quinta-feira, 23 de julho de 2020

Conversando com o Starman #9

Depois de um dia de folga, estamos de volta para mais uma pérola Bowieana vinda para nos dar uma luz sobre como serão as próximas 24 horas. Spoiler alert: considerando os temas da música do dia, os auspícios não são dos melhores. Senhores, vamos para o lovecraftiano conto sobre imortais e vidas sem fim que é THE SUPERMEN


Contexto: A música é a faixa de número 10 e a que fecha o clássico "The man who sold the world" de 1970. O disco, terceiro álbum de estúdio lançado por Bowie, começa a transição do artista, que parte para temas e sons ligeiramente mais sombrios que em seus lançamentos anteriores. Além disso, onde antes o folk e sons mais acústicos imperavam, agora temos a predominância das guitarras grandiloquentes do rock. Segundo a maioria dos críticos e fãs da obra Bowieana, enquanto os dois LPs anteriores mostravam um artista talentoso mas ainda tentando encontrar sua voz e um estilo em que se sentisse confortável, este é o marco zero da fase clássica dele, onde, num período de menos de 15 anos, ele lançaria seus melhores trabalhos: "Hunky Dory", "Ziggy...", "Aladin Sane", "Diamond Dogs", a trilogia de Berlin inteira e "Scary Monsters and super creeps", entre outros.

Sobre a música: Já dissemos aqui antes sobre como Nietzsche foi uma influência importante na vida de Bowie. De tempos em tempos, os temas discutidos pelo filósofo alemão iriam retornar nem composições. Tópicos como a questão do perpétuo retorno, a vontade de poder e o conceito do übermensch são recorrentes na obra do músico e aqui, o conceito do super-homem Nietzscheniano se mescla com elementos típicos dos livros de horror de Lovecraf. Vemos a descrição da ascensão de uma nova classe de deuses, super humanos que abandonaram as filosofias e doutrinas pré-estabelecidas e pavimentaram uma nova estrada para eles próprios. 
O problema? É que essa jornada bem sucedida à perfeição os trouxe para um constante estado de não-vida. Uma existência estéril, de onde a única fuga seria a morte. De fato, se você conhece algumas mitologias, principalmente a greco-romana, você pode perceber como a imortalidade e o tédio de uma existência perpétua acaba sendo, frequentemente, a fonte de vários e vários problemas que vão acabar sendo o motor da história dessas deidades. Da infidelidade de Zeus passando pelos jogos de intriga entre deuses menores, tudo parece vir desse estado de tédio e constante "falta do que fazer". 
Aqui, no entanto, isso ganha tons mais macabros, com a descrição de "sereias jogadas no esgoto", "pesadelos que nenhum mortal poderia imaginar" e criaturas "estraçalhando os corpos de seus irmãos em busca da chance de poder morrer". 
Ao final, Bowie que, na posição de criador da canção se encontrar como um deus acima destes que protagonizam a música, se apieda deles e, no catártico final da faixa, lhes concede o alívio tão desejado. 
"Tão tranquila é a morte de um super-deus". 

Como vai ser o seu dia: Oh, boy... essa vai ser difícil. Bom, a idéia do Superman de Nietzsche era o que já foi dito acima: a rejeição de caminhos pré-determinados em busca do auto-aperfeiçoamento. 
O problema da perfeição, no entanto, é que não existe para onde ir quando você chega no topo. De fato, como dizia o grande Bon Scott, "é um longo caminho até lá", mas...
Por isso o final de Dragon Ball Z é tão satisfatório. Goku acha um último oponente mais forte que ele próprio e percebe que a jornada ainda está longe do fim.
Igualmente, por isso quase toda saga épica termina quando o herói conquista seu objetivo final. 
Comparem o Luke do final de "O retorno do Jedi", em seu pleno potencial e glória e o velho desesperançado de "Os últimos Jedi" e como a aparição de um novo objetivo, na forma da chegada da Rey, injeta vida nova do guerreiro. É sobre o custo da perfeição que "Supermen" fala.
Então, aceite as suas imperfeições. Aceite que você sempre tem algo novo para aprender. Que sempre tem algo a ser mudado. Para melhor, claro e de acordo com os SEUS parâmetros e não os de terceiros.
Mas sempre há algo que queremos de novo e tudo bem porque só não muda aquilo que já está morto.
De fato, impermanência é, ironicamente, a constante máxima do universo. 

Frase do dia: "No pain, no joy"

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