sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

nada a ver com nada, mas...

Se vcs notaram, nessa semana que eu tirei pra celebrar vida e obra de DEUS, teve uma única regra que eu segui à risca: em momento nenhum eu usei o termo "camaleão". Por duas razões simples: 
Primeiramente, pq eu acho isso de uma preguiça tão, mas TÃO absurda, nível Jornal Hoje anunciando toda nova ameaça de turnê dos Stones passando pelo Brasil com o bordão "e as pedras continuam a rolar". É daqueles clichês do jornalismo musical que eu particularmente acho nojentos. 
E segundamente pq indica uma profunda ignorância com relação ao trabalho de Bowie: Camaleões utilizam da sua habilidade de mimetismo pra se esconder, se misturar ao ambiente, se camuflar e passarem despercebido por predadores.
David Bowie nunca quis se esconder. Ele não usa máscaras ou fantasias. Ele cria personas. Máscaras escondem. Personas revelam aspectos escondidos da personalidade. Ziggy era sua vontade de ser um messias rock. Aladdin Sane (ou the Lad Insane) trazia consigo o profundo pavor que Bowie tinha de um dia manifestar a esquizofrenia que já havia acometido alguns membros da sua família. Thin White Duke era o lado sombrio da fama, o dândi com todos os seus excessos. O Pierrot/Scary Monster era o palhaço triste, entretendo por um lado mas melancólico por outro. E também, o coveiro que veio jogar uma pá de cal nos anos 70 e no sonho hippie. No final, Bowie era uma macro-persona, da qual o cantor se despe ao final de "Blackstar" pra morrer como David Robert Jones. Se esse tb era uma persona, fica a cargo da interpretação de cada um..... Um camaleão usa sua habilidade pra se esconder. Bowie mudava pra se destacar, pra atrair todos os olhos pra sua direção. Ao mudar de cor, o camaleão se torna invisível. Ao criar o astro pop de plastico, usando dos termos dele próprio, ele queria que cada pessoa se sentisse invariavelmente atraída por ele, vendo aquilo que quisessem, quase uma tábua de rorschach personificada. 

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