terça-feira, 13 de agosto de 2013

JAEGERS VS. KAIJU: "This is how the world ends" - SPACE RUNAWAY IDEON



Ok. Ideon..... vejam bem, até alguns dias atrás, quando terminei de ver Be Invoked, o filme que encerra a saga de Ideon, eu tinha "Apocalipse Now" como a obra máxima a registrar os horrores da guerra (seguido de perto por "Full metal jacket"). A brilhante obra de Francis Ford Coppola (quase escrevi “obra-prima” mas aí lembrei q o barbudo é responsável pela jornada audio visual pela vida de Don Vitto e Michael Corleoni) continua no topo, mas agora divide o trono com Ideon. Mano, que série deprimente. Sorte q eu tava com o Sr. Fofinho (meu ursinho de pelúcia e, ocasionalmente, representante legal) perto pq eu definitivamente terminei os 38 episódios (e mais um filme de 1h30) precisando urgentemente de um abraço. Mas vamos pelo começo.

O começo

Se vamos falar de Ideon, temos que falar do homem por trás da série, Yoshiyuki Tomino. 


Tomino-San

Fãs de animes das antigas vão lembrar que esse homem é o pai de uma das maiores séries de ficção científica/robos gigantes do Japão: a franquia Gundam. Pois então, depois do abrupto final da série que deu o pontapé inicial ao conceito de robôs gigantes não mais independentes e com mega poderes absurdos mas sim maquinas humanóides controladas por pessoas e geralmente introduzidas num conceito político bem denso, Tomino decidiu tocar adiante uma idéia que TAMBÉM envolvia um robô gigante. Exibida de Maio de 1980 até Janeiro de 1981, "Space Runaway Ideon" (伝説巨神イデオン - Densetsu Kyojin Ideon) teve inicialmente 39 episódios. Posteriormente, foram feitos dois filmes, um resumindo os 38 episódios da série e o segundo, "Be Invoked", que é o verdadeiro final da série. Ideon, nos primeiros episódios, é basicamente só mais uma série de robôs gigantes. Todos os elementos estão lá, do protagonista de personalidade irascível ao animal fofinho que vai ocupar a vaga de mascote, os alienígenas evil e as maquinas que se combinam pra formar o robozão que intitula a série. Só que aí a história vai avançando e vc se dá conta de que
a) vc está vendo uma história de um grupo pequeno que precisa sobreviver em tempos de guerra. Possuem uma arma extremamente poderosa e desejada mas exatamente por isso, são alienados por qualquer grupo de que se aproximem e
b) essa é, como já dito, uma série que já em seus momentos iniciais dá indícios de que o final não vai ser feliz.

ah sim, spoilers sem dó daqui por diante. Estejam avisados.



A trama.

Futuro relativamente longínquo, a humanidade ganhou as estrelas e colonizou planetas. Em busca de conhecimento, um grupo de colonos chega a um planetinha esquecido num canto da galaxia e lá, encontram indícios de uma civilização antiga, auto-denominada "A sexta civilização". Junto às ruínas desse povo, encontram 3 maquinas gigantes. Uma aeronave e dois veículos de terra. A arqueóloga Sheryl Formosa e seu pai, o Dr. Formosa conseguem decifrar parte da linguagem desse povo a ponto de descobrir um ou outro detalhe sobre o Ideon, mas nada muito aprofundado. Paralelo a isso, temos um grupo de batedores do império conhecido como o Buff Clan. 
Por uma coincidência absurda q só pode ser creditada ao bom e velho Murphy, essas naves trombam com o grupo de colonos e as 3 maquinas citadas e, tomando-os como hostis, passam fogo no grupo. Obviamente, um adolescente nos arredores acaba, depois de ver seus pais serem mortos pelos "aliens", caindo nos controles das maquinas e descobre por acidente que elas podem se combinar na forma de um robô gigante extremamente poderoso. Esse robô, por sua vez, ativa uma gigantesca nave enterrada embaixo das ruínas da sexta civilização e a partir daí, a história é o grupo fugindo e o Buff Clan incansavelmente atrás. Em cima desse fiapo de trama, temos um dos contos mais comoventes que eu já vi sobre os horrores da guerra. 
Vc percebe que tem algo errado na história quando, a princípio, consegue se afeiçoar mais pelo lado inimigo do que pelo grupo de protagonistas. Tomino não tem medo de mandar o lance de bem vs. mal pro caralho e temos dois grupos cheios de acertos e erros, capazes de profunda nobreza e de atos dignos de repulsa.
Eu, pelo menos, tinha, no começo, muito mais simpatia por Gije e Karala, dois "alienigenas" do que por Cosmo e Kasha, dois dos humanos que pilotam o Ideon. O Buff Clan é uma raça imperialista que com o tempo, descobrimos que está a beira da guerra civil, controlada por um tirano e extremamente agressiva, expandindo seu território pelo universo, sem dó.
No entanto, também são guerreiros dotados de alguma honra (que vai se esvaindo conforme a campanha contra os terráqueos vai avançando, mas ainda assim....) que se auto-referem com termos como "samurais". Gije, junto com o ambicioso Damoda, são os primeiros a fazer pressão contra os colonos. Karala, por sua vez, é filha de um dos principais generais do império Buff, Doba Ajiba. Graças ao fato dos aliens serem absolutamente idênticos aos humanos (por isso das minhas aspas quando me refiro a eles como aliens, já q tudo é uma questão de perspectiva. Eles inclusive se referem aos colonos como aliens, também), ela se infiltra na tripulação da Solo ship (a gigantesca nave descoberta no planeta da sexta civilização), a princípio para investigar o grupo, mas com o tempo......bem, me adianto.


Karala, Cosmo e Harulu


Do lado dos humanos, temos Cosmo, o adolescente protagonista da série e piloto do Ideon, junto com Kasha. Se ele é o típico protagonista shonen inicialmente odioso, a garota provavelmente é uma descendente distante de Asuka Langley Soryiuu, porque é igualmente irritante e sempre pronta pra "unleash hell" pra cima dos adversários. 
A tripulação da nave Solo ainda conta com o vice comandante Jordan Bes, a já citada doutora Sheryl Formosa, Lotta, a responsável por cuidar das provisões e trabalhos cotidianos da nave e a enfermeira e, dadas as circunstâncias, médica principal da nave, Rapoh. 
Temos destaque também às crianças Deck, Fard, Ashura e Piper Lou. 


As crianças de Ideon

E se a princípio elas vão parecer as típicas crianças irritantes de animes, com o tempo os guris vão se mostrar personagens importantíssimos, não apenas para o futuro da história da série, mas, também, como espécimes representantes do custo pessoal que a guerra vai causando com o tempo,
E o termo é esse: custo pessoal. Ninguém, absolutamente NINGUÉM é poupado. As perdas que cada um dos personagens, tanto do lado dos "bonzinhos" quanto dos inimigos, vão acumulando com o tempo é algo absurdo e mesmo aqueles que parecem mais vilanescos vão ter um ou dois momentos em que vão deixar claras as motivações pra se manter numa guerra que vai acumulando montanhas e montanhas de corpos. 




Mas não tem jeito, os colonos são os protagonistas e é pra eles que vai nossa simpatia. Sem ter ciência de que os inimigos colocaram um tracking device na nave (que eles inclusive encontram mas ignoram, pensando ser parte da tecnologia do povo da sexta civilização) o grupo é implacavelmente caçado pelos inimigos. Sim, Ideon é uma arma extremamente poderosa, mas lembremos que eles não sabem controla-la e que parte do grupo que  a manipula não possui treinamento militar. Some a isso o fato de que o poder dos inimigos vai aumentando com o tempo e temos um cenário trágico se formando.
E o pior está por vir. Lembram que disse q o Buff Clan era uma raça imperialista e agressiva? E que os humanos tinham varias colonias espalhadas pelo universo? Bem, cada uma delas vai sendo atacada de forma a impedir que possam ir em auxilio da nave Solo. Como consequência, os planetas que poderiam fornecer suprimentos e esconderijo pro grupo terminam hostilizando e atacando os protagonistas, por medo de retaliação dos aliens. E quem pode culpa-los, sejamos francos? Entre varias armas poderosíssimas, o império conta com um tipo de míssil que se move a velocidade da luz que pode devastar áreas imensas. Uma ou duas dezenas deles podem devastar um planeta. E efetivamente devastam, como é o caso do planeta Ajian,um dos locais pra onde a Solo ship tenta desesperadamente pedir auxílio.

"Vc não pode ir com eles, Deck. Vc é só uma criança"
"Mas Cosmo e Kasha também são"

Tanto individualmente, quanto como grupo, o fardo da guerra vai deixando marcas entre os colonos. Os 10 primeiros episódios são bem lentos, mas quando a coisa engrena, você se vê afeiçoando-se ao grupo e aí o peso da trama acaba sobrando também pra nós que estamos acompanhando. 




Como já disse, Cosmo começa a história como o típico soldado turrão que quer resolver tudo na base da violência. O inimigo precisa ser derrotado e ponto final. Só que Tomino não nos deixa esquecer, em pelo menos 3 momentos, q ele é uma criança. Que precisou crescer rápido demais em virtude dos acontecimentos, mas também uma criança. É de partir o coração o momento em que o jovem finalmente quebra diante da pressão imposta. Depois de um ataque particularmente feroz por parte dos (vá lá) "vilões", Cosmo começa a apresentar claros sinais de stress pós traumático. Um guri de, no máximo, 15 anos de idade que JÁ É um veterano de guerra. Numa das raras incursões da nave em uma colonia (inicialmente) não hostil, ele conhece a oficial Camyula, que com o tempo passa a funcionar como figura materna pro garoto. E quando parece que finalmente ele tem a quem se apegar, a mulher é morta em batalha. Se decidirem seguir vendo a série, notem como até o olhar do jovem muda. De um tipico protagonista shonen (vcs sabem, um babaca tipo o Seiya) passamos a vê-lo como alguém a beira do ponto de ruptura, se mantendo de pé apenas pelo senso de responsabilidade com o resto do grupo e, claro, pelo desejo por vingança.
Aliás, a vingança vai ocupar um papel fundamental na trama. Com o tempo e o avanço das hostilidades os dois lados vão acumulando rancores a ponto de se esquecerem do por que da guerra começar. Como todos aqui são bem tridimensionais como personagens, varias vezes vão se questionar a respeito das motivações da batalha. 
Cosmo me conquistou de vez quando se pergunta do porque simplesmente não interrompem o banho de sangue entregando de vez a nave e o mecha gigante pro Buff Clan.
Se querem tanto assim as maquinas de guerra, que fiquem com elas. Todos sabemos que as pessoas estão dispostas a abrir mão de liberdades individuais e de direitos básicos em troca de certa paz e, mais uma vez, como culpa-las por isso? (mas, por mais que Tomino evite dividir os grupos em termos de bem e mal, a história sempre nos lembra do perigo potencial de uma arma do calibre do Ideon nas mãos de um povo conhecido por pular de guerra em guerra como é o caso do Buff Clan).

O Inferno são os outros.

Como em toda guerra, a alteridade é a chave pra manutenção dos conflitos. Somos nós contra eles, e claro que a série trata desse conceito, mostrando como isso é uma construção cultural. 
Num dos episódios mais comoventes da série, vemos o grupo terráqueo tentando promover um cessar fogo com os inimigos. As transmissões via comunicadores da Solo Ship estão avariadas, então, como sinalizar a intenção de conversar e iniciar negociações de paz? Cosmo propõe a idéia de usarem um sinal corriqueiro entre nós, a bandeira branca da paz. NO ENTANTO.......num dos mal-entendidos mais cruéis da série, a bandeira branca tem um sentido completamente oposto pros alienígenas simbolizando algo como "vamos lutar até o ultimo homem cair" pro povo do clã Buff. E aí as hostilidades recomeçam. 
No entanto, como diria John Lennon, "a vida é o que acontece enquanto fazemos nossos planos" e o universo tenta mostrar que estas diferenças são ilusórias, com casais de lados opostos se aproximando e com o tempo se apaixonando. As diferenças são ridiculamente pequenas a ponto de, em varias vezes, eu me perguntar, no decorrer do anime, se não descobriríamos que o Buff Clan não passaria de uma colonia humana distante. Ao final da série, Karala, já parte da tripulação em fuga, vai se envolver e engravidar de Bes. E o filho de ambos vai ter  um papel chave pro final da história.

"Relaying so much on Mechas is a mistake of the modern men"

Nem vou fingir que não vou spoilar aqui o final da série porque essa porra já tem 30 anos e ela ficou famosa PRINCIPALMENTE pela forma como termina (não que o roteiro não seja digno de todos os loas, vejam bem). 
Tomino, enquanto escrevia a série, passava por uma crise de depressão ferrada (olha só que até nisso ele e Hideaki Anno, criador de Evangelion, são parecidos. Anno já disse, inclusive, que Ideon foi uma das principais influencias na criação da sua saga apocalíptica protagonizada por Shinji Ikari) e o tempo todo isso vazava pro roteiro de Ideon. Sem brincadeira, não teve UM episódio entre os 10 finais q não tenha me feito chorar. É tudo tão triste, o clima tão insuportável e desesperador (sério, quando forem ver a série, recomendo depois emendar uma maratona de episódios do bob esponja pra sair do clima pesado do anime) que você quase torce pra que eles efetivamente entreguem de vez a nave pros inimigos só pra que os personagens possam ter alguma felicidade.
Sem brincadeira, pra mim, o PIOR momento de todos ocorre quando Moera, um dos pilotos do mecha, dá um esporro monstro numa das crianças, Fard. O menino é extremamente sensível e as batalhas vão tendo um efeito devastador no garotinho. Moera então dá um mega sermão no garoto dizendo que ele precisa crescer, que pessoas estão morrendo e que ele precisa se mostrar útil naquela nave. 
Alguns momentos depois, vemos Fard indo até Moera e entregando a ele a bonequinha que sempre carregava, dizendo que vai se tornar mais forte.
.......

Mano, eu tõ quase chorando de novo lembrando disso. A mensagem é clara: a guerra desumaniza e uma nave (ou uma cidade, um país, um planeta, etc) em guerra não é lugar pra inocência.

"We´ve been dragged into this too"
.
Além do óbvio fato de que a solo ship e o Ideon são armas devastadoras, o Buff Clan cobiça tanto os artefatos também por causa de uma antiga lenda sobre um guerreiro chamado Ide, que teria, com o auxílio de uma fruta mágica, resgatado uma princesa das mãos de um terrível monstro. 
Essa fruta seria uma metáfora do Ide, um conceito próximo ao da "força" dos Jedis: um campo de energia viva que seria manipulado por aqueles justos de coração. Controlar o Ideon, portanto seria controlar o Ide, que por sua vez, significaria q o Buff Clan é o " povo escolhido". Validação por parte de uma força cósmica maior. Sim, além de guerra e política, temos o elemento religioso marcando presença na trama. Ao conhecerem a tal lenda, os colonos também ganham novo estímulo para protegerem as armas de guerra de serem conquistadas pelo inimigo. Mas conforme a história vai rumando em direção à conclusão, percebemos que as intenções do Ide podem não ser as melhores.




É preciso lembrar: os humanos PILOTAM o Ideon, eles não CONTROLAM o gigante. Gigante que pode ter uma mente própria. E propósitos que beneficiam não os terraqueos ou o Buff Clan, mas a si próprio apenas. Vamos descobrindo que o fluxo de energia que determina o nivel de poder de Ideon oscila de acordo com o instinto de sobrevivencia dos mais próximos. Sabemos também que o nível de energia do gigante robótico é infinito. Manjam as linhas de ley? Agora, imaginem que existem linhas assim em todo o universo e todas elas convergem do e para o Ideon. Algo assim. E o Ide tem preferencia em proteger crianças. Os sinais estavam todos lá, só sendo percebidos quando já era tarde demais.


NO ONE IS SAFE!!!!


"If you want the Ide to like us, don´t you think we should avoid the killing of innocent animals?

Uma coisa que eu notei na série é que o roteiro divide a violência mostrada em dois níveis  Uma espécie de violência que eu vou chamar aqui de "natural", em oposição à violência anti-natural.
A natural seria a violência da Homeostase. Segue definição do wikipedia:

"é a propriedade de um sistema aberto, em seres vivos especialmente, que tem função de regular o seu ambiente interno para manter uma condição estável, mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico controlados por mecanismos de regulação inter-relacionados."

Ou seja, é basicamente o ciclo natural de predador e predado. É violento sim, profundamente, como qualquer documentário do National Geographic pode provar (pra desespero dos bichos-grilos que acham que o mundo animal é amoroso e justo), mas funciona motivado pela busca por comida e proteção e serve também ao propósito de controle populacional de uma determinada espécie.
Por mais hostis, portanto, que sejam as criaturas envolvidas nesse ciclo, mesmo elas se chocam com a violencia anti-natural que é trazida pela guerra entre os terraqueos e o buff Clan. Vemos, na série, o olhar de surpresa dos homem-macacos ao ver a guerra ocorrendo ao longe, temos os Doumou, vermes gigantescos tipo aqueles de "Duna", mas muito, mas MUITO maiores, sendo utilizados como armas de guerra, mesmo tendo uma natureza inofensiva. E por fim, temos aquele planeta-floresta gigantesco (pensem em Dagobah, de Star Wars, só que com plantas gigantes) que é LITERALMENTE PARTIDO AO MEIO pelo Ideon. Essa violência não serve a propósito nenhum sendo apenas uma questão de poder sem nenhum fim "auto-regulador". O produto final de uma guerra é, como a história da humanidade nos mostra, mais guerra.


Chupa, Freeza. Não é só tu que manja de partir planetas ao meio.

Ok.....temos então um robô inteligente com energia infinita, dois povos em guerra e que só vão parar quando o outro lado estiver completamente aniquilado e crianças tendo sua inocência violada.
Pode não parecer, mas a sentença acima é uma equação. O resultado final disso é um só: o apocalipse.

Councillor Hamann: Almost no one comes down here, unless, of course, there's
                                   a problem. That's how it is with people - nobody cares how it
                                   works as long as it works. I like it down here. I like to be
                                   reminded this city survives because of these machines.
                                   These machines are keeping us alive, while other machines
                                    are coming to kill us. Interesting, isn't it? Power to give life,
                                     and the power to end it.

Neo: We have the same power.

Councillor Hamann: I suppose we do, but down here sometimes I think about all
                                   those people still plugged into the Matrix and when I look at
                                   these machines, I.. I can't help thinking that in a way, we
                                   are plugged into them.

Neo: But we control these machines, they don't control us.

Councillor Hamann: Of course not, how could they? The idea's pure nonsense,
                                   but... it does make one wonder just... what is control?

Neo: If we wanted, we could shut these machines down.

Councillor Hamann: Of course... that's it. You hit it! That's control, isn't it?
                                   If we wanted, we could smash them to bits. Although if we did,
                                   we'd have to consider what would happen to our lights, our heat,
                                   our air.

Neo: So we need machines and they need us. Is that your point, Councillor?

Councillor Hamann: No, no point. Old men like me don't bother with making points.
                                   There's no point.

Neo: Is that why there are no young men on the Council?

Councillor Hamann: Good point

O diálogo acima vem direto do roteiro de Matrix Reloaded. Um dia eu ainda quero escrever sobre a trilogia Matrix e fazer vcs entenderem de uma vez por todas pq eu acho as duas sequências de "The   Matrix" tão boas quanto o filme original e o porquê de adorar tanto o final da série, mas por enquanto, vamos nos concentrar no dialogo acima, pra mim, fundamental pra entender o rumo da história. Resumindo  em uma frase simples: aniquilação de um dos dois lados pode significar mútua aniquilação assegurada. Aquele lance da vitória de pirro, manja? E é nisso que Tomino acredita, pelo menos aqui em Ideon.


Cosmo nem imagina o quanto está certo

No final, os colonos percebem que estão sendo controlados pelo Ide. 
Pior, manipulados. 
Pior ainda, julgados. 
A profecia era clara: o Ide se volta pro lado dos justos. Mas planetas são destruídos, animais são chacinados, crianças são alijadas de sua inocência em prol da guerra, basicamente uma corrida armamentista cósmica. Quem é o justo aqui? Ninguém.
E se o Ide não pode se submeter a nenhum lado, já que ninguém aqui é puro o suficiente pra ele e, via de fato, a guerra retratada na série é só mais uma, funcionando como o micro-cosmo de um universo profundamente agressivo e perdido em guerras idiotas, podendo ser dividido em duas facções: povos em guerra e as vitimas destes sendo pegos no meio do fogo cruzado, só resta ao Ide fazer uma coisa: RESETAR A PORRA DO UNIVERSO INTEIRO.

O fim...

E é isso que ele faz. Sem brincadeira, o universo é destruído pelo Ideon ao final da série. Vemos os personagens em forma de espirito, guiados pelo espirito do filho não nascido de Karala, não coincidentemente chamado de Messiah, guiando as demais almas para um planeta em formação, onde eles poderão, reintegrados à natureza (olha só onde eu queria chegar citando a homeostase), recomeçar agora como uma raça evoluída, talvez mais justa e menos dada a atos de violência sem propósito. A humanidade foi julgada e condenada à morte. Mas, no mais próximo que Tomino nos permite chegar de um final feliz, ao invés da tela de Game Over, o universo (ou Deus, se preferirem) nos deu o direito de ter um Continue. O que faremos com essa nova chance, só Ele sabe.


"Was is scary"

E assim termina uma série MUITO foda (mesmo tendo seus defeitos e fillers q não vão a lugar nenhum) e MUITO pouco vista. 
Sorte que, à época, foi vista pelas pessoas certas (de novo, taí o Anno que não me deixa mentir) e acabou influenciando muita gente envolvida na produção de animes. Não é absurdo imaginar o dedo de Ideon afetando um monte de outras produções japonesas que adotaram esse tom sombrio (que me ocorre agora, além de Evangelion, só Akira, de Katsuhiro Otomo). E sim, eu vou evitar falar disso com muita profundidade porque esse texto já está gigante, mas eu notei as semelhanças absurdas entre Space Runaway Ideon e a versão de 2004 de Battlestar Galactica




Quase dá pra dizer que as duas obras se complementam. A mesma junção de política com religião, de realidade crua pé no chão e metafísica e de histórias de humanidade contrastando com um profundo desespero, além da macro mensagem anti belicista. Tudo isso, que é a base do roteiro de Ideon também está lá em BSG (e com a vantagem de ter a gostosa da Number 6 e o mega foda Almirante Adama, além de um final um pouco mais feliz - enfase no "um pouco"). 

É difícil de achar "Space Runaway Ideon" completa. Tive que caçar por semanas até achar um torrent com todos os episódios, mais o filme legendado em inglês, mas vale o trabalho. A história é foda, a animação não envelheceu tão mal (as cenas de batalha no espaço ainda são animais) e o filme "Be Invoked" é do grandessíssimo caralho então, não percam tempo. Ideon é obrigatório pra qualquer fã de sci-fi e de histórias densas de sobrevivência em tempos de guerra.

So say we all.

Ah sim, e já que mencionei, aviso que não é a ultima vez que cito Evangelion e Yoshiyuki Tomino nesse mês temático dos Jaegers vs. Kaijus. Aguardem e confiem. ^^



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