quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Sabe, eu tenho uma teoria. Na verdade, eu tenho um milhão de teorias. Mas existe uma que eu defino como “A MÃE” de todas as minhas teorias a respeito da vida, do universo e de tudo mais. Eu já devo ter falado dela pra todo mundo que eu conheço, mais de uma vez inclusive. E já devo ter gastado alguns posts de blogs dissertando a respeito dela em todos estes anos, mas só por via das dúvidas, aqui vamos nós novamente.
Eu acredito, talvez seja a coisa em que mais tenho fé nessa vida, que a existência, a vida em si e tudo que vemos, é uma obra de ficção. Um seriado, um filme, uma história em quadrinhos, algo assim, sendo visto por alguém numa dimensão paralela.
Acredito que em algum lugar estão as câmeras e que em algum outro mundo, existem réplicas perfeitas de cada um de nós, mas que não somos nós ou versões nossas e sim os atores que nos interpretam. É bizarro pensar nisso, na verdade, mas já me peguei imaginando a vida de glamour do cara que me interpreta. Como ele deve ter o meu rosto, não deve ser um ator muito pegador, mas deve fazer parte daquela linha Paul Giamatti e Philip Seymour Hoffman, de ator “feínho porém respeitado”. Imagino capas de revista, trilhas sonoras, produtos de merchandising com o meu rosto e o dos demais personagens da trama. Fico imaginando se o ator que me interpreta já foi capa da “Rolling Stone”, do “Tv Guide” ou pelo menos de algo parecido nessa outra dimensão. Fico pensando nas fotos estilosas de todo o elenco da série e outras coisas igualmente toscas porém divertidas. Adoro pensar na trilha sonora, qual a canção de abertura e quais devem estar nos cds com as trilhas sonoras de cada temporada (aliás, devo dizer, me baseando no meu gosto musical, que a trilha sonora de minha vida é bem mais sofisticada que a besteirada pop-teenager que toca em seriados como The O.C. e semelhantes).
Já passei horas pensando nos aspectos lógicos dessa teoria. Não sei se tenho todas as respostas. Provavelmente o foco na minha vida não começou no momento em que nasci e não vai terminar quando morrer. Na minha teoria, o seriado pode acabar a qualquer momento. Eu provavelmente nem voi sentir. Minha vida se desconecta da do ator principal e cada um segue seu destino, como deve acontecer com todos os autores que já escreveram uma história e seus respectivos personagens.
Bom, de volta à teoria, ela surgiu pq eu notei que certos aspectos são bizarros demais pra não haver alguém escrevendo nossa realidade. Particularmente falando, tem conversas ocorridas lá na faculdade que me dão certeza de que existe alguém particularmente talentoso escrevendo nossos diálogos. Fora a própria dinâmica da vida, que segue uma linha narrativa muito parecida com a das obras ficcionais, e eu provo isso.
Essa estrutura basicamente se divide em 4 atos.
O primeiro, é o da apresentação dos personagens. Nesse ato, somos apresentados aos protagonistas, deuteragonistas (personagens que não são os protagonistas, mas são importantes demais para serem descritos como meros coadjuvantes) e os demais coadjuvantes. Conhecemos os personagens mas ainda de forma superficial. Não de forma profunda o suficiente, já que isso ocorre no segundo ato, mas o suficiente para manter o publico assistindo (ou lendo) a história interessado o suficiente pra que continuem acompanhando.
O segundo é o da tridimensionalização dos personagens. Aqui, personagens rasos ganham densidade. Conhecemos suas histórias, seus dramas, suas alegrias. Eles deixam de ser personagens que podem ser descritos com frases como “o cara A” ou “o guri estranho B” e passam a ser únicos. Conhecemos o passado, o presente e suas aspirações futuras. E se a história for particularmente boa, eles inclusive ganham defeitos, para que não pareçam perfeitos demais, impossibilitando a identificação com o publico acompanhando a história.
O terceiro é o mais legal pra quem ta vendo e o menos pra quem ta dentro da história: o conflito. É a hora das coisas começarem a acontecer. É a hora dos personagens passarem por uma tempestade pra vermos como eles reagem. No “Senhor dos anéis”, é quanto a irmandade parte para destruir o Um-anel. Em “Matrix”, quando Neo toma a pílula vermelha. Em “O Mágico de Oz”, quando Dorothy e o Totó são pegos pelo furacão.
Ou seja, os personagens são tirados de sua zona de conforto e precisam decidir, diante de um desafio, se vão enfrentá-lo ou não. Mas claro que como não poderia deixar de ser, raramente os personagens tem escolha pq, afinal, qual a graça de ver uma história em que nada acontece? Nah, o legal é ver o Luke sair da fazenda e ir se juntar à resistência contra o Império de Palpatine e Darth Vader. Enfim, pode até haver a recusa ao chamado (Joseph Campbell inclusive inclui esse momento na jornada clássica do herói) mas no final a vida se impõe e só lhe resta arregaçar as mangas e ir em direção ao desconhecido com a única certeza de que ele vai sair dessa zona toda em que ta se enfiando muito diferente do que quando entrou nela.
E por fim, o ultimo ato: a catarse. Nela, os personagens passaram pela tempestade e tem que lidar com as cicatrizes que essa tormenta lhes deixou. Sejam as conseqüências positivas (e nesse caso pode ser uma recompensa material ou mesmo crescimento espiritual, regozijo e a promessa de uma vida feliz) ou negativas (os traumas passados no processo e o crescimento característico que uma fase ruim traz). Geralmente, grandes tormentas trazem conseqüências positivas E negativas (Frodo destruiu o maldito anel, mas perdeu bons amigos e a ingenuidade inicial quando era apenas um hobbit no condado, antes de testemunhar todo o horror na viagem à Mordor). Você se torna um ser humano melhor do que quando tudo começou, mas invariavelmente paga um preço, mesmo que esse seja a inocência que possuía antes de todo esse processo começar.
Basicamente é isso. Acredito que eu estou passando pela fase do conflito. Final de curso cada vez mais perto, mais o processo de me desligar financeiramente dos meus pais através dos sempre providenciais estágios. Mais o processo de socialização proporcionado pela facul, me obrigando a sair da minha concha segura, da minha zona de conforto. Agora é rumar em direção ao desconhecido, sem saber se aquilo lá na frente é uma luz no fim do túnel ou um trem vindo na minha direção.
Continuem acompanhando, pessoas.
Continua nos próximos episódios.. :-)

2 comentários:

The Owl disse...

Espero que a saída da zona de conforto não seja muito traumática...Bom, melhor isso do que o tédio. Eu acho, pelo menos.

Anônimo disse...

Ele esqueceu de comentar, mas, conforme descobrimos há algum tempo, eu, o irmão, sou o autor E escritor da série.