quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Image

Pretendo escrever aqui sobre a mais recente obra daquele que é fácil, o melhor roteirista de hqs de quadrinhos da nova geração: o brilhante Jonathan Hickman. Ele tem obras mais mainstream (como o Quarteto Fantástico) que são excelentes, mas o seu melhor material foi lançado de forma mais autoral, dentro da Image Comics, e pensando nisso, não deu pra não notar uma parada: Quando foi que a Image Comics virou uma das melhores editoras do planeta?

Vejam bem: IMAGE COMICS. A do Spawn. Diabos, a do YOUNGBLOOD.
O que aconteceu aqui? A Image foi a responsável por uma das piores fases dos quadrinhos norte-americanos, quando, fazendo juz ao nome, suas revistas era puro desenho e roteiros extremamente fracos. Tudo derivativo do que fazia sucesso na época e que, numa virada infeliz do mercado, passou a influenciar tanto Marvel e Dc, resultando numa época em que boas histórias viraram artigo extremamente raro. Ou seja, tudo de ruim na década de 90. na indústria de histórias em quadrinhos, foi mais ou menos culpa da Image. 

E aí, 20 anos depois, ela deixou de ser a editora de onde todos fugiam, pra virar a editora na qual todos se refugiam. Cansado de super-heróis? Cansado da mesmice? A Image é o lugar (justiça seja feita, junto com a Dark Horse, que publica tb muita coisa boa, como Madman e The Goon). Excelentes roteiros, excelentes desenhistas. Grant Morrison, Jonathan Hickman, Warren Ellis, Matt Fraction, Robert Kirkman, todo mundo lançando coisa lá. 

O mundo dá umas voltas muito esquisitas. Não que eu esteja reclamando, veja bem.

Shin sekai yori - Eps. 07 a 09

ok, vamos lá.

Episódio 07 - Summer Darkness

As pessoas tendem a fazer uma pequena confusão quando elas falam do processo evolutivo: a frase comumente repetida, que supostamente teria vindo de Darwin, seria "a evolução favorece os mais fortes".
Então, as coisas não são exatamente assim. A verdade é que os "favorecidos" pela evolução (as aspas são pq não há nada de moral no processo, ponto que eu sempre reforço aqui) são os mais APTOS à sobrevivencia.
Nesse episódio, que marca o fim da guerra entre as crianças, mais os sobreviventes da Giant Hornet contra a tribo de bakenezumis da Ground Spider, vimos isso na prática, personificado na repulsiva figura de Squeeler. 

Covarde, traiçoeiro....mas ainda vivo.


Traiçoeiro, covarde, manipulador, capaz de abrir mão da própria dignidade de boa, mas no final, o que importa é: conseguiu segurar os inimigos até o reforço, na forma de 20.000 aliados da tribo da Robby Fly, liderados por Kiromaru, chegar. Os que não foram mortos, serão capturados e usados como força de trabalho escrava. De bonus, pra sua tribo, 3000 cativos da tribo adversária. 
Alguém vai dizer que ele não foi o grande vencedor dessa guerra? Fortaleceu laços com os "deuses" usuários do Cantus e ainda por cima reforçou sua tribo, que vai sair extremamente fortalecida do conflito. Evolução diante de seus olhos. 
Outro aspecto do roteiro interessante, é que descobrimos que os humanos e as tribos maiores de bakenezumis possuem um acordo com os humanos, o que, aliás, se vc parar um pouco para raciocinar, soa até óbvio. Se a "morte por vergonha" impede que humanos matem outros humanos, é meio lógico pensar que os governantes do Japão usariam os bakenezumis inteligentes como executores. E pelo tom da voz do general Kiromaru (aliás, só eu achei que ele tem uma aparencia meio demoníaca? Será coincidencia?) a relação destes com os humanos é meio servil, uma espécie de tolerância meio tensa. 

Baphomet?? Nope, Kiromaru



E aquilo que eu disse da bola de neve de insatisfação social vai crescendo. Já tinha cantado essa bola da união entre os guris e os queerats numa possível guerra contra os homens por trás da organização social opressora a qual são submetidos, e isso só me parece, cada vez mais, uma questão de tempo.
Ah sim, só eu não tinha sacado que todo aquele misticismo do bloqueio e liberação do Cantus por parte dos monges era nada além de hipnose? Era tão óbvio mas me passou completamente despercebido. 

Ave Fenix.... ow, wait, é o Cantus dos meninos depois de ser restaurado.


Episódio 08. - The Omen

Temos um salto de dois anos e aí.... bom, e aí um monte de fãs ficaram indignados. E eu não consigo entender pq. Pra quem não vê o anime (bom, não sei pq alguém que não assiste SSY estaria lendo isso, mas vá lá) aparentemente a homossexualidade é algo comum na sociedade em que passa o anime, e todos os protagonistas tem namoradinhos(as) do mesmo sexo. Pelos corredores da escola, inclusive, todos os casais são de jovens do mesmo sexo. E pelos fóruns, mó galera chiou, chamando o desenho de Yaoi/Yuri e coisas do gênero, e aí eu pergunto: que anime vcs andaram vendo? Pq tipo, lá no ep. 04, eles dizem da forma mais clara possível a respeito da manipulação genética, do uso de características de outras espécies de animais, nesse caso específico, dos macacos bonobos. Sabiam que existe uma alta incidência de sexo entre macacos do mesmo gênero sexual nessa espécie?
Pois é.

Saki e Maria

Satoru e Shun



E tipo, eu achei super estranho essa reação do público já que, quando o minoshiro menciona esse lance da reengenharia genética, aparecem cenas de contato físico entre a Saki e a Maria, e, vejam bem, entre a Saki e a MÃE dela.
Nesse caso, se em algum episódio futuro, aparecerem cenas lésbicas entre Saki e sua progenitora, eu juro que não vou ficar chocado. Vá lá, vcs podem dizer que é fanservice, que é isso, que é aquilo, mas não foi NEM gratuito, nem algo que vá contra as regras estabelecidas nos episódios anteriores. 

Da minha parte, eu só achei estranho que todos os casais vistos no episódio sejam gays/lésbicos. Será que o sexo heterossexual não é incentivado nesse mundo? e quem ganha com isso? Sabemos que existe, pq, afinal, as pessoas se reproduzem e tals, e sabemos que existem laços afetivos heterossexuais pq os pais da Saki parecem ter afeto entre si, e, de qualquer maneira, Mamoru parece ter uma paixonite pela Maria, o que é visto de forma completamente normal pela Saki (que é namorada da já citada garota, aliás). Isso sem contar a quedinha que a própria Saki tem pelo Shun. 
Então o conceito de envolvimento heterossexual existe. Seria um lance de afinidade maior, como sugerem no episódio, uma consequencia da pré-determinação genética ou apenas algo cultural? Vai saber, mas ainda assim, chamou a minha atenção. Mas mais que isso, o que realmente me incomodou foi a forma como a Saki reagiu quando percebeu que Mamoru tinha sentimentalidades pela ruiva. Não houve nem sombra de ciúmes, nenhuma manifestação de possessividade, nada, apenas empatia pelo gurizinho. Mesmo sabendo que adolescentes são extremamente voláteis, eu achei incomum. 
O que isso tudo me lembra é a sociedade de "Admirável mundo novo". Enquanto 1984 mostrava uma sociedade regida pelo medo, o livro de Aldous Huxley ia pelo sentido oposto, em uma sociedade tão alienada quanto a do livro de George Orwell, mas o mecanismo de controle era o prazer, o que invariavelmente envolvia a sexualidade. As células familiares era formadas por mais de duas pessoas e o hedonismo era incitado pela mídia, inclusive com drogas que aumentariam seu prazer sexual, então pq se limitar a uma só pessoa.
Enquanto se está transando loucamente como doninhas no cio, vc não está questionando seu governo. Pão e circo, basicamente, elevado à enésima potencia. Mesma coisa aqui? Se não me engano, Freud dizia que "energia sexual acumulada vai encontrar formas mais criativas de se evadir". Mantendo os guris, com seus hormonios gritando, preocupados em namorar e tals, eles não questionam a EXTREMAMENTE instável ordem social.
Só que como sempre, vem as variáveis. Personificadas na natureza questionadora dos 5 protagonistas, e no caso desse episódio, do isolamento de Shun. A escola dos guris é visitada pelo usuário de Cantus mais poderoso do planeta, Kaburagi Shisei. 

Kaburagi Shisei. Falaê, provável ultímo vilão da série, não acham?


Todo estavam ansiosos com o encontro deste com Shun, seu provável sucessor e aí..... algo dá errado.

Shun

O ovo sinistro.


E o garoto precisa ser isolado. Eu já tinha dito antes (acho) a respeito do guri começando a apresentar características de um demônio de carma (ou, como sabemos agora, de uma vítima da síndrome Hashimoto-Applebaum) e como tal, ele precisa ser excluído da sociedade. 
E aí, num evento que me deu "Matrix Reloaded feelings", temos o amor como catalisador de uma provável mudança social. Pq a Saki sempre nutriu sentimentalidades pelo garoto, e não vai aceitar a exclusão social deste (e possível eliminação?) de forma passiva.
E a bola de neve vai crescendo, e crescendo....

Ep. 09 - The Gale game




"Even a little man can cast a large shadow". 


Essa frase é de Game of Thrones, mas acho que quem viu o ep., vai acha-la absurdamente apropriada aqui, não? Inclusive, com o mesmo significado: grandes mudanças começam com pequenos eventos.
Lembrei imediatamente dela quando Saki percebe que, literal e metaforicamente, ela está num "point of no return". A partir daquele momento, suas ações não tem volta. Não que isso seja uma situação nova, já que no episódio anterior, descobrimos que os anciões da cidade sabiam o tempo todo que as crianças haviam tido contado com o minoshiro. Pq eles não foram imediatamente eliminados? Não se sabe, talvez pelo enorme potencial de Shun (e de Saki?), mas os 5 garotos foram mantidos sob constante vigilância.

Anyway, esse foi um excelente episódio. Enquanto o anterior apresentava o "novo"(pós avanço de dois anos) cenário dos protagonistas, este entrou um pouco mais a fundo na questão do controle social exercido contra os jovens. As brechas começam a aparecer e não tem mais como ignorá-las. Os pais da Saki percebem isso claramente, e nem mesmo a fachada de família feliz consegue sobreviver ao escrutínio da menina (e convenhamos, considerando o desaparecimento de Yoshimi - o irmão mais velho da Saki - e como o acontecimento não é nem mencionado pelos seus pais, nem é preciso se esforçar muito pra ver que há algo de errado).
Anyway, Saki, Maria, Mamoru e Satoru resolvem investigar mais sobre o desaparecimento do quinto membro do grupo e acabam diante de algumas verdades extremamente dolorosas.
Maria descobre que os professores são os responsáveis pelo desaparecimento dos alunos problemáticos e que são eles que enviam os tais gatos negros pra fazer o trabalho sujo. (eu achava que os tais bichos eram metáforas e tals, mas não, são gatões gigantes, do tamanho de uma pantera. Me pergunto se são realmente animais ou maquinas biológicas, tal qual o minoshiro. Talvez, construtos rastreadores de usuários de Cantus?). 

"The men behind the curtains"


O acampamento da Brisa de Verão, moradia do Shun, foi isolado do resto da cidade e ultrapassar a barreira é um crime passível de morte. Apesar disso, Saki vai adiante e dá de cara com uma cratera que imediatamente me fez ouvir alguém gritando "TETSUOOOOO" de fundo.

A cratera

A explosão de Tóquio em "Akira". Questão de tempo, só falando...



"Akira" feelings aqui. Forte. E isso não é uma crítica nem nada, só uma constatação. Tal qual como no filme de Katsuhiro Otomo, temos uma sociedade à beira do colapso e um guri com poder o suficiente pra trazer essa mesma sociedade abaixo. A diferença aqui é que Shun ainda, vejam bem, AINDA não possui poder pra fazer frente à usuários do Cantus como Shisei. Mas com uma pequena forcinha dos amigos.......  Cheiro de guerra civil/revolução social à frente. 
Um detalhe que me chamou a atenção foi a Saki estudando as origens do próprio nome, no caso, se não me engano, filha mais nova. A mensagem do ep. foi clara: nomes têm poder. (Senti saudades de "Lost" agora...)
Depois que o episódio acabou, fui dar uma pesquisa sobre o significado do nome dos protagonistas.
No caso dos nomes orientais, foi meio complicado já que achei dois ou mais significados pra mesma palavra.
Shun = piscar de olhos (entre outras versões)
Satoru = Iluminado (aí tem? Todo mundo esperando que o Shun, a Saki ou a Maria sejam os catalisadores da grande tragédia vindoura, mas se esquecendo que Satoru já demonstrou uma certa sede de sangue, quando na guerra contra os bakenezumis. E ele é apaixonado pelo Shun, então, temos até um forte elemento emocional para agravar tudo)
Mamoru = Proteger (o que eu questionei sobre o Satoru tb se aplica aqui, mais ou menos).

e aí chegamos na Maria, única personagem com nome ocidental.
Segundo o Wikpedia e mais uns dois ou três sites, o nome "Maria" possuem 3 possíveis origens: derivada da raiz egípcis "mry", significando amor. Até aí, tudo bem. Mas vamos mais fundo.
Pode tb vir da palavra latina Mare (mar). Ou pode vir do hebraico "Miriam", que quer dizer rebelião.

Agora começamos a conversar. Pq também pode ser uma derivação do nome masculino grego "Marius" que pos sua vez, vem do nome do deus da guerra, Marte.

Sentiram a pressão? 

Ao final do episódio, ficam três perguntas: a menos óbvia seria se os anciões sabiam da presença de Maria e Saki e essa pequena insurreição levantada pelo grupo é parte de uma emboscada preparada para eliminar os cinco. Pq fiquei com a nítida impressão de que tudo ali era meio que planejado, vcs não?
A segunda: o que foi aquele take naquele rosto gravado naquela árvore vermelha? Algo apenas pra assustar os passantes ou algo mais sombrio?

A árvore macabra


E a mais óbvia: o que a Saki vai fazer contra aquele gato gigante sinistro? 

O gato.


Agora é esperar pelo episódio 10. 
Eu fico esperando ansioso.  ^^

Excellent!!!


terça-feira, 27 de novembro de 2012

"...And don't forget to smile": ALL HAIL TO JOHN WATERS





Olá.... deixe-me ser o mais gráfico possível aqui: o post a seguir vai falar um pouco sobre vida e obra de John Waters. E pra quem conhece o trabalho desse diretor, sabe que é impossível fazer isso com a justiça que lhe é devida sem descambar, em virtude do papel que este elemento ocupa em sua obra, pra putaria.
E quando eu me refiro a putaria, eu não estou me limitando a apenas a prática sexual. Eu me refiro a toda sorte de miséria e esquisitice contida aqui.

....

The Man!!!


ok, mais gráfico ainda: o post a seguir fala de atos de violencia, canibalismo, sodomia, incesto, lesbianismo, heresia, satanismo, escatalogia de toda sorte e afins (inclusive, as vezes, dois ou mais dos elementos são praticados ao mesmo tempo).
Então, se vc se ofende com piadas religiosas, com violencia extrema, com práticas sexuais que podem apenas ser descritas como "incomuns" (e incorro aqui num eufemismo monstro) e coisas do gênero, sério, vaza.

Não, sérião, se vc se ofende, vou deixar o link pro site do Pastor Malafaia ou algo semelhante, vai lá e divirta-se com conselhos instrutivos que vão enriquecer sua vida e torna-lo um ser humano melhor.
Sim, sim, segue o link pro site do Pr. Malafaia, esse bastião da virtude e dos valores cristãos.

Não satisfeito? Que tal estas lindas fotos de gatinhos filhotes? owwww, vejam a terceira foto, que coisinha fofinhaaaaa... ^^

E que tal este lindo site falando sobre os bons efeitos que a mentalização positiva tem e tudo de bom que ela pode efetivamente realizar em seu dia-a-dia? Esse é o tipo de coisa pra ver e encher nossas vidas com, não esses valores sujos e indignos que o diretor abaixo descrito defende, não é mesmo, amigos?



:-)

.......

Ainda aqui?

Sério mano, eu vou gastar alguns parágrafos falando de uma travesti obesa que tem um rosário cristão introduzido em seu anus (e enquanto falo isso, estou indo no google pra ver se encontro a foto da bagaça pra botar aqui. Então eu não estou brincando......

.....hey, talvez, apenas talvez, eu não devesse procurar por fotos de uma homossexual gorda sendo violada analmente no computador do trabalho...... ah, fuck it, you only live once...


ok, então, senhores.
Pros fortes que se mantiveram aqui, um aviso: vcs sabem que eu tendo ser minimamente sério, mesmo mantendo um tom leve ao falar das paradas de que curto aqui. Mas aqui, cai numa questão crucial: ser sério e ressaltar os aspectos de crítica social que os filmes de Waters tem ou me concentrar nas sacanagens e trasheiras que lhe tornaram notório?




Excelente sugestão, garotinha. 

Então, as resenhas vão seguir o seguinte modelo: Historinha do filme, rapida passada sobre elenco e tals, então uma crítica séria e a seguir a crítica "massavéio". Acho que dessa forma, consigo fazer justiça a obra do cara.
Vou falar dos filmes que eu vi (os 6 da maratona, mais os 3 que já havia visto antes) sem nenhuma ordem específica (ou se preferirem, vai ser na ordem "a moda caralha")

Tudo esclarecido, então....





Primeiro, falemos um pouco das origens de titio Walters.
Nascido e criado em Baltimore, cenário de absolutamente todos os seus filmes, filho de pais católicos (o mundo é um lugar estranho, não?), ele não teve uma história sinistra como vcs poderiam imaginar.
Ele não se tornou esse cara esquisito, com a aparencia de um abusador de crianças, pq ele foi violado pelos pais ou criado num ambiente sinistro. Pelo contrário, inclusive, seus pais lhe deram mó força quando ele precisou de grana pra fazer o primeiro filme (mas aparentemente até eles tem seus limites, nunca tendo visto nenhum dos filmes do filho).
Lá pelos 17 anos, ganhou uma camera Super 8 e decidiu produzir alguns curtas. Enquanto a maioria dos jovens nessa idade fazem filmes mega cabeça e obras altamente desafiadoras intelectualmente (ou pelo menos tentam, falhando miseravelmente na maioria das vezes), ele decidiu mostrar toda sorte de coisa nojenta, incluindo nego comendo vômito e tals. O primeiro curta, com o sugestivo nome de "eat your make up" era exatamente isso, um bando de modelos sendo capturadas por degenerados que as submetem a todo tipo de torturas, o que inclui o ato de ingerir da própria maquiagem. A produção era esquema de guerrilha, bota a camera na rua, junta os amigos e bora.
E inclusive, falando dos amigos, pelo menos no começo, o casting dos filmes do diretor contavam com quase a mesma equipe, mudando conforme a necessidade (entendam: quando os atores morriam, o que acontecia com uma certa frequência, devo dizer). Entre os habitues dos filmes do senhor João das Águas, temos gente como:

Mink Stole (que teve em todos os filmes do homem)



David Lochary



Mary Vivian Pearce (outra que apareceu em todos)



Edith Massey



Ricki Lake

Caralho, a menina emagreceu horrores. Preferia ela gordinha, como nos filmes...


E a sua musa máxima, e que merece um parágrafo a parte: Divine.



Então....lá pelos idos de 45 nascia Harry Glenn Milstead. Quando adolescente, era meio mal visto pelas outras crianças, por não gostar das coisas que um garotinho deveria gostar. Ao invés de futebol, cosmetologia. Ao invés de carros, escola de atuação. Ao invés de sair com os amigos, aprender sobre hairdressing. E como vcs podem imaginar, ao invés de meninas......

Divine, ainda um guri



Ainda jovenzinho, ele conheceu o igualmente infante John Waters, e quando este em 66, foi fazer seu primeiro curta, não pensou duas vezes e botou o pequeno Harry pra ser sua ATRIZ principal.
Uns vestidos aqui, um pouco de maquiagem acolá e nascia Divine. Entre várias obras cinematográficas e teatrais (além de uma breve carreira musical), Divine atuou (as vezes como protagonista) em 6 obras de Waters (a saber: Mondo Trasho, Multiple Maniacs, Pink Flamingos, Female Troubles, Polyester e Hairspray). Sua persona era sempre marcada pela atitude forte e uma capacidade tal pra fazer coisa trash que só pode ser descrita como um talento pessoal (falo mais sobre isso quando for falar dos filmes)
Divine morreu em 88, em virtude de problemas cardíacos. Seu túmulo virou ponto turístico de Baltimore (achei super singelo que uma das msgs deixadas na lápide dela foi a frase: make heaven flashy!!) ^^

Notaram as unhas pintadas na lápide? ^^


Pra quem quiser saber mais sobre a diva, segue um site muito legal (que também fala bastante sobre John Waters e que foi uma das fontes pra esse texto) que tem uma seção só sobre ela: o Dreamland.

Bom, pela sorte de figuras com quem o diretor trabalhou, vcs podem imaginar que ele não contava histórias tocantes e pra família e era bem isso: os protagonistas dos filmes dele eram os outcasts, os rejeitados pela sociedade, os esquisitos, etc. Geralmente seus filmes tratavam da hipocrisia da burguesia norte-americana e esses excluídos sociais eram as ferramentas pras críticas ácidas (pq esse é outro elemento marcante da filmografia dele, o humor) contra os valores estabelecidos.
A família, moral, bons costumes? Pro caralho com tudo isso. O objetivo era implodir esses e outros valores e mostrar o quanto a classe média e alta tem seus podres, escondidos sob uma falsa capa de virtude e muita auto-grandeza injustificada.

Baltimore, como já disse, cenário de todos os seus filmes desde a época dos curtas metragens, funciona meio como um micro-cosmo do mundo. O pessoalzinho rico ali demonstrado é o americano, mas poderia ser a classe abastada de qualquer país capitalista/cristão, o que talvez, justifique um pouco o sucesso mundial dos filmes do diretor, mesmo com toda a tonelada de perversões que ele costuma registrar (ou talvez, exatamente pela combinação de ambos os elementos. Pelo menos foi o que funcionou comigo). Na ativa até hoje, o cara continua relevante (principalmente pq os valores hipócritas que ele ataca continuam em voga até hoje. Um pouco mais enfraquecidos, mas ainda vivos), seja por meio de seus filmes, suas apresentações onde conta histórias de vida e fala sobre seus trabalhos, seus livros (o mais recente, Role Models, .....) e suas histórias que viram aventuras involuntárias (como recentemente, quando virou matéria o fato dele ter sido "encontrado" fazendo viagem tipo mochileiro pelos caras da banda "Here we go magic". Inclusive, as histórias dele nessa viagem devem virar livro).

John Waters e o Here we go magic


Particularmente, devo dizer que existem gigantescas possibilidades de que eu tenha que admitir que Waters é meu diretor favorito EVER (inclusive, explico, através dos filmes, o porque disso) e espero que o cara produza muito mais e que ainda venhamos a ouvir falar dele por várias décadas.
Enfim, vamos ao que realmente importa aqui: seus filmes



Mamae é de morte (1994)


"It's been a crazy day hasn't it?"

Ok, esse aqui deve ser o mais famoso dos filmes dele pra nós, brasileiros, pq é o que passava na sessão da tarde, lá na década de 90.


....

Sim, crianças, houve um tempo em que filmes como esse passavam na sessão da tarde, antes de toda a putaria politicamente correta de "vamos proteger nossas crianças" começar. E não pensem que foi versão retalhada, editada ou algo assim, o que passou foi a versão integral, incluindo toda a violência e tosquice envolvida na história de Beverly Suthpin (Kathleen Turner), uma mãe de família e esposa aparentemente normal que na verdade é uma serial killer.

Crítica careta: é bem legal ver que o tempo não amansou John Waters. Sim, ele tornou tudo mais palatável, mas as críticas ainda estão lá. E esse é um filme curioso da filmografia dele já que muda um pouco o foco. Aqui a outsider não é a protagonista, mas sim uma mulher aparentemente normal, parte da mesma família certinha que geralmente é o alvo de seus filmes. Só que aí, ele subverte isso e mostra como essa classe tem muita coisa sinistra por trás da fachada de normalidade (e isso vale não só pra Serial Mom, mas pros vizinhos que são suas vítimas. Todos eles tem algo sinistro, ou são maus pais, ou maus cidadãos, algo assim).


Beverly fritando um amiguinho mal-educado de seu filho.


Crítica massavéio: Mano, eu adoro a década de 90. A mesma década que permitia passar "Robocop" na "Sessão da Tarde", com todo seu show de mutilações, desmembramentos, banhos de ácido e tiros no saco. A mesma sessão da tarde que passou "Serial Mom". Sério, pensem na awesomeness disso: um filme do JOHN WATERS, passando logo depois do "vale a pena ver de novo", pra mamãe com tempo livro e pros jovens adolescentes imberbes pós-escola matinal. Esse é o tipo de coisa que fortaleceu o caráter de toda uma geração. E violência tinha pra cacete aqui, desde Beverly incinerando o amigo do filho até a clássica cena dela arrancando o fígado do namorado da filha, depois de flagra-lo com outra. Não, vejam, isso não é uma metáfora: ela espera ele ir ao banheiro, acerta ele com um daqueles ferros pra mexer na lareira e arranca o fígado do guri no processo.
O fígado. Eu disse, eu não tava brincando!!!



Além disso, a mulher matando uma vizinha porcalhona com golpes de um pernil de porco é....mano, too much awesomeness....


Hairspray (1988)






"Big is beautiful"

Junto com Polyester, foi o ponto de virada da carreira do diretor. Menos violência gráfica, mas muita crítica. Esse aqui é um dos mais lights dele, contando a história (ambientada nos anos 50) de Tracy Turnblaud, garota que junto com a amiga Peggy, sonham em fazer parte do elenco fixo de um programa de dança famoso de Baltimore, o Corny Collins show, apesar das tentativas de uma concorrente que tem as mesmas ambições.

Crítica careta: De novo: as presas de Waters podem estar menores, mas continuam afiadas. Ele usa um musical típico da época pra discutir a questão racial e como os negros eram tratados na época. No filme, o programa tem um dia exclusivo para aparecerem negros e logo depois de ganhar alguma fama, Tracy se mostra contra tal postura, irritando inclusive o racista patrocinador do show. Muito maneira a cena de   Tracy e Peggy algemadas no portão do estudio onde rola o show gritando "YES INTEGRATION, NO SEGREGATION". Além disso, o filme também aborda como a cultura branca acaba sempre incorporando elementos da cultura negra e de periferia, coisa que acontece até hoje, ainda que sob protestos dos mais racistas e não sem uma certa pasteurização da cultura assimilada no processo.

Papai e mamãe Turnblaud.


Crítica massa véio: Como eu disse, esse é dos mais lights, então, nem tem muito o que comentar aqui, exceto que é bem maneiro ver a dinâmica dos pais da Tracy, interpretados pela Divine (a mãe, só deixando as coisas claras) e por Jerry Stiler, mais conhecido como o pai de Jerry Costanza, em Seinfeld. 
Enfim, o filme é tipo um "Dirty Dancing", só que bom.

Cry baby (1990)



Some men just want to watch the world burn.


"Let Jesus Christ be your gang leader"

Acho que dos filmes aqui listados, esse é o que eu menos gosto. Vejam bem, não é ruim de forma nenhuma, é só o mais normalzinho deles (acho que nem vai ter material pra crítica massavéio). Conta a historia (tb ambientada na década de 50) de Honey e Cry Baby. Ela, uma jovem normal da classe média, criada pela avó. Ele (interpretado por Johnny Depp), um tb orfão, membro e forte candidato a líder da gangue de motoqueiros da cidade. Obviamente os dois se apaixonam e o resto é a galera careta e coxinha da cidade reagindo e os percalços enfrentados por ambos até poderem ficar juntos. 

Crítica careta: Então, pelo descrito acima, não é dificil imaginar que os heróis da história são o pessoal da gangue de motoqueiros. E realmente, eles são muito mais interessantes que o pessoalzinho "normal" (mas até aí, o avô de Cry Baby é ninguém menos que Iggy Pop em pessoa, que inclusive canta no decorrer do filme).


Crítica massavéio: Apesar do que eu disse, acima, achei o filme bem divertido, e olha que eu odeio musicais (ah sim, e só pra não dizer que eu não falei, tanto este filme como Hairspray, posteriormente viraram musicais da Broadway). Inclusive, preciso lembrar de baixar a trilha sonora. Tem várias músicas legais, principalmente a final, "High school hellcats". E hey, no final, nao é o cry baby que se acerta na vida e vira um cara direitinho, dentro dos conformes sociais, mas a Honey que acaba se tornando um membro da gangue, então, só aí a gente já foge do clichê básico. Fuck yeah.

Minha música favorita do filme (cuidado com os spoilers)



Pecker (1998)




"Pelos púbicos causam crimes"

Na maratona que eu e Maristela fizemos, esse foi o primeiro que vimos (aliás, antes que eu me esqueça, seguimos a ordem dessa listinha aqui que lista os 10 melhores filmes do diretor, lá no "Pop matters").
E achei muito legal. Da safra mais "normal" de filmes de Waters, acho que esse é um dos que eu mais gosto, só fica abaixo de Cecil B. Demented. O filme narra o dia-a-dia de Pecker, guri que trabalha num restaurante mas nas horas de folga, tira fotos. Não, peraí, ele tira fotos INCLUSIVE enquanto trabalha.
E aí, um dia, ele é descoberto por uma crítica de arte de Nova Iorque e passa a lidar com o lado positivo e o negativo da fama. 

Crítica careta: Pecker é de 1998, portanto, é dos filmes mais recentes do autor. Em virtude disso, e vejam bem, isso é só coisa da minha cabeça, não li em lugar nenhum, mas me pareceu meio que um manifesto do autor contra a crítica "estabelecida". Vejam bem, Pecker é descoberto pela Rory (só eu acho que o nome dela lembrar a sonoridade da palavra "Whore" não é uma coincidência?) ganha um certo renome, mas esse renome não resulta em felicidade. Pelo contrário, roubam a casa do guri, as pessoas que ele fotografa começam a se revoltar com ele por isso, e até um dos cenários de suas fotos, a casa de strip-tease gay sua irmã trabalha acaba sendo fechado em virtude da notoriedade da arte do protagonista. Sei lá, será que o filme é uma resposta àquela parcela do público que deve ter ficado injuriada pela filmografia de Waters ter ficado um pouquinho mais mainstream? Não sei ao certo, mas achei muito legal como ao final do filme, a mensagem é: gente rica adora analisar a dor e a miséria alheia pelo viés da arte, mas como se sentem quando é o próprio desconforto destes bem-nascidos que é retratado? (Lembrei daquela frase, não lembro de quem, de que "quem gosta de miséria é rico. Pobre gosta de dinheiro"). Meio que um mea-culpa do próprio diretor? (é meio notório que ele se arrependeu, com o tempo, de uma ou outra escolha de carreira, como por exemplo, ter feito piada com os crimes cometidos pela família Manson, quando mataram Sharon Tate, entre outros, em seu filme "Multiple Maniacs"). Além disso, ele aproveita pra dar uma alfinetada na tendência moderna de querer rotular qualquer um como vítima de alguma patologia psicológica e da cultura moderna dos anti-depressivos e drogas do tipo. No filme, a irmã de Pecker é uma garotinha viciada em açúcar e mega agitada. Conclusão dos psicólogos? Hiper-atividade. Então, oras, vamos entupir a garota de Ritalin, mesmo sob o risco de torna-la um zumbi letárgico, igualmente viciada, mas agora, no remédio administrado. Sério, né? E mais atual, impossível.

Crítica massavéio: Mano, tem a avó do Pecker que tem uma marionete da Virgem Maria que supostamente é capaz de falar (na verdade, a própria velha que fica fazendo um ventriloquismo muito vagabundo). Maristela, vendo comigo, imediatamente pergunta: "isso não é sacrilégio?" Esse é bem o clima.

Primeiro momento herético do dia!!


Uma curiosidade: vi numa entrevista que li pra escrever esse texto que, aparentemente esse filme foi responsável pela popularidade do ato do "teabagging"

"O que é teabagging, tio Urso?"

Direto do wikipedia (inclusive, a foto que tem na página do artigo sobre teabagging é o cúmulo do "já desenhei pro caso de não ter entendido"): To tea bag is a slang term for the act of a man placing his scrotum in the mouth of a sexual partner or onto the face or head of another person. The practice resembles dipping a tea bag into a cup of tea when it is done in a repeated in-and-out motion.

Ou, se quiserem algo mais gráfico ainda, segue a cena direto do filme: 




Eu colocaria outros vídeos, mas 75% dos links que voltaram eram de pornografia gay, então....

E aliás, já devo dizer, a partir daqui é ladeira abaixo. ^^


Cecil B. Demented (2000)





"Satã diz que esse filme precisa de mais cor"

AGORA, SIM, CARAIO.

NÓS SOMOS OS PROFETAS CONTRA O LUCRO.

ABAIXO O ESTUPRO COMETIDO PELO CINEMA MAINSTREAM!!!

VIVA OS FILMES DE ARTE!! MORTE AO MAINSTREAM, CACETE!!!!

DEMENTED 4EVER!!!!!!

Eu fico meio assim de dizer que esse é meu filme favorito do diretor pq tem os filmes da trilogia Trash, mas este entra no meu top 3 fácil fácil. Ele conta a história de uma atriz, Honey Whitlock, que, na noite de estréia do filme que pode ser seu comeback para a fama, é sequestrada por um bando de .....hã.. freaks? Sim, Freaks. Freaks que, liderados por seu diretor psicótico, Cecil B. Demented, dedicam sua via à produção cinematográfica e à guerra contra o cinema mainstream. 

Crítica careta: Esse é SEGURAMENTE o filme mais relevante em termos de crítica do diretor, onde o alvo agora é a pasteurização da produção cinematográfica norte-americana. E isso que o filme foi feito em 2000, antes da atual praga de remakes, reboots e etc. O grupo formado por Cecil (o diretor), Cherish (atriz principal), Lyle (Ator principal e estrela do filme), Lewis (diretor de arte), Raven (minha personagem favorita depois do próprio Cecil. Ela é a maquiadora adoradora do tinhoso, autora da frase que abre esse texto), Rodney (o cabeleireiro gay.....que tem o pequeno inconveniente de não gostar de homens, o que o deixa profundamente deprimido), Petie (o motorista), Fidget (figurinista), Chardonnay (técnica de som), Pam (a cinegrafista) e por fim, Dinah (a produtora) são terroristas urbanos com ares de uma célula anarquista que utilizam principalmente (e preferencialmente) a violência como forma de protesto contra o monopólio dos grandes estúdios de cinema. Honey, primeiramente na posição de cativa mas depois incorporada de verdade no séquito de Cecil, vai protagonizar aquela que deve ser a obra-prima do diretor, o filme de protesto absoluto.


Crítica massavéio: Mano, eu gosto tanto desse filme que vou ter que separar por tópicos: 

- Alguns dos filmes invadidos pelo grupo de B. Demented, obras fictícias que funcionam como agulhadas ao tipo de produção recente dos grandes estúdios: "Forrest Gump 2: Gumped again", "Patch Adams: Redux" e "The Flintstones 2". E o mais ridículo de tudo é que anos depois desse filme estrear, REALMENTE FOI FEITO um "Flintstones 2". Se isso não demonstrar o tamanho do desespero de Hollywood....

Só por curiosidade, pros fãs de Boardwalk Empire: sim, esse é o Nelson novinho.


- A cena da execução do executivo de um estúdio fictício, cujo maior orgulho na carreira é ter feito uma versão mais familiar de um filme estrangeiro (entendam: pegou tudo que era legal e zoou o filme inteiro, fazendo algo o mais água com açúcar e desprovido de alma possível. E lembrem-se que esse tipo de violência é feita pq americano odeia filme legendado. E essa maldita cultura aparentemente foi uma das coisas que veio pro Brasil, considerando a dificuldade de achar cópia dublada de qualquer filme. E isso que eu moro em São Paulo, imagina pessoal nos outros estados e que moram no interior....) Exemplo máximo disso foi o maravilhoso "Asas do desejo" que virou aquela monstruosidade conhecida como "Cidade dos Anjos".

- "CELIBATO PELO CELULÓIDE!!!!"

- Eu tenho que dizer: a Maggie Gylleenhaal fica uma gracinha de gótica. Aaaaah, Raven....

É assim que eu gosto de minhas mulheres: psicóticas, esquizofrenicas e adoradoras do demônio.


- O diálogo entre a Honey e o grupo de mulheres da associação de mães pelo direito da família e...ah, vcs sabem, uma dessas organizações formadas por mulheres que não fazem sexo. A tiazinha lá afirma que filmes de arte jamais serão reconhecidos, todos terminando sendo lançados direto em DVDs, não fazem dinheiro, que jamais ganharão um Oscar e quando muito agradam meia duzia de críticos, que bom mesmo é o filme pra toda familia, sem nudez, sem violência e a personagem de Melanie Griffith, já convertida por Cecil manda na lata: "Family is just a dirty word for censorship!"




- Toda a discussão de como Hollywood co-optou o sexo e a violência dos filmes contestadores.

- As tatuagens de cada um dos personagens. Cada um dos membros do grupo de Cecil tem uma tatuagem de um diretor famoso. Todos tem em comum o aspecto artístico, contestador e, claro, o fato de serem todos influências diretas para a obra de John Waters. Segue a listinha: 

- Cecil: Otto Preminger
- Cherish: Andy Warhol
- Lyle: Herschell Gordon Lewis
- Lewis: David Lynch
- Raven: Kenneth Anger
- Rodney: Pedro Almodovar
- Petie: R. W. Fassbinder
- Fidget: William Castle
- Chardonnay: Spike Lee
- Pam: Sam Peckinpah
- Dinah: Sam Fuller

Admito de forma muito constrangida que dos diretores acima, eu só conheço David Lynch (de quem sou fã), Andy Warhol (pelos trabalhos de artes plásticas, mas nunca vi nenhum filme dele) e Pedro Almodovar (de quem não sou particularmente fã, apesar de ter adorado "A pele que habito"). Mas to pensando em remediar isso e fazer uma maratona spin-off da de John Waters, pegando pelo menos um filme de cada um desses diretores pra assistir. Pra quem se interessar, é fácil de achar a filmografia de cada um deles no imdb ou num google da vida. No caso de Kenneth Anger, deixo aqui seu filme mais famoso (disponível no Youtube): "Lucifer Rising".



- "I have a vision"

- Em momentos de tensão, Cecil costuma pedir ajuda de públicos que são MUITO próximos dos de filmes underground. No caso, fãs de filmes pornô e de artes marciais. ^^

- sério, existem 3 fortes candidatos à minha primeira tatuagem e a frase Demented 4ever tá entre elas.




- "olha pra câmera e vc morre"

- Honey questiona as motivações da personagem dela e imediatamente o diretor a derruba com taser e manda "não admito diferenças criativas em meu filme".

- Lyle sobre o pq ele usa drogas: "Antes, eu tinha vários problemas. Agora eu só tenho um: drogas. Fez com que minha vida ganhasse foco". 

- "I'm ashamed of my heterossexuality" disse o cabeleireiro gay (ou pelo menos tentando ser).

Cecil: [the camera operator has just been shot] "Principal photography has been completed!" 

Cecil: "Technique is nothing more than failed style." (nao que eu concorde plenamente, mas independente disso, é uma puta frase)

Mano, vai tomar no c*, que filme foda. Melhor parar antes que eu bote quotes do filme todo. 
Deixo aqui o link pro genial episódio do Podtrash (podcast sobre filmes trash, cults e independentes) sobre Cecil B. Demented.

Desperate living (1977)



Mole e Muffy


"I don't want some renegade necrophile princess in my bed"

Então, até aqui, tá light, certo? Um pouco de satanismo, nego enfiando o saco na cara de outro, mas até aí, de boa.
Ok, a partir daqui, tá liberada a putaria, ninguém é de ninguém, e aviso que existem grandes probabilidades do vocabulário ir ficando gradativamente pior até a gente chegar ao último filme da lista.
Esse filme é o capítulo final da trilogia Trash do autor, filmes marcados por toda sorte de perversão e nojeira que vcs puderem imaginar, embora já perca pontos comigo por ser o único dos 3 que não tem a Divine.  Mesmo assim, esse filme me ganha pela escrotidão. Na história, Peggy Gravel e sua empregada, Grizelda Brown tem que se refugiar depois de assassinarem o marido da socialite.

Grizelda, mandando ver.


No caminho, e depois de um encontro bizarro com um policial cross-dresser, elas descobrem um vilarejo desconhecido pela maioria das autoridades que pode servir de refúgio: Mortville. Lá, elas tem que se acostumar com as regras locais, definidas arbitrariamente pela governante, a rainha Carlotta.

"Bem vindas à Mortville"


Crítica careta: Dá pra ver, por trás de toda a tosquice e escrotidão, uma certa crítica contra os mandos e desmandos da classe dominante e do próprio estado. Também tem uma certa agulhada no populacho que ocupa a "cidade", que não vê nenhum problema em ser mais cruel ainda que os dominantes, uma vez alçados à posição de poder. Pronto, foda-se, bora falar de sexo lésbico e carne de rato.

Crítica massavéio: Mano, na ausência da Divine, Waters se cercou de uma diva à altura: Grizelda. Caralho, o filme já mostra a que veio na cena em que Bosley, marido de Peggy é assassinado pela obesa criada. Cara, ela senta na cara do filha da puta. Lembrando mais uma vez, esta é grizelda.

Grizelda, sensualizando


........entenderam?
Mas isso é só o começo. Como eu disse, elas dão de cara com um policial que libera as duas em troca de suas calcinhas. Em virtude do que vem, até aí tá firmeza. Até pq nada mais saudável que um representante do braço coercitivo da lei que aceita suborno em forma de peças intimas usadas. (Jesus cristo, a calcinha da Grizelda é grande o suficiente pra uma família morar dentro, só dizendo).

O policial cross-dresser. "Adoro como essa calcinha deixa minha bunda grande"


Bom, chegaram na cidade, precisam de um teto. Aí, vão pra pensão (entendam o cafofo. A cidade é uma gigantesca favela) e conhecem o casal lésbico Mole e Muff. Mole, uma ex lutadora de luta livre que teve que se refugiar em Mortville depois de matar um oponente enfiando um sapato de salto no olho dele. 
E aí vem a noite. Por alguma razão, tão as duas na cama, nuas.... e bom... frio e tals, nego meio carente.
Sério, a cena da....hã... primeira noite de amor das duas é ....mano, sério...

Amor é uma coisa tão bonita de se ver.


Grizelda: "EAT ME!!! EAT ME!!!"
Peggy: "I don't know".
Grizelda: "JUST EAT."

É válido ressaltar que durante toda a cena, eu e Stella ficamos procurando os mamilos de Grizelda. Não tenho certeza se conseguimos encontra-los, anyway.


Comparável somente à escrotidão da cena de sexo da rainha Carlotta. Sério, se eu nunca mais ouvir alguém dizendo "entra no cofre. Alisa a fechadura. ALISA A FECHADURA" com conotações sexuais, de novo, eu vou ser um homem realizado.
Anyway, a rainha tem seus próprios problemas, já que sua filha e sucessora, Co-Co, está apaixonada pelo zelador de uma colonia nudista que funciona na vila. Daí vem uma de minhas frases favoritas da obra: "Eu não acho que um zelador nudista seja companhia para alguém da familia real"

Não quero dar muito spoiler, mas tem algumas cenas das quais não dá pra não falar.

- Bom, uma favela de merda perdida no cu de Baltimore? Tu precisa de comida, o que tu vai comer? Ratos. Reza a lenda que ratos de verdade foram cozidos pro filme e posteriormente degustados pelo elenco. Não sei se é verdade, mas pra um diretor que fez sua protagonista comer merda de cachorro de verdade (mais a seguir), carne de rato é fácil.

- Mole, cansada de ver a Muffy trai-la com homens, decide fazer uma operação de troca de sexo. O resultado meio mambembe pode ser conferido na foto abaixo.

Sim, após uma certa rejeição por parte da namorada, Mole decide resolver o problema.


- A rainha, cansada das fugas de co-co decide acabar com a putaria e matar o tal zelador pelo qual co-co é apaixonada. O que não impede a princesa rebelde de continuar se envolvendo com ele. Sim, pq tava faltando necrofilia na lista de perversões "Waterianas"

- Metade do elenco morre de "raiva", numa tentativa da rainha de acabar com seus súditos pq.....bem, pq não? Parecia uma boa idéia na ocasião.

- O final da rainha. Assada com direito a maçã na boca. 

Creiam-me, se acham que eu dei spoilers, desencanem, descrever tudo isso não é nada comparada a escrotidão das cenas em si. 

Female Troubles (1974)




"The world of heterossexual is a sick and boring life"

Divine em toda sua honra e glória. Na supra-citada lista do Pop Matters, esse é o melhor filme do John Waters. Discordo, já que meu preferido é o próximo da lista, mas entendo a escolha. É, mais uma vez, o diretor completamente solto. O filme mostra Divine, interpretando Dawn Davenport, e sua longa "carreira" como criminosa, desde a adolescência, ao matar os pais no Natal ao receber o presente errado  até seu aprisionamento.

Dawn Davenport


No meio do caminho, temos um banho de ácido, um casal de artistas estranhamente interessados em Dawn, uma filha rebelde fruto de um dos mais estranhos casos de estupro da história do cinema e muita escrotidão e violencia. 

Crítica careta: Então.... em dado momento, Dawn conhece o casal Donna e Donald Dasher. O casal, dono um salão de beleza chique demonstra um certo interesse na natureza psicótica de Divine e decide torná-la seu experimento pessoal. "Crime = Arte = Beleza". Nesse caso, nada como não apenas incentivar, mas registrar os crimes perpretados por Dawn. Vêem um padrão aí crianças? Mais uma vez (como vai acontecer posteriormente em Pecker) temos a elite burguesa e formadora de opinião, a tal da "inteligentsia", explorando a miséria do povão em prol da sua suposta arte. E quando tudo dá merda, é só usar o poder e dinheiro pra fingir que não tem nada a ver com isso e assistir de longe sua "cria" se dando mal. Profundo, não?

Crítica "massavéio": Senhores, eu lhes apresento Edith Massey, caracterizada como sua personagem, tia Ida, usando um conjuntinho mega apertado de couro.

Uuuuuuuh, diliça!!!!



Imagino que o público feminino deste blog tenha se tornado lésbico e o masculino esteja olhando para suas respectivas.... aham.... "jóias de família" e agradecendo aos céus pelo cromossomo Y herdado, não?

Eu entendo. Que bela visão, não? 

Bem, tirando essa coisinha sexy de lado, temos também Divine, igualmente sensual, mandando ver num show burlesco.

- Ah sim, a Tia Ida é uma das melhores personagens do filme, tentando convencer seu filho Gunther a se tornar gay. O mesmo Gunther que é casado com a Dawn (percebam a ironia).



- Esse eu realmente quero maneirar nos spoilers, mas sério, tem cenas altamente edificantes como Dawn sendo estuprada por ....bem... pela Divine (no caso, ela interpreta tb o cara que estupra a Dawn, no caso, o pai da Taffy)

- Nada mais bonito e mais celebratório dos valores familiares do que a Dawn quebrando uma cadeira nas costas da filha, Taffy, depois de uma discussão. Aliás, vale o quote: "I've done everything a mother can do. I've locked her in her room. I beat her with the car aerial. Nothing changes her"

- Sério, assistir esse filme com Maristela foi uma experiencia única. O momento mais extremo foi quando a tia Ida aparece diante de um espelho, com suas glandulas mamárias expostas. Minha coruja chegou perigosamente perto de arrancar os próprios olhos nessa ocasião. Devia ter gravado isso.... ^^





Pink Flamingos (1972)



"Oh my God Almighty! Someone has sent me a BOWEL MOVEMENT!"




Ok, chega aí.
Serião, serião, chega aí, vamos falar sério agora: 

Esse não é APENAS o melhor filme de John Waters. Nope.

Esse é um dos 10 melhores filmes já feitos na história da humanidade.


Serio, eu não tenho PALAVRAS pra descrever o quanto eu amo esse filme. A expressão é essa mesmo, despojada de qualquer possível cinismo e ironia. Eu ADORO esse filme. Eu quero maneirar nas hipérboles, mas se não for meu filme favorito de todos os tempos, chega MUITO perto. A maioria dos outros filmes de John Waters eu vi faz muito pouco tempo. Esse eu vi no começo do ano, mas tá fresco na memória como se eu tivesse visto ontem.  Sim, é desse tipo de admiração de que estamos falando. A história é a mais simples possível: Divine e sua familia disputando, com o casal Connie e Raymond Marble o título de criatura mais escrota do mundo.

Nossa diva, Divine.


Crítica careta: sério, mano, vai se foder... 


Crítica "massavéio": Ok, vamos lá.

- Uma mãe chupando o penis do filho (e a mãe em questão é a Divine, só pra esclarecer e tals). - checked (e só pra constar, o lance aqui é explícito MESMO)

Divine, demonstrando todo o amor pelo filho.


- Um menage a tróis entre um casal e uma galinha - checked



- Um close gigantesco no anus da Divine - checked
- Um casal que ganha grana aprisionando mulheres, engravidando-as artificialmente (entendam: um minion qualquer injeta uma seringa com esperma na vagina das meninas) e posteriormente vendendo os bebês pra casais no exterior - checked

Tudo isso tem no filme.

Vale o destaque tb: Edith Massey, como a mãe da Divine e seu romance com o Eggman (que, vejam vcs, existe de verdade e é realmente um vendedor de ovos de galinha de porta em porta) e claro, a mais famosa cena da filmografia do diretor: Divine comendo merda de cachorro.

hmmmm, gostoso!!!


For real.

Serio, de verdade.

E sorrindo depois. Isso redefine o conceito de "sorriso de merda". 



Duvidam??



Eu sei.... se quiserem parar de ver o texto pra irem buscar um balde ou algo do gênero, eu espero.

.....



....

De volta? 
Então, essa cena é tão célebre, que um fã marcou com stencil o exato local onde o cãozinho acima fez suas necessidades com a seguinte imagem: 



Épico, né? 


Ah, não ficou com nojo não? Querem mais, seus putos? Então, para aqueles que tem estômago forte: TOMA O FILME INTEIRO!!! \o/


Por essas que eu adoro o Youtube!!! ^^ Enfim, eu poderia fazer outro post igualmente gigantesco pra explicar pq eu gosto tanto de "Pink Flamingos", que eu lembro do quanto a idéia de "pessoas disputando a vaga de "a mais escrota do universo" me soa estranhamente atraente, já que deve ser a coisa mais libertadora do universo e tals, o quanto isso me soa andando de forma muito próxima com a mensagem do meu filme favorito, o "Clube da Luta", de que "é só quando vc perde tudo que vc está pronto pra ser qualquer coisa que quiser ser" (e isso que essas pessoas não usavam a filosofia da escrotidão como meio pra se reinventarem. A condição de "the filthiest" não era um meio, mas um fim, uma posição na qual estavam absolutamente confortáveis), e tals.... mas vai pro cacete com elocubrações filosóficas, é o filme em que a Divine come merda, só isso já basta. 



Multiple Maniacs (1970)


"Pense na via crucis"

Ok, se até agora vc achou que este post não estava obsceno/escroto/imoral o suficiente, aqui é o limite.
Esse é o tal filme da cena do crucifixo de que falei acima. But.... first things first: Na história, Lady Divine (adivinhem quem interpreta?) é a estrela de um espetáculo freak onde, ao final de cada show, eles roubam o público. Só que um dia, ela decide executar a galera, e.... ah, mano, sério, vão assistir o filme.

Crítica careta: ...... sério? Na falta do que dizer aqui, fica link pra uma receita de panqueca doce com chocolate, que tal? Pra vcs comerem durante o filme!!! ^^ (muito embora eu não considere uma boa idéia comer algo enquanto assistem filmes de John Waters, mas, vá lá, só se vive uma vez). O chocolate é simples: bota essa porra pra derreter (por banho maria ou, se vc nao for completamente fudido, no micro-ondas. Bota numa canequinha com um dedinho de leite pra diluir e aí é só jogar em cima das panquecas). Receita de guerrilha que até um orangotango com paralisia cerebral seria capaz de fazer. \o/


Crítica massavéio: Mano, pro caralho com spoilers:


Sério, eu não tenho palavras.....



Sim, .....isso é de verdade. E junto com isso vem cenas igualmente maravilhosas, como a do circo freak do filme, onde vc pode ver coisas asquerosas como o comedor de vomito....
Outra, outra, a cena em que Divine é estuprada por um cheirador de cola de vestido (eu amo essa frase. Veja, veja, "uma travesti obesa é estuprada por um casal de cheiradores de cola, um deles, usando um vestido". Isso é de uma bizarria tal...)
Tudo de errado, tudo de escroto que seria característico da obra futura de John Waters tá aqui.
Canibalismo (Divine come os orgãos internos do namorado, depois de matá-lo), críticas contra instituições sociais respeitadas (no caso, a religião. Enquanto Divine e Mink tem seu sexo lésbico (EU SEI!!!), vale lembrar, NUMA IGREJA, vão aparecendo imagens da crucificação de Jesus.

Quotes: (ah, caralho, o que são as frases desse filme? too much awesomeness)

Divine rezando: "Sei que pensam que me perdi por um segundo em saber que eu tenha assassinado, roubado e sido presa várias vezes, Mas eles não sabem que fiz tudo isso com a consciência bem tranquila"

Divine, novamente, na cena da foto acima: "E então percebi que ela usava seu rosário como ferramenta sexual"

Mink, pra Divine, pós coito: "You are the first celebrity I gave the rosary job to"

Após matar o ex namorado (que, por sua vez, queria matá-la. Aliás, namorado esse que pode ter feito parte da família Manson): "It's like fucking Jesus".

Mano.... "IT'S LIKE FUCKING JESUS"!!! Não sei vcs, mas preciso disso numa camiseta.

E por fim, e quem conhece o filme, sabe que seria um absurdo eu não comentar o final, é o filme em que Divine é estuprada por uma lagosta gigante.




....

Ah, duvidam, putos? Tomaê então:


E aliás, toma o filme inteiro, de novo (mano, Youtube ruleia!!!)




E é isso. Chegamos ao fim do meu relatório sobre a maratona John Waters. Ainda tenho que ver "Polyester", "Mondo trasho" (curta dele) e o mais recente, "Dirty Shame".  No mais, é o que já falei, espero que o cara ainda produza pra cacete, pq o mundo precisa de alguém jogando em sua cara a fragilidade dos seus tabus. E mr. Waters ainda é o homem certo pro trabalho. ^^

E explicando o título desse texto, deixo link pra clipe com participação do lendário diretor: "The creep"


"Do the creep, HAH, do the creep, HAH..."


Excellent!!

Eu gosto tanto dessa foto... ^^ (ah sim, essa é a Divine sem maquiagem)


Ps: Ah sim, adorei esse formato de maratona e já prometo, pro mês que vem, MARATONA ED WOOD!!! We're going down, baby!!!!! \o/