terça-feira, 7 de maio de 2019

"A duração de um minuto": Wild Strawberries (1957)



Certa manhã, Isak Borg acordou de sonhos intranquilos....

Man, oh man.... O filme mais recente em nossa jornada através da filmografia Bergmaniana continua, tal qual o anterior, "o sétimo selo", a olhar a morte nos olhos. Mas se a jornada de Antonius Block é cheia de bravura e resolução, a do velho professor Borg é melancólica, cheia de vislumbres de rumos não tomados e questões do tipo "e se?"
No filme, vemos o cientista numa road trip existencialista com sua nora e alguns estranhos que encontra pelo caminho, enquanto ruma para um evento em que vão lhe dar um título em sua homenagem como reconhecimento pelos serviços prestados. Outro trabalho magistral, o filme ilustra a vida de alguém que usou da fleuma, das boas maneiras e de sua sofisticação como uma forma de se isolar e, mais além, se colocar numa posição de superioridade moral sobre todas as pessoas com quem conviveu. 
Durante a viagem, seja parando em alguns locais que lhe foram importantes durante a vida, seja em flashbacks e sonhos, vemos um pouco de sua história e como sua postura diante da vida lhe tornava inalcançável para todas as pessoas que poderiam ter sido importantes pra sua vida, não fosse a muralha que ele mesmo construiu. Cabe a Marianne, a nora acima mencionada, força-lo a se ver sob uma lente honesta e admitir que a solidão que menciona na primeira cena de "morangos silvestres" é consequência direta das decisões que tomou e da forma que alienou os demais ao redor. 
Inteligentíssimo o uso dos caroneiros e do casal acidentado que Borg encontra pelo caminho como forma de mostrar pessoas em diferentes pontos da vida e a diferença que essa distância geracional mostra: Os 3 jovens são puro Id, alegria de viver e energia. Já o casal acolhido é amargo, apresentando as cicatrizes de uma relação infeliz, em que pessoas estão juntas apenas por comodidade, já sem a satisfação da companhia alheia.
E dirigindo o carro, o velho mestre, olhando aquilo tudo quase sob uma perspectiva científica, como um especialista olhando curioso para uma placa de petri. Valido mencionar tb o quão elegante foi a escolha do diretor de jamais mostrar Borg em versões mais jovens nas cenas de flashback: o protagonista se vê como um homem velho mesmo nesses momentos pq ele SEMPRE se viu como um homem velho, mesmo durante a adolescência e começo da vida adulta. Do alto da minha perspectiva de um homem chegando aos 40 anos e que sente que tem essa idade desde os 10, isso ressoou fundo em mim. 
Um filme doloroso de se assistir, admito que os olhos marejaram quando sua acompanhante durante a viagem lhe conta sobre a reação de Evald, filho de Borg, ao saber que iria ser pai. A vida não é uma dádiva, mas um fardo. Passa-la adiante, portanto, não é oferecer a outra criatura a chance de explorar suas possibilidades e surpresas, mas um ato irresponsável e cruel. Chega a ser perturbador ver o protagonista percebendo que está dentro de um ciclo: recebendo essa visão de mundo da mãe (percebam a completa falta de qualquer carinho na voz quando a velha matriarca diz que dos seus 10 filhos, apenas Isak está vivo), passando para seu filho único e ciente de que, por tudo que sabe dele, Evald deve seguir com o ciclo adiante. Ou não, já que Marianne parece ser o elemento pronto para oferecer algum calor e doçura à vida do rapaz e quebrar esse padrão de gerações e gerações. Paradoxalmente, um longa emocional sobre gente fria e ilhada emocionalmente, mas que oferece um salva-vidas ao final, conferindo a eles uma mão amiga disposta a resgata-los da própria solidão. 

A seguir: The Magician

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