terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Punisher meets Archie


Em retrospecto, este não é nem o crossover mais estranho no qual Archie Andrews esteve envolvido.
Me lembrem de, algum dia, comentar sobre quando ele e o grupo de Riverdale High trombou com nomes com o the B-52s ou os Ramones.
Ou, se quiserem ouvir algumas histórias escabrosas, quando o ruivo foi caçado por um Predador. Yep, aquele do filme do Schwarzenegger.

Enfim...

Esse inusitado crossover surgiu a partir de uma piada, mas acabou ganhando vida e boy...
Tem tanto pra ser dito aqui.
Com roteiros de Baton Lash, a arte desse gibi já é algo impressionante, sendo desenhada por Stan Goldberg (veterano dos gibis do Archie) e por John Buscema (dispensa apresentações). As páginas focadas em Frank são de arte de Buscema e as mostrando a gangue do Archie, de Goldberg. Na trama, um traficante conhecido como "a febre vermelha" se vê sendo caçado pelo Justiceiro.  Tentando ficar na miúda enquanto, ao mesmo tempo, planeja expandir seus negócios na área "química", ele termina decidindo ir pra uma cidadezinha pacata no interior chamada, vocês já devem ter adivinhado, Riverdale. Ah, e ele é quase idêntico ao Archie.

A partir daqui, o gibi brilha com o contraste entre o mundo "zacksnyderiano" de Castle, seus tons sombrios, armas do tamanho de um carro popular e estoque infinito de munição e as cores e clima estilo 1950 do Archie.
Imaginem algo tipo "Turma da Mônica vs Justiceiro" e vcs vão ter uma idéia aproximada da bizarrice.
O gibi é divertido, tem sacadas ótimas (sabrina casualmente comentando sobre seu encontro com bestas lovecraftianas e alguém, quando o bicho pega, comentando "por que o pessoal fazendo catering está armado?", Archie tentando soar sinistro e mandando um "it's clobbering time", etc) e os estilos de arte se misturam de um jeito maravilhoso.
Uma idéia bizarra que é um milagre que tenha existido e, mais estranho ainda, funcionado tão bem, mas que acabou resultando em um dos melhores e mais divertidos crossovers que eu já li.

9 estrelas de 10

Batman: The doom that came to Gotham


 

A história é uma elsenworld, ou seja, uma história passada fora da cronologia normal da DC, com textos de Mike Mignola e Richard Pace e arte de Troy Nixey.

Na trama, depois de 20 anos longe de Gotham, Bruce Wayne parte de uma expedição na Antártida onde encontrou "algo" e volta para sua cidade. Não para a Gotham de 2023, mas para a de 1928.
Mignola e Pace brilhantemente mesclam os temas típicos de um conto de lovecraft com os tropes de um gibi de superherói e o resultado é uma mistura bem orgânica.

Queria comentar também a forma em que a obra não ignora os problemas das obras de Lovecraft. Todo mundo sabe hoje em dia que seus contos eram fortemente carregados de racismo e xenofobia. O eterno risco do "diferente", a ameaça do "alienígena", do desconhecido, do "estrangeiro". Mignola e Pace atualizam estes temas (não é pra menos que um dos vilões é Ra's Al Ghul), mas mostrando como o grande risco vem de fato de um bando de homem branco e rico. Esta hq é na real sobre as mentiras que tomamos como verdades, o risco de mitos fundacionais e como nada pode crescer de forma realmente saudável quando as bases dessa casa são construídas sobre uma estrutura podre.

Histórias lovecraftianas geralmente giram em torno de 2 tipos de personagens: homens sedentos de poder dispostos a reinar sobre os escombros do que os Older Gods deixarem (rico adora comer resto e fingir que é banquete, né?) e pessoas inocentes que estão no lugar errado e na hora errada. Final feliz para estes é, geralmente, apenas morrerem (creiam-me: existem destinos piores). É realmente fascinante, portanto, ver uma história em que o protagonista pode finalmente adotar uma postura ativa contra o inimigo desconhecido.

A arte ao mesmo tempo emula a de Mignola enquanto tenta também capturar o clima de gibis de terror clássico e é muito bem sucedida nesse aspecto, me lembrando o traço de artistas como Kelley Jones.

"The Doom that came to gotham" é, ao mesmo tempo, uma homenagem, um crossover e uma atualização de tudo que faz histórias lovecraftianas e gibis de super heróis funcionarem tão bem a ponto de perdurarem por décadas.