terça-feira, 10 de setembro de 2019

Maratona "Missão: Impossível" - Parte 2

Mission Impossible IV - Ghost Protocol (2011)



Okay, sigamos adiante. Depois doanterior, confesso que as expectativas foram lá pra cima e eu estava ansioso com esse. Vi o logo da Bad Robot no começo e achei que JJ iria repetir seu papel como diretor então, que agradável surpresa foi ver o nome de Brad Bird aparecer como executor dessa função. Pra quem não ligou nome a pessoa, Bird dirigiu os dois "Os Incríveis", o clássico "Gigante de Ferro" e, cereja no topo do bolo, meu desenho favorito da Pixar, Ratatouille (surpreendendo a absolutamente ninguém. Afinal, o que sou eu senão um Anton Ego wannabe?). 
Em sua missão, encontramos Ethan e sua equipe envolvidos numa operação de interceptação de um extremista nuclear conhecido apenas como "Cobalto" que, de acordo com a intel coletada pelos superiores do agente, está em vias de obter os códigos nucleares do acervo russo. Obrigados a invadir o Kremlin, os white hats vêem tudo ir pro espaço ao descobrirem que, como diria o Almirante Ackbar, it's a mothafucking trap. Sem o apoio do governo e sem todo o acervo da IMF, os agentes vão ter que se virar, sozinhos, pra salvar o mundo. 
Ainda tô digerindo M:I 4, mas já venho com algumas certezas: melhores cenas de ação da franquia até agora, ainda que eu não tenha certeza se todas foram bem utilizadas em prol da história ali sendo contada. A fuga de Hunt da prisão é intensa as hell assim como a insana sequência Homem-Aranha-style no Barj Hotel.



O mesmo pode ser dito da cena na tempestade de areia e de toda a action scene final, naquele estacionamento do inferno. Pra não dizer, no entanto, que deixei isso passar: o que me tirava um pouco da experiência era pensar que sequências insanas de ação envolviam o vilão que é..... um professor de física. I mean..... Man... okay, ele era um militar anteriormente e, afinal, o sujeito passou anos atuando com o exército russo e não existe forma disso não deixar marcas. Mas ele tava saindo na porrada com Ethan fucking Hunt. Puxou os limites um tiquinho além do aceitável.
Inclusive, falando nisso: eu não sou o chato que fica "ah, que filme mentiroso" nesse tipo de longa pq, convenhamos, suspensão de descrença é uma parada adaptável e flexível. Mas, CARALHO, como demônios o sujeito não apenas sobrevive mas sai andando de boa de um acidente como o sofrido pelo vilão quando bate, em alta velocidade, DE FRENTE, no carro pilotado pelo protagonista, tb indo à milhão? Bom, pelo menos, no final, eles usam isso da extrema eficiência dos air bags dos veículos árabes como plot point. 
Hendricks é suíço, país aliado dos ianques, mas, ainda assim, é válido apontar que esse é o primeiro momento da franquia em que o vilão NÃO é um rogue agent americano ou um nativo da terra do Tio Sam. 
Do time das aventuras anteriores, volta apenas Benji Dunn, o cara de TI, agora promovido à agente de campo. Além dele, os heróis contarão tb com a agente Jane Carter e o "analista", William Brandt.
Nem voi mais dizer que "gostaria que o time voltasse nas próximas incursões cinematográficas da franquia" pq isso nunca acontece. Bom, vale mencionar a rápida aparição de Luther ao final. 
Diria que é um tiquinho inferior que o anterior, mas bem divertido, anyway. Eu devo ter berrado umas duas vezes durante ele e em nenhum momento mais alto do que quando o gadget do nosso herói falha enquanto ele tá escalando o hotel saudita (spoiler alert: eu tenho medo de altura).



Tudo isso dito, é bem menos denso em termos de metáforas que M:I 3. Interessante ver o IMF tendo que impedir o juízo final com recursos limitados. O vilão é, tipo, o típico bad guy "vamos destruir o mundo pra que algo bom surja no lugar" que o evil man do ep. anterior - o melhor vilão da franquia até aqui - não era. O que que isso diz, né? Fazendo uma leitura extra-obra, vale lembrar que "Ghost Protocol" é de dezembro de 2011 e, 7 meses antes, o presidente Obama anunciava a eliminação de Osama Bin Laden no Pakistão pelas tropas americanas. Nesse ponto o M:I IV já, obviamente, tinha terminado as gravações e provavelmente já estava em fase de pós-produção, mas é  curioso imaginar como esse detalhe pode ter afetado o tom da obra. E, caso esse evento extrínseco não tenha, hipoteticamente, a afetado em nada, ainda assim é interessante como Bird carrega mais nos tons de preto e branco, diminuindo o lance de tons de cinza que vimos em Missão Impossível: III. Ali, um ato de tortura desencadeia uma série de eventos sinistros na vida dos personagens. Aqui, temos uma cena off câmera da agente Carter torturando alguém e...nada. Já no começo, a fuga de Ethan da prisão russa envolve a soltura de vários presos e uma cena longa de um agente penitenciário sendo espancado pelos criminosos e a história mostra isso como uma casualidade que não pede nem um segundo de reflexão. Mais auto-consciência mereceu a frase extremamente cheesy do herói quando supostamente concluiu sua missão, outro momento que me catapultou pra fora da aventura. Sério, aquele "Mission accomplished" foi ridículo nível aquela sketch sobre M:I 2 envolvendo Ben Stiller no MTV Movie Awards de 2000

Sério, vcs tem que ver isso...


"This mission ...got a hell more "impossibler'" 

Also, se o final do filme anterior já deixou um gosto ruim em mim, o twist final aqui.... man..... pra que??? Continuo achando meio covarde negar ao personagem de Tom Cruise sua cota de danos emocionais permanentes. Okay, é uma trama fantástica, larger than life, I get it. Mas ao mesmo tempo, se eles querem abraçar as trevas do mundo real, como indicava o longa da série dirigido por JJ Abrams, soa meio falso dar dois passos para trás e tentar se reconectar com o puro escapismo. 
Novamente, tem suas falhas, mas é uma aventura divertida, com cenas de ação de tirar o folego e uma cinematografia absolutamente linda, como de praxe.

Mission Impossible V - Rogue Nation (2015)



Okay, so, a Shield tem a Hydra, o MI-6 do 007 tem a Spectre e a IMF ganha seu arqui-inimigo.
Se o quinto filme da franquia abraçava esses elementos da mitologia James Bondiana de super-espionagem, nesse aqui eles incorporam esses tropes com força. Solomon Lane é um vilão bondiano em essência, só faltando o gato branco no colo.
A história abre com uma subversão da clássica cena de briefing do Ethan, já colocando as cartas na mesa e dando uma idéia do quanto, em tese, a escala vai ser levantada.
So.....ele cumpre essa promessa de forma eficiente?

Hã..... em partes. Primeiramente, tirando da frente de uma vez: novamente, o vilão não soa tão assustador quanto Owen Davian, antagonista do 3º "Missão: Impossível". Não adianta apenas botar alguém na tela falando que "ele é o pior de todos" e tals se, de fato, a trama não faz o devido trabalho em conceder a esse personagem a devida gravitas.


Não que Lane seja um personagem ruim, de maneira alguma. Ele, inclusive, segue a escola Davian de manter a calma em todos os momentos, quase nunca levantar a voz. E achei curioso a escolha de roupas do personagem, remetendo - se intencionalmente ou não, vcs que digam - a Steve Jobs?
Na trama, Ethan se vê frente a frente com uma espécie de anti-IMF, conhecida como "The Syndicate" (inclusive, se vcs se lembram, mencionada no final do anterior). Responsável por diversos crimes que somam centenas de vítimas inocentes, incluindo o assassinato de um chanceler alemão (segunda melhor sequência de ação aqui).
Todos os elementos clássicos da cinessérie estão aqui, mas confesso que esse filme não clicou tanto comigo. Não me entendam errado: ele é absolutamente lindo. As cenas em Marrocos são de encher os olhos de tão bonitas. A infiltração, subvertendo a tendência de M:I em subir em prédios progressivamente mais altos, dessa vez envolve uma instalação subterrânea e, eu confesso, eu pensei em prender a respiração por toda a sequencia, apenas pra ver se eu conseguia. Obviamente não durei nem 30 segundos.
A perseguição de carros foi algo digno do selo Dominic Toretto de qualidade. E finalmente, FINALMENTE, Missão Impossível ganha uma personagem feminina cujo talento não envolve seduzir o vilão. Ilsa.....oh, by the way, quando ela aparece num primeiro momento, eu achei que fosse a Julia, a ex-esposa do agente Hunt... precisei olhar no wikipedia pra ter certeza de que não era.
Anyways, Ilsa é extremamente independente, sempre um passo adiante do protagonista E do vilão e eu fico feliz em saber que ela volta pro próximo episódio. Até pq, do M:I prévio pra este, a ÚNICA personagem que não volta do time de aliados do herói, é a agente Carter. Não que eu esteja reclamando, vejam bem, Ilsa é uma personagem bem mais legal. Inclusive, finalmente, tb, a série tem um time fixo. Brandt, Benji e Luther voltam pra livrar a cara do líder do time, aqui e ali, quando necessário. Benji principalmente tem um puta destaque na história, com Brandt funcionando, novamente, como a balança moral nos momentos em que o personagem de Tom Cruise chega perigosamente perto de passar dos limites (ainda que, como muito bem lembra Luther, o colaborador mais antigo dele, esse é um dos talentos que faz o espião tão eficiente). 



Mencionei essa dicotomia entre as dúvidas do personagem de Jeremy Renner e o de Ving Rhimes pq dá pra fazer uma conexão entre esse elemento e o grande tema dessa narrativa: expiação. Atonement. Tanto os heróis, quanto os vilões, e considerando que é uma história de duplos e reflexos invertidos, isso não deixa de ser algo elegante por parte do roteiro, tem esse elemento de ter que lidar com pecados passados ou serem fruto de tais. A IMF é desmontada no começo do longa, por causa de todo o fallout (Foreshadow!!!!!) das missões anteriores. De fato, quando o agente Hunley diz que uma parte substancial do sucesso da Impossible Mission Force vem da sorte absurda de Ethan, ele não está errado. De fato, o filme comprova isso na cena da infiltração submarina. O personagem principal da história é, de fato, um apostador, um gambler, apostando cada vez mais alto e, como os senhores sabem, não há sorte que dure para sempre. O que, sendo chato, só reforça aquilo que eu disse de que a Julia tinha que ter morrido na terceira incursão cinematográfica de M:I. De fato, a sorte dos white hats não pode durar pra sempre e uma perda dessa magnitude conferiria certa credibilidade à trama
Mas enfim, Ethan padece disso tb, puxando os limites num nível que leva mesmo seus colegas de time a questionarem se ele só não está confiante demais. Normalmente esse tipo de dinâmica soa falsa nesse tipo de história, e vc consegue antecipar de longe que é apenas os autores tentando nos enganar, mas confesso que aqui, as dúvidas de Brandt me pareciam críveis a ponto de eu questionar se ele não iria, de fato, entregar o líder do time para evitar um desastre maior.
E, por fim, os vilões, como já ocorreu antes na franquia, são fruto de homens no poder excessivamente confiantes, achando que podem injetar certo controle dentro da estrutura criminal mundial e pagando caro por isso. Como eu disse, um conto sobre ajuste de contas de todos os lados.
Não sei se Lane reaparecerá nos próximos longas, mas vai ser um desperdício se não o fizerem, já que a série finalmente tem seu Blofeld. Faltou se concentrarem um tiquinho mais em tridimensionalizar o personagem, o que pode ser resolvido com seu retorno e mais tempo de tela.



Até pq gostaria bastante de ver retomarem esse tema da linha cinzenta separando Solomon de Ethan e o quão, por mais fundamentalmente diferentes, eles - e suas respectivas organizações - guardam semelhanças assustadoras.

Mission Impossible VI: Fallout (2018)




Confesso que estava achando que ia terminar essa maratona num tom meio negativo, tipo "é legal, mas....". Essa percepção foi reforçada depois que vi que Christopher McQuarrie iria repetir seu papel na direção como fez em "Rogue Nation".
Bom...... eu estava errado.



O terceiro ainda é meu favorito e, sejamos francos, houveram pelo menos dois momentos em que MI: 6 me perdeu (falo deles mais adiante) mas o saldo final não só é positivo como, agora com a perspectiva geral desses dois episódios, esse e o anterior como parte de uma história só, minha impressão sobre o 5º filme melhorou bastante. Fallout se passa 2 anos depois dos eventos de M:I 5 e traz a IMF tendo que lidar com uma organização surgida a partir dos restos do Syndicate, desmantelado com a prisão de Solomon Lane. Esse grupo, conhecido como "os apóstolos" está em vias de obter acesso a uma carga de plutônio roubado e cabe ao grupo detê-los. Nessa missão, Luther é feito refém e o protagonista tem que tomar uma decisão e arcar com os custos dela.
As cenas de ação vinham escalando desde o inicio cinematográfico da franquia, em 96 e aqui elas atingem a perfeição. Não dá nem pra escolher: do resgate de Lane, passando pela cena da invasão ao bar, a perseguição e aquela sequência completamente insana do helicóptero no final, tudo é feito pra deixar o publico tenso até o limite e funcionando à perfeição nesse sentido. A trama tb tem alguns shout outs interessantes para momentos prévios da série, incluindo a cena em que Ilsa tenta repetir uma estratégia utilizada com Ethan no anterior. Um aceno interessante pros fãs de longa data (ou mesmo os que conheceram M:I a partir de Rogue Nation)



Bom, o último episódio - até o momento - e o "fallout" (sorry) dos eventos dos últimos 4. Julia ganha um adeus digno, a relação da IMF com o governo americano parece ter todas as arestas devidamente aparadas, Lane termina preso mas vivo, e isso é importante. O time ganha seu rosto aparentemente definitivo, com Ilsa agora em suas fileiras (o agente Brandt não voltou pq Jeremy Renner tava ocupado com o outro projeto mais famoso dele, vcs sabem....). Tudo termina bem....e eu estou de boa com isso.
Vcs sabem que meu maior problema com a franquia, desde o final de M:I 3 é como a série blinda o personagem de Tom Cruise. Final da primeira temporada de 24 horas custou a vida da esposa de Jack Bauer e meia dúzia de traumas permanentes nele e na filha. Cinco filmes depois e nada de realmente sinistro aconteceu com Hunt. Sim, ele perdeu aliados, mas, regras do jogo. E a situação com Julia nunca havia ficado realmente clara. Além disso, ele seguia apostando cegamente na sua habilidade de, de fato, sair de situações impossíveis. A trama acentua o quanto isso de irresponsável o personagem carrega, novamente o colocando em choque com os próprios aliados mas, ao final, Luther, Ilsa e Benji seguem atrás dele, por mais desesperado e fora de controle que seja seu tom de voz, entregando o quanto ele funciona na base do improviso (não que isso seja necessariamente ruim, mas, novamente, ele é um apostador e ninguém dá sorte em 100% dos casos). Mas ao final, naquele discurso da agente Sloane, eu consegui entender o ponto em que as pessoas contando essa história pretendiam chegar.



De certa forma, McQuarrie pega algumas dessas dúvidas que eu tinha com relação aos rumos destes longas e usa "Missão Impossível 5" e o "6" para tecer sua tese: Sim, o M:I 3 aconteceu e escolhas difíceis foram feitas, escolhas essas que traziam forte carga de tons de cinza. Tortura, ameaças, limites foram ultrapassados. Ao invés, no entanto do diretor abraçar essa escuridão como o tom reinante, ele decide usar esse episódio como um cautionary tale, como uma história de aviso, uma "darkest timeline", do mesmo jeito que vemos aqui em M:I 6 pelo menos em dois momentos, cenas que servem pra mostrar o que aconteceria se decisões diferentes tivessem sido tomadas. Como eu disse acima, essas cenas - todo o cenário falso para enganar Deebruke e aquela cena da fictícia - e trágica - cena de resgate de Lane - são o momento em que o real toca a franquia. Então, pq elas não foram a tônica adotada pela série, de fato? Pq isso é uma via de mão dupla.
Eu disse no artigo anterior que esse momento de "olhar pro abismo" de Missão: Impossível era uma jornada sem volta, mas esqueci que o abismo te olha de volta e a perspectiva copo meio cheio aqui é que se os demônios dentro desse hipotético buraco podem te mudar ao olhar pra ti, vc tb pode afetá-los com o seu olhar. Esses filmes - e esse acima de todos - é um grande estudo a respeito do quão férreas são as convicções de Hunt e, de forma fascinante, como um herói menos pós-moderno, mais próximo da visão clássica do herói, funcionaria no contexto das histórias de ação pós 9/11, quase como se o Ethan que vemos aqui fosse o de "M:I" ou de "M:I 2". Com sua cota de traumas e cicatrizes, pq é impossível esquecê-los, mas mais conectado com o que o personagem tem de mais essencial.
Eu sempre digo que uma de minhas histórias favoritas do Superman, um dos meus personagens favoritos, tipo, ever é "Superman vs Aliens".



É um gibi histórico? Não.
É um clássico? Não.
Então, pq funciona comigo? Pq é um daqueles momentos em que temos as convicções básicas do Superman, um herói solar clássico, arquetípico, sendo testadas no ambiente mais infernal possível. Da mesma forma que foi na saga "Our worlds at war", outra saga da DC feita pra botar a fortitude moral do ultimo filho de Krypton sob pressão (e sim, achei curioso que um dos vilões aqui é vivido pelo homem que interpretou Kal-El no malfadado "Man of Steel" de 2013, em que o personagem toma decisões bastante questionáveis e que é frequentemente citado em discussões sobre o papel da figura do herói num contexto como o atual)
O desespero na voz de Ethan do qual eu falei no texto anterior, não tá lá pra indicar a falta de controle do personagem, mas a necessidade de filtrar quase todos os cenários possíveis para encontrar aquele único no qual nenhuma vida inocente é perdida e, convenhamos, na nossa realidade de heróis "Edgy", isso é uma afirmação corajosa pra caralho. Confesso que naquela cena envolvendo uma policial francesa no local e hora errados, eu imaginei que o personagem fosse sentar um tiro nela "em prol do bem maior". A questão é exatamente essa: o termo "casualidade de guerra" não existe em seu vocabulário. Não existem "baixas aceitáveis". Decidir entre a vida de um e a de milhões não é uma escolha.


E é isso que é colocado sob prova nesta missão: essa missão em si não existiria caso o líder da IMF tivesse executado Solomon quando a oportunidade surgiu. E das palavras do vilão em si:

Lane: "Did you ever stop and ask yourself who's giving you the orders or why? When everyday the master you serve is one step closer to ending the world."
Hunt: "Strange accusation coming from a terrorist."
Lane: "Terrorists are schoolboys, desperate for attention. Hoping to shape public opinion trough fear. I don't care in the least what people think or feel. In my experience they don't do either for very long."
Luther: "I suppose that justifies bombing factories or bringing down civilian aircraft."
Lane: "You see the end as clearly as I do, Ethan. Governments the world over are descending into madness. The Syndicate was created to tear them down. Brick by brick."
"The Syndicate was civilizations last hope! A chance to smash the old world order. That hope is gone now because of you and your pathetic morality. You should have killed me, Ethan. The end you always feared, it's coming. It's coming. And her blood will be on your hands. The fallout. For all your good intentions."

Temos diversos casos ficcionais em que o personagem com as melhores intenções termina tão morto quanto qualquer minion do vilão e isso pq intenções e morais não param balas, espadas ou armas de qualquer tipo. No final, boas intenções tb podem ser tão nocivas quanto seu oposto. Ned Stark usava as boas intenções como um escudo num contexto de corrupção. No final, sua superioridade moral não o salvou da decapitação. As boas intenções do Batman não servem de muita coisa pra cada parente e/ou ente querido de alguém morto pelo Coringa. Alguém poderia dizer que o agente Hunt é um zealot, um fanático, da mesma forma que Lane, seu reflexo invertido, e esta seria uma alegação difícil de ser negada. O longa e a série tomam suas posições mas não necessariamente validam o lado do herói como a verdade absoluta. Radicalismo, num mundo como o descrito pelo líder do Syndicate no diálogo acima é uma resposta compreensível. Lembremos que esse é o primeiro filme da franquia pós-Obama. As filmagens começariam em 2015, mas uma disputa salarial entre Cruise e a Paramount levaram à uma interrupção em sua produção com os dois lados chegando a um acordo apenas no final de 2016. E o que rolou nesse ano, meus queridos ímpios? Que outro acontecimento histórico aconteceu aqui e que iria afetar, intencionalmente ou não, a forma como perceberíamos essa história?


Yep. do mesmo jeito que funciona com Batman e Coringa, Clark e Luthor, Peter e Norman, o agente Hunt e Solomon Lane são personagens submetidos à traumas e condições muito semelhantes mas que desenvolveram ideologias extremamente opostas como forma de superá-los e seguir adiante.

Lane: I helped my government killed many innocent people and more, so much more. Killing to keep things as they were. And now I'm killing to bring about change.

É preciso entender que o que norteia os dois opostos aqui é o fanatismo. Lane acredita na sua causa e que sacrificar vidas é válido pra salvar os que sobrarem. Ethan acredita em proteger todos. Mesmo as mortes de vilões são mantidas no número mínimo possível. Pra ele, proteger o indivíduo e a santidade da vida constituem a base daquilo que ele faz e, mais ainda, valida sua missão e todos os sacrifícios feitos. É esse conjunto de valores que confere sentido a toda sorte de bizarrices as quais ele voluntariamente, e esse ponto é importante, se submeteu.

Lane: Your mission, should you choose to accept it... I wander, Ethan, did you ever choose not to?

Claro que esse é um conto pós Guantánamo, pós Abu Ghraib. Vai saber quantas missões "Jack Bauer style" Hunt recusou, quantas missões que envolviam tortura e a derrubada de governos estrangeiros - muitos deles, aliados - ele ignorou no decorrer da vida. As mesmas missões as quais Lane aceitou por acreditar naquela mesma base de idéias patrióticas que abastecem seu adversário. O ponto de Lane, por mais extremo que seja, é balançar as estruturas das crenças do oponente e ele o faz brilhantemente: lembremos que a missão desses agentes e, indo mais além, da maioria dos protagonistas de filmes de ação, não é combater o mal, mas manter o status quo funcionando.



Por isso que os super heróis do MCU passam mais tempo enfrentando monstros e uns aos outros do que, por exemplo, indo atrás dos milionários corruptos e dos governantes servindo a interesses sinistros. O papel do herói é parar as influências externas e garantir nosso "direito" de corromper e destruir o mundo nós mesmos. Citando o Superman novamente: lembrem-se que enquanto Luthor usava os buracos da lei para benefício próprio, Kal-El não relou um dedo nele. Quando ele, enlouquecido, botou uma armadura e saiu por aí tocando o terror, aí sim, um limite foi cruzado. Como anarquista que sou, reconheço na raiva de Lane a minha própria, apesar dos métodos escrotos que ele resolveu utilizar pra trazer "igualdade" ao mundo, nesse aspecto, portanto, me aproximando mais dos ideais humanitários do agente Hunt.


Os roteiristas e o diretor têm a elegância de apresentar os dois pontos de vista e deixar que nós cheguemos a nossas próprias conclusões e isso é bem interessante. Sim, Lane é um vilão, ele é mau pra caralho, ao final ele está disposto a matar um bando de inocentes incluindo doentes e médicos. Ele é o responsável por liberar vírus em áreas populosas e eliminar homens, mulheres e crianças em prol de uma causa, isso não é sutil de maneira nenhuma. Mas a raiva dele, essa sim soa honesta, é a raiva de um norte-americano com um presidente como Trump, de um brasileiro sob o comando daquela aberração fascista que nos lidera. Os métodos podem ser errados mas a gênese da sua crença é perfeitamente relacionável pra gente, imersos que estamos nesse contexto de merda em que nos enfiamos (jesus do céu, I mean, existem campos de concentração nos EUA em 2019).
A escolha adotada pelo filme como "a certa" não é nos mostrada como definitiva, mas apenas como a que, hoje, naquela situação, funcionou, como funcionou nos 5 anteriores. Vimos o que aconteceu, no M:I 3 quando Hunt cruzou as linhas que o aproximaram de Solomon e o que isso quase lhe custou. Hoje, e só por hoje, tudo terminou bem, o que, novamente, é uma postura bem corajosa por parte dos criadores de "Fallout". Governos corruptos devem ser derrubados mas o que esta obra e a partir dessa leitura, a saga como um todo afirma é que temos que ter cada vida, individualmente, como parâmetro e que qualquer estrutura construída a partir do sangue de inocentes tem bases frágeis. Essa é uma verdade universal? Não.
Mas aqui funcionou, o mundo foi salvo e só os vilões foram mortos e por hoje, isso é o que basta.
Um excelente ponto de conclusão e final de ciclo para a série como um todo, antes de um novo começo para a franquia. Dois novos eps. já foram anunciados - ambos com McQuarrie na direção, uma excelente notícia - e, interessante tb é notar que eles vão ser produzidos de forma conjunta e lançados com um ano de diferença entre um e outro, respectivamente em 2020 e 2021. Confesso que depois dessa sexta aventura, estou realmente ansioso em ver o diretor americano continuar com sua macro-trama, principalmente agora que estou tranquilo em vê-lo confortável na função e com algo a dizer, não apenas a respeito desse universo, mas sobre o nosso mundo e os rumos perigosos que ele vem tomando.
Termina aqui, por enquanto, essa seção de artigos, mas podem esperar que com certeza estarei aqui pras próximas missões da Impossible Mission Force. "Should his lider choose to accept".
Mas quando é que ele não o fez, né? :-)

Meu ranking

Mission: Impossible 3
Mission: Impossible Fallout
Mission: Impossible 5 - Rogue Nation
Mission: Impossible
Mission: Impossible 2
Mission: Impossible 4 - Ghost Protocol

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