terça-feira, 23 de abril de 2024

Ceis sabem que eu tenho um canal no youtube, certo?

Se não souberem, compreensível já que eu sou PÉSSIMO pra fazer auto-promoção.


Enfim...





 

Trilogy



Faz tanto tempo desde a última vez que vi esse clássico concerto do grupo de Robert Smith. Mas eu diria que estamos no clima e na "fase" correta pra esse exercício de mais de 3 horas de imersão na mais pura melancolia (principalmente porque anteontem foi aniversário do vocalista do grupo, que completou 65 aninhos) . 
Os 3 discos mais celebrados do Cure, Pornography, Desintegration e Bloodflowers, tocados na íntegra e na sequência, em Berlim. 
Vi pela primeira vez em uma cópia pirata comprada lá na galeria do rock, lá pelos idos de 2005. Quase 20 anos depois, hora de revisitar essa épica apresentação.

 

terça-feira, 12 de março de 2024

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Punisher meets Archie


Em retrospecto, este não é nem o crossover mais estranho no qual Archie Andrews esteve envolvido.
Me lembrem de, algum dia, comentar sobre quando ele e o grupo de Riverdale High trombou com nomes com o the B-52s ou os Ramones.
Ou, se quiserem ouvir algumas histórias escabrosas, quando o ruivo foi caçado por um Predador. Yep, aquele do filme do Schwarzenegger.

Enfim...

Esse inusitado crossover surgiu a partir de uma piada, mas acabou ganhando vida e boy...
Tem tanto pra ser dito aqui.
Com roteiros de Baton Lash, a arte desse gibi já é algo impressionante, sendo desenhada por Stan Goldberg (veterano dos gibis do Archie) e por John Buscema (dispensa apresentações). As páginas focadas em Frank são de arte de Buscema e as mostrando a gangue do Archie, de Goldberg. Na trama, um traficante conhecido como "a febre vermelha" se vê sendo caçado pelo Justiceiro.  Tentando ficar na miúda enquanto, ao mesmo tempo, planeja expandir seus negócios na área "química", ele termina decidindo ir pra uma cidadezinha pacata no interior chamada, vocês já devem ter adivinhado, Riverdale. Ah, e ele é quase idêntico ao Archie.

A partir daqui, o gibi brilha com o contraste entre o mundo "zacksnyderiano" de Castle, seus tons sombrios, armas do tamanho de um carro popular e estoque infinito de munição e as cores e clima estilo 1950 do Archie.
Imaginem algo tipo "Turma da Mônica vs Justiceiro" e vcs vão ter uma idéia aproximada da bizarrice.
O gibi é divertido, tem sacadas ótimas (sabrina casualmente comentando sobre seu encontro com bestas lovecraftianas e alguém, quando o bicho pega, comentando "por que o pessoal fazendo catering está armado?", Archie tentando soar sinistro e mandando um "it's clobbering time", etc) e os estilos de arte se misturam de um jeito maravilhoso.
Uma idéia bizarra que é um milagre que tenha existido e, mais estranho ainda, funcionado tão bem, mas que acabou resultando em um dos melhores e mais divertidos crossovers que eu já li.

9 estrelas de 10

Batman: The doom that came to Gotham


 

A história é uma elsenworld, ou seja, uma história passada fora da cronologia normal da DC, com textos de Mike Mignola e Richard Pace e arte de Troy Nixey.

Na trama, depois de 20 anos longe de Gotham, Bruce Wayne parte de uma expedição na Antártida onde encontrou "algo" e volta para sua cidade. Não para a Gotham de 2023, mas para a de 1928.
Mignola e Pace brilhantemente mesclam os temas típicos de um conto de lovecraft com os tropes de um gibi de superherói e o resultado é uma mistura bem orgânica.

Queria comentar também a forma em que a obra não ignora os problemas das obras de Lovecraft. Todo mundo sabe hoje em dia que seus contos eram fortemente carregados de racismo e xenofobia. O eterno risco do "diferente", a ameaça do "alienígena", do desconhecido, do "estrangeiro". Mignola e Pace atualizam estes temas (não é pra menos que um dos vilões é Ra's Al Ghul), mas mostrando como o grande risco vem de fato de um bando de homem branco e rico. Esta hq é na real sobre as mentiras que tomamos como verdades, o risco de mitos fundacionais e como nada pode crescer de forma realmente saudável quando as bases dessa casa são construídas sobre uma estrutura podre.

Histórias lovecraftianas geralmente giram em torno de 2 tipos de personagens: homens sedentos de poder dispostos a reinar sobre os escombros do que os Older Gods deixarem (rico adora comer resto e fingir que é banquete, né?) e pessoas inocentes que estão no lugar errado e na hora errada. Final feliz para estes é, geralmente, apenas morrerem (creiam-me: existem destinos piores). É realmente fascinante, portanto, ver uma história em que o protagonista pode finalmente adotar uma postura ativa contra o inimigo desconhecido.

A arte ao mesmo tempo emula a de Mignola enquanto tenta também capturar o clima de gibis de terror clássico e é muito bem sucedida nesse aspecto, me lembrando o traço de artistas como Kelley Jones.

"The Doom that came to gotham" é, ao mesmo tempo, uma homenagem, um crossover e uma atualização de tudo que faz histórias lovecraftianas e gibis de super heróis funcionarem tão bem a ponto de perdurarem por décadas.

terça-feira, 29 de agosto de 2023

A trilogia do Maestro - O último monstro em pé...



A trilogia do Maestro, de autoria de Peter David e com Javier Pina, Pasqual Febry, Wilton Santos, Sebastian Cabrol, Oren Junior e German Peralta na arte, retoma a distópica versão do personagem que o próprio David criou, 30 anos atrás, na clássica Futuro Imperfeito. As 3 séries (Symphony in a Gamma Key, PAX e World War M) funcionam como um prequel, mostrando a jornada que levou o Hulk a se tornar o Maestro. Dizer que minhas expectativas estavam altas a respeito desse gibi seria um eufemismo monstruoso. Peter David revolucionou o incrível Hulk durante os 12 anos que passou no título, reinventando e agregando novos elementos à mitologia do gigante verde (e cinza).
Exatamente por sua experiência prévia com o personagem, vemos que ele resgata personagens e momentos e mesmo temas sobre os quais ele já tinha se debruçado previamente.
Depois de se libertar de uma prisão onde foi mantido por décadas, o Hulk descobre que o mundo foi destruído. E os responsáveis?

Nós.

"A humanidade é uma espécie suicida" como alguém disse certo dia.

A frustração e a raiva decorrente dessa tragédia são dois dos gatilhos que vão levar o dr. Banner pela sombria jornada adentro até adotarem a persona do líder despótico que protagoniza o gibi.
Dois temas percorrem toda a série. Em ambos, temos elementos de tragédia (e uso o termo aqui pensando na interpretação clássica dele, ou seja: "a saga de um homem lutando, quase sempre em vão, contra o próprio destino").
O Hulk sempre se destacou em meio ao panteão de personagens da Marvel por, tal qual ocorre com o Quarteto Fantástico ou os X-Men, ele NÃO ser um super herói. Heróis salvam gatinhos de árvore, resgatam pessoas de tragédias. Heróis salvam o mundo.
O Hulk, não.
Qualquer bem que ele tenha trazido a humanidade enquanto espancava monstros, era fruto do fato dele encontrar criaturas piores que ele próprio. No final, o personagem não queria salvar o mundo de nada, apenas... ficar só. 
Peter David injetaria tons de drama psicológico no personagem, transformando o gigante verde na personificação dos traumas de um garotinho vitimizado pelo pior monstro que ele iria encontrar: seu pai. Brian Banner diversas vezes espancou o jovem Bruce, motivado pela inveja já que o garoto tinha em si a genialidade e mente super intelectual que ele sempre almejou, sem sucesso. 
Chega a ser irônico que desde pequeno, Bruce já era um gigante que forçava os demais a olharem para cima e a serem confrontados com a própria insignificância. O incidente com a bomba gama que lhe daria super poderes apenas tornaria esse elemento em algo literal. 
A tragédia aqui se manifesta quando percebemos que a longa jornada do personagem motivada pelo seu desejo de se distanciar o máximo possível de tudo que lhe fizesse parecido com o seu pai apenas o levou em direção inevitável a tal destino. Rick Jones menciona brilhantemente o quanto Bruce finalmente se tornou Brian. Um monstro, de fato. 
A segunda tragédia se conecta também com o já mencionado fato do Hulk não ser um herói. Quando observamos quem são os antagonistas do Hulk durante essas 3 histórias, todos são homens que acham que, em condições insanamente adversas, eles estão fazendo o melhor que podem para manter o mundo no lugar. Hércules, Von Doom, o Panteão, Namor. 
E claro, o próprio Hulk. 
Todos ali se enxergam como os heróis de suas próprias narrativas. 
"A ultima barreira entre a humanidade e o caos". 
É fascinante como, no arco final da trilogia, o personagem de Emil Blonsky, o Abominável, quebra esse ciclo, ao apontar como a fronteira entre heróis e vilões é subjetiva. O herói pra um grupo é o traidor para outro. O salvador aos olhos de um grupo é o déspota para outro. Quem determina o qual?
Emil matou Betty, a esposa de Bruce, como uma resposta ao fato do Hulk ser o responsável por ele ter se transformado na criatura monstruosa que se tornou. Mas ao mesmo tempo, ele era um espião russo enviado para sabotar o projeto da bomba gama. 
Quem é o vilão da história e da História? 
A trilogia é um retorno interessantíssimo ao universo distópico de Futuro Imperfeito e uma discussão interessante sob os efeitos corruptores do poder. 
Ao final, David e a equipe de arte nos lembram que a tragédia e o horror que são inerentes ao personagem do Hulk vem do fato de que sua jornada, desde a adolescência, passando pela explosão da bomba Gama que lhe tornou uma das criaturas mais poderosas da terra 616 e todas as suas aventuras a partir daí, não eram de fato uma jornada que o distanciou de seus piores medos e do inferno de onde queria fugir, mas um labirinto circular. E pior, uma casa de espelhos como as de um parque de diversões. E existe pior horror que, ao olhar em um espelho, ver o monstro que mais tememos e que é tudo aquilo que mais odiamos no rosto que nos olha de volta?

domingo, 20 de agosto de 2023

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Where Black Stars Rise - Em rumo à Carcosa


"Where Black Stars Rise", de Nadia Shammas e Marie Enger, é ao mesmo tempo cósmico e intimista. Amal é uma terapeuta em começo de carreira, lidando com uma paciente, Yazmin, que sofre de esquizofrenia. Tudo muda quando a jovem desaparece e Amal é a única capaz de encontrá-la, mesmo que isso a leve em rota de colisão com o lendário Rei Amarelo em uma jornada talvez sem volta para o onírico reino de Carcosa. 

Que obra incrível. A arte ultra-expressionista, o elemento metalinguístico (que é, em si, uma referência direta ao conto que inspirou essa HQ) e, claro, a fusão entre o terror cósmico, um horror grandiloquente, que (literalmente) nos cerca e o pessoal, insignificante, que nos atinge um por um, individualmente. O espaço sideral é um lugar tão misterioso e assustador quanto o interior de nossas mentes. Em ambos os casos, há o risco do desconhecido olhando de volta, constantemente nos lembrando de nossa insignificância e do quanto qualquer ilusão de controle que temos é apenas isso: uma ilusão. E, nos dois cenários, ninguém vai te ouvir gritar... 

Mas, pra terminar em uma nota positiva e mais "solar": há também o consolo de que uma prisão só é uma prisão de você não quiser estar lá. Porque, em caso contrário, ela pode ser um sonho realizado. Um final feliz. Ou, na melhor das hipóteses, um lar. 

Minha nota: 8,5

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Hak assiste TV: The Tick (1994) - eps 01 a 03


THE TICK: S01 - Eps 01 a 03

Hey, ímpios

Hak the bear in here.

Seção nova aqui no blog.

Hak the bear assiste TV. Bem auto explicativa, se vcs me perguntarem

Dessa vez, vamos falar de uma animação que sempre esteve na minha lista de coisas para ver, perpetuamente guardadinha em sua completude em algum canto escuro do meu hd externo onde eu guardo Terabytes da mais pura pirataria: THE TICK. 

Eu, como quase todo mundo com mais de 30 anos de idade, lembro da série animada que passava na TV Colosso nos anos 90. Sei que houveram duas tentativas de criar séries live actions baseadas nesse personagem, com níveis relativos de "sucesso". 

E um jogo pra Super Nintendo. 

Oh, e claro, que tudo isso é baseado na encarnação original do personagem, por sua vez, uma revista de histórias em quadrinhos lançada no final dos anos 80 por uma editora independente. E só. 

Não sabendo exatamente por onde começar, decidi voltar pra clássica animação de 94. 

E "por que ir atrás desse universo?", vc me pergunta.

Bom, vocês não acham fascinante a idéia de ir ver um personagem que satirizava heróis de quadrinhos em um universo pré MCU, pré filmes de superheróis (se pegarmos as hqs, pré inclusive o filme do Batman do Tim Burton)?

Pretendo ver as séries live action também, então deve ser fascinante ver quais eram os tropes de super heróis ridicularizados na época e como eles se diferenciam dos atuais, em um mundo já dominado por filmes de franquias superheróicas no cinema e tv e onde qualquer zé conhece termos como "multiverso" e "cubo cósmico". Ya know, o tipo de coisa que causava horas sem fim de zoação pública pros nerds nos anos 90, quando os meninos mais supostamente "cool" descobriam que você curtia quadrinhos.

E isso soou um pouco mais específico do que eu gostaria enquanto cunhava tais linhas. Enfim, the Tick.

Assisti os 3 primeiros episódios da série animada, além de ter lido também os 3 primeiros números do gibi do personagem e achei umas paradas legais sobre as quais gostaria de falar um pouco.

Primeiramente: definitivamente não é um gibi pra crianças.

Não pq haja nudez (até porque não há) ou por ser gore (até porque não é). Mas porque os temas são extremamente adultos e aqui preciso me prolongar um tiquinho: normalmente, a percepção pública de "temas adultos" é uma história cheia de gore, sexo e niilista. De fato, The Tick vem na mesma toada de quadrinhos com a proposta de desconstruir de forma pós-moderna o gênero dos super-heróis, se colocando lado a lado de clássicos como "Watchmen", "O cavaleiro das trevas", "A queda de Murdock" e os X-men do Chris Claremont, entre outros. 

Só que faz isso direito, ao contrário de um monte de wannabe do Alan Moore. Histórias adultas, de fato, não são histórias "rated r", cheias de corpos explodindo e peitos balançando. Na verdade, isso parece mais a visão que um adolescente tem da vida adulta. 

A "adultidade" de The Tick não vem de cenas extremas, dignas de um filme do Zack Snyder, mas por tratar de temas que, de fato, não vão ser familiares para um teen. Sim, o gibi e o desenho são engraçados e com certeza funcionam com grupos diferentes, de idades diferentes. Mas tem uma dor ali, uma mistura de apatia com desespero existencial que é muito o tipo de coisa que você só vai absorver de fato depois algumas, e me perdoem o clichê, "porradas da vida".

Não é uma coincidência que todo mundo ali está na casa dos seus 20 e muitos/30 e tantos anos. Se você me disser que Arthur, o sidekick do Tick, está mais próximo dos 40 do que dos 30, eu vou totalmente acreditar. 

Alguns exemplos: no episódio dois, temos nosso primeiro contato com Der Fleidermaus ("o morcego", em alemão) que aparece em um momento de planejamento entre o Tick, Arthur, e a American Maid (uma heroína tipo mulher maravilha mas que se veste de empregada com as cores da bandeira americana). Nesse momento rola certa tensão entre o Fleidermaus e a Maid que  remete a um passado em comum entre os dois e traumas de um relacionamento romântico que não funcionou. 

Por sua vez, Arthur, o, de fato, protagonista do primeiro episódio, é o típico millenial. Em um trabalho maçante (contador. E isso vindo de mim, que fui um bibliotecário por anos, quer dizer algo), ele é demitido não por incompetência, mas por se destacar, já que insiste em ir ao trabalho usando seus trajes "super heróicos". 

Observem como todos os demais funcionários ali são idênticos quase, com as mesmas roupas e expressões cansadas. Diabos, o desenho não é sutil a esse respeito.



Arthur desiste do trabalho normal porque, afinal, a vida deveria ser mais que isso. 

Novamente, isso é um desenho de 94, baseado em uma hq de 89. Estamos falando de uma América já sem concorrência no resto do mundo, já pós guerra fria e ainda pré 11 de Setembro. Uma América do pós Reagan, pós Bush Senior e do primeiro governo Clinton. Da "Pax Americana", onde ela se vendia como a ÚNICA super potência do planeta. Supostamente, um período de pujança. E no entanto, esse é o período também de obras como essa, ou "Silêncio dos inocentes". Mais tardiamente, de "American beauty".

Um período em que não havia mais "O" inimigo externo, mas onde você podia sentir, coletivamente, que algo estava....fora do lugar. Do nosso quintalzinho de fãs de gibis, é onde vai rolar a bolha especulativa que vai quase demolir o mercado de hqs e levar centenas de comic shops à falência.

Numa escala mais macro, é onde, por exemplo, o Japão vai levar uma das maiores pancadas de sua milenar história, quando outra bolha, a imobiliária, explode por lá (falo mais sobre isso aqui) o que, além de derrubar o país financeiramente, vai começar a botar em foco as falhas no capitalismo naquele país que, por sua vez, também vão acabar virando temas de "N" histórias sobre como é viver em uma sociedade em lenta extinção. 

Claro que, além disso, temos o protagonista do desenho. O Tick é um raio de luz, perpetuamente com um sorriso no rosto, mesmo nos momentos mais tensos. Sempre disposto a se jogar (literalmente, inclusive) em direção ao perigo. 

E claro, o Tick é completamente louco. Literalmente. Eles cortam isso no desenho (pelo menos até onde eu vi) mas os quadrinhos abrem com o personagem de camisa de força em um sanatório. Segundo o próprio, depois de uma fracassada empreitada onde tentou se declarar o "tirânico líder da Islândia", ele teria achado sua vocação de fato ao abraçar o uniforme azul e se renomear como "O Carrapato". 

Se isso parece ridículo, é porque de fato é, o que aliás, é apontado para ele de forma bem direta tanto no gibi quanto no desenho. 



O contraponto aqui, no entanto, é que ele pode ser louco, mas é um louco insanamente poderoso. Ele tem força acima do normal, invulnerabilidade (bom, "quase", como ele mesmo aponta) e além de tudo, um queixo quadrado de fazer inveja ao Capitão América quando desenhado por Ron Garney. E, claro, sua já mencionada atitude sempre altiva. 

O Tick não é particularmente brilhante mas esse é um universo de força bruta e portanto, ele consegue se virar bem o suficiente. 

De certa forma, ele me parece o resultado de alguém se perguntando "e se o Chapolin fosse norte-americano?"

De fato, tal qual ocorre com o Polegar Vermelho, é a profunda crença (injustificada, ocasionalmente) do personagem a respeito do próprio valor que acaba te fazendo se apegar a ele. 

Isso e, claro, o fato de todos sermos, em maior ou menor proporção, como ele. Um bando de pessoas com seus devidos "poderes", tentando fazer a diferença em um universo que nos quer passivos e dóceis em nossa homogeneidade. "Prego que se destaca" e tals...

Nem os vilões escapam disso: quando os antagonistas são derrotados em seu plano de extorquir dinheiro da prefeitura local em troca de não demolir a represa da cidade, o Tick indaga um deles sobre suas motivações, provavelmente esperando um longo discurso com tons megalomaníacos e com ganas de dominação mundial.

E no entanto....





Simples assim. Porque, como nos lembra o intelectual marxista-leninista Thomas Matthew DeLonge Jr. em sua seminal obra "все маленькие вещи": 

Novamente, não quero falar muito da HQ porque ela vai ganhar texto aqui logo logo, mas um dos primeiros arcos do título envolve um mestre ninja absolutamente PUTO depois que seu sucessor popularizou a idéia do ninjútsu no imaginário coletivo do mundo. O problema é que, com isso, qualquer imbecil decidiu inventar de se tornar um ninja o que pasteurizou significamente o poder desses assassinos e o impacto que eles tem nesse mesmo imaginário. 

A cena do ancião, frustrado em meio a ninjas em videogames, lancheiras e caixas de cereais bate fundo. Quando você comidifca algo e despe esse algo de qualquer senso de urgência e perigo que esse conceito inicialmente tinha. Se a gente for listar aqui, do punk ao hip hop, podemos ficar horas falando de movimentos culturais anti-establishment que foram abraçados pelo mercado e viraram bens de consumo reprodutíveis. O logo dos sex pistols que, hoje em dia, tem o mesmo efeito transformador social do da coca-cola. 

E o tom desse texto pode ser sério, mas creiam-me, tudo isso é feito com um senso de humor muito legal. Eu me peguei rindo diversas vezes, seja pela identificação com o quanto a comunidade super heróica do mundo de the tick é formada por um bando de fudi** que nem eu ou vc (sem ofensa), seja pelo quão desconectado de qualquer coisa remotamente próxima da realidade o protagonista da série é.

I mean, o desenho tem um personagem que é o Human Bullet e o "poder" do sujeito é ser disparado por um canhão gigante, do quintal da casa dele, em direção ao "perigo". Detalhe: ele não tem poder de vôo ou qualquer controle sobre onde e como vai atingir esse tal perigo. Ele só.... vai...


Ou o Sewer Urchin, um "homem-ouriço do mar" que opera nos esgotos de Nova York e em virtude disso, acaba sendo ostracizado por demais heróis por causa do seu "perfume" peculiar. 

O plano de Chairface Chippendale, no ep. 02, é uma variação em macro escala de escrever o nome em uma parede pública, tá ligado? Tipo quando tu assina teu nomezinho no cimento molhado? Só que em escala cósmica. 

Ao mesmo tempo em que estão enfrentando masterminds psicóticos, esses heróis tem que preocupar em pagar as contas ou, no caso do ep. 03, em como Arthur vai contar pra irmã que ele abraçou o trampo de "justiceiro urbano" em tempo integral.

Diabos, eu não sei absolutamente NADA sobre Big Shot, um dos heróis locais, mas apenas ver essa versão ainda mais bizarra do Punisher atirando em coisas de forma completamente indiscriminada enquanto sorri E chora ao mesmo tempo já me fez rir e ao mesmo tempo, o tornou meu personagem favorito.

Animado em mergulhar no universo de The Tick em suas diferentes versões e veículos. Falo mais conforme for avançando da série e na HQ. 

Mas de resto, seja você um adulto ferrado, um millenial ferrado ou mesmo um teen que começou a se tocar do vespeiro que se enfiou (ou em que foi enfiado, sejamos justos) conforme vai se aproximando da vida adulta, meu conselho sobre a série: a animação envelheceu até que bem, o roteiro continua afiado, os personagens são cativantes e a dublagem é hilária. Façam como o protagonista do gibi e do desenho, ímpios: só se joguem. :-)

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Navegando pelo multiverso: "Earth X" - parte 06


Uma edição bem interessante, que responde algumas questões enquanto levanta outras de natureza mais complicada. Primeiramente, descobrimos o papel dos deuses asgardianos no gigantesco tabuleiro cósmico erguido pelos Celestiais. 

Criações humanas ou aliens shape-shifters amorfos que ganham consciência e individualidade a partir do contato com a humanidade? No final, o resultado é o mesmo: criaturas em eterna relação de simbiose com o coletivo humano. Moldados a partir das percepções destes e, por sua vez, em um ciclo de retroalimentação, moldando a humanidade. Criadores e criaturas ao mesmo tempo. Um paradoxo ou, em tons mais esotéricos, um milagre. 


Em tons mais profanos, Rogers, humilhado depois do confronto com o jovem Caveira Vermelha, recebe a inesperada oferta de ajuda do Daredevil dessa realidade, um artista circense aparentemente imortal e indestrutivel. Algumas revelações importantes conferem nova perspectiva geral: a terra não possui mais telepatas ativos. Aparentemente, a humanidade mutante não pode mais procriar. 


E "algo" está vindo, de acordo com Starjammer, em comunicação com seu filho, Scott Summers. 

Mas há alguma esperança, ainda que mesmo essa venha com sua cota de sombras: uma das poucas crianças ainda vidas no planeta, um rejuvnescido Bruce Banner, revela para Clea que ele tem sido tomado por sonhos envolvendo Mar-vell, o Capitão Marvel original. Nestes sonhos, o herói, que morreu anos atrás vítima de um câncer, teria na verdade, transmutado em um novo estágio de consciência. Ele, agora um "universo Marvel", estaria tentando dizer algo para Bruce. Neste sonho, Bruce pode ver nossa galáxia, mas sem o terceiro planeta do sistema solar nela. 


Então, incapaz de decodificar a mensagem, os personagens decidem adentrar o reino dos mortos e questionar Marvel pessoalmente. 

Descobrir que as entidades asgardianas são menos onipotentes do que se imaginaria de deuses, extremamente condicionados à percepção alimentada a respeito deles, é algo bastante inteligente do roteiro. Deidades reduzidas à  condição de tulpas, construtos alimentados coletivamente, manifestados na realdade apesar de tal crença e subserviente a ela. Uma gigantesca "arma de Tchekov" que com certeza vai ter importância ao final da trama. 

Ao final, falando de armas de Tchekov, os Inumanos, ainda no Doom Castle na Latvéria, descobrem a máquina do tempo de Victor. Se ela vai ser um elemento da história, não dá pra saber mas sua presença aqui vai em direção aos temas da série. O desejo do retorno ao passado glorioso, a nostalgia como prisão (feita literal no caso de Tony Stark). E mesmo o homem mais brilhante do planeta, Reed Richards, se vê dividido em sua busca por respostas para o apático fim do mundo que seu planeta vivencia: olhar para o passado em busca de respostas ou voltar sua busca em direção do futuro?

Nos aproximamos do meio da jornada, o relógio bate seis horas e adiante, apenas mais promessa de trevas. 


terça-feira, 25 de julho de 2023


 

Navegando pelo multiverso: "Earth X" - parte 05



Uma edição um pouco menos cheia de eventos, toda centrada em personagens se movendo, personagens conversando e, claro, em um gigantesco confronto. E isso é um elogio, veja bem. Um daqueles momentos de respiro antes da ação voltar. 

O foco, que já passou pela fossa séptica na qual os EUA se tornaram, Europa e espaço sideral agora se volta para a África, ou mais precisamente Wakanda. Reed e os Inumanos tentam comparar informações com o rei T'challa, mas este se mostra refratário aos avisos do Sr. Fantástico. 


Enquanto isso, uma versão bestial do Hulk e um garotinho (Banner?) vão até ao Santo Sanctorum atrás de Cleo, a Doctor Strange desse mundo. 

Frustrado pela recusa do Pantera Negra em ajuda-lo, só resta para Reed auxiliar os Inumanos em sua busca por membros perdidos de sua raça e para isso, ele decide ir até Westchester e utilizar o Cérebro, o computador desenvolvido por Charles Xavier. 


Mas claro, o coração da edição é o confronto entre Steve Rogers e o jovem Caveira Vermelha. Não uma versão do vilão, clone ou nada do tipo. Apenas um garoto com poderes mentais extremamente desenvolvidos, capaz de manter multidões sob seu controle. É exatamente o confronto estilo "Boomer vs Millenials" que vocês poderiam imaginar. Rogers com idéias voltadas em direção ao sonho pelo qual sempre lutou e seu jovem oponente com o pragmatismo e "perpétuo agora" típico - sem juízo de valor aqui - das gerações mais novas. 

Apesar do jovem dar claros sinais da falta de moral típica de sociopatas, o "pecado" dele parece outro: certa falta de conhecimento Histórico. Quando o Capitão o acusa de ser um novo Hitler, o rapaz responde com um "Quem?"

Como o NOSSO mundo em seu igualmente lento apocalipse nos ensinou nos últimos anos, "quem esquece seu passado tende a repeti-lo". 


Por fim, descobrimos qual pode ser o objetivo final dos Celestiais ao iniciar a gigantesca máquina histórica que é o planeta Terra do universo 616: no final, o objetivo final de quase todo organismo vivo. Procriação. A humanidade e a semente celestial que as gigantescas deidades alienígenas inseriram em nossa raça nada mais é do que a chave para a criação de novos celestiais e seu germinar, segundo UATU, era inevitavel.

O que nos traz à pergunta: vai haver um planeta para que a humanidade possa ascender às estrelas ou o apocalipse em processo já está em um estado avançado a ponto de negar este salto final?


segunda-feira, 24 de julho de 2023

Navegando pelo multiverso: "Earth X" - parte 04



Correndo por fora, mas igualmente permeando todas as edições da série até agora, está o tema da humanidade de Aaron e sua posição única por ser, ao mesmo tempo, homem e máquina. 

Enquanto Uatu enxerga seu apego à humanidade como fraqueza, meramente resultante da programação engenhada pelo "inventor" de Aaron, este vê tais características como fontes de força. Fruto do amor que ele recebeu de seu "pai". Se isto é de fato, força ou fraqueza, só saberemos ao final da série. 


Neste capítulo, Earth X começa a nos trazer algumas respostas sobre os horrores acometendo a Terra 616 e as origens de tais sortilégios. 

A edição usa seu formato de forma muito inteligente, nos mostrando as origens do Príncipe Submarino e um pouco de sua história e passado com humanos E super-humanos para, só no apêndice, ao final, mostrar como ele é um player fundamental para a crise planetária. No final, depois de enfrentarem toda a sorte de invasor multiversal, cientista louco, mummudrai e outras aberrações, o que trouxe o mundo para a beira do precipício foram apenas... comida e energia. Na tentativa de oferecer energia gratuita para o planeta, Reed pode ter causado o despertar do gene mutante em toda a humanidade.

Por sua vez, com a escassez de recursos para alimentar todo um planeta, os humanos se voltaram para os heróis como seus líderes, rejeitando a democracia e atribuindo a estes o papel de figuras políticas ao redor do globo. E estes voltaram seus olhos para os mares, procurando por comida. E isso deixou Namor muito..MUITO insatisfeito. 


Ainda é nos revelado que Vibranium pode ser uma das causas da crise planetária, estando conectado ao fim de Titã, lua dos Eternos que deixaram a Terra, milênios atrás. 


E ao final da edição, a ameaça que paira desde o primeiro número revela seu rosto. E surpreendendo ao todos, ele não é o rosto de um homem, mas de um garoto ainda na adolescência. Por que, como Uatu comenta com Aaron ao final, a história traz vários casos de jovens monarcas ordenando a morte de homens feitos. Poder não escolhe idade. 

O futuro da Terra gira agora, em torno da decisão de Steve Rogers de parar ou não, o fascismo emergente, mesmo que isso signifique ter em mãos o sangue de alguém pouco mais velho que uma criança. 

Para não dizer que eu fui apenas elogios à edição, tem uma fala sobre "equalidade ser o nulificador da individualidade" que me incomodou, enquanto anarco-socialista defensor de uma sociedade igualitária. Mas vou acreditar que essa fala exista dessa forma por sair da boca de UATU, que representa a lógica fria, contrastando com a paradoxal humanidade de x-51. 

Vamos ver, conforme a série avança, o que vai vir desse choque. 


"Foi pra isso que você me trouxe aqui, Uatu? Para que eu possa testemunhar... o fim?"

sexta-feira, 14 de julho de 2023

30 dias com Cletus

 Eu não acredito que eu nunca postei isso aqui: 


Eu que fiz. :-)

Há 3 anos, mais ou menos, Stella, Cletus e eu fizemos esse filminho caseiro narrando a descida de meu ursinho (e representante legal) em direção a insanidade (pandemia não foi fácil pra ninguém).

Inclusive, me sigam lá no meu novo canal no youtube.

Vai ter muita coisa lá, logo logo (incluindo os vídeos antigos que eu já tinha postado no canal anterior, além de coisa nova).

Eu tenho um orgulho tão besta desse filmezinho. :-)