quinta-feira, 15 de agosto de 2013

JAEGERS VS KAIJU: Gwoemul - The Host

“Era uma vez, um reino milenar, onde homens malignos amaldiçoam um rio, criando um monstro terrível que sequestra pessoas e as leva para uma caverna escondida para devorá-las. Depois de perder sua irmã num dos ataques da fera, o tolo, o mago, o ancião e a arqueira precisam  descobrir seu esconderijo e destruir a criatura, antes que seja tarde demais. No caminho, vão ter que lidar com a separação do grupo, magos inimigos, traições e várias perdas, até poderem se reunir para o confronto final com o monstro.”



Que filme lindo. Simplesmente lindo, man. 
E como eu posso ter indicado acima, ele é uma bela fábula disfarçada de kaiju-movie.
Eu, que durante essa série de posts, vivo reclamando que a parte dos filmes de kaiju dedicada ao desenvolvimento dos personagens humanos geralmente é só legalzinha, quando muito, tive que engolir essa. HAH!!!! Um filme em que o importante é o crescimento da party (e vcs vão me ver usando vários termos de rpg no decorrer desse texto. Assistam o filme e vão entender pq) e como eles vão se transformar no decorrer da história, até o confronto final com o adversário. Mais campbelliano impossível.
Na história, depois de uma mancada fenomenal ocorrida num laboratorio militar situado em solo coreano (a Coréia do Sul. Ou simplesmente a “Good Coréia”), uma caralhada de produtos químicos vaza pra um rio próximo. Não precisa ser um gênio pra imaginar o que ocorre em seguida: uma criatura daquele rio sofre uma mutação e cresce ao ponto de devorar pessoas.


E a coisa parte nesse nível mesmo, do nada (como aliás, costuma ocorrer com tragédias ocorridas no mundo real). Com pouco mais de 10 minutos de filme e sem aviso nenhum, o bicho sai do rio e começa a devorar gente, o que inclui a pequena Hyun-Seo. Desolada, a família dela, formada por seu pai, Gang Du (o tolo), sua tia, a atleta olímpica Nam Joo (a arqueira), seu tio e o filho mais novo da família,  o intelectual  Nam Il (o mago), e seu avô, o patriarca desse grupo todo, Hie-Bong (o ancião), parte pro resgate. Party formada, hora de partir numa quest, fazer grind, juntar xp, subir de level e quebrar o boss final na porrada. 

Hyun-Seo

Mano, tanta coisa pra falar desse filme, nem sei por onde começar. Roteiro primoroso, que mescla o tom kaiju com o fabulesco (sem esconder isso em momento nenhum. A cena em que um soldado encontra uma nota jogada em baixo da ponte em que o monstro vive e é devorado em seguida joga na cara o tom de alegoria da história. Pontes aliás são esconderijos habituais de trolls que também costumam atrair suas vítimas deixando presentinhos e apelando pra ganância delas) e uma puta crítica social anti militarista, alfinetando principalmente os onipresentes norte-americanos. Paralela à trama da quest do clã de Gang-Du, temos um protesto popular contra um “feitiço maligno desenvolvido pelos magos negros de um país distante”..... oops, digo, contra uma arma química, o agente amarelo, desenvolvido pelo povinho da terra do Tio Sam, que teoricamente está sendo usado pra eliminar o monstro e o vírus que o bichão teoricamente libera em todos com quem teve contato. 

.....E a palavrinha mágica aqui é “teoricamente”

O roteiro. Já disse q o roteiro desse filme é uma perolazinha? mano, agora eu quero q todo mundo veja esse filme. Sim, é bom NESSE nível.
Enfim, o roteiro (de autoria do diretor Boong Joon-Ho) também não poupa: 
 -  a Mídia como voz corrupta a serviço de poderosos (“se o governo disse, deve ser verdade”
- e, em maior escala, a humanidade em geral, com diversos momentos em que pessoas usam o momento de crise como desculpa pra desenvolver o que de pior possuem em si. 

Gang Du, o herói da história
O elenco também merece um parágrafo só pra eles. Os protagonistas são todos incrivelmente carismáticos, com destaque pra Song Kang-Ho, que interpreta Gang Du, que é quem sofre o principal arco de desenvolvimento e pra Go Ah-Sung, intérprete de Hyun-Seo, que passa longe de ser só a “princesinha sequestrada” típica dos contos de fadas, e termina virando a trágica criança que precisa, como consequência das circunstâncias a que foi submetida, amadurecer rapido demais. 
E claro, os coadjuvantes também merecem todos os loas, desde o jovem cientista militar que comete suicídio ao perceber o tamanho da crise que inadvertidamente causou, até as diversas e sempre curiosas figuras que o grupo vai encontrando no decorrer do caminho. 

Nam-Il, o mago

 A história permite inclusive que o grupo se separe em determinado momento pra que todos possam ter suas próprias jornadas de crescimento (há inclusive o elemento de recompensa do roteiro, onde informações que vemos no começo do filme vão ser resgatadas ao final, como sinal de que cada um deles completou sua via crúcis pessoal). 
A direção. Benza deus, quero ver todos os filmes de Boong Joon-ho (The Pirate bay tá aí pra isso). As decisões estéticas que ele toma fazem desse filme algo bem maior que mero escapismo com monstros (nada de errado nisso, vejam bem). Pra não entregar muitos spoilers, cito apenas a cena logo na abertura, da garota desavisada que percebe a ameaça tarde demais (aliás, toda essa sequência inicial funciona maravilhosamente bem pra apresentar o monstro e toda o perigo que ele representa) e a belíssima cena do “reencontro” dos personagens com Hyun-Seo à mesa, numa clara representação audio-visual da esperança dos grupo em reencontrar a menina. 

Nam-Joo, a arqueira
Como é um filme kaiju, não posso esquecer de falar da criatura em si. Como eu já disse, a cena do primeiro ataque da besta serve pra apresentar pra gente o tipo de risco a que aquelas pessoas estão submetidas. Sim, comparando com os monstros japoneses ele é bem menor, mas o que ele perde em potência e poder de fogo, ganha em velocidade, coisa que o filme mostra com perfeição, com o monstro sempre se movendo de forma muito veloz e ágil, garantindo inclusive vários sustos decorrentes de momentos em que o bichão aparece como um flash do nada e quando percebemos o que aconteceu, tá lá mais um corpo estendido no chão. 
E se o fato da criatura vomitar os que captura pra comer posteriormente (num comportamento típico de alguns animais, outra bola dentro do roteiro) faz com que, num primeiro instante, ele pareça menos ameaçador, a cena da “cascata de ossos” dá a exata dimensão do que espera Hyun-Seo e as demais vítimas. 

Hie-Bong, Gang-Du e Nam-Il, percebendo o tamanho da encrenca....

 O governo e a mídia são corruptas, a polícia e os militares são truculentos e incrivelmente incompetentes, escolhendo como inimigos, aqueles a quem deveriam proteger. 
Resta ao grupo, liderados por Gang Du, não mais o tolo, mas agora, depois de um level up inacreditavel, elevado à categoria de “O monge” (admito que fiquei frustrado quando, depois de uma cena de operação, perdem a chance de mostrar o personagem de cabelos raspados. Não se se na Coréia é assim, mas quando alguém adota a vida monástica no Japão, ele costuma raspar os cabelos) adentrar as trevas e destruir a criatura. 
O filme, inclusive, não se priva de mostrar aquilo que os filmes de kaijuu já dizem desde o Godzilla original, de 1954: que o monstro TAMBÉM é uma vítima, surgido a partir das decisões equivocadas e egoístas de um outro tipo de monstro, esse BEM real e que está sempre mostrando seus dentes e suas garras no mundo real, procurando saciar sua fome infinita.
O filme não tem misericórdia e nos dá um final agridoce. E convenhamos, considerando o respeito que a história teve com a jornada daqueles personagens, não poderia ser diferente.
Mas, apesar disso, a cena final, marcada por uma alegoria nada sutil, deixa claro que, apesar da perpétua luta com os monstros cotidianos, Gang Du (e sua nova família) conquistou o seu “e viveram felizes para sempre”.


Excellent ^^

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