terça-feira, 5 de setembro de 2017

Relicário 05/09/2017

O relicário é a seção fixa do blog em que eu olho pro passado e revisito alguns gibis menos recentes, tanto pérolas das eras de ouro, prata e bronze, quanto novos clássicos lançados há não tanto tempo. 


Hello, boys and girls. Here your host, Hak the bear e dessa vez eu decidi ir atrás de alguns dos meus gibis favoritos e revisita-los, de cabo a rabo, 3 títulos do qual já falei varias vezes aqui no blog, um deles sendo, provavelmente, meu favorito de todos os tempos. Pronto?


ATOMIC ROBO #1 - The fighting scientists of Tesladyne


Outro dia eu postei uma imagem reunindo Robo e Hellboy aqui e o espírito é bem esse. Mas mais good vibes. Menos místico e mais científico. Mas tanto lá, como cá, temos elementos em comum. Roteiro primoroso e arte linda? Sim, mas eu me refiro as tramas que bebem dos seriados cinematográficos de aventura dos anos 40 e 50, tipo Doc Savage, e que inspiraram não só os dois quadrinhos acima citados, mas também obras como a cinessérie do Indiana Jones. E tal qual no clássico indie de terror de Mike Mignola, aqui também temos um universo onde tudo pode acontecer.
Tomemos como base esta primeira edição: após as primeiras histórias introduzindo os personagens (mas sem muitos detalhes. Sabemos que  Robo é fruto de um projeto científico relacionado à Nikola Tesla, que ele trabalha pro governo e que ele é reconhecido como um cidadão humano americano - uma das recompensas pelos serviços prestados ao Tio Sam). Estabelecido isso, é uma montanha russa. Temos sense of wonder puro (Formigas gigantes!!!Pirâmides motorizadas), humor (a aventura de Robo na lua, que poderia ter sido uma experiencia bem menos traumática não fosse pela intervenção direta/trollada de Stephen Hawking, that bastard...), melancolia (o fato do protagonista ser imortal não é deixado de lado, como a trama relacionada à carta de um velho amigo deixa claro) e, claro, a boa e velha violência. Não é todo mundo que, tanto no roteiro quanto na arte, consegue oscilar com tanta rapidez entre humor, tensão e drama, mas Brian Clevinger e Scott Wegener bailam entre tais estados de espírito de uma forma que parece bem mais fácil do que efetivamente deve ser. 
Em seus "7 soldados da vitória", Grant Morrison afirmou que vc não pode se considerar um herói até ter enfrentado sua primeira aranha gigante. Vou dizer que à essa máxima, eu acrescentaria: vc não pode se considerar um aventureiro histórico sem ter socado pelo menos UM fucking nazi em seus anos de atividade.
E sabe o que é mais legal do que socar um nazi?

yep, exato, crianças.



socar um MECHA-nazi!!!

Excelente começo, e isso que o melhor vilão da série só aparece no encadernado seguinte.



ELEPHANTMEN #1 a #4






Num espectro completamente oposto, temos essa série aqui, que eu peguei bem no comecinho, lá no distante ano de 2006. Elephantmen, de Richard Starkings e uma pá de artistas (nessas edições, o desenho - sério, foda, foda, foda - fica a cargo de Moritat), usa uma ambientação mezzo sci fi/mezzo noir pra contar uma história sobre a América de 2259, onde vive a raça que batiza o gibi, clones humanos com dna animal, originalmente utilizados para fins militares. Após o final das incursões militares, as armas vivas tiveram que ser reintegradas à população norte americana e se os senhores se lembram de como isso foi quando rolou algo parecido com os soldados que voltaram do Vietnã nos anos 60....bom.... vcs podem desconfiar que o processo não ocorre com a fluidez que deveria. Nesse quatro números somos apresentados a pequenos episódios protagonizados por alguns dos principais personagens da trama: Ebenezer "Ebony" Hide (um elefante) e Hip Flask (um hipopótamo), dois agentes da força policial local, Elijah Delaney (um crocodilo), criminoso tornado estrela por um apresentador sensacionalista de radio e Tusk, outro elephantmen (no caso, um homem-javali) cujo corpo foi exposto a toda sorte de armamento químico e biológico a ponto de desenvolver resistência a quase todos os agentes conhecidos deste tipo, mas a custo de sua  sanidade. Além destes, temos um rápido vislumbre de um hibrido que pode, ao contrário de todos os demais, ter conseguido galgar a ladeira social a ponto de se tornar uma figura de influencia naquela cidade: o rinoceronte Obadiah Horn
A respeito do climão do gibi, tudo que vcs precisam pra entender como tudo funciona é ler a adorável primeira trama da série, protagonizada por Ebony e uma simpática garotinha: Blade Runner meets Taxi Driver that meets The Deer Hunter. Apesar de sabermos bem pouco daquele contexto (até aqui, pelo menos), é possível constatar que o mundo do século 23 está longe de ser a utopia que alguns autores de sci-fi imaginariam que viria a ser. Pelo contrário. Antigos fantasmas como a guerra e o preconceito ainda se fazem presentes. No mundo atual, Elephantmen é mais relevante que nunca, sendo, também, uma história sobre integração e alteridade.
Com relação á arte, sério, PQP...  








Elephantemen é um dos universos de quadrinhos mais coesos e bem estruturados da ficção (o demônio mora nos detalhes: percebam a natureza conflituosa daquele mundo na história protagonizada por um humano comum reagindo ao contexto em transformação. Ou mesmo um detalhezinho como Ebony - um elefante - tendo como restaurante predileto um estabelecimento de comida vegetariana indiana) e uma trama política poderosíssima sobre o fallout de uma sociedade em guerra. Sobre ecologia. Sobre laços humanos e não-humanos. E sobre tudo aquilo que nos aproxima e nos separa enquanto sociedade. 


MADMAN Vol 01.



Alterando o tom de novo, falemos do meu gibi favorito da vida: se eu tivesse que resumir essa série, eu usaria o (talvez preguiçoso) recurso de afirmar que Madman é o que seria se uma música do Man or astroman fosse transformada numa hq indie de longa duração. 


Madman é alegre, melancólico aqui e ali mas sempre uplifting, bizarro e um lugar onde tudo, absolutamente TUDO pode acontecer.........

.....mas nem sempre foi assim. Interessantíssimo ver a série em sua totalidade e testemunhar o quanto ela mudou até achar a própria personalidade. O tpb reune a primeira série da hq, em 3 partes e os 3 primeiros números da série seguinte, Madman Adventures (A hq tem um histórico de publicação particularmente caótico, tendo passado por editoras como a Tundra, Oni Press e Dark Horse, até estabelecer morada fixa na Image) e , rapaz, o tom muda radicalmente.
Na primeira mini série, o personagem tinha certo elemento "Frank Milleriano" nele, ainda que "on drugs" e ligado no 220 o tempo todo. Temos clones mutantes, cientistas loucos, soros de imortalidade e a leveza e diversão que seria a cara do gibi em todo o seu run, mas também tínhamos aspectos que sumiram da trama já em sua encarnação seguinte: Frank Eistein (a identidade civil de nosso herói) era alguém BEM mais violento em sua aparição inicial (confesso que a cena dele arrancando o olho de um vilão e o devorando em seguida, só pra estabelecer um ponto pra um oponente, me pegou de surpresa). E claro, Mike Allred ainda estava sozinho nessa empreitada, sem a vital participação de sua mulher, Laura Allred. Então, obviamente, o primeiro run era em preto e branco e isso fazia uma puta diferença. Como vcs podem notar, fomos disto...



pra isto...



Já na série subsequente (também publicada originalmente pela Tundra), Allred virou o dial pro 11 e junto com as cores veio o sense of wonder ultra pop que é a cara da história protagonizada por Madman. Esse primeiro encadernado, um tijolão de quase 300 páginas, tem histórias apresentando o protagonista e seu rol de coadjuvantes, que vai da adorável namoradinha Joe, passando pelos cientistas largers than life Dr. Gillespie Flem e Dr. Boiffard (o responsável pela ressurreição de Frank - e aliás, por seu nome. Não existem detalhes da origem do rapaz então, para identifica-lo, Boiffard juntou os nomes de suas personalidades históricas favoritas; Frank Sinatra e Albert Eistein), a trágica Gail Gale, chegando a agentes super humanos como Cozmo Carson e os simpáticos ajudantes do dr. Flem, os robozinhos Warren e Marie, entre vários outros a serem introduzidos nas edições seguintes.
Preciso dizer no entanto que: pra um gibi tão "pra cima", é notável como temos momentos de reflexões existencialistas que beiram o perturbador por parte de Frank, o que não poderia ser diferente pra uma figura de natureza tão peculiar. Elucubrações sobre vida, morte, eternidade, infinito e nosso lugar no cosmos aparecem entre os momentos de piração aventuresca e soam completamente naturais aqui, até pela natureza mercurial desse universo, previamente estabelecida. 



A arte é aquilo, né? Mike Allred é um dos melhores dessa indústria e a cada nova experimentação visual somos lembrados desse incontestável fato: 



O estilo do artista berra pop art e o efeito é potencializado pelo excelente trabalho de colorização de sua esposa, Laura. 

Enfim, outro daqueles exemplos que personificam tudo que eu mais gosto numa história em quadrinhos. Grandes aventuras, humor, horror existencial aqui e ali e simples awesomeness, num universo em que deuses alienígenas, robos sencientes, beatniks mutantes e viajantes no tempo orbitam ao redor de Madman e sua musa/companion/sidekick ruiva. 

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