quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019



E já que falei de Doctor Who



Okay....se os senhores olharem na coluna ao lado, vão ver que, entre links legais, selos bonitinhos e coisas do tipo, tem um endereço de e-mail, certo? É o e-mail do blog. 
groselharocks666@gmail.com
Tem outro, que criei agora há pouco, pro mesmo fim, o impiosmalditos@gmail.com
Deus sabe pq eu teria um fandom em volta desse blog, mas, pra todos os efeitos, é assim que eu vou me referir a ele quando necessário. O Nerdcast tem a legião nerd. O overloadr tem os Overloadrs. E vcs são meus impios malditos, meu adorável bando de escrotos sem Deus no coração. 
Podem usar ambos sem medo pra pedir pauta, cobrar postagem e os caralhos, okay? Okay.
E podem usar tb pra perguntas inconvenientes, como alguém fez ao me perguntar se eu iria resenhar a temporada mais recente de Doctor Who como fazia com as anteriores. 

A resposta?

Não.

Eu vou resenhar a season 10, mas não vou fazer o mesmo com a season 11 não. e isso pq...... hã.... eu não gostei da ultima temporada.


É. Alguns raros bons momentos isolados, mas no geral?



Piora. 

Eu acho, sinceramente, a pior temporada da série moderna e a pior de todas desde "The trial of the timelord", pau a pau com aquele arco de episódios estrelado pelo 6th Doctor. Quase pior, na moral, pq, assim, quando o arco acima citado era ruim, ele era ruim. Quando ele era bom, era bacana. Já com a season 11, ela oscilou entre o okay e o completamente esquecível com uma rapidez meio impressionante.



Não que não tenha seus destaques. "Demons of the punjab" é lindo, aliás, MUITO melhor e mais eficiente na mensagem que passa do que "Rosa", o que é meio criminoso, se quiserem minha opinião, considerando a seriedade e o peso da trama protagonizada por Rosa Parks. E a temporada tem pelo menos UM episódio antológico, de entrar nesses dvds de "melhores de todos os tempos": "It takes you away", pra mim, o momento que introduz em definitivo a 13th Doctor no cânone do personagem e onde ela atinge seu pleno potencial.



Mas de resto, temos episódios BEM meh, com alguns deles não sendo só preguiçosos mas tb moralmente questionáveis. 
Eu já disse que "Punjab" funciona melhor que "Rosa" e isso ocorre pq ambos retratam a 13th como alguém disposta ao sacrifício supremo para a personagem: não fazer nada. Em ambos, a "ação" da Timelady é passiva, ter que se refrear de agir em uma situação ao invés de fazer o que sempre faz, se meter de cabeça, agir aqui e ali e salvar o dia. 
E nada de errado nisso. É até histórico: uma das críticas feitas de vez em sempre ao 5th doctor era o quanto ele era passivo e distante em algumas ocasiões. Mas "Punjab" constrói isso melhor, simples assim (e em defesa do quinto doutor: seu período na série marca o início da fase desconstrutivista e auto crítica de DW, em que a série começa a se perguntar se o multiverso realmente precisa da presença do timelord de Gallifrey). Em "Rosa", o protagonismo da figura histórica que batiza o ep. é meio diminuído quando pensamos no papel da Doctor e sua trupe naquele contexto. E, na moral, ela ter desconsiderando COMPLETAMENTE que a presença dela e de sua entourage naquele ônibus iria afetar o decorrer dos eventos é só um exemplo de roteiro preguiçoso, tentando criar conflito onde não precisava.



Como alguém disse num podcast em que ouvi, o ep. poderia acabar com eles fora do veículo, olhando a distância e estaria tudo bem. Sabemos o que veio depois de Rosa Parks ter entrado nele. É como o Pablo Villaça disse em seu review do filme do Lincoln dirigido pelo Spíelberg: o filme poderia acabar com o personagem indo para o teatro, na cena dele na contra-luz e estaria perfeito. Sabemos o que ocorre depois. Mas não, seguem-se momentos intermináveis mostrando o tiro recebido por John Wilkes Booth e sua morte, só pra criar tensão e arrancar lágrimas do público. Sacrifica-se sutileza por um melodrama desnecessário. Eu vivo dizendo que não aproveitam tanto isso do "espaço vazio" tanto quanto deveriam. 
E vou dizer, na real: cogitei desistir da temporada depois de "Kerblam!". Sério assim.



Vejam bem: num episódio em que vemos uma versão cósmica da Amazon, onde temos o levante de operários contra um sistema opressor e onde a empresa se "redime" dando 6 semanas de férias pros funcionários, "com quatro delas remuneradas", ouvir a Doctor dizer que "não existe sistema ruim. Ruim é o que fazemos deles" cortou na minha carne.



CARALHO, COMO ASSIM. Menos de UMA temporada anterior, quando perguntado sobre um dos males cósmicos, o 12th mandou sem dó: "CAPITALISMO".



They’re not your rescuers. They’re your replacements. The endpoint of capitalism. Bottom line. Where human life has no value at all. We’re fighting an algorithm. A spreadsheet. Like every worker everywhere, we’re fighting the suits!

Vc está me dizendo que a Doctor, a personagem que derruba governos estabelecidos antes do café, que não tem medo de destruir o status quo de planetas inteiros quando confrontado com a injustiça inerente destes, ESSE PERSONAGEM acha que não tem nada de estruturalmente errado no capitalismo, que o problema é o que indivíduos fazem nele?




Fuck you.
NO, NO, SERIOUSLY, FUCK. YOU. 

E me dói no coração apontar isso pq eu queria pra caralho gostar dessa temporada. Antes que qualquer floquinho de neve SJW lacrante, já fazendo alongamento nos dedos, venha com comentários e e-mails raivosos cheios de termos como "machista", "misógino" e "toxicidade", já me adianto que a ÚNICA coisa que eu gostei da temporada foi.....A Doctor. Adorei a idéia de uma mulher no papel. Tinha minhas preferências,  um monte de outras atrizes britânicas



- e pelo menos uma americana -



que queria ver no papel. Mas não fiquei incomodado de maneira nenhuma com a escolha de Jodie Whitaker. Fiquei sim com a quantidade de tempo que botam ela sorrindo por razão nenhuma na série, coisa que não faziam com as versões anteriores do personagem mas este sou eu e meu coração amargo. E afinal, isso não é culpa dela e sim de quem a dirige e do roteiro e é AÍ que a coisa pega. Podemos ir para meu principal problema com essa temporada.



Chris Chibnall. Eu disse várias vezes: o material prévio dele na série é okay. "The power of three" é um episódio okay. "Dinosaurs in a spaceship" é adorável, apesar de eu saber que existem críticas à representação do vilão do ep., e acusações de certos estereótipos associados ao anti-semitismo em sua construção. Enfim, aventuras nada notáveis, mas que entretêm. 
Conheço quase nada do seu trabalho fora do universo whovian. "Broadchurch" é uma série que eu não passei da metade da season 1.
Num geral? A perspectiva dele como showrunner não me empolgava muito e, já tendo visto a primeira temporada com ele no comando, posso dizer...



Eu avisei.

Os dois episódios que eu mais gostei da temporada, incluindo aquele que considero o ep. definitivo da 13th, não tem roteiro dele. Dos 3 que eu menos gostei,  dois deles tem assinatura do showrunner (Rosa e o season finale, "The battle of ranskoor av kolos". O terceiro sendo "Arachnids in the uk", um dos mais poderosos soníferos que já encontrei em tempos recentes). Eu dizia achar que não tinha como ele escrever algo da grandiosidade de "Turn left" ou "Midnight", pra ficarmos na fase de RTD ou algo com o brilhantismo de "Blink", "Listen" e "Heaven Sent", já na fase de Moffat
E boy, oh, boy, eu estava certo.
Fora que, e um monte de gente já levantou esse ponto (uma delas é a Elizabeth Sandifer, criadora do blog Tardis eruditorium e uma mulher trans, portanto, com mais "lugar de fala" a esse respeito que eu), mas é incrível como, no momento político em que estamos e com o elenco mais diverso da história do show - e com o programa no seu pico de audiência e com um budget que botaria lágrimas nos olhos dos showrunners anteriores, que tinham que tirar leite de pedra em termos de custos de produção - , narrativamente, Doctor who - a série - tenha tido seu momento mais conservador desde........ na real? EVER. 

Justiça seja feita, ainda não tive coragem, saco e/ou ânimo pra ver o especial de natal ano novo da série, mas....

É isso, crianças. Não vai ter resenha ep. a ep. simplesmente pq eu não quero ter que rever a imensa maioria dos eps. da season 11 outra vez e minha memória deles não é boa o suficiente pra eu fazer textos e mais textos só de cabeça, sem múltiplas revisões pra caçar detalhes perdidos. 
Já me comprometo, no entanto, a resenhar os da season 12, mas estes, só em 2020. O que pode não ser tão ruim assim, considerando tudo.
Respondido?

Doom Patrol S01e01 e e02 - "What the fuck????"



Lembro-me de uma citação feita pelo Paulo Ricardo, o músico (quem mais?), registrada na contracapa de uma das edições da finada revista Herói, já em sua fase tardia, no final dos 90, começo dos 2000, que acho interessante resgatar aqui. Ele diz que "O Homem Aranha está para os Beatles tal qual o Demolidor está para os Rolling Stones".



Acho que esse quote me ajuda a deixar mais gráfica minha opinião sobre as gritantes diferenças entre Umbrella Academy e Doom Patrol. A fonte das duas bandas é a mesma, rock britânico dos anos 60, mas a partir daí, pelo menos no que tange à percepção pública das duas, elas seguem caminhos opostos. Os Beatles são os caras limpinhos. Os Stones, os drogados sujos. O Fab Four é a banda que tu imagina a garota de 15, 16 anos ouvindo. Os Stones? O rocker escroto que só sobreviveu aos 20 anos por pura sorte. Os Beatles epitomizam o sonho dos anos 60. Os Stones cravam, em Altamont, o fim desse sonho. Um é "I wanna hold your hand". O outro é "Gimme shelter". Esperança no futuro vs "carpe diem pq é só o que temos". All you need is love vs Paint it black. 
A analogia se aplica quando me refiro às duas séries recentes de super heróis lançadas em 2019. As duas fogem da forma e quebram o estilão "monstro da semana de baixo orçamento" de Arrow, Flash e do "realismo meh de baixo orçamento" oriundas da parceria entre marvel e netflix. Mas a partir daí, elas escolhem rotas distintas. Ambas bebem de fontes que primam pelo sense of wonder, pela estranheza, por representar o potencial do quanto maravilhosamente esquisitos os quadrinhos podem ser, e pq SÓ eles podem ser estranhos DESSA forma, de um jeito que cinema e séries de tv jamais conseguiriam ser. A série da Netflix pega essa weirdness tunada no 11 e reduz o volume pra algo mais palatável pro publico médio. Doom Patrol?



Doom Patrol toca o foda-se e mete, logo no segundo ep., uma barata cristã chamada Ezekiel que, diante do oblivio humano, canta louvores para Deus enquanto amaldiçoa a, até então, espécie dominante. Hell the fuck yeah, guys. 
Os filhos adotivos de Reginald Hargreeves seriam, nessa analogia, os X-Men. Os mutantes amaldiçoados, depressivos, almas torturadas, que poderiam ser capa de revistas de moda e podem andar tranquilamente em ruas tumultuadas sem grandes riscos.
Já o elenco da série da DC? Os morlocks, os ferrados, os malditos, os espíritos quebrados. Aquele pessoal que sua mãe conservadora te avisou pra ficar longe pq "é gente que não presta".  Umbrella Academy é o menino punk vestindo roupas tradicionais pra "não ofender ninguém". Doom Patrol? É o irmão mais velho deste, de moicano, grampo cravado no rosto e com os dedos tatuados com a frase "Pure Rage". Confrontacional, sem medo e/ou vergonha alguma de beber da fonte que bebe. 
Enfim, longo preâmbulo pra dizer que gostei pra caralho dois dois episódios já lançados da Patrulha do Destino. O piloto, inclusive, me prendeu mais do que o de Legion, pra mim, a melhor série baseada em quadrinhos de super heróis e a melhor coisa que a fox já fez com a franquia mutante, cinema E tv. 





A série., baseada nos quadrinhos de mesmo nome, mostra as bizarras aventuras do time formado por Cliff Steele, Crazy Jane, Larry Trainor, Rita Farr e Ciborgue, sob a tutela do Chief, Niels Caulder, enquanto tentam viver vidas relativamente normais, na cidade de Cloverton.



Desculpem, uma última comparação com Umbrella Academy, eu juro: se a série baseada no gibi da Dark Horse é mais econômica nas metáforas, construindo o conflito familiar lentamente até explodir no penúltimo episódio, aqui, não passa dos primeiros 5 minutos de programa até ele jogar na nossa frente sobre o que o show é: gente quebrada. O chief, além da cola que mantém todo mundo junto, é a figura paterna. Quando ele é raptado - e isso tá no ep. piloto e, portanto, é premissa, não spoiler - aquele núcleo se fragmenta. É o resgate da figura ausente que os junta novamente num objetivo em comum. É, tal qual Legion, sobre gente com habilidades superhumanas que nada mais são do que representações visuais de seus problemas psicológicos/emocionais (Cliff preso numa armadura - seu carro ou seu novo corpo - isolado do resto do mundo. Rita e sua dismorfia corporal agravada pelo medo dos efeitos da velhice. Larry e o conflito entre quem ele é e o estranho vivendo dentro dele mesmo. Jane, usando as múltiplas personalidades pra fugir da solidão do trauma. Ciborgue e a busca por perfeição física inalcançável - e por, através do respeito do pai, compensar pela ausência da mãe).



Niles e o oponente do grupo, o maravilhoso Mr. Nobody (Alan Tudyk, "a leaf in the wind") tb não escapam disso. O chefe da série é mais caloroso que o dos quadrinhos, então não sei se a metáfora vai se repetir, mas sua paralisia física era uma representação de seu problema maior, sua paralisia emocional, sua distância dos membros do time que ele mesmo criou.



E quanto a Nobody... bom, ele é o único ali genuinamente livre, liberto inclusive das dimensões físicas. Multifacetado e completamente confortável no corpo que possui (poderia falar mais, mas aí teria que dar spoiler dos gibis, então fica pra próxima). Menos um vilão do que, na real, um trickster, mais preocupado em mudar a visão de mundo das pessoas do que em dominar o planeta (e exatamente por isso, mais perigoso para os poderes que valem do que qualquer supervilão).



O elenco é afiadíssimo. O já citado Tudyk e Timothy Dalton...bom, lugar comum, eles são awesome. Mas goddamn, como o resto do time é incrível.




April Bowlby como a mulher elástica é um achado, constantemente passando pra quem assiste, a impressão de ser uma boneca de porcelana à beira de se partir em mil pedaços, escondendo a tensão atrás de uma fachada de empáfia.





Brendan Fraser como o Homem Robô e Matt Bomer como o Homem negativo não ficam atrás, tendo que usar apenas a voz para comunicar emoções, o que conseguem fazer com perfeição. Mais complicado ainda pra Fraser, já que, tal qual no gibi, Cliff é pra ser o nosso ponto de vista. O mais próximo do homem "normal" possível, servindo para representar o nosso olhar diante do universo de maravilhas e horrores que surgirão em sua jornada.




Diane Guerrero, a Jane, transita entre personalidades distintas com muita facilidade, indo do psicótico ao inocente em instantes, mudando tom de voz e linguagem corporal.



Por fim, Ciborgue. Não tenho muito o que dizer de Joivan Wade e seu Ciborgue, exceto que adorei o personagem, achei extremamente elegante de como fizeram sua "história de origem" no ep. 02 e tenho, mesmo sem ter visto o filme da JLA, certeza absoluta que, em 5 minutos de aparição, ele já tinha mais densidade e peso como personagem do que sua contraparte cinematográfica em duas horas de longa. Botaria dinheiro nisso, inclusive. :-)
Dá pra resumir os dois episódios em: o pai de um bando de crianças quebradas some e elas vão atrás dele, mesmo com uma figura godlike dizendo pra eles fazerem o contrário. Expandindo isso, temos buracos negros surgindo em áreas urbanas, insetos coprófagos cristãos, segredos inconvenientes, a máxima de "palavras machucam" tornada fato....e, obviamente, um burro flatulento.



Pq eu sei que vcs estavam esperando que eu mencionasse o asinino gasoso em algum momento, certo? C'mon. 

Enfim, animei com essa série de um jeito que não rolava há....bom, nem tanto tempo assim, considerando que tb me encantei com Legion no começo do ano (falo mais dela no futuro).
Esse texto meio que vai funcionar como um resumão introdutório da série e, a partir da semana que vem, resenho episódio a episódio do programa, como já venho fazendo com Twin Peaks (vou voltar a escrever sobre, prometo) e Doctor Who (esse é mais complicado...). Sim, é bom nesse nível. 
Espero os senhores, então, pra vermos esse estranho grupo de misfits atingirem seu pleno potencial e, com eles, a série. 

A seguir: fantoches e nazistas no Paraguai.


The Umbrella Academy - Temporada 1



Então, Umbrella Academy ganhou uma versão live action. 
Yay, legal. Maneiro...

mas..... a adaptação foi boa?



Primeiramente, pra efeitos de contexto: A série é baseada na hq de mesmo nome da Dark Horse, concebida por Gerard Way e Gabriel Bá, um dos meus gibis favoritos da vida e nem é por minha obsessão com a idéia de macacos falantes. Pensei antes de escrever esse texto de como seria sua abordagem, se iria julgar a série só pela série ou se iria contrapô-la a sua fonte original. Apesar do mais indicado, nesses casos, ser o primeiro caso, vou adotar o segundo, até pq esse aproach não me impede de isolar os méritos e deméritos da série enquanto ela própria.



So...... é bom?

...bom......  mais ou menos. 

Antes, certo contexto, mas nada muito extenso, já que, imagino, todo mundo lendo isso já manja do que se trata a história: Certo dia, há umas duas décadas, do nada, 43 crianças com poderes extraordinários nasceram, de mulheres que NÃO estavam grávidas até aquele momento. O mega milionário Reginald Hargreeves decidiu encontrar e criar o máximo dessas crianças que ele conseguisse encontrar. No caso, 7 delas. Menos de 10 anos depois, ele e as crianças reapareceriam, como o primeiro grupo de super humanos do planeta, a Umbrella Academy. O resto é história. 

Então....a série.... o gibi.... hã..... principais diferenças?

A série é uma série e o gibi é um gibi. Sim, parece uma frase imbecil, mas vamos parar e pensar nisso por um segundo: pq a gente vê planetas sencientes e aceita isso num gibi? Pq vemos algo como fucking MODOK ou o Doop e a gente não imediatamente descarta como "too much"? Suspensão de descrença flexível. É um desenho, geralmente não fotorrealista, então, nossa capacidade de aceitar devoradores de mundo vestidos de saia púrpura é razoável. Trazemos isso pro live action, no entanto, e o efeito é a perda de parte dessa capacidade de "tolerância" ao bizarro. Ainda dá pra vc fazer esse tipo de coisa em séries de tv e cinema, mas há sempre de se lembrar que o que funciona em uma mídia, não necessariamente funciona outra. 
Pq desse preambulo? Pq, entre outras coisas, o gibi envolve aliens que parecem um balde de batata frita, uma estatua senciente de Abraham Lincoln, uma mecha torre Eiffel, vietcongues vampiros e um macaco vestido de Marilyn Monroe.



Okay? Okay. 

A série tinha dois caminhos. Transpor tudo isso do jeito que tá no gibi e correr o risco de ficar MUITO ridícula ou adaptar o que dá pra torna-la mais palatável. Só que no processo, vc perde o lance do sense of wonder, aquilo que faz gente de diferentes idades abrir um sorriso de orelha a orelha quando vê programas tipo Doctor who. Dinossauros no espaço, baleias alienígenas voadoras.
Fucking Daleks, you know?? 
Abrir mão disso não necessariamente é bom ou ruim, é só uma questão de escolha. E mais importante: feitas essas escolhas, como vamos lidar com a trama? Baseado nos 10 episódios da série? "Relativamente bem" seria minha resposta.



O gibi é sense of wonder puro. Uma viagem de montanha russa non-stop. Saímos da invasão de robôs homicidas, já passamos pro apocalipse, daí pra um flashback lutando contra Gustave Eiffel, de lá pra viagem no tempo, sem parar, sem respiro, com uma ou outra cena pra dar uma leve tridimensionalizada nos personagens. Mas o lance aqui é o thrill, o pico, o high de absorver conceitos tão estranhos, tão rapidamente. Não sei vcs, mas isso é o que fez com que eu me apaixonasse pelos quadrinhos enquanto mídia.

Já a série, ela prefere trocar o lance da montanha russa por um olhar mais calmo para os personagens. Ainda é uma história com momentos de catarse, mas os realizadores preferem que eles sejam mais espaçados para que cada um deles conte. Acertam aqui, erram acolá. Eventos que são explicados de cara nos gibis demoram para serem esclarecidos na série. Detalhes que são passados pra gente na hq sem nenhum rodeio levam episódios e mais episódios para serem revelados, como uma surpresa bombástica. E personagens que são funções de roteiro ganham histórias cheias de tons de cinza, e é bizarro dizer isso, mas não necessariamente isso é uma coisa boa. Se eu gostei de ver Klaus com um background maneiro incluindo as consequências de sua viagem no tempo até os anos 60, por outro, a subtrama de Hazel e Cha Cha me soou meio enfadonha. Pior: conhece-los fez com que eles perdessem parte da ameaça que eles representavam nos quadrinhos, onde são apenas dois psicopatas famosos por adorarem um bom banho de sangue no decorrer de suas funções como agentes de correção espaço temporal. Tirar as máscaras deles (e no gibi, seus rostos nunca são revelados) lhes confere humanidade mas rouba o senso de urgência em cada uma de suas aparições. 
A série tem aquela barriga característica da maioria das produções do Netflix. Quando soube que eram 10 episódios, pensei que iriam fundir os dois arcos principais - até agora - da hq: A suíte do apocalipse e Dallas. Mas não. O máximo que fazem é trazer os dois crono-assassinos, que só aparecem no segundo arco, e antecipar sua interação com o super grupo.


Os atores são competentes e tiram o que podem de um roteiro que nem sempre funciona. Destaque pros intérpretes de Klaus, Hazel, Vanya e, obviamente, do number 5. Mas de novo, as vezes o roteiro não ajuda. A cena romântica entre Allison e Luther no sexto episódio, supostamente um momento tocante, só me causou tédio. 
Os dois piores pecados da série, no entanto, são fazer o período do Nº 5 na agência temporal serem incrivelmente boring e o lance do mr. Pogo. De novo: I'm a bitch pra macacos falantes. Botou um macaco falante na série, vc já tem minha atenção. E o CGI do Mr. Pogo é muito bom, nunca tendo aquele efeito de uncanny valley que te catapulta pra fora da trama quando tu se encontra diante de um efeito especial ruim. Mas aí vem o roteiro: Vc tá me dizendo que o chimpanzé sabia de tudo e decidiu não revelar informações cruciais para o resto do time em nome de..... do que mesmo? Preservar a memória do patriarca da família? Sério? A memória de um homem escroto contra o futuro de 7 bilhões de vidas? Fora outros pecadilhos cometidos pela série: a já citada cena romantiquinha que não vai a lugar nenhum entre Rumor e Spaceboy, a estupidez - desculpem, mas é o que pareceu - de Vanya em enxergar o óbvio diante dela, aquela cena de tiroteio no boliche alley que tipo, pra que?? Vejam bem, eu adoro violência como qualquer cristão, mas c'mon. Não é nem como se ela estivesse lá pra forçar o grupo a agir como um time, já que o plano brilhante deles é basicamente, correr num campo aberto e torcer pros inimigos serem os piores atiradores do multiverso: e spoiler alert, eles são
O plano final dos heróis contra a ameaça representada pela violino branco é um primor de linha de ação que causaria inveja aos grandes estrategistas militares da história: fazer montinho em cima da inimiga e torcer pra alguém ali fazer algum estrago. Okay, justiça histórica: basicamente, foi o que os EUA fizeram contra a Alemanha Nazista no dia D, mas enfim....
O final da hq é mudado pq, provavelmente, acharam aquilo de too much pro publico assistindo. 
Macacos falantes e viajantes do tempo, tudo bem. Um telecinético poderoso o suficiente pra parar um pedaço da lua grande o suficiente pra ter orbita própria vindo em rota de colisão com a terra.... bom, aí é querer demais??
É disso que eu to falando, a série não se decide pra que caminho correr, se vai em direção ao sense of wonder ou se segue o caminho mais realista de, por exemplo, as séries da Marvel do Netflix e acaba não indo nem pra um lado nem pro outro. E o roteiro com sua cota de furos tb não colabora.



MAS, pra não ficar só nas críticas: a cena de Vanya revivendo o passado, já plenamente em controle dos seus poderes, enquanto destrói a fonte de seus traumas, foi muito bonita, muito bem dirigida e representou plenamente o clímax temático da série: juntos eles são fortes, mas eles só vão se tornar personagens plenos quando se desligarem dos traumas passados e das expectativas injustamente impostas a eles por um pai negligente e emocionalmente distante. Vanya, ironicamente, é a unica ali a atingir o pleno potencial exatamente por se mostrar madura o suficiente pra parar de olhar pra trás e ir ao que ela considera seu destino. 

Enfim, cabou o seriado, 10 episódios, e já com segunda temporada adiante. Terminou com um cliffhanger, então, surpresa nenhuma nisso. O que vem aí? Não dá pra saber se vão abraçar o estranho ou se vão continuar tentando "servir a dois senhores" e agradar quem quer as porralouquices da série e ao mesmo tempo, quem prefere algo menos esquisito. Mas fato é: o segundo arco lida com uma das maiores feridas históricas da história dos EUA e vai ser curioso, no mínimo, ver como os realizadores do show vão tratar o tópico. O quadrinho confere algum peso e respeito, mas no final das contas, segundos antes dos miolos de JFK voarem, tem cena cômica meta exatamente sobre o bizarro daqueles personagens, supostamente super heróis, agindo em conjunto para MATAR o presidente americano. Não sei se a série se sente confortável o suficiente consigo mesma pra transitar entre leveza e tragédia tão rapidamente (e assim, dá pra fazer. Garth Ennis e Peter Milligan já fizeram, respectivamente em suas passagens por Hellblazer e Shade). Enfim, quem voltar pra season 2 vai descobrir por si mesmo.

Eu? Não sei se volto. Até pq, na boa, vi o primeiro ep. de Doom Patrol e me agradou bem mais. Vcs sabem, meu parâmetro de comparação é Legion, a unica série de super heróis boa feita nos últimos anos. O seriado da Patrulha do Destino me parece com menos medo de abraçar o extraordinário que "The Umbrella Academy". 
De novo: não dá pra agradar todo mundo. Umbrella Academy faz suas escolhas. Doom Patrol faz as dela. Umbrella Academy dá uma diminuída na velocidade e traz o extraordinário para um nível mais mundano. Doom Patrol encerra seu episódio de estréia com um burro flatulando  uma mensagem para os heróis. Umbrella Academy prefere abandonar parte da adrenalina da fonte original e prefere se tornar uma roda gigante. Ainda capaz de causar arrepios mas mais serena.
Doom Patrol, aparentemente - já que só vi um ep. até agora - vai na contramão e não só embarca na montanha russa mas vai além, metendo uns loopings e espirais extras no meio da jornada. Não sei vcs, mas eu sei qual dos dois me deixa mais instigado e curioso. 

Rest in Power, Homem Invisível.



Jesus fucking Christ, Eu adoro pro wrestling....

domingo, 24 de fevereiro de 2019

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019


Sonny Kiss, ladies and gentlemen....