quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

The Umbrella Academy - Temporada 1



Então, Umbrella Academy ganhou uma versão live action. 
Yay, legal. Maneiro...

mas..... a adaptação foi boa?



Primeiramente, pra efeitos de contexto: A série é baseada na hq de mesmo nome da Dark Horse, concebida por Gerard Way e Gabriel Bá, um dos meus gibis favoritos da vida e nem é por minha obsessão com a idéia de macacos falantes. Pensei antes de escrever esse texto de como seria sua abordagem, se iria julgar a série só pela série ou se iria contrapô-la a sua fonte original. Apesar do mais indicado, nesses casos, ser o primeiro caso, vou adotar o segundo, até pq esse aproach não me impede de isolar os méritos e deméritos da série enquanto ela própria.



So...... é bom?

...bom......  mais ou menos. 

Antes, certo contexto, mas nada muito extenso, já que, imagino, todo mundo lendo isso já manja do que se trata a história: Certo dia, há umas duas décadas, do nada, 43 crianças com poderes extraordinários nasceram, de mulheres que NÃO estavam grávidas até aquele momento. O mega milionário Reginald Hargreeves decidiu encontrar e criar o máximo dessas crianças que ele conseguisse encontrar. No caso, 7 delas. Menos de 10 anos depois, ele e as crianças reapareceriam, como o primeiro grupo de super humanos do planeta, a Umbrella Academy. O resto é história. 

Então....a série.... o gibi.... hã..... principais diferenças?

A série é uma série e o gibi é um gibi. Sim, parece uma frase imbecil, mas vamos parar e pensar nisso por um segundo: pq a gente vê planetas sencientes e aceita isso num gibi? Pq vemos algo como fucking MODOK ou o Doop e a gente não imediatamente descarta como "too much"? Suspensão de descrença flexível. É um desenho, geralmente não fotorrealista, então, nossa capacidade de aceitar devoradores de mundo vestidos de saia púrpura é razoável. Trazemos isso pro live action, no entanto, e o efeito é a perda de parte dessa capacidade de "tolerância" ao bizarro. Ainda dá pra vc fazer esse tipo de coisa em séries de tv e cinema, mas há sempre de se lembrar que o que funciona em uma mídia, não necessariamente funciona outra. 
Pq desse preambulo? Pq, entre outras coisas, o gibi envolve aliens que parecem um balde de batata frita, uma estatua senciente de Abraham Lincoln, uma mecha torre Eiffel, vietcongues vampiros e um macaco vestido de Marilyn Monroe.



Okay? Okay. 

A série tinha dois caminhos. Transpor tudo isso do jeito que tá no gibi e correr o risco de ficar MUITO ridícula ou adaptar o que dá pra torna-la mais palatável. Só que no processo, vc perde o lance do sense of wonder, aquilo que faz gente de diferentes idades abrir um sorriso de orelha a orelha quando vê programas tipo Doctor who. Dinossauros no espaço, baleias alienígenas voadoras.
Fucking Daleks, you know?? 
Abrir mão disso não necessariamente é bom ou ruim, é só uma questão de escolha. E mais importante: feitas essas escolhas, como vamos lidar com a trama? Baseado nos 10 episódios da série? "Relativamente bem" seria minha resposta.



O gibi é sense of wonder puro. Uma viagem de montanha russa non-stop. Saímos da invasão de robôs homicidas, já passamos pro apocalipse, daí pra um flashback lutando contra Gustave Eiffel, de lá pra viagem no tempo, sem parar, sem respiro, com uma ou outra cena pra dar uma leve tridimensionalizada nos personagens. Mas o lance aqui é o thrill, o pico, o high de absorver conceitos tão estranhos, tão rapidamente. Não sei vcs, mas isso é o que fez com que eu me apaixonasse pelos quadrinhos enquanto mídia.

Já a série, ela prefere trocar o lance da montanha russa por um olhar mais calmo para os personagens. Ainda é uma história com momentos de catarse, mas os realizadores preferem que eles sejam mais espaçados para que cada um deles conte. Acertam aqui, erram acolá. Eventos que são explicados de cara nos gibis demoram para serem esclarecidos na série. Detalhes que são passados pra gente na hq sem nenhum rodeio levam episódios e mais episódios para serem revelados, como uma surpresa bombástica. E personagens que são funções de roteiro ganham histórias cheias de tons de cinza, e é bizarro dizer isso, mas não necessariamente isso é uma coisa boa. Se eu gostei de ver Klaus com um background maneiro incluindo as consequências de sua viagem no tempo até os anos 60, por outro, a subtrama de Hazel e Cha Cha me soou meio enfadonha. Pior: conhece-los fez com que eles perdessem parte da ameaça que eles representavam nos quadrinhos, onde são apenas dois psicopatas famosos por adorarem um bom banho de sangue no decorrer de suas funções como agentes de correção espaço temporal. Tirar as máscaras deles (e no gibi, seus rostos nunca são revelados) lhes confere humanidade mas rouba o senso de urgência em cada uma de suas aparições. 
A série tem aquela barriga característica da maioria das produções do Netflix. Quando soube que eram 10 episódios, pensei que iriam fundir os dois arcos principais - até agora - da hq: A suíte do apocalipse e Dallas. Mas não. O máximo que fazem é trazer os dois crono-assassinos, que só aparecem no segundo arco, e antecipar sua interação com o super grupo.


Os atores são competentes e tiram o que podem de um roteiro que nem sempre funciona. Destaque pros intérpretes de Klaus, Hazel, Vanya e, obviamente, do number 5. Mas de novo, as vezes o roteiro não ajuda. A cena romântica entre Allison e Luther no sexto episódio, supostamente um momento tocante, só me causou tédio. 
Os dois piores pecados da série, no entanto, são fazer o período do Nº 5 na agência temporal serem incrivelmente boring e o lance do mr. Pogo. De novo: I'm a bitch pra macacos falantes. Botou um macaco falante na série, vc já tem minha atenção. E o CGI do Mr. Pogo é muito bom, nunca tendo aquele efeito de uncanny valley que te catapulta pra fora da trama quando tu se encontra diante de um efeito especial ruim. Mas aí vem o roteiro: Vc tá me dizendo que o chimpanzé sabia de tudo e decidiu não revelar informações cruciais para o resto do time em nome de..... do que mesmo? Preservar a memória do patriarca da família? Sério? A memória de um homem escroto contra o futuro de 7 bilhões de vidas? Fora outros pecadilhos cometidos pela série: a já citada cena romantiquinha que não vai a lugar nenhum entre Rumor e Spaceboy, a estupidez - desculpem, mas é o que pareceu - de Vanya em enxergar o óbvio diante dela, aquela cena de tiroteio no boliche alley que tipo, pra que?? Vejam bem, eu adoro violência como qualquer cristão, mas c'mon. Não é nem como se ela estivesse lá pra forçar o grupo a agir como um time, já que o plano brilhante deles é basicamente, correr num campo aberto e torcer pros inimigos serem os piores atiradores do multiverso: e spoiler alert, eles são
O plano final dos heróis contra a ameaça representada pela violino branco é um primor de linha de ação que causaria inveja aos grandes estrategistas militares da história: fazer montinho em cima da inimiga e torcer pra alguém ali fazer algum estrago. Okay, justiça histórica: basicamente, foi o que os EUA fizeram contra a Alemanha Nazista no dia D, mas enfim....
O final da hq é mudado pq, provavelmente, acharam aquilo de too much pro publico assistindo. 
Macacos falantes e viajantes do tempo, tudo bem. Um telecinético poderoso o suficiente pra parar um pedaço da lua grande o suficiente pra ter orbita própria vindo em rota de colisão com a terra.... bom, aí é querer demais??
É disso que eu to falando, a série não se decide pra que caminho correr, se vai em direção ao sense of wonder ou se segue o caminho mais realista de, por exemplo, as séries da Marvel do Netflix e acaba não indo nem pra um lado nem pro outro. E o roteiro com sua cota de furos tb não colabora.



MAS, pra não ficar só nas críticas: a cena de Vanya revivendo o passado, já plenamente em controle dos seus poderes, enquanto destrói a fonte de seus traumas, foi muito bonita, muito bem dirigida e representou plenamente o clímax temático da série: juntos eles são fortes, mas eles só vão se tornar personagens plenos quando se desligarem dos traumas passados e das expectativas injustamente impostas a eles por um pai negligente e emocionalmente distante. Vanya, ironicamente, é a unica ali a atingir o pleno potencial exatamente por se mostrar madura o suficiente pra parar de olhar pra trás e ir ao que ela considera seu destino. 

Enfim, cabou o seriado, 10 episódios, e já com segunda temporada adiante. Terminou com um cliffhanger, então, surpresa nenhuma nisso. O que vem aí? Não dá pra saber se vão abraçar o estranho ou se vão continuar tentando "servir a dois senhores" e agradar quem quer as porralouquices da série e ao mesmo tempo, quem prefere algo menos esquisito. Mas fato é: o segundo arco lida com uma das maiores feridas históricas da história dos EUA e vai ser curioso, no mínimo, ver como os realizadores do show vão tratar o tópico. O quadrinho confere algum peso e respeito, mas no final das contas, segundos antes dos miolos de JFK voarem, tem cena cômica meta exatamente sobre o bizarro daqueles personagens, supostamente super heróis, agindo em conjunto para MATAR o presidente americano. Não sei se a série se sente confortável o suficiente consigo mesma pra transitar entre leveza e tragédia tão rapidamente (e assim, dá pra fazer. Garth Ennis e Peter Milligan já fizeram, respectivamente em suas passagens por Hellblazer e Shade). Enfim, quem voltar pra season 2 vai descobrir por si mesmo.

Eu? Não sei se volto. Até pq, na boa, vi o primeiro ep. de Doom Patrol e me agradou bem mais. Vcs sabem, meu parâmetro de comparação é Legion, a unica série de super heróis boa feita nos últimos anos. O seriado da Patrulha do Destino me parece com menos medo de abraçar o extraordinário que "The Umbrella Academy". 
De novo: não dá pra agradar todo mundo. Umbrella Academy faz suas escolhas. Doom Patrol faz as dela. Umbrella Academy dá uma diminuída na velocidade e traz o extraordinário para um nível mais mundano. Doom Patrol encerra seu episódio de estréia com um burro flatulando  uma mensagem para os heróis. Umbrella Academy prefere abandonar parte da adrenalina da fonte original e prefere se tornar uma roda gigante. Ainda capaz de causar arrepios mas mais serena.
Doom Patrol, aparentemente - já que só vi um ep. até agora - vai na contramão e não só embarca na montanha russa mas vai além, metendo uns loopings e espirais extras no meio da jornada. Não sei vcs, mas eu sei qual dos dois me deixa mais instigado e curioso. 

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