direto com nossas almas porque, e esse é o detalhe que procuramos ignorar no máximo de tempo possível, eles são EXATAMENTE como o resto de nós, com as mesmas aspirações e ansiedades. "Quebrados, envergonhados, bêbados e assustados", num eterno estado de limiar entre o divino e o mundano, nos conectando com algo maior, universal. Mágico, de fato. E as vezes, aparentemente ou de forma factual, inatingível. 
Dessa dicotomia vem, ao mesmo tempo nosso ódio por eles. E também, nosso amor irrestrito.

Como vai ser o seu dia: Eu sempre recomendo que vocês façam arte porque, sejamos francos, é o que nos mantém vivos. É o que nos separa de uma vida ordinária e medíocre. Mas, vamos retroceder alguns passos: nunca se esqueça que a vida normal, seu dia-a-dia em toda sua aparente insignificância tediosa, é o que vai dar combustível para sua mente criar. É dessas conexões entre o mundano que surge toda a arte. Pense em "Ulisses" de Joyce. "A day in the life" dos Beatles. Então, faça arte, se quiser. 
Mas tire seus momentos pra ser o mais comum e "pé no chão" possível, sem culpas ou ressentimento por não estar alimentando aquele gigantesco demônio chamado "produtividade" ao qual todo mundo parece se ajoelhar hoje em dia. 
Existe beleza em escrever, em cantar, em compor. Mas ninguém deveria menosprezar a beleza também presente naquele momento pra você ficar simplesmente olhando pro teto, pensando se o Goku é mais forte que o Superman. 

Frase do dia: "Nós nunca vamos nos livrar dessas estrelas. Mas espero que vivam para sempre".