domingo, 12 de outubro de 2008

Like tears in rain...

Compreeeeeeeeeeei. Há meses queria comprar a versão tripla de Blade Runner, mas o dvd tinha esgotado nas lojas, então, tive que me contentar com a versão simples do filme. Mas agora não marquei bobeira e comprei. Essa versão vem com 3 dvds: o primeiro com a director’s cut (a versão sem narração, mais legal e remasterizada), o segundo, com 3 outras versões.
Mas o que faz essa belezinha valer cada centavo gasto em sua aquisição é o terceiro dvd, com um documentário de três horas e meia de duração, destrinchando TUDO que envolveu o processo de criação do filme, desde a fase de roteiro e obtenção de orçamento, até escolha dos atores, efeitos especiais, escolha de atores, seu lançamento mal sucedido e o reconhecimento – muito justo, aliás – que veio com o passar do tempo.
Quando eu tava voltando do shopping onde eu comprei o dvd, fiquei pensando “Legal, foda, mas.... pq eu to tão feliz? Pq diabos eu gostei tanto desse filme?”. Pq isso é o mínimo que vc espera saber de algo assim, né?
Trainspotting eu amo de paixão pq eu me sinto como Renton, meio perdido e utilizando qualquer medida pra fazer a vida parecer mais intensa (desde álcool até outros psicotrópicos não tão...hã.. legais).
Encontros e Desencontros é um dos filmes da minha vida pq eu me sinto o tempo todo tão perdido, tão “sozinho numa terra estranha” quanto Bob Harris (e diabos, sem uma Charlotte pra facilitar o processo).
Clube da Luta é um filme que eu vejo sempre pq as vezes eu também quero baixar a guarda e deixar a vida me encher a cara de porrada, só pra sentir alguma coisa que não seja....sei lá.... apatia... nada... entropia emocional... whatever.
Mas Blade Runner eu diria que são outros quinhentos. É a mesma msg, mas de outra perspectiva. Claro, o visual do filme me pega de jeito (não é pra menos, já que eu adoro dois quadrinistas que são influencias confessas da maioria dos envolvidos no filme: os europeus Enkil Bilal e Moebius), e eu sou fã assumido de ficção cientifica. Também tem o lance visionário. Pq, tipo, não precisamos esperar até 2019 pra ver o mundo virar o cenário mostrado no filme de Ridley Scott: Superpopulação, multi-diversidade cultural num mesmo ambiente, problemas climáticos. Só faltam os replicantes e os carros voadores (damn it. ISSO seria maneiro).
Mas o que REALMENTE me pega pela alma nesse filme, é OBVIAMENTE o aspecto filosófico e emocional da trama. Pra quem não sabe (hereges!!! :-)) o filme mostra um mundo futurista caótico, onde a terra definha devagar. Nesse mundo meio cyberpunk, uma nova raça de “super-humanos” foi desenvolvida cientificamente, para realizar trabalhos que uma pessoa normal não conseguiria. Esses seres (biológicos, ou seja, eles NÃO SÃO andróides, que são entidades mecânicas, como o subtítulo do filme pode dar a entender) possuem super-força e inteligência super desenvolvida. Mas exatamente para que não possam ameaçar as pessoas “normais”, foi criado um sistema de segurança para limitar seu potencial: uma expectativa de vida de 4 anos. A trama do filme começa quanto 4 destes replicantes (Zhora, Pris, Leon e Roy Batty), depois de matarem uma PÁ de gente, fogem de uma colônia espacial e vem pra Terra, em busca do criador dessa série de replicantes (conhecidos como NEXUS-6) em busca de aperfeiçoamentos que os permitam aumentar sua expectativa de vida. Deckard – Harrison Ford, foda pra cacete -, um Blade runner (espécie de caçador/exterminador de replicantes) é convocado para caçá-los e destruí-los.
Alguns momentos chave da trama são o encontro de Roy com o criador dos replicantes, o dr. Tyrell (tipo, o que vc faria se estivesse diante de Deus?), os momentos de reflexão sobre o que nos difere dos replicantes (Como os momentos de ternura entre Roy e Pris, afinal, se eles podem amar, temer, odiar, desejar, o que os difere de qualquer pessoa normal?). E claro, a cena final de Roy Batty.
Que me faz chorar. TODA VEZ QUE EU VEJO. Como o filme é antigão, voi partir do principio de que quem poderia querer ver esse filme já viu e quem não viu, é pq não pretende ver, então, voi botar a cena aqui, mas por via das duvidas, fica o aviso do spoiler:



“I’ve seen things you people wouldn’t believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched C-BEANS, glitter in the dark near the tenhousen gates. All those moments will be lost in time....

.....like tears.... in rain....

...Time... to die”


Pqp...... É aquilo, né? Roy (numa interpretação simplesmente MATADORA de Rutger Hauer) salva Deckard pq a proximidade da morte faz com que ele perceba o valor que a vida, QUALQUER VIDA, tem. E mais, percebe que a luta dele (Roy) pela vida é a mesma que cada indivíduo tem, com a diferença de que não podemos, ao contrario dele, interpelar nosso criador (se é que Ele existe).
Uma percepção que veio tarde demais, já que ele passou tanto tempo procurando por vida (e inclusive matando, nessa busca) que ele só pode aproveitar esses ultimos momentos vivos quando o fim já estava próximo (não é pra menos que na cena final ele segura de forma extremamente carinhosa aquela pomba branca). É aí que ocorre a transformação. Batty e Deckard. Ambos os personagens realizando uma jornada para fora de um estado de apatia e vendo o amor como uma das formas mais eficientes para realizar essa transição. Quer seja o amor altruísta pelo próprio conceito de vida, que visualizamos em Batty, ao salvar a vida do seu caçador, mesmo diante do fim, quer seja o amor de Deckard por Rachel (não é pra menos que as cenas com ela são, junto com as cenas de conflito contra os replicantes fujões, as únicas em que vemos o personagem em grandes explosões emocionais).
Cacete, olha o peso disso. É na apropriação dessa mensagem que eu entendo pq Blade Runner mexe comigo. Pq, como os 3 filmes citados acima, ele fala a respeito de uma perspectiva de vida. De sentir algo. E ultimamente, não sei se por causa da proximidade do meu 29º aniversário, eu tenho refletido muito a respeito das minhas escolhas individuais e do quanto esse negocio de “vida tranqüila” é meio superestimado. Como Deckard no começo do filme, eu me sinto tão apático na minha vidazinha segura que eu nem penso no quanto o que eu quero mesmo é, sei lá, me jogar. Abandonar essa coisa mecânica da rotina e da coisa confortável trazida pelos meus quase 30 anos de timidez e aproveitar cada segundo, independente dele trazer algo muito legal ou uma daquelas porradas que invariavelmente vem de vez em quando. De, sei lá, trocar o “salário bom, emprego estável com perspectiva de ascensão de carreira” por uma estrada sem fim e uma mochila nas costas, sem certeza de nada, só indo, um passo de cada vez (e se possível, alguém de mãos dadas pra me acompanhar).
De abandonar esse estado de sobrevivência segura e VIVER, com todos os prazeres e riscos que o processo traz (pq como Tyrell diz em certo momento do filme, “a estrela que brilha com o dobro de intensidade se apaga na metade do tempo”). De trocar o certo pelo duvidoso.
Enfim, esse tipo de reflexão trazida pelo filme é o que pega.

.....e, só pra que não pareça que eu sou uma pessoa de conteúdo e capaz de grandes reflexões existencialistas, é valido lembrar também que o filme tem tiro e porradaria pacas!!! ^^
Yay!!!!

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