quinta-feira, 1 de novembro de 2012

It’s evolution, baby – Shin Sekai Yori


"It looks like we're floating in space."



É meio absurdo fazer essa afirmação, mas tipo, lá vai:  Shin sekai yori me pareceu tudo aquilo que “A Lenda de Korra” poderia ser se fosse feito pra um publico adulto.

Ok, ainda aqui?  


Então vamos adiante. Não sei pq, semana passada, acredito eu que motivado por algum post lido no reader ou talvez por imagens vistas no tumblr, eu decidi baixar um dos novos animes da atual temporada. Mesmo ouvindo vários podcasts e lendo vários blogs focados no tema, não costumo seguir de forma muito rígida as temporadas de lançamento de títulos novos na tv nipônica. Vejo um ou outro título mais mainstream ou algo que me pega pelo bizarro (já viram Shirokuma café? É a coisa mais adorável do universo) mas só. E aí, Shin sekai yori caiu no meu colo.

Pobres crianças.....


E assim, desde a primeira vez que vi “O Advogado do diabo”  que eu não me sinto tão impelido a rever algo imediatamente após terminar de ver pela primeira vez.  Não, sério assim, estamos falando de algo realmente mindfucker. Na escala Grant Morrison, ganha um 9 com louvor.
Nível de mindfucking na escala Grant Morrison: 9


                                       
"E do que se trata?", vcs me perguntam, jovens gafanhotos.  
Seguinte: no primeiro ep. a gente é apresentado a Saki Watanabe que.....não, peraí, não ainda. Na verdade, começa o episódio e o que vemos é um guri matando geral, sem encostar a mão em suas vítimas. Tipo scanners, tipo Akira. Pegaram?
Essas imagens são exibidas de forma tosca, como se estivéssemos vendo uma imagem de tv sendo retransmitida. Como se estivéssemos vendo algo que foi documentado de forma áudio-visual, algo de importância histórica.
Aí sim, somos apresentados a Saki e ao mundo esquisito em que ela se insere. Um mundo em que uma parcela significativa da população é dotada de poderes telecineticos que se manifestam na adolescência (Charles Xavier feelings aqui). 

Moving on...



Em um mundo onde a manifestação desse poder é marcada por um ritual budista de iniciação. E aliás, num mundo em que a religião e a política são quase indistinguíveis. Onde um mundo de aparência semi-feudal convive com telas de lcd e outras tecnologias de ultima ponta.

E não se enganem, vcs vão ficar meio perdidos assistindo essa série, pelo menos até o episódio 04, já que não há (aparentemente) muita preocupação em explicar o que está sendo visto. O pouco que sabemos desse mundo vem de narrações feitas por uma Saki mais velha, lembrando de sua juventude. Não sabemos mais do que o que é mostrado e de que algo muito, mas muito ruim aconteceu com algum deles e, aparentemente, como consequência, ao mundo. Tirando isso, até o quarto ep., os autores se dedicaram principalmente ao “world building”, à construção da ambientação daquela história (o que justifica algumas críticas dizendo que os protagonistas não são carismáticos e que a história em si é um pouco fria. Não sei o quanto eu concordo com ambas, mas entendo a origem delas). Até então, temos esse world building e algum desenvolvimento da dinâmica entre o grupo de principais personagens.

Saki


Além da já citada Saki temos tb:

Satoru


Satoru, que é o saco de pancadas pra se contrapor à Saki, a tsundere da série.

Shun


Shun, o geniozinho e líder do grupo, interesse romântico óbvio das meninas do grupo,

Maria


Maria, a contestadora pé no chão e aparentemente, aquela que vai ser a causa de uma merda gigantesca que vai alterar a história desse mundo e resultar em galera morrendo geral. 

E Mamoru. Sério, mano, eu odeio ele. 


E Mamoru, que alguns podem afirmar ser o elemento kawaii do grupo, mas eu acho só um babaquinha irritante e constantemente chorão.

Os dois episódios posteriores trazem no seu começo, cenas que parecem ser flashbacks que contam a história desse universo, marcada por uma casta dominante sanguinária dotada dos poderes telecineticos e por um grupo rebelde que tenta derruba-los. Os episódios em si se concentram no dia a dia das crianças. 
O segundo episódio é particularmente fascinante, por mostrar o grupinho de personagens numa disputa entre escolas de um esporte que envolve mover telecineticamente uma esfera de metal (aquele tipo de coisa pra aprofundar a conexão entre os personagens, mais ou menos como era o papel do quadribol em Harry Potter). 

O "quadribol" da série.


Isso e claro, os detalhes, as frases soltas, as regras sociais que são vomitadas pelos dominantes religiosos, sempre como dogmas, paradigmas que não devem sob circunstancia alguma ser quebrados (ou mesmo discutidos). 

É assim pq é assim que é e porque é assim que deve ser: 
Não ultrapassar os limites da cidade.
Jamais utilizar os poderes de forma agressiva.
Não perguntar demais sobre o desaparecimento de alguns alunos da escola voltada especificamente para treino das habilidades super-humanas.

Ops, sim...... 

Tem isso também: crianças vem desaparecendo sem grandes explicações. O irmão da protagonista é um dos desaparecidos e não há grandes explicações pra isso. Os pais jamais comentam sobre isso em momento nenhum (exceto quando acham que Saki está dormindo).
E tudo isso vai incomodando Saki, seus amigos (ou pelo menos os mais espertos do grupo) e a gente, já que é possível ver que há algo de errado ali.

E aí, vem a porrada.

No terceiro episódio, os meninos vão fazer um trabalho que envolve ir passar um tempo numa floresta aos arredores. Uma conversa absolutamente inocente sobre animais lendários que poderiam matar com um olhar atiça a curiosidade mórbida deles e aí... 

aí vai tudo pro inferno.

É fantástico como a série pega os elementos que são meio característicos da animação japonesa, toda aquela esquisitice típica (vcs sabem do que eu estou falando. Amigas que ficam se apertando, a rebeldia de um dos personagens masculinos,  a moezice das personagens fofinhas com voz fina e que só faltam usar uma touquinha do mokona) e subverte tudo isso a favor do roteiro, como um elemento que agrega valor à história.

Só um abraço amigável ou algo muito mais sinistro?


Os meninos saem caçando os animais lendários e após algumas aventuras, encontram algo que se encaixa à descrição que tinham do tal “verme branco”.... que se revela uma “biblioteca ambulante”. 


"O que é um minoshiro?" - A biblioteca viva.

Um ser vivo que contém o conhecimento equivalente à milhares de livros, meio maquina meio entidade biológica, portanto, sujeito às leis da evolução. 
E aí alguém faz a pergunta certa/errada. “O que há de errado com o mundo?”. E nessas condições, a criatura/máquina toma a pior decisão possível, que é responder com sinceridade.

Unleash Hell!!! - ou "ignorância é uma benção".


Assim: desde Madoka eu não via um animê que tinha tanta satisfação em judiar de seus personagens. Citando novamente Harry Potter, é como ocorreu nos filmes/livros, em que a história ia ficando progressivamente mais sombria, onde a alegria infantil é sucessivamente mutilada até que Hogwarts e todo aquele ambiente, antes um lugar mágico e acolhedor, é reduzido a um ambiente opressivo. Não mais um lugar pra onde fugir, mas sim, de onde se fugir. Só que ao invés de 7 filmes, isso corre em quatro episódios. 4 semanas, basicamente. 

Como esse texto tá ficando enorme, vou dividi-lo em duas partes.

Essa fica sendo a parte sem spoilers. A próxima, vai destrinchar toda a trama e a seguir, vou analisando episódio por episódio, conforme for saindo.
Retomando o que eu disse no primeiro parágrafo, temos a dualidade entre humanos e super-humanos reinserida aqui, da mesma forma que em Korra, (ou em outras séries como Kingdom Come, O Cavaleiro das Trevas, onde o Batman várias vezes cita que o mundo chegou ao caos que chegou em grande parte por causa da inveja dos “normais” – ou seja, os humanos sem poderes – e como “a presença de gigantes entre eles” os levou a repulsa contra os heróis) mas levadas a um extremo inacreditavelmente mais cruel. É um animê sobre controle, sobre gente tentando levar a vida diante do caos (o que vale tanto pros que possuem como pros que não possuem poderes no contexto da série), sobre a Matrix (e por tabela, sobre a caverna de Platão, all over again). Paralelo a essa trama, temos também, na figura dos Bakenezumi, criaturas meio ratos/meio homens, a principio seres que existem apenas para servir à humanidade e que não tem uma origem conhecida, uma outra discussão que segue de forma assustadoramente harmônica com o tema principal da série: evolução


Um Bakenezumi rebelde. 

Evolução moral e evolução biológica podem andar juntas? Aliás, existe algo de remotamente moral no processo evolutivo? E afinal, quem foi que disse que a raça menos forte (mas não necessariamente menos inteligente. Evolution is a fickle bitch) precisa assistir à própria desintegração de forma passiva? Até onde o determinismo genético pode reger a sua capacidade de escolha?

Mano, sério, melhor parar por aqui que o que eu mais quero é começar a vomitar spoiler, então, vão ver a série, vão confirmar tudo que eu disse sobre ela ser tipo, mindfucker nível Madoka, nível....sei lá.... ainda tá rolando, então tenho medo de que, com apenas 5 episódios vistos, dizer que ela é mindfucker nível Lost ou Evangelion, mas a menos que zoem completamente os roteiros, esse tem tudo pra ser o grande título da atual temporada de animês. Enfim, vão lá ver e voltem depois pro texto com spoilers.
Até lá.

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