quarta-feira, 10 de julho de 2019

Monster Mash #50 - Elegia para uma vela sem nome



Universos inteiros morrem durante a vida de uma vela. ....

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Comprei uma vela dessas gordinhas (não as de 7 dias) como forma de prestar gratidão à uma entidade a qual não vou nomear aqui mas para a qual voltei minha fé num momento de necessidade. Ateu, okay, mas num avião caindo, todo mundo é cristão devoto. Enfim. Acendi ela no sábado. Fiz o ritual de derramar algumas gotinhas de cera pra prende-la no pires em que a coloquei, em cima da estante de metal mais alta do nosso quarto (afinal, se o bichão tombasse, não iria correr o risco de nada pegar fogo). E lá ela ficou. Por dias. E noites. Frias, extremamente frias (pelo menos para os padrões desse país tropical). Mas ela seguiu resiliente.
Parecia eterna.
Hoje ela começou a piscar. Fazer alguns sons. Fui ver o que era.
Aparentemente ela estava morrendo. Mas não sem lutar, oh boy, no. Os sons eram ela derretendo a cera fria ao redor que pingavam em cima da chama, oferecendo um novo fôlego para aquela bruxuleante flama. Mordendo, batendo, chutando. Se ela tem que tombar, ela vai aproveitar cada segundo que puder e se manter de pé e cada segundo é uma vitória pq universos, planetas, MULTIVERSOS nascem e morrem em períodos de segundos. E afinal, nascemos depois de milhões de anos desde a origem da Terra, bilhões desde o Big Bang. Vivemos por uma quantia ridícula de tempo, quando colocada em perspectiva história e rumamos pra escuridão pra nunca mais voltar. Considerando isso, cada segundo ganho é uma vitória sobre a eternidade.  E aquela vela? Oh, mothafuckers, that candle will go down fighting...

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Adoro fotos de filhotes de cachorros no Instagram. Até aí, tipo, duh. Todo mundo adora filhotinhos. O ponto aqui: as vezes é bizarro olhar praqueles bichinhos e pensar que eles tem meses, semanas, dias de vida. Há uma semana, ele não existia. Sete dias depois, ele está aqui, num canto qualquer do planeta, mas sua vida cruzando com a minha, ainda que de forma indireta. Num segundo ele não existia. No seguinte, estava lá, sendo limpo pela mãe e procurando por, nessa exata ordem, folego, carinho e leite.
Um segundo. 

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Cada segundo é uma conquista. Num segundo não havia nada. No seguinte, "fiat lux". E a luz se fez. 

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Escrevo essas linhas e ela segue brilhando. Não sei se a intensidade atual da chama é virtude do meu olhar romantizado pra ela ou do simples fato de que o sol está se pondo enquanto teclo essas letras. 
Mas ironicamente, ela segue mais brilhante do que quando comecei a escrever as duas linhas acima. 
Pouco mais do que alguns segundos. 

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Tava ouvindo "My My, Hey Hey" no Spotify pq parecia pertinente e respeitoso o suficiente pra personagem protagonista desse textinho ("better to burn out than fade away". Frase citada por Kurt Cobain em sua carta de suicídio....). 
Terminada a canção clássica do gigante canadense, a música foi pra uma lista de sugestões do aplicativo, o que significa que randomicamente, ela foi de Neil Young para.... Jimmy Hendrix. 
Nope, seria maravilhoso agora se eu pudesse dizer que a música em questão era "Fire" ("let me stand next to your"....) mas a real é que agora ouço "Voodoo Child". Tb pertinente, considerando o objetivo inicial que fez esse item cruzar o meu caminho. 
E afinal, essas linhas mal digitadas são, uma despedida, uma elegia, como o título indica.
E em Voodoo Child, o guitarrista de Seattle diz o seguinte....

"If I don't meet you no more in this world
Then I'll, I'll meet you in the next one"

Because I'm a voodoo child.
Lord knows ..
I'm a voodoo child. 


and it's gone.......

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