quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Doctor Who 9x12 - Hell Bent: "Run you clever boy. And be a doctor"


E por fim, depois de meses e aquele que é provavelmente, meu episódio favorito dos 50 anos de série, chegamos ao final da season 09 de Doctor Who. Numa temporada cheia de meta-temas, cheia de histórias sobre histórias e sobre o papel delas, seja em nível individual, seja coletivamente, como elementos transformadores do nosso mundo, "Hell Bent" se destaca pela elegância como utiliza uma história, uma narrativa, entre dois personagens, pra apresentar sua trama. Não podemos desconsiderar também a importância do episódio dentro da história de new-who, uma vez que ela conclui quase todos os plot points levantados por Steven Moffat em seus 5 anos no comando dos roteiros do show. Os poucos buracos ainda não fechados pelo season finale dessa temporada, vão ser concluídos em "The husbands of River Song", mas falemos deste quando chegar a hora.


Moffat, tal qual Neil Gaiman, adora um anticlímax. O que é sempre um bom sinal, já que anti-climaxes podem soar frustrantes para um leitor quando mal executados. É preciso, portanto, uma mão firme e segurança no próprio texto pra poder não apenas utilizar tal recurso, mas faze-lo de forma recorrente. A season 09 girou em torno de dois pontos majoritários: a principio, a questão do híbrido e, já ao final, a volta de Gallifrey.
Seria de se esperar que um ou outro plot point seria o foco principal do episódio, mas.... nope. 
Não nos esqueçamos de que este tb foi o ano em que Jenna Coleman saiu da série e, no final,  o adeus de um companion é sempre um momento tenso na história de Doctor Who, desde a despedida entre Susan e o 1st Doctor em "the dalek invasion of earth". Já usei aqui várias vezes a metáfora do ilusionista mas, se me permitirem, utilizarei dela mais uma vez: tal qual um mágico, Moffat atraiu nossa atenção com a história do Híbrido e, mais ousado ainda, com a trama da reaparição do planeta natal do Timelord, para na verdade, fazer de "Hell bent" uma elegia às avessas. A homenagem à uma morte que, no final, não ocorreu (ainda).


A falsa morte que, na verdade, é um level up: pela primeira vez, na história do programa, a hybris de um companion não resulta em tragédia (ou pelo menos, não completamente). 
Pq, nos 50 anos de série, cada vez que um companion pensou que estaria ao lado do Doutor para sempre, algo terrível acontecia. Pior ainda: cada vez que um companion pensava ter entendido o personagem a ponto de poder agir como ele...well... Icaro voando perto demais do sol e tals. 
As duas únicas exceções talvez sejam Romana, que partiu em uma missão para salvar um povo extra dimensional escravizado e Ace*. Adric pensou que podia salvar um mundo tal qual o Doutor e morreu. Jamie, Zoe, Rose, os Pond e, em uma das partidas mais dolorosas da série clássica, Sarah Jane, tiveram que viver com o peso de serem deixados para trás, quer seja por vontade do Doctor ou força das circunstancias. Donna Noble chegou perigosamente perto, mas...


Mas estamos falando de um roteiro de Steven Moffat, o homem que desfez o maior evento dos 50 anos de existência da série e que desafiou paradigmas já estabelecidos do personagem pq entendia que nenhuma regra pétrea já criada é maior do que a necessidade de uma boa história. A regra das 12 regenerações pede por uma revisitada? pois ela é entortada em prol da necessidade de dar uma história de adeus digna para o 11th Doctor sem sacrificar a continuidade do programa. O Doctor exterminou um planeta inteiro para salvar o universo? Pois mostremos ele encontrando um loophole nas regras do espaço tempo pra poder salvar seu mundo e, de quebra, poder mostrar o momento em que o personagem finalmente faz as pazes com seu passado. E uma companion que quer ser o Doutor, mesmo não tendo os milênios de existência deste? Impossível.  Bom, não mais


Clara Oswald termina sua jornada esquecida (mais ou menos) pelo Timelord, singrando o universo ao lado de Lady Me e com uma TARDIS pra chamar de sua. Uma jornada incrível, com um final digno pra, agora sim, enchendo o peito pra dizer isso, minha nova companion favorita em todas essas 5 décadas de existência do programa. Run, you clever girl. 



ainda digno de menção:
* Mencionei Ace mas tenho que abrir um parentese aqui: se formos entrar no terreno extremamente pantanoso do universo expandido de Doctor Who, as coisas ficam bem complicadas, já que a personagem tem, pelo menos, 4 possíveis destinos. Se quem estiver lendo isso for da opinião que "só conta o que apareceu na TV", então, Ace se tornou uma policial, se formos tomar como base o relato de Sarah Jane em "the death of the Doctor- part 2", episódio da quarta temporada de "The Sarah Jane adventures". Na série de livros que continua as aventuras do 7th Doctor, a personagem morre, assim como nos quadrinhos estrelados pela versão do personagem protagonizada por Sylvester McCoy. No entanto, minha versão favorita e, portanto, a que tomo como "oficial" é a dos audiodramas da Big Finish, onde o 7th continua o processo de treinamento da jovem até que ele a considera apta a passar pelo treinamento para se tornar uma Timelady (confirmando, pelo menos nesse universo, que outras raças podem, apesar disso ser considerado uma exceção, ingressar na faculdade para Timelords). O que tornaria Clara Oswald a segunda humana a se tornar timelady (terceira se contarmos o curto período de Donna Noble como "Doctor-Donna").


- Atuações: Capaldi maior que a vida. Uma pena se o ator realmente sair da série ano que vem, já que finalmente vemos o personagem como uma tabula rasa. O ultimo dos seus trabalhos pendentes, a salvação de Gallifrey, foi resolvida. Daqui pra frente? Não tem nem material pra especular, o que é sempre interessante já que o céu é o limite. (Um chute, no entanto: a cena do 12th em "the day of the doctor" é o ultimo momento do personagem antes de regenerar no 13th). Então, ia ser fascinante ver o ator agora com um personagem pleno, não mais em uma jornada mas just...... being the Doctor. E Jenna Coleman? oh boy..... oh, Clara. Se vcs viram a cena em que a personagem descobre o tempo que o timelord passou dentro do confession dial, sabem que eu não preciso elogiar a atuação dela ou a química da atriz com Peter Capaldi. A próxima companion tem a responsabilidade de ser não apenas uma personagem mais incrível que a impossible girl, mas de ter uma intérprete tão incrível quanto Coleman. Responsabilidade é isso aí. Menções também pra Donald Sumpter como Rassilon e, claro, Maisie Williams como Lady Me. A esse respeito, a propósito:



- Quem é o híbrido? Moffat chegou o mais perto que pôde de tornar a afirmação do 8th doctor de que era meio humano (filho de pai Gallifreyan e mãe Terráquea) em algo canon dentro da série. Sabendo que o fandom ia surtar, ele ainda manteve uma distancia segura, mas.... Ashildr? O Doctor? A força resultante da união entre ele e seus companions? Honestamente? Não sei e acho que não vai haver uma resposta definitiva pra isso e, por mim, tudo bem. "Abrace o mistério", manja?


- Depois dos takes lindos de "Heaven Sent", temos mais um episódio belíssimo, plasticamente falando. A contraposição das cores quentes de Gallifrey, com as sombras da Matrix e o aspecto clean da TARDIS clássica merecem homenagens. Mas o ponto máximo pra mim, foi a cena no final dos tempos, do diálogo entre Lady Me e o 12th. Que coisa absolutamente linda de ver.



- Como bitch da série clássica que sou, foi lindo rever o cenário clean de uma TARDIS clássica. Tudo naquele "branco-apple" e com centenas de round things nas paredes. Adoro as versões personalizadas pelo Doctor mas, se me permitirem essa pequena auto-indulgencia nostálgica,  tb gosto do visual "menos é mais".


- Pra calar a boca de uma vez por todas as pessoas que acham que o Doutor tem que obrigatoriamente encarnar em corpos masculinos, tomem essa: uma regeneração com troca de sexo E etnia. Moffat já dando sinais de que um futuro Doctor mulher ou negro (ou mulher E negra, pq não?) ou de qualquer sexo e/ou raça pode estar mais próximo do que imaginamos (principalmente se os boatos de que Capaldi sairia da série ao final da season 10 se confirmarem). 




- Nunca, NUNCA interrompa o 12th durante uma refeição.


- Este fica na memória como o episódio que me fez ter pena de um dalek.


- Ainda me mantendo nas catacumbas do planeta perdido, que idéia incrível a dos Sliders. Um gigantesco firewall senciente protegendo a matrix de Gallifrey. E o pessoal que crê na teoria de que os weeping angels são Timelords caídos em desgraça tem mais pano pra manga pra teorizar ai, não?


- Adorei o clima de filme western que permeia a primeira metade do episódio. Muita gaita na trilha sonora, deserto, silêncio quebrado por duelos verbais e onde absolutamente todo tiro conta, sejam os dados (como o disparado contra o/a General), sejam os não dados (como os realizados pelo exército Gallifreyan, que selam o destino final de Rassilon)


- Ohila, líder da sisterhood of Karn apareceu falando com o doctor no começo da temporada. E agora em Gallifrey. Isso significa que o Doutor já sabia onde o planeta perdido se localizava desde o começo da season 09 ou que a profetisa (e sua tribo) tem livre acesso ao local por meios próprios?


- Imediatamente depois de um episódio onde o 12th tinha que falar sozinho por quase toda sua duração, temos um onde o personagem permanece calado por quase 1/4 de sua duração. E suas primeiras palavras para o presidente de Gallifrey, depois de todo esse período exilado do lugar? "Get off my planet"



- Depois da interpretação imponente e larger than life de Timothy Dalton, dando sequencia a anos e anos da série retratando Rassilon como uma figura majestosa, "Hell Bent" retrata o presidente como uma figura patética, símbolo de um grupo de idéias ultrapassadas e indigno, inclusive, de mais do que 5 minutos de atenção do Doutor. A série mudou, o personagem mudou, Gallifrey não iria sair ilesa nesse processo. O futuro do planeta ainda segue incerto. Mas é seguro supor que ainda teremos detalhes do planeta sendo revelados antes do fim da season 10. 
- Bom......cabou season 09. Agora só ano que vem. Pra quem leu esses textões que eu fiz cobrindo a temporada, valeus, ok? Apesar da demora em alguns saírem, sempre foi uma experiência legal faze-los e vou esperar ansioso pra retoma-los quando a season 10 estrear, sabe-se lá Deus quando for. 
- e pra terminar: mataria por um spin off estrelado por Clara, Ashildr e com ocasionais aparições de Jane Austen. Sério mesmo. 




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